segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

ENNIO MORRICONE

Ennio Morricone (n. 1928) ganhou ontem um prémio que nunca tinha ganho. Se o nome do prémio pouco interessa, já a carreira de Morricone é insubstituível na História do Cinema. O western-spaghetti seria o mesmo sem aquele "assobio" com que arranca O bom, o mau e o vilão? O tom épico de Era uma vez na América teria o mesmo fôlego sem aquela banda sonora? Choraríamos com tanta convicção sem a música sentimental de Cinema Paraíso? Não, não e não. Outra certeza: só um italiano imaginaria sons assim. E isso também lhe agradeceremos.

Viva Ennio Morricone!

domingo, 28 de fevereiro de 2016

O MEU FILHO DESCONHECIDO

Quando o Prof. António Candeias se me dirigiu, na Universidade de Évora, fiquei surpreso ao ouvir "finalmente, conhecemo-nos pessoalmente; afinal, até já publicámos um texto em conjunto". Pensei "deve estar a confundir-me com outra pessoa, deixa lá ver se lhe dou a entender isso, sem embaraços". Mas o Prof. António Candeias continuou, explicando as circunstâncias da nossa colaboração. Eu continuava perdido, embora ele me falasse de um texto sobre Mértola. Aí suspeitei que talvez não fosse confusão. Não era. Em 2005, alguém me pedira uma página explicativa sobre determinado aspeto da história da vila. Assim fiz e esqueci o assunto. Afinal, era um texto destinado a servir de introdução a um estudo sobre argamassas. Simpaticamente, consideraram-me "co-autor"...

Dez anos depois, descobri o meu filho desconhecido. É um texto intitulado Characterization of Roman Mortars from the Historical Town of Mertola e são seus autores: Silva, A.S.; Ricardo, J.M.; Salta, M.; Adriano, P.; Mirao, J.; Estevao Candeias A.E.; Macias, S.

As atas intitulam-se Heritage, Weathering and Conservation, Two Volume Set: Proceedings of the International Heritage, Weathering and Conservation Conference (HWC-2006), 21-24 June 2006, Madrid, Spain. A edição é da CRC Press e custa a módica quantia de 302 €. Fico-me pelo pdf do texto.


sábado, 27 de fevereiro de 2016

LA TUMBA DEL PISTOLERO

As voltas que eu dei para encontrar este filme... Lembrava-me de o ter visto em 1972 ou 1973, no Cine-Teatro Caridade de outrora. Ía ao cinema com a rapaziada da Salúquia, em especial com o Mário Mouca, companhia regular nessas idas "lá a baixo".

Pensava que o filme se chamava A morte de um pistoleiro. E que era uma produção americana. Do filme não reza a História, mas recordo um plano (creio que a história se passa em flash-back) em que alguém escreve uma carta (a narrativa do que se passa no filme) e em que o sangue lhe escorre pelo pulso.


O túmulo de um pistoleiro é, afinal, uma produção espanhola (!), de 1964. Foi realizada pelo galego Amando de Ossorio (1918-2001), cineasta de série B, especializado em filmes de terror.


O túmulo de um pistoleiro é o meu filme da semana, em homenagem aos amigos dessa altura, com quem ia para o geral (nome popular dado ao 2º balcão). O bilhete custava 6$50 (0,0325 €, na moeda atual).



sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

UM CARTAZ ENGRAÇADINHO

Um cartaz "cuco" (é linha de conduta do Bloco de Esquerda aparecer como autor de ideias e iniciativas de outros).

Um cartaz contraproducente. Gratuitamente provocatório. E de uma estupidez sem limites. 

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

EMPRÉSTIMO: ONDE, COMO E QUANDO

Depois de um longo e tormentoso processo, foi aprovado pela Assembleia Municipal um pedido de empréstimo para investimento. O assunto podia estar arrumado desde setembro de 2015 (!) e com valores substancialmente superiores. A Câmara de Moura tem, ao contrário de outras!, margem para este tipo de operações. Os argumentos avançados para o chumbo do que pretendíamos foram confrangedores ("use-se o orçamento", como se o orçamento em si garantisse disponibilidade de tesouraria, o que me dá uma ideia tragicamente divertida do que seria a gestão camarária se o resultado tivesse sido outro em outubro de 2013...). Fez-se o que foi possível. Far-se-á o que for possível. Sempre com o máximo empenho.

O que fica de fora? Quais os domínios em que teremos dificuldades e onde não avançaremos como gostaríamos e como os nossos munícipes merecem?

Reabilitações de habitações no âmbito do projeto Ágora Social: 50.000 €
Reabilitação da igreja da Estrela: 60.000 €
Equipamentos para o setor das águas (Câmara Municipal): 50.000 €
Repavimentações de ruas: 225.000 €
Reparações em estradas municipais: 75.000 €


O que avança?
Apoio a projetos dos Bombeiros Voluntários: 80.000 €

Reabilitação do Bairro do Carmo: 145.000 €

Reabilitação da Ponte do Coronheiro: 150.000 €

Reabilitação da igreja de Safara: 155.000 €

Aquisição de equipamentos (incluindo um autocarro de 35 lugares): 150.000 €

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

O RAPOSO...O RAPOSO...O RAPOSO...O RAPOSO...O RAPOSO...

...O RAPOSO...O RAPOSO...O RAPOSO...O RAPOSO...O RAPOSO...O RAPOSO...O RAPOSO...O RAPOSO...O RAPOSO...O RAPOSO...O RAPOSO...O RAPOSO...O RAPOSO...O RAPOSO...O RAPOSO...O RAPOSO...O RAPOSO...O RAPOSO...O RAPOSO...O RAPOSO...O RAPOSO...O RAPOSO...O RAPOSO...O RAPOSO...O RAPOSO...O RAPOSO...O RAPOSO...O RAPOSO...O RAPOSO...O RAPOSO...O RAPOSO...O RAPOSO...

Ora porra, que lá me riscaram o disco!


O MUSEU REGIONAL DE BEJA, A CIMBAL, A DRCALEN, A FUNDAÇÃO MILLENNIUMBCP, A UNIVERSIDADE DE COIMBRA E A UNIVERSIDADE DE ÉVORA

Desde junho de 2015 que, formalmente, deixei de ter responsabilidades no dossiê Museu Regional de Beja. Cumprida a minha missão e passado o museu para a tutela da CIMBAL, sigo com interesse todos os assuntos que ao museu digam respeito.

Hoje estive presente numa cerimónia onde as questões do património, da sua tutela, do mecenato, estiveram na ordem do dia. A CIMBAL assumiu, e bem, a direção do processo. Fez-se rodear de instituições qualificadas. E foi buscar o apoio da Fundação Millenniumbcp.

A sessão foi marcada por duras críticas à gestão do Museu Regional de Beja. Neste momento de viragem, é altura de se fazer uma reflexão do que tem sido o percurso do MRB. Uma tarefa imprescindível e que terá, obrigatoriamente, de envolver setores mais vastos da sociedade civil, num debate amplo e que não poderá  ficar circunscrito aos limites do concelho de Beja.

EDIA E DRCALEN - CRÓNICA DE BEM DIZER, PORQUE NEM TUDO CORRE MAL

Num país onde se diz mal de tanta coisa, de forma indiscriminada, serve este textinho para elogiar um conjunto de obras que a EDIA e a DRCALEN (raio de nome para a Direção de Cultura do Alentejo...) têm vindo a editar na coleção Memórias d'Odiana. Num país onde estas coisas são vistas como ocupações inúteis e próprias de sibaritas dissipadores, quase causa espanto, e não deveria!, que haja um conjunto de obras dando conta do que foram os trabalhos de investigação arqueológica em torno do projeto de Alqueva. Estudos de qualidade, editados de forma apropriada e sistemática? Quase dá vontade de gritar, e não deveriamos fazê-lo, milagre!

O mundo é perfeito? Não é. Por estranho que pareça, o site da EDIA é omisso quanto a estas publicações... Mas que elas existem, disso não haja dúvidas.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

ALENTEJO - MODOS DE VER

Amanhã escreverei para a Fundação Francisco Manuel dos Santos. Não para qualquer insulto, que seria gratuito e de mau tom, mas para propor um livro sobre o Alentejo. Que permita dar visões contrastadas sobre a nossa região. Mas que fujam ao delírio e à irrealidade. O título até pode ser roubado à grande obra de John Berger e tudo. Ora leiam as declarações de Henrique Raposo sobre o seu livro "Alentejo Prometido" a um canal televisivo:

"ia ver uma luz debaixo de chaparro" (momento capelinha das aparições do livro)
"os alentejanos nem sequer têm linguagem"
"as alentejanas antigas nem sequer tinham a palavra violação"
"não havia conceito de criança"
"o suicídio é como se fosse um fenómeno natural (...) é chato mas acontece"
"os laços de comunidade são fortes no norte, são fraquíssimos no sul"
"os malteses são uma espécie de cowboys [que matam]"
"um pequeno almoço que era um manjar, linguiça com ovo estrelado"
"uma cultura de desconfiança"
etc.

O jornalista, um imbecil de apelido Mendes, não lhe fica atrás: "quer dizer que eu não posso confiar num alentejano, se ficar sem gasolina em Alcácer do Sal?"

O problema do jovem Henrique Raposo não é a análise absurda que faz do Alentejo. O problema do moço é a sua profundíssima incultura. Não é uma questão de posicionamento ideológico, mas sim de desconhecimento da realidade.

WOLF VOSTELL EM AMARELEJA? QUASE...

Ao visitar, esta amanhã, as obras de construção de um campo de jogos que a Câmara Municipal de Moura está a concretizar na Escola Básica Integrada de Amareleja, deparei com um recinto onde se guardam peças para um projeto de reciclagem. "Giro!", comentei para o Prof. Francisco Honrado Pereira, "parece uma daquelas coisas do Wolf Vostell...". Fiquei de lhe mandar exemplos das intervenções que o conhecido artista alemão concretizava. A televisão e o lixo televisivo. Imagem obsessiva e omnipresente. O movimento Fluxus está datado? Sim, mas foi importante no seu tempo.

Wolf Vostell (1932-1998) haveria de gostar de ter passado hoje na EBI.

 Instalação Depressão endógena Los Angeles (1980)

Amareleja Vostelliana

Museu Vostell (Malpartida de Cáceres)

UMA CIDADE E O SEU MUSEU: 16/20: RABAT

O museu está num edifício já antigo, bonito e elegante. Fica na zona nova da cidade, perto da estação ferroviária. É, ainda é, apesar dos "bazaristas" (expressão roubada ao meu amigo José Alberto Alegria), uma das mais belos troços de arquitetura colonial que conheço. As longas e agradáveis arcadas, ao longo das avenidas, dão frescura ao calor das tardes do Norte de África. Retenho na memória - a última passagem por Rabat foi em 2013 - hotéis como o Balima, essa quinta-essência da decadência..., e os cafés nas imediações do Parlamento, conferem um ar "retro", admito que involuntário, à cidade.

O Arqueológico de Rabat enquadra-se bem na sua cidade. As paredes brancas realçam bem as peças. Dominam os materiais romanos. Lemos, por toda a parte, nomes conhecidos: Lixus, Volubilis... intrometendo-se um outro ou outro sítio islâmico, como Belyounech.

Em 1999, procurávamos afanosamente peças para a exposição a montar em Tânger. As melhores haviam sido levadas para o Louvre, para uma mostra temporária. Nas peças romanas, e em condições de ser exposto, "sobrava" um braço. Foi essa peça que escolhemos, que remédio... Acabámos por a usar como ponto de partida e "Maroc-Portugal: portes de la Mediterranée" escolheu as mãos e os gestos como tema forte. Às vezes, os constrangimentos dão as melhores soluções...

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

O VIAJANTE DA SERRA

Era um homem já de alguma idade, baixo, magro, sempre de chapéu e roupa escura. Cruzei-me com ele dezenas de vezes na Serra de Serpa. Via-o sempre de passo estugado, acenando cada vez que nos cruzávamos. Ora ía no sentido de Santa Iria, ora no da Mina. Não queria boleia. Limitava-se a ir, cumprimentando alegremente os automobilistas.

Já por várias vezes estive tentado a parar neste café da serra, o mesmo onde o João parou, em plena N 265, numa vinda de Paymogo, em 1972 ou 1973. Para perguntar se sabem o que é feito do viajante da serra. E, talvez, para um copo de vinho de branco, daqueles pequeninos, acompanhado por uma rodela de ovo cozido. O ovo era cortado às fatias por uma maquineta metálica, objeto que nunca vira e que me causou verdadeiro fascínio. Talvez a maquineta ainda exista. E talvez esteja, ao balcão, o viajante da serra. Quem sabe?

domingo, 21 de fevereiro de 2016

HAGIOGRAFIA JAZZÍSTICA: DIA DE S. JOSÉ DUARTE E DE S. LOU DONALDSON

Um record improvável. Mas verdadeiro. Faz hoje 50 (cinquenta, assim por extenso e tudo) anos que começou o programa Cinco minutos de jazz. Não é a minha área de eleição, mas sigo-o com regularidade. Em 2000, o programa era às 8:55 e o indicativo causava grande entusiasmo ao Manuel, então com sete anos. O rapaz swingava alegremente no banco de trás. Perguntas sobre o tema musical levaram-me a escrever a José Duarte que, simpaticamente, me respondeu esclarecendo que se trava de Lou's Blues, de Lou Donaldson (ouvir aqui sff). Como o Universo tem coisas perfeitas, o saxofonista de 89 anos atua amanhã e na quarta em Lisboa. No Hot Club, claro.

sábado, 20 de fevereiro de 2016

AMADEUS

O filme é horrível, quase obsceno. E causa-me, desde os tempos da faculdade, funda irritação. Tom Hulce faz de Mozart uma figura apalhaçada, a luta com Salieri é largamente inventada e a trama é folhetinesca... Então porquê esta escolha cinéfila? Porque Amadeus, filme de 1984 de Milos Forman, divulgou planetariamente a obra de Mozart. E isso não é coisa de somenos. Tive dificuldade em arranjar uma cena decente. Selecionei esta, com um pequeno excerto do Requiem (K 626). A música dos deuses num sábado mais tranquilo do que é costume.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

E EIS QUE O LIVRO ESTÁ TERMINADO


Acho que já ninguém, entre os colegas e amigos próximos, acredita, mas é verdade. Está terminada a redação de "Castelo de Moura - escavações arqueológicas". O volume 2, referente ao catálogo, foi impresso em 2013 (!). O volume 1, do texto, está agora concluído. Compatibilizar uma coisa e outra foi um exercício de equilibrismo difícil e divertido. Um trabalho de edição com o seu quê de cinematográfico.

Data de lançamento (final, assegurada e definitiva): 9 de abril.


Esta fotografia de Etienne Jules Marey (1830-1904), feita em 1890, representa bem o esforço da equipa, creio eu.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

DOUTORAMENTO EM ÉVORA

Sou pouco dado a estes eventos. Muito pouco mesmo. O caráter errático da minha vida académica (se fosse só isso...) tem feito com que a minha participação em júris universitários seja marcada pela irregularidade. Depois do Algarve, da Nova, de Sevilha e de Coimbra, foi a vez de Évora. Tive ontem uma tarde diferente do habitual, no doutoramento do João Marques. Acompanhando velhos amigos. O que é um privilégio raro e que me causa imenso prazer.


O júri e o candidato, em pose de plantel da bola
Primeira fila (da esquerda para a direita) - Jorge Oliveira, João Marques, Susana Gómez Martínez
Segunda fila - O autor do blogue, André Carneiro, Bruno Franco, António Candeias
Terceira fila - João Bernardes, Maria da Conceição Lopes

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

DA JOHN NEELY BRYAN CABIN À IGREJA PAROQUIAL DE SAFARA

São interessantes as perceções que temos do Património. Por isso me recordo tão bem daquela manhã abafada e quente do final de dezembro de 1999. Alguém nos arrastou (ao Carlos Fabião e a mim) até à Elm Street - a última rua onde J.F. Kennedy passou, e a que deu o nome ao filme... -, para vermos a John Neely Bryan Cabin. A cabana estava no meio de uma esplanada, como se vê na imagem de cima. É um local histórico, que representa o sítio onde morou o fundador de Dallas. O edifício já não é o original, construído em 1841 e há muito desaparecido, nem estava exatamente naquele sítio. Pouco importa. Os texanos patrimonializaram a memória da origem da cidade.

Temos coisas mais impressivas por cá? Temos. De melhor qualidade arquitétonica. E simbolicamente decisivas para todos nós. Olhando as terras do nosso concelho, e antes de 1841, que temos nós? Torre dos séculos XII, XIV e XVI, no castelo de Moura. Igrejas de interesse em todas as localidades. Arquitetura civil notável a partir do século XVI. Casas apalaçadas que fizerem que fizeram do centro histórico da cidade aquilo que ele é.

É esse caminho de reabilitação que temos seguido em Moura. Falta muito? Falta, mas já faltou mais. Pontos de maior debilidade (pelo forte investimento que exigem)? O Convento do Carmo e o antigo Grémio. Próximo investimento? A recuperação e reforço estrutural da igreja paroquial de Safara.

O que liga a valorização e a recuperação dos dois imóveis é a mesma linha de atuação e traduz-se em esforço, empenho e na obrigação de dignificarmos a memória dos nossos antepassados. Nada mais simples. De Dallas a Safara a distância é curta.


terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

OUT OF THE BOX - LADO B: MÁRIO BARROSO SOARES

Não sou socialista, nem conheço ninguém da família Soares. Muito menos faço ideia de quem seja o jovem Mário Barroso Soares. A contratação é imprudente? É, um tanto. Mas ter o "peso" dos apelidos não o deve excluir da possibilidade de exercer uma função.

Primeira pergunta que deveria ter sido feita: estamos perante uma ilegalidade? Aparentemente, não.

Há outras duas, às quais (picuinhice minha, decerto) dou especial atenção: em que faculdade se licenciou Mário Barroso Soares? e com que média final de curso?

E outras, acessórias: fez mestrado? com quem? sobre quê? com que nota? As respostas não são decisivas, bem sei. Mas dão indicações.

Quanto ao resto, imperam o cinismo e a hipocrisia na avaliação do assunto. Tanta virgem ofendida...

OUT OF THE BOX - LADO A: DESIGN MINIMALISTA

O ano do macaco começou no passado dia 8 de fevereiro. O designer chinês Lehu Zhang concebeu um cartaz para o efeito. O design minimalista tem, contudo, alguns inconvenientes... O macaco está lá, ainda assim.

O site do artista é interessante - http://www.lehuzhang.com/


segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

FÓRUM 21: DE COMIDAS SE FALOU

Cerca de seis dezenas de presenças numa iniciativa destas é um recorde, ainda para mais num chuvoso sábado de manhã. Mais do que o número, importa sublinhar o vivo debate que teve lugar e, agora, a abertura de novas perspetivas para o projeto de tradução dos menus dos restaurantes.

A Câmara de Moura estará na Bolsa de Turismo de Lisboa. Aí divulgaremos as nossa riquezas patrimoniais, base essencial para a promoção do território. Apoiaremos este ano eventos desportivos de dimensão nacional. E avançará, decerto, a base de dados das ementas.


Na mesa (e da esquerda para a direita): Pedro Aboim, Jorge Queiroz, António Ceia da Silva, o autor do blogue, Mariana Lourinho e José Carlos Lobito)

sábado, 13 de fevereiro de 2016

MÚSICA

Depois de uma interessante manhã de debate no posto de turismo municipal, a tarde é dedicada à placidez de outros temas, na solidão do meu gabinete. Com a música em pano de pano.

La Musique
La musique souvent me prend comme une mer!
Vers ma pâle étoile,
Sous un plafond de brume ou dans un vaste éther,
Je mets à la voile;


La poitrine en avant et les poumons gonflés
Comme de la toile
J'escalade le dos des flots amoncelés
Que la nuit me voile;


Je sens vibrer en moi toutes les passions
D'un vaisseau qui souffre;
Le bon vent, la tempête et ses convulsions


Sur l'immense gouffre
Me bercent. D'autres fois, calme plat, grand miroir
De mon désespoir!


O quadro é de Columbano Bordalo Pinheiro (1857-1929), foi pintado em 1882 e intitula-se Um concerto de amadores (how appropriate!). Columbano sempre me pareceu um pintor pouco considerado, ainda que possa ser erro de perspetiva da minha parte. Outra música, literalmente, é a do poema de Charles Baudelaire (1821-1867). 

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

EXIGÊNCIA, ESFORÇO, APLICAÇÃO ETC.

Independentemente de outras avaliações quanto ao desempenho de Nuno Crato, estou 100% (cem por cento) de acordo com esta frase. O nacional-porreirismo não foi, não é, nem será solução.

ESCULTURA ARQUEOLÓGICA

O tema é recorrente em sítios arqueológicos. Que fazer com as centenas de quilos de pequenos cacos que dificilmente terão préstimo? O artista plástico Li Xiaofeng (n. 1965) usa fragmentos de porcelana para construir as suas esculturas. Estão no limiar do kitsch... Mas são, ao mesmo tempo, divertidas e inspiradoras. E apontam soluções. Alô, colegas da arqueologia!

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

BARCO ABANDONADO

O poema, escrito por António Borges Coelho quando estava preso em Peniche, tornou-se célebre na voz de Luís Cília. O mundo de seis passos era a cela do António. Uma imagem que tento, com pouco sucesso, recriar. Nunca perguntei ao António se crê que os barcos abandonados chegaram mesmo a Portugal. Talvez na próxima vez que o encontrar.

A fotografia é de Arthur Rothstein e foi feita na China, há 70 anos.


Sou barco abandonado
Na praia ao pé do mar
E os pensamentos são
Meninos a brincar.

Ei-lo que salta bravo
E a onda verde-escura
Desfaz-se em trigo
De raiva e amargura.

Ouço o fragor da vaga
Sempre a bater no fundo,
Escrevo, leio, penso,
Passeio neste mundo
De seis passos
E o mar a bater ao fundo.

Agora é todo azul,
Com barras de cinzento,
E logo é verde, verde,
Seu brando chamamento.

Ó mar, venha a onde forte
Por cima do areal
E os barcos abandonados
Voltarão a Portugal.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

MOURA - FÓRUM 21: GASTRONOMIA, IDENTIDADE CULTURAL E TURISMO

Retoma-se o Fórum 21, agora em quarta edição. Uma parte importante das nossas raízes culturais está na gastronomia, fator importante de identidade cultural. Que fazer e como fazer para afirmar este domínio? Debate no próximo sábado de manhã, no posto de turismo municipal.

Serão intervenientes:
António Ceia da Silva – Presidente da Entidade Regional de Turismo.
Jorge Queiroz – Sociólogo/ director do Museu Municipal de Tavira.
José Carlos Lobito – Formador.
Mariana Lourinho – Cozinheira e proprietária (Restaurante O Encalho).
Pedro Aboim – Professor na Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril.
E o autor do blogue.

CARNAVAL 2016

OK, o Carnaval já foi. Queimam-se hoje os últimos cartuchos, com o enterro. No meio do stress, houve espaço para uns minutos de relativa descontração.

Resenha pessoal destes dias: 

Sexta - foto com "farpela" emprestada pela minha amiga Zeza.

Sábado - dia de não-carnaval, passado com amigos, bem perto da Amareleja.

Domingo - escapadinha fotográfica, em Santo Amador.


Segunda - fracasso quase total com este disfarce... Fui reconhecido pela forma de andar, pela maneira de colocar os braços, pelo riso e pelos sapatos (!). Mas às 4 da manhã ainda havia, contudo, alguns distraídos que perguntavam "quem é o gajo?"

Terça - estudantinas na Amareleja. Eu mais eu. O meu sósia presidente tinha como grande semelhança a gravata. A bem dizer, era a única...

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

ENTRE DOMINGO E TERÇA, RECORDANDO "KISS ME KATE"

Não sei porquê, mas lembrei-m desta cena do filme "Kiss me Kate", uma obra com 63 anos...

Quem dança é Bob Fosse, que teria depois carreira como realizador. O estilo das roupas é meio carnavalesco (talvez seja essa parte da recordação a funcionar), mas o que me recordo sempre é do cenário, que parece decalcado de um quadro de De Chirico. O trabalho deve-se, creio, a Cedric Gibbons.


Memórias da pintura e do cinema, neste Carnaval.




domingo, 7 de fevereiro de 2016

A NOSSA MOURARIA - 50.000 VEZES

O calendário de 2016 da Guarda Nacional Republicana tem como imagem o bairro da Mouraria, em Moura. Mais precisamente, a Segunda Rua. Fico contente pela escolha. Uma outra forma de reconhecer o que ali se fez e que resultou de forma tão luminosa.

Do site da GNR:
A Guarda Nacional Republicana (GNR), em parceria com a EDP Distribuição, vai distribuir em todo o território nacional 50 mil calendários, no sentido de reforçar a proximidade à população mais idosa, alertando para a prevenção de burlas relacionadas com a cobrança ilegal de serviços prestados pela EDP. 
A grande visibilidade que este artigo tem no interior das residências torna mais fácil, em casos de emergência, o acesso aos contactos da GNR (colocados no próprio calendário), que poderão ser determinantes no apoio e na garantia da segurança desta faixa etária.

Ver - http://www.gnr.pt/default.asp?do=tnov0r6r_vz24r05n/016vpvn5/a16vpvn5_qr5p4vpn1&fonte=noticias&id=2658

sábado, 6 de fevereiro de 2016

O POÇO SEM ÁGUA

Mais um poço tardo-medieval em Moura. Foi encontrado, tal como os outros dois na Mouraria. Recolheu ao sítio devido (Museu Municipal), onde está a ser feita a sua limpeza. Integrará (derradeira peça, derradeiro parágrafo!) a monografia sobre a arqueologia nesta terra. Em concreto, será a estampa R do anexo A.

O poço é idêntico aos anteriores, em termos de medidas, morfologia e material. Tem também decorações incisas (um chocarreiro afirmou que o poço era a prova da existência de cerveja Sagres na Idade Média...) e chegou até nós miraculosamente. Estava bem à vista, no pátio de uma casa.

É um prazer divulgar isto, juntamente com um quente poema do mexicano Jaime Sabines (1926-1999), apropriado a estes dias que correm.





Canciones del pozo sin agua (5)

Esta noche vamos a gozar.
La música que quieres, 
el trago que te gusta
y la mujer que has de tomar.
Esta noche vamos a bailar.
El bendito deseo se estremece
igual que un gato en un morral,
y está en tu sangre esperando la hora
como el cazador en el matorral.
Esta noche nos vamos a emborrachar.
El dulce alcohol enciende tu cuerpo
como una llamita de inmortalidad,
y el higo y la uva y la miel de abeja
se me mezclan a un tiempo con su metal.
Esta noche nos vamos a enamorar.
Dios la puso en el mundo
a la mujer mortal
—a la víbora-víbora de la tierra y del mar—
y es lo mejor que ha hecho el viejo paternal.
¡Esta noche vamos a gozar!

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

ALUMNUS VI

Sessão nº 6 do MOURALUMNI. Há coisas em comum com o Carlos Silvestre: somos da mesma idade, somos amigos e fizémos o exame da 4ª classe no mesmo dia, no já distante ano de 1973. Depois do liceu, só nos encontrámos de forma esporádica. Fui sabendo do percurso do Carlos por amigos comuns. A interessantíssima apresentação a que assisti só deu razão ao convite. E deixou-me a convicção que este projeto só pode ter continuidade.



Carlos Silvestre é Professor de Controlo e Robótica do Instituto Superior Técnico (IST) da Universidade de Lisboa e da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Macau. Frequentou a Escola Secundária de Moura até ao 11º ano e concluiu o 12º ano na Escola André Gouveia de Évora, em 1981. Licenciou-se em Engenharia Eletrotécnica e Computadores pelo Instituto Superior Técnico, em 1986. Concluiu o Mestrado, em 1991, o Doutoramento, em 2000, e a Agregação, em 2011, todos em Engenharia Eletrotécnica e Computadores, no Instituto Superior Técnico.
Atualmente lidera e participa em inúmeros projetos de investigação na Universidade de Macau e no Instituto Superior Técnico nas áreas da Robótica Aérea e Oceânica.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

ENTRE A AMOREIRA E FURTA-GALINHAS, COM O EDIANO ESPECTRO DE CHRISTO A PERSEGUIR-ME

Foi O momento insólito da visita a várias infra-estruturas da EDIA. Na estação elevatória de Caliços, parecia estarmos ante mais um trabalho do célebre artista plástico búlgaro. Bombas de água dispostas ao longo de uma nave, envoltas em panos brancos, a recordarem os inícios da carreira de Christo, quando embrulhava objetos de menores dimensões.

Arte espontânea e não-intencional. Por isso mesmo, o efeito me parece sempre mais divertido.



quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

O MEU 1 DE FEVEREIRO - OUTSIDE/INSIDE

Outra forma de passar o dia em que Moura foi elevada à categoria de cidade. Encontro, ao princípio da tarde, com José Pedro Salema, Presidente da EDIA, que, simpaticamente, me conduziu pelas infraestruturas terminadas ou em construção (barragens da Amoreira, Caliços e Furta-Galinhas e reservatório da Atalaia). Uma explicação circunstanciada sobre os projetos da empresa, com reflexos no presente e no futuro do nosso concelho.

No regresso, visita (mais uma) às instalações do Pavilhão Gimnodesportivo. Os melhoramentos, de valor superior a 200.000 euros, estão concluídos. O futuro da nossa terra passa, também, por aqui.




terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

SALINGER


If you really want to hear about it, the first thing you'll probably want to know is where I was born, an what my lousy childhood was like, and how my parents were occupied and all before they had me, and all that David Copperfield kind of crap, but I don't feel like going into it, if you want to know the truth. In the first place, that stuff bores me, and in the second place, my parents would have about two hemorrhages apiece if I told anything pretty personal about them. They're quite touchy about anything like that, especially my father. They're nice and all--I'm not saying that--but they're also touchy as hell. Besides, I'm not going to tell you my whole goddam autobiography or anything. I'll just tell you about this madman stuff that happened to me around last Christmas just before I got pretty run-down and had to come out here and take it easy. I mean that's all I told D.B. about, and he's my brother and all. He's in Hollywood. That isn't too far from this crumby place, and he comes over and visits me practically every week end. He's going to drive me home when I go home next month maybe. He just got a Jaguar. One of those little English jobs that can do around two hundred miles an hour. It cost him damn near four thousand bucks. He's got a lot of dough, now. He didn't use to. He used to be just a regular writer, when he was home. He wrote this terrific book of short stories, The Secret Goldfish, in case you never heard of him. The best one in it was "The Secret Goldfish." It was about this little kid that wouldn't let anybody look at his goldfish because he'd bought it with his own money. It killed me. Now he's out in Hollywood, D.B., being a prostitute. If there's one thing I hate, it's the movies. Don't even mention them to me.



Retomo um post de há seis anos, quando Salinger morreu. É um dos meus livros preferidos, ainda que já não me recorde porque gostei tanto dele.

Qualquer adolescente à procura de respostas se revê em Holden Caufield e na sua distância do mundo. Foi isso que aconteceu comigo. O cinismo de Caufield seria relativizado pelas experiências quotidianas, de uma sensibilidade à flor da pele, do jovem telegrafista Homer Macauley na Comédia Humana, romance escrito em 1942 por William Saroyan (1908-1981), um autor hoje quase esquecido entre nós.

A vida de reclusão de J.D. Salinger esteve na base do filme Finding Forrester, de Gus Van Sant (2000). Não é uma obra-prima, mas é um filme sensível, com nervo, livros, palavras e gente dentro. Nos dias de hoje já não é coisa pouca.

OS HOLANDESES


Mais uma crónica para mourenses acima dos 50 anos. Mais um desafio à memória de muitos de nós. A começar pela minha...

Chegaram a Moura pela primeira vez na Primavera de 1970. A minha recordação é essa, mas pode ter sido antes. Durante vários anos, e sempre na mesma altura, lá chegavam eles. Eram “os holandeses”. Um casal mais os filhos, que estacionava a carrinha (seria uma Volkswagen Transporter, daquelas conhecidas como pão de forma?) na zona do matadouro. Mas seria mesmo na zona do matadouro, ou essa ideia fixou-se-me por lá a ter visto uma vez?

Até meados da década de 70, “os holandeses” faziam parte do nosso calendário. A notícia da sua chegada corria célere e era bichanada nas nossas aulas da escola primária “já chegaram os holandeses”. Corriam a vila, andavam pelas tabernas e relacionavam-se com a rapaziada mais nova. Nós com os miúdos, o casal com a juventude irrequieta local. Por vezes, traziam roupa já usada em razoáveis quantidades, que distribuiam aos mais carenciados. Nessa Moura que muitos já não conheceram, e outros preferem esquecer que existiu, as diferenças económicas e sociais eram mais flagrantes e violentas que hoje. Lembro-me de uma cena de pancadaria, motivada por alguma injustiça na distribuição do espólio trazido das margens do Mar do Norte.

Um belo dia, o holandês mais velho ganhou, aos meus olhos, o estatuto de quase-mago. Ou de mago mesmo. O televisor avariara-se. Ouvia-se o som, mas imagem nada. Os desenhos animados do Speedy Gonzalez e do Picapau tornaram-se uma miragem sonora... Eis que alguém informou o João que “o holandês” sabia umas coisas de televisores. Apareceu-nos a um final de tarde, com uma maleta de onde tirou uma válvula. Abriu o aparelho, substituiu a peça defeituosa e “abracadabra”, o Speedy Gonzalez voltou a aparecer no écran. Pouco me faltou para desmaiar de emoção.

Um ano, na época habitual, “os holandeses” não vieram. Talvez venham mais tarde, apostámos. Não chegaram mais tarde. Tal como não deram sinal de vida no ano seguinte. Nem nos que se seguiram. A minha memória detém-se aí. Mas não posso jurar que não tenham regressado algum dia.

Aos poucos, “os holandeses” foram caindo no esquecimento. Nunca cheguei a saber porque vinham a Moura, de onde eram, nem o que faziam na vida. Muito menos sei, ou saberei, porque deixaram de vir.


Recordações distantes de factos pouco relevantes, mas que fizeram parte da meninice de tantos de nós.

Crónica publicada em "A Planície" (1.2.2016)