quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

OLIVENÇA

Não refiro Olivença por causa do tal assunto.

É que, no próximo domingo, vai ali ter lugar o regresso do matador Juan José Padilla. Um homem de coragem. Touros de Núñez del Cuvillo para o jerezano, para Morante de la Puebla e para José María Manzanares.

Conto por "derrotas" as corridas com Morante. Será desta?

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

SHANE

Regressemos ao cinema. Com um filme de cinéfilos, Shane, de George Stevens. Não revejo Shane há muitos, muitos anos. Recordo duas cenas: o tiroteio final e a demonstração do uso de uma arma. Hoje deve causar horror aos do politicamente correto, mas o filme não seria o mesmo sem estes segundos cheios de vigor.

Let me see you shoot, Shane.

What do you want me to shoot at?

That little white rock over there, see?

E há, também, o chamamento final:
Shane come back! Come back Shane!
Já nos aconteceu a todos, não é verdade?

ET MAINTENANT, UN PEU D'AGRICULTURE

Na realidade, é mais um raid em torno das plantas aromáticas. O projeto é da ADC-Moura e tem tido apoio financeiro e logístico da Câmara Municipal de Moura.

A que me refiro? Ao projeto MEDISS, desenvolvido pela ADC-Moura em conjunto com mais cinco parceiros e que visa "construir uma rede transnacional com o objectivo de favorecer o desenvolvimento da fileira mediterrânica dos 'aromas e sabores' sustentando-a na inovação e nos princípios do desenvolvimento sustentável."

O seminário de encerramento do projeto terá lugar na próxima sexta-feira, no âmbito do Salon International de l'Agriculture, em Paris. Estarei presente, na qualidade de vereador da Câmara de Moura. Dois aspetos me agradam, em particular: 1) saber que há entidades fora do âmbito autárquico que se movimentam e têm iniciativa; 2) saber que a minha Câmara é parceira empenhada nestas (e noutras) iniciativas.

Sobre o Salon: http://www.salon-agriculture.com/
Sobre o MEDISS: http://www.mediss.eu/


O PLANO DUODÉCIMO DO TÓ-ZÉ

É o que nos vale. Por detrás do estilo assim-tipo-angústia-existencial-bergmaniana esconde-se um sujeito divertidíssimo. Ontem o líder do PS anunciou o Laboratório de Ideias e de Propostas para Portugal (LIPP), mas o resultado deste trabalho só será apresentado em 2015. Segundo o Tó-Zé, o programa político do seu partido terá “três anos de preparação e nove anos de execução”. Visão é isto. Olhar longe, imaginar um País a longo prazo. Ou seja, o Tó-Zé está a contar passar mais três anos na oposição e depois conta que a Pátria lhe caia no regaço. E conta também ser reeleito em 2019. Visão é isto, também.

O governo acabou com a terça-feira de Carnaval? Não há problema. Temos o Tó-Zé Seguro...

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

CARTAS DE BISSAU - nº 7 E ÚLTIMA

Caros leitores

A imagem é da fachada do Hotel Turismo, em Bolama. Do que aqui se vê restam, apenas e só, ténues vestígios da estrutura do portão de entrada. Um monte de ruínas cobre todo o perímetro do hotel.

Ao longo de dois dias foram-se cruzando à minha frente imagens de uma cidade sobre a qual se diz Bolama dismaia ma i ka murri. Sinceramente, tenho as maiores dúvidas quanto ao ditado. Duas perguntas me têm perseguido: porque morre uma cidade? como morre uma cidade?

Os rolos fotográficos feitos e a pesquisa iconográfica que se seguirá obrigam-me a percorrer uma caminho inesperado e a trocar, uma vez mais, as voltas ao percurso previsto.



CARTAS DE BISSAU - nº 6

Caros leitores

O barco recuperou da avaria, permitindo-me 48 horas intensas, a vários títulos, em Bolama. Os detalhes do que se passou ficará para outro momento. O interesse em visitar a cidade era antigo (v. aqui) mas só agora se concretizou o desejo. As surpresas foram muitas. Logo à chegada a cidade tem à vista um dos raros monumentos fascistas da era mussoliniana que sobreviveu à queda do regime. A dedicatória diz "Mussolini ai caduti di Bolama". Trata-se de uma homenagem a cinco aviadores falecidos em dois acidentes, ocorridos no mesmo dia (v. uma síntese do que ocorreu na notícia do Brewster Herald de 16 de janeiro de 1931 - v. aqui).

Uma peça insólita? Sem dúvida. Bolama reservar-me-ia mais momentos inesperados.
 
 

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

CARTAS DE BISSAU - nº 5

Caros leitores

Em princípio o blogue ficará inativo até segunda à tarde. Amanhã há o caminho marítimo para Bolama e a quase certeza de não ter acesso à net. Ou talvez não.

A meio da tarde de hoje lia-se um aviso no cais de Pidjiguiti: Barco tene problema di avaria. OK, poderá assim haver barco ou não. Se houver poderei, enfim, ver a antiga capital da Guiné, muito delapidada pelo tempo e pelos homens. Restam alguns monumentos, memória da glória de tempos idos. Muitas coisas desapareceram de todo. Como a estátua de Ulisses Grant, presidente americano ligado à história da cidade. O colosso em bronze foi apeado e depois dado como perdido em circunstâncias pouco claras (v. aqui).

Se a avaria persistir será a oportunidade de rever amigos, como o Leopoldo Amado e a Filomena Miranda, que passaram pelo dia de ontem de forma demasiado rápida. E de tentar localizar o fugidio Domingos Semedo, caso já tenha regressado de Dakar.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

CARTAS DE BISSAU - nº 4


Caros leitores

Hoje foi o dia de apresentar, na Câmara Municipal de Bissau, o livrinho com imagens de Moura e da capital guineense. O momento mais emotivo ocorreu quando o presidente Armando Napoco me decidiu outorgar a nacionalidade guineense, pelo facto de ter feito o livro e de ter sentido como meus os sítios por onde andei.

Na verdade, as fotografias feitas, por minha conta e risco, no final do mês de janeiro de 2010, procuravam dar a conhecer aspetos de diversidade e a forma como nos podemos sentir muito próximos do que parece ser tão diferente. Nestas alturas lembro-me, sempre, de um velho e querido amigo que me repete, sempre, com brandura "a Pátria do Homem é o planeta Terra".

Djarama, Presidente!



quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

CARTAS DE BISSAU - nº 3

Caros leitores

Dei-me conta, ao longo destes dias em Bissau, de um curioso fenómeno, que é sinal dos tempos, das modas e da padronização dos gostos. Numa cidade onde a quase totalidade da população é de origem africana, há cada vez mais raparigas a aderir ao cabelo liso. Um desfrisar forçado e trabalhoso, e que não resulta muito bem.

No final dos anos 60 do século XX grupos contestatários americanos promoveram e popularizaram exuberantes penteados afro, como o que tornou inconfundível a imagem da ativista Angela Davies. Agora, o estilo não tem a mesma popularidade e já não marca um género político. À minha frente, na parede do fundo do átrio, tenho um anúncio da Senegal Airlines. Com uma elegantíssima modelo de pele escura, mas de estilo "ocidental".

É uma lástima que a beleza esteja circunscrita a padrões estreitos e que tudo tenha, sob pena de rejeição, de ser igual ao que a moda ocidental decide. 

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

CARTAS DE BISSAU - nº 2

Caros leitores

A Guiné-Bissau não é um PALOP, é um PALEC (País Africano de Língua Efetivamente Crioula), Muito pouca gente fala português e creio que quase ninguém tem o português como primeira língua. Várias pessoas se me dirigiram em francês e, ao longo dos desfiles de carnaval nenhum dos grupos usou outra língua para além do crioulo. Não deixa de ser curioso que seja essa língua, com tantos contributos do português, a garantir a unidade nacional, em termos de comunicação.

O que quer dizer NÔ PINTCHA? Vamos para a frente. Não sei crioulo, mas o fundador do jornal que tem esse nome acaba de me elucidar sobre o significado da expressão.

Depois de amanhã será apresentado na Câmara Municipal de Bissau o livrinho Moura-Bissau. Com edição bilingue. O que não implica abdicar da língua portuguesa. Antes pelo contrário.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

CARTAS DE BISSAU - nº 1

Caros leitores

Hoje, a meio da tarde, não se conseguia circular na Avenida dos Combatentes. Passos Coelho decidiu que não haveria carnaval, mas vozes de coelho não chegam a Bissau. Por isso, muitos milhares de jovens enchiam as laterais da Avenida, esperando o cortejo de carnaval. Senti-me um quase ancião, enquanto esperava o desfile, mas isso foi o menos.

Que carnaval tem Bissau? Um carnaval de grupos culturais, vindos de todos os cantos do país. Cinco grupos hoje, mais cinco grupos amanhã. Há samba? Não há. Há estrelas de cinema? Nem por sombras, embora não por falta de beleza. Que há então? Música tradicional e danças no mesmo registo. E pequenos números teatrais, sempre de forte carga política. Todos os grupos afinaram pelo mesmo diapasão: necessidade de paz e de desenvolvimento. Apelos à cultura, a mais e melhores escolas e a mais paz. Tendo em conta os incidentes da manhã de hoje na baixa de Bissau, mais ajustado se revela este discurso.

Pode fazer-se política assim? Pode. Pode e deve, diria mesmo.

Era já noite cerrada quando virámos para a Avenida Domingos Ramos. Antes ainda da animada conversa com o Presidente Armando Napoco. Mesmo a 4000 kms, Moura esteve em fundo.


sábado, 18 de fevereiro de 2012

DE ÁFRICA A ÁFRICA

O mês está a ser tudo menos normal. Mas o regresso a Bissau significa, sobretudo, a oportunidade de dar novo impulso a dossiês em aberto. E de saldar dívidas sentimentais. Que são sempre as mais difíceis.


A fotografia data de finais de janeiro de 2010. Foi no bairro de Santa Luzia.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

ISTO É SÓ POR SER CARNAVAL, NÃO É?

Lisboa, 17 fev (Lusa) - O ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, vai coordenar a Comissão Interministerial de Criação de Emprego e Formação Jovem, criada esta semana, que recebe segunda-feira os parceiros sociais.

Vá lá, agora a sério, isto é por ser Carnaval, não é? É mais uma brincadeirinha, certo? É só prá malta descontrair e ficar assim tipo mais bem disposta, verdade?

Claro! Eu sabia que só podia ser uma partida de Carnaval. Quem é que disse que Passos Coelho não tinha sentido de humor? Afinal tem. E logo na vertente Monty Python.
 
 

خمسة :TLEMCEN


Tlemcen: khamsa (5)

A mesquita da Mansourah está fechada ao público. Foi o único momento em que agradeci a imposição de andar com escolta policial. Fiquei sozinho no recinto. Tive o som dos meus passos e os cliques da M6 como companhia. E um poema de Gastão Cruz. E Moura e Mértola e Mértola e Moura.

Ramo
Talvez eu não consiga quanto amo
ou amei teu ser dizer, talvez
como num mar que tu não vês
o meu corpo submerso seja o ramo
final que estendo já não sei a quem

أربعة :TLEMCEN


Tlemcen: arba'a (4)

OK, esta é mesmo só para recuerdo...

Momento de inauguração da exposição, com a presença da Dra. Lídia Nabais, secretária da Embaixada de Portugal em Argel. Na verdade, foi graças ao empenho da Embaixada de Portugal em Argel, do Instituto Camões e do Office National de la Culture et de l'Information argelino que este evento foi possível.

Sites:
Tlemcen, capital cultural do mundo islâmico - http://www.tlemcen2011.org/index1.php?lg=2

Embaixada de Portugal em Argel - http://www.embaixadaportugalargel.com/

ثلاثة :TLEMCEN


Tlemcen: thalatha (3)

Não é só a beleza do complexo de Sidi Boumediènne, situado num bairro popular no limite oriental da cidade de Tlemcen, que chama a atenção. O mausoléu em si e o seu sistema de inumações privilegiadas com raízes da Antiguidade Tardia fez-me pensar na necessidade de retomar o estudo sobre as práticas funerária dos muçulmanos do Ocidente. Talvez um dia...

Há outra razão para recordar este local. Foi aqui, e a um outro sítio com peso religioso, que o presidente Houari Boumediènne (1932-1978) veio buscar o seu nome de guerra. Já agora, o verdadeiro nome dele era Mohammed Ben Brahim Boukharouba.

إثنان :TLEMCEN


Tlemcen: ithnan (2)

A primeira reação foi de surpresa. Por toda a cidade havia outdoors como este anunciando a exposição Mértola, o último porto do Mediterrâneo. Ao fim e ao cabo, a minha pequena vila era, para todos os efeitos, o equivalente a Portugal... Nem mais nem menos.

A segunda surpresa foi ainda maior. A conferência de abertura da exposição teve a presença de largas dezenas de jovens, que me bombardearam com perguntas sobre a arqueologia islâmica em Portugal, sobre o porquê do trabalho em Mértola, sobre o património, sobre, sobre, sobre... A maior dificuldade foi explicar como o centro de um projeto está sedeado numa vila de 1400 habitantes. E tentar traduzir a relação existente entre o Campo Arqueológico de Mértola com a Universidade de Coimbra no âmbito do CEAUCP foi mesmo um verdadeiro desafio.

É uma enorme curiosidade e um enorme entusiasmo ao qual é preciso dar resposta com programas de intercâmbio. Como e quando é o que falta saber.

واحد :TLEMCEN


Tlemcen: wahid (1)

O sítio tem o bucolismo descrito na obra do pintor orientalista? Não tem, mas não temos, também, forma de saber se Frederick Arthur Bridgman inventou, ou não, o bucolismo do sítio.

O pátio da mesquita está hoje coberto de mármore, mas o que mais chama a atenção é o silêncio do sítio, entre as orações do meio do dia e da tarde.

A arquitetura do sítio devia ser semelhante à dos espaços de culto existentes no sul de Portugal na mesma época. Resta-nos o precioso desenho de Duarte Darmas para o sugerir.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

OS EXTINTORES IMPLACÁVEIS

Extinção de freguesias, extinção de tribunais, extinção de carreiras, extinção de estações de correios, extinção de transportes ferroviários, extinção de serviços. A palavra extinção é a mais ouvida nestes dias.

Alguém me consegue dizer o nome de um Homem de Estado que tenha passado à História e recordado positivamente por extinguir o que quer que fosse desta forma? Um só, por favor.

Há quem se veja num papel messiânico. A vaidade pessoal é uma coisa, a verdade da História outra.


terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

DO TERMINAL 2D AO TERMINAL 2F

Duas notas, no meio das correrias do dia:

1. Os portugueses estão em segundo lugar, no escalão 60-64 anos e entre os 27 países da União Europeia, nos que mais trabalham: 44%, nem mais nem menos. A taxa de população empregada nesse escalão é apenas ultrapassada pela Suécia (61%). Ou seja, a ficção, tão alimentada nos últimos tempos, que "isto é só malta na reforma" é um embuste. Que muito convém a quem gosta de olhar os trabalhadores, e em especial os do setor público, como sibaritas dissipadores. São dados mais que conhecidos (a fonte é o EUROSTAT e a publicação veio no Le Monde de ontem), mas que convém recordar.

Já agora, é também interessante referir que os cinco países onde há menos gente a trabalhar naquela faixa etária são, e em ordem decrescente, a Hungria, a Eslováquia, a França, a Áustria e a Bulgária. Cadê a Grécia?

2. A revista da Air France dá grande destaque a Joana Vasconcelos, a barroca, original e portuguesíssima escultora. A galeria dos espelhos do Palácio de Versalhes será o local que irá albergar peças concebidas propositamente para essa exposição (v. aqui). Não duvido do sucesso nem, muito menos, do impacto que a iniciativa terá em França.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

A ESTRADA PARA TLEMCEN

O Teatro das Cidades 

Qualquer tempo é um tempo duvidoso
assim o meu cercado de cidades
plataformas instáveis
praticáveis cobertos de infinita gente náufraga
que se inclina nas águas como um palco

Paro na convergência dos estrados
chove já sobre a raça ameaçada
Incertas multidões em volta passam
contemporâneas falam interpretam
a duvidosa língua das imagens

Assim no teatro abstracto das cidades
morrem palavras sobre um palco náufrago

O tempo cobre o céu que se enche de água


Não deverei encontrar em Tlemcen a paz que me foge. Em três dias, seguramente que não. Não levarei, sequer, um livro de Gastão Cruz, mas sim o bem mais prosaico Huntington. Para refrescar lugares comuns. E o pátio da Djamaa el-Kebir da cidade estará, decerto, diferente da visão que dele teve, em 1886, o pintor orientalista Frederick Arthur Bridgman (1847 - 1928). Espero poder fotografá-lo. Ao menos isso.

PAUSA OU TALVEZ NÃO


De hoje até sábado o blogue fica sujeito a uma disponibilidade de rede que me escapa. Até amanhã à noite ou até dia 18 ao fim da noite. Veremos.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

À ESCUTA

Tem causado algum frisson a divulgação da troca de palavras entre um ministro português e um ministro alemão. Este esquema de escutas ilegais, disso se trata, é preocupante. Quais são os limites, a partir de agora? E quem os define? E a quem interessa este big brother da política?

MUSEU DE MOURA - Nº 7: ALIFATO

O que aqui se mostra é um fragmento da peça, que está inédita. Trata-se de um omoplata de um bovídeo na qual, para além da invocação Bismillah ar-rahman ar-rahim (em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso), se organiza, em diferentes linhas, o alifato ou alfabeto da língua árabe.

Encontrada numa fossa pelo José Gonçalo Valente este alifato, que não estamos convencidos que fosse "mágico" ou "apotropaico", está miraculosamente intacto. Foi encontrado numa fossa do castelo e será publicado autonomamente e integrará depois a memória arqueológica do sítio. Um TEC, que sairá em outubro. Custe o que custar, como diz o outro.

FORAM NÃO SEI QUANTOS MIL


300.000 no terreiro do povo. Os jornais citam alguém que diz que isto é um momento de viragem. Deve ser, e ele até se adesiva bem a estas coisas. Mas sem a raiva dos portugueses e sem a capacidade de mobilização da CGTP nada disto teria acontecido. Não sei se o governo ouve as ruas. Mas se não ouve, deveria fazê-lo.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

QUE FUTURO PARA O MUSEU REGIONAL DE BEJA?

Objetivamente falando, o Museu Regional de Beja corre o risco de fechar.

Porquê? Porque a Câmara Municipal de Beja, que assegura 60% das verbas de funcionamento do museu (os restantes 40% são repartidos pelas outras câmaras da Assembleia Distrital) votou contra o orçamento proposto, "que responsabiliza a Câmara de Beja por encargos muito acima das suas capacidades de tesouraria". O edil de Almodôvar, António Sebastião, que preside à ADB, suspeita que o município bejense possa deixar de fazer as transferências. Ou seja, sem capacidade de pagar aos seus funcionários e com salários em atraso (os vencimentos de janeiro ontem ainda estavam por pagar), o Museu de Beja tem o futuro ameaçado.

Chegado a este ponto, deixo aqui algumas questões:

1. É admissível que se possa pensar no encerramento, por falta de perspetivas futuras (que têm de ser criadas), de um dos principais museus do Sul?
2. É admissível que a cidade se alheie de uma das suas mais emblemáticas instituições e deixe que ela definhe, sem poder cumprir a sua função?
3. É admissível que os poderes públicos olhem para um Museu (e logo este, cheio de carga simbólica e possuidor de uma notável coleção) como se encara um setor dispensável de um qualquer organigrama?
4. Pode uma cidade reclamar protagonismo, quando não cuida de uma parte essencial da sua memória?
5. Vai Beja deixar que se encerre o seu museu?
6. Que vai, afinal, acontecer ao Museu de Beja?

O problema não é de agora. A lógica instrumental da cultura também não. O financiamento das atividades culturais - mesmo antes do turismo cultural ser moda - sempre foi um martírio. Concluia Diogo Bernardes, no século XVI:

E porém de Mecenas tantos temos
Como de brancos tem a Etiópia...

 

CAÇA E PESCA EM SANTO ALEIXO


Começou hoje à tarde e vai até domingo à noite. É a 1ª Feira de Caça e Pesca da Tomina, uma iniciativa mais que meritória da Comissão de Festas da Tomina. O programa inclui solta de perdizes (a da fotografia não conta), mostras de matilhas, concursos de cães de parar e tudo o mais que possamos esperar num certame destes.

Antes da partida para o Magrebe ainda passarei por Santo Aleixo.

A feira tem o apoio da Câmara Municipal e da COMOIPREL.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

ANTIGUIDADE DA CIDADE DE BEJA

Não foi o momento de maior número de presenças no colóquio de hoje, em Beja, mas as mais de 60 pessoas que se reconhecem na fotografia diz bem do interesse que o tema, apesar da sua especificidade, suscitou. Foi simpáticos termos a presença, para além de pessoas da cidade, de colegas vindos de Mértola, Moura, Évora, Silves, Lisboa etc.

Há dias alguém se queixava que não sabia onde se realizava o colóquio. Bastaria ter ido ao site da Câmara Municipal, caramba...

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

GRANDE GALLO

Ao pé do ex-ministro Manuel Pinho sou um aprendiz. Mas tenho méritos muito próprios.

No meio de uma Volta a Portugal destinada a promover a OLIVOMOURA fui recebido numa GRANDE EMPRESA (capital letters, please). Vai daí fui convidado a conhecer as modelares e moderníssimas instalações do lagar. Um espaço quase de filme de ficção científica, que nada tem a ver com as sumárias fabriquetas de outrora. Vai daí resolvi elogiar o marketing da empresa recordando um anúncio televisivo já antigo, que tenho como um exemplo de sensibilidade e eficácia de comunicação. Os meus interlocutores fizeram um ar um pouco intrigado, que atribuí à sua juventude. Dei então detalhes sobre o anúncio. Um deles, com um ar entre o divertido e o resignado, clarificou "esse anúncio não é nosso, é da Gallo". Exclamei, pragmaticamente, "ena, era difícil ter metido uma gaffe mais perfeita que esta". O que vale é que era um casal de jovens descontraídos e de boa disposição. Não será por aqui que a OLIVOMOURA fracassa.



















O anúncio da Gallo é este. Data de 1995.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

OS BANQUEIROS ANARQUISTAS

Os bancos fecham no Carnaval.
Em contrapartida, os deputados do PCP e os do BE estarão no Parlamento a trabalhar. Mainada! Assim é que é. Uma esquerda responsável. Meninos mai lindoooos!

Banqueiro munta louco ao ataque do Carnaval de Torres

domingo, 5 de fevereiro de 2012

DIANE ARBUS

Encerra hoje, em Paris, uma exposição antológica sobre Diane Arbus. Vi-a há dois meses, com a Júlia. Foi, de certeza absoluta, a mais perturbadora exposição de fotografia que vi, desde a primeira de todas (de Nuno Ferrari, na festa de Moura de 1970). Diane Arbus (1928-1971) fez, há muitas décadas, o que depois se tornou banal e, até, repetitivo. Andou por mundos marginais e proibidos, fotografou, sem preocupações de leitura social ou política imediata, tudo aquilo - deformidades, taras,  corpos e faces fora dos padrões da normalidade, comportamentos aberrantes -, que outros evitavam.

Aqui ficam três exemplos:


Ver: http://diane-arbus-photography.com/

PRONTO, JÁ ESTÁ...

José Pedro Castanheira, redator do Expresso e um dos pitonisos da entourage socialista, já despachou o novo coordenador da CGTP: "solto, radical e maniqueísta, a fazer lembrar a Intersindical de outros tempos". Subtilezas pouco subtis, o uso das palavras radical, maniqueísta e Intersindical.

Desde os tempos do defunto O Jornal que leio as críticas de um setor da comunicação social ao "dogmatismo" do PCP (Arménio Carlos é membro do Comité Central). Que em França é que era blablabla novos tempos blablabla inovação ideológica blablabla euro-comunismo blablabla. Claro que sim. A evolução foi tão bem sucedida que o PCF é, hoje, uma total irrelevância, tendo 15 deputados em 577 (2,6%). Nas próximas presidenciais não terá candidato próprio, apoiando o candidato da Frente de Esquerda (não sei isto vos recorda qualquer coisa).

Se Arménio Carlos provoca irritação por ser "radical" e "maniqueísta" isso é bom sinal. Indiscutivelmente.
 



CIENTISTAS POLÍTICOS - DE COMO NOS TRANSFORMÁMOS EM COBAIAS DO DR. BUNSEN MELÃO

As recentes movimentações em torno da reforma do sistema eleitoral (com as autarquias à cabeça) já não deixam margem para dúvidas. Estamos em pleno laboratório. Tragicamente, as cobaias somos nós. Os cientistas políticos que assessoram o governo estão a fazer ensaios e a testar soluções. Julgam-se deus ex machina, com soluções miraculosas, a impor - a le-gis-la-ção (oh, não, mais e mais legislação...) que aí vem é disso que trata - às massas ignaras.

Um recente artigo de Martim Avillez Figueiredo, intitulado Um país em rede, é disso que trata. Usa como ponto de partida um livro de Lisa Gansky, uma empresária americana, que se traduz num objetivo e cito: "partindo de uma oferta central forte, gerada por uma empresa, criam-se mecanismos que estendam esse valor a outras comunidades, e destas para outras, através de princípios simples de partilha de produtos, da dinamização de cadeias de valor ou da utilização agregada de bens físicos [comentário: está encontrada a inspiração para as centrais de compras para as comunidades inter-municipais]." Conclui mais adiante MAF: "(...) se Lisa Gansky estiver certa, esta reforma vai colocar o Portugal mais forte ao serviço do país empobrecido. Se estiver errada, vai piorar o clima de tensão social. Mas tudo isto é melhor do que a perspetiva de continuar a olhar apenas, para o velho Portugal". A nonchalance destas palavras é tremenda. Falhou? Que pena. Aumenta-se a tensão social? Olha que maçada... A ideia da partilha e do país pequeno entrar na engrenagem do país grande, no centro da decisão, é pueril e politicamente impraticável. Uma semana dentro de uma Câmara do interior do país daria para MAF onde e porquê este esquema falha. É que, detalhe da maior importância, os municípios são habitados por pessoas e não por esquemas teóricos.

Estamos nas mãos de um vasto conjunto de Bunsens Melões... Que não conhecem o raio do País onde vivem.


sábado, 4 de fevereiro de 2012

OLHOS



  Olhos:
brilhantes da chuva que caiu
quando Deus me mandou beber.

Olhos:
ouro, que a noite me contou nas mãos,
quando colhi urtigas
e fiz arrepender as sombras dos Provérbios.

Olhos:
noite, que sobre mim resplandeceu, quando escancarei o portão
e atravessado pelo gelo invernoso das minhas fontes
saltei pelos lugares da eternidade.

Paul Celan


Um inocente post sobre Camões quase gerou uma bolsa de apostas. De quem eram os olhos? Ava Gardner? Hedy Lamarr? Katharine Hepburn? Nada disso. São de Joan Crawford.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

REGENERAÇÃO URBANA: PARQUE DE LEILÃO DE GADO

É uma das várias obras em curso, em resultado de um projeto elaborado pela Câmara de Moura no âmbito das Parcerias para a Regeneração Urbana. O Parque de Leilão de Gado, situado no Parque Municipal de Feiras e Exposições, é uma dessas peças. Depois da conclusão da primeira fase é agora possível terminar este equipamento. O projeto, do arq. Pedro Ângelo (CMM), culmina um longo processo de investimentos no melhoramento de um espaço essencial à atividade económica do concelho.

As obras causam transtornos? É verdade. Mas são necessárias e representam um avanço significativo não só para Moura como para todo o concelho. A feira do bovino mertolengo sai este ano prejudicada por esse motivo? Sim, mas em breve estas obras estarão concluídas e em condições de dar resposta à importante atividade pecuária do concelho.

Com esta intervenção e com os acertos recentemente realizados na rede elétrica ficam, no essencial, concluídas as obras do Parque de Feiras e Exposições.


quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

DE

A Júlia foi viver para França há 20 anos. Os nomes próprios dela são Júlia de Fátima. De Fátima é uma desgraça. Uma prova clara de que os padrinhos não tinham piedade nem complacência na hora da escolha. A questão é que, como toda a gente sabe, o “De” em França está reservado, estritamente, a membros da nobreza. Tal como o “Von”, na Alemanha: Valéry Giscard d’Estaing ou Herbert von Karajan, por exemplo.
 
O engraçado disto é que a Júlia foi, por várias vezes, questionada sobre a origem nobre da família. Lá explicava que não, que é 100% plebeia, mas a conversa soava de forma esotérica aos franceses. Ainda hoje, de tempos a tempos, a confusão emerge.
Vem isto a propósito da mania recente de acrescentar o “De” ao apelido, numa espécie de “upgrade” antroponímico. Se a subida de classe não se faz de outro modo, que se faça assim. A inflação dos “De” tornou-se notória e tem tanto de visível quanto de ridícula. Sublinho que o “Do” e o “Da” não contam. São do povo.

Acrescentar o “De” ao nome pode ser uma tentação com resultados trágicos. Nem sempre dá estilo. De Mendes ou De Dias não soa nada bem. Ao contrário, De Vasconcellos ou De Mello, com consoante dobrada, são ótimas soluções. Já o tentar inventar um Santiago De Macias não dá jeito nenhum. Soa a cantor de flamenco ou a bandarilheiro. Não se lhe associa a ideia de promoção social. De Soto é bom, mas está reservado a carros.

Refinado mesmo é ter o De no nome e não o usar. Um amigo meu, que é marquês, de título e não de nome, não usa o título nem o De no seu extensíssimo nome. Isso sim, é “chique a valer”, como diria o Dâmaso Salcede do imortal Eça.

A conquista do nome de família  é relativamente recente. É um elemento de identidade importante, mais ainda num Alentejo quase tribalizado, e onde os apelidos denunciam, com frequência, uma origem geográfica precisa. Chega? Para muitos não chega, claro. É preciso mais. É necessário um “De” que azule o sangue e faça aproximação a passados prestigiosos e de grandes feitos. A dias gloriosos, ainda que ficcionados e totalmente inexistentes. Tanto quanto as partículas de nobreza inventadas. As quais são, por isso mesmo, muito mais divertidas. 

Quem nos vale, nestes tempos de dificuldade são os que, voluntaria ou involuntariamente, nos ajudam a descomprimir dias que vão sendo penosos. Nunca lhes agradeceremos em condições o esforço que fazem e que tanto nos alivia.

Crónica publicada no jornal A Planície de 1.2.2012
 
 
Louis Auguste de France
Usava o De mas isso não o ajudou lá muito.

BEJA ANTIGA - 9 E 10 DE FEVEREIRO

Nestes eventos falta sempre qualquer coisa. Aqui faltavam duas, na realidade:

1. Faltava indicar o local do colóquio. Vai ter lugar no auditório da Biblioteca Municipal.
2. Faltavam logotipos no cartaz. São 7 (sete). Acho que já estão todos.

O programa completo pode ser consultado aqui.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

CAMÕES, À HORA DE JANTAR

À hora de jantar fui informado que, agora, Os Lusíadas são despachados em meia dúzia de aulas.  E que na lírica nem se toca. Se preocupado andava, pior fiquei. Não se fazem prédios sem pilares. Pouco saberemos de nós mesmos sem Camões.

Um soneto será fraca compensação. Mas este é especialmente bonito:

Quem vê, Senhora, claro e manifesto

O lindo ser de vossos olhos belos,

Se não perder a vista só com vê-los,

Já não paga o que deve a vosso gesto.

Este me parecia preço honesto;

Mas eu, por de vantagem merecê-los,
Dei mais a vida e alma por querê-los;
Donde já me não fica mais de resto.
Assim que Alma, que vida, que esperança,
E que quanto for meu, é tudo vosso:
Mas de tudo o interesse eu só o levo.
Porque é tamanha bem-aventurança
O dar-vos quanto tenho, e quanto posso,
Que quanto mais vos pago, mais vos devo.

MUSEU DE MOURA - Nº 6: S. PEDRO DA ADIÇA

Mais uma peça do Museu de Moura. Neste caso é proveniente de um sítio arqueológico sobre o qual se construiu a capela de S. Pedro, perto do Sobral da Adiça. O mais interessante, para além da monumentalidade das duas impostas datáveis do séc. V/VI (é um par, na realidade), é o facto de se ter constatado uma ocupação de longo prazo naquele sítio. Ou seja, a villa romana que ali existiu deve ter visto a sua existência prolongar-se até ao séc. X (à semelhança do que acontece em locais como o Monte da Cegonha, Milreu ou o Cerro da Vila). A hipótese baseia-se na descrição que José Fragoso de Lima fez do desenho observável em telhas que recolheu no local. As lavras não permitem, hoje, grandes voos interpretativos, mas os dados que Fragoso de Lima apresenta são muito interessantes. O texto a que me reporto existe apenas na biblioteca da Universidade Católica. Está incluído num dos nºs (o de 1963, salvo erro) da Analecta Sacra Tarraconensia.