Bem podem os politólogos escrever e explicar o que foram as
eleições europeias. Bem podem os produtores de opinião encher as páginas dos
jornais. A verdade é que estas eleições se pautaram por uma uma singular e
linear lógica. Tal como o apresentador Howard Beale no filme “Network”, que
enlouquece, e grita para quem o quer ouvir, muita gente pensou “I'm mad as Hell and I'm not going to take this anymore”. A loucura do
voto e a saturação de muita gente expressou-se de diferentes formas. Numa
Grécia martirizada por um centro corrupto e sem soluções, as pessoas procuraram
refúgio na extrema-esquerda e num partido nazi. Em França, o fascismo de tons
desmaiados de Martine Le Pen levou a melhor sobre uma classe política
acomodada. Na Inglaterra, são os independentistas quem leva a melhor sobre o
duopólio habitual. Na Bélgica, o ambíguo Bart de Wever, enfatiza o seu discurso
nacionalista. Na Dinamarca, os anti-europeístas do “Folkebevægelsen mod EU” ficaram em segundo lugar e
os anti-islâmicos do “Fremskridtspartiet” ganharam um representante em
Estrasburgo. Na Alemanha, os neo-nazis do
“Nationaldemokratische Partei Deutschlands” conquistaram um lugar no
Parlamento Europeu. Chega? Não, não chega. Pode ser pior e é. Na Holanda, o
“Partij voor de Vrijheid”, de Geert Wilders, com o seu
discurso xenófobo foi o terceiro mais votado. Na Áustria, o fascizante e populista “Freiheitliche Partei Österreichs,
FPÖ” atingiu 20%. “I'm mad as Hell and I'm not going to
take this anymore”? Sem dúvida. Muitos cidadãos desesperados procuram, a todo o
custo, alternativas e respostas. A face civilizada desse protesto surge em
Espanha, onde um filosófico “Podemos” chega aos 8% e aos 5 lugares. Um grupo
surgido do nada e que deu voz a muita gente cansada. Em Portugal, a lógica é
idêntica. Não teremos extrema-direita enquanto Paulo Portas fizer o pleno da
demagogia e se apropriar dos temas caros a essa faixa do eleitorado. E como
ninguém leva a sério José Pinto-Coelho ou Humberto Nuno Oliveira, o
justicialismo populista é tomado de assalto por Marinho Pinto, aka Marinho e
Pinto. O estilo Berlusconi assenta-lhe na perfeição. Ele sabe disso e gosta de
se/o exibir. Ou seja, a nossa sorte é que o espaço que os fascistas poderiam
ocupar é tomado por Marinho Pinto. E pelo obscuro José Inácio Faria, na
realidade o grande vencedor destas eleições. Ironia das ironias, ainda temos de
lhes agradecer…
Crónica publicada em "A Planície" de 1.6.2014