Não, não é Charlot. É um folião alpino, disfarçado de Charlot. Robert Capa fez esta fotografia, na Áustria, há 63 anos. Começa hoje, mas está frio e isto assim tem menos graça. Mas há carnaval.
O carnaval, provavelmente mesmo os assíduos na leitura do blogue não terão notado, é tema que por aqui passa todos os anos. Em tempos idos, disfarçava-me convictamente, porque essa é a regra mourense. Há fotografias desses tempos que poderiam arruinar uma carreira política, se eu estivesse preocupado com isso. Quando fui para Mértola, em 1991, percebi que o estilo era outro. Um carnaval menos carnavalesco, por assim dizer.
Em homenagem ao carnaval aqui ficam essas memórias, Robert Capa e um excerto de Álvaro de Campos.
CARNAVAL
A vida é uma tremenda bebedeira.
Eu nunca tiro dela outra impressão.
Passo nas ruas, tenho a sensação
De um carnaval cheio de cor e poeira...
A cada hora tenho a dolorosa
Sensação, agradável todavia,
De ir aos encontrões atrás da alegria
Duma plebe farsante e copiosa...
Cada momento é um carnaval imenso
Em que ando misturado sem querer.
Se penso nisto maça-me viver
E eu, que amo a intensidade, acho isto intenso
De mais... Balbúrdia que entra pela cabeça
Dentro a quem quer parar um só momento
Em ver onde é que tem o pensamento
Antes que o ser e a lucidez lhe esqueça...