sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

CARNAVAL FRIO

Não, não é Charlot. É um folião alpino, disfarçado de Charlot. Robert Capa fez esta fotografia, na Áustria, há 63 anos. Começa hoje, mas está frio e isto assim tem menos graça. Mas há carnaval.

O carnaval, provavelmente mesmo os assíduos na leitura do blogue não terão notado, é tema que por aqui passa todos os anos. Em tempos idos, disfarçava-me convictamente, porque essa é a regra mourense. Há fotografias desses tempos que poderiam arruinar uma carreira política, se eu estivesse preocupado com isso. Quando fui para Mértola, em 1991, percebi que o estilo era outro. Um carnaval menos carnavalesco, por assim dizer.

Em homenagem ao carnaval aqui ficam essas memórias, Robert Capa e um excerto de Álvaro de Campos.


CARNAVAL
A vida é uma tremenda bebedeira.
Eu nunca tiro dela outra impressão.
Passo nas ruas, tenho a sensação
De um carnaval cheio de cor e poeira...
A cada hora tenho a dolorosa
Sensação, agradável todavia,
De ir aos encontrões atrás da alegria
Duma plebe farsante e copiosa...
Cada momento é um carnaval imenso
Em que ando misturado sem querer.
Se penso nisto maça-me viver
E eu, que amo a intensidade, acho isto intenso
De mais... Balbúrdia que entra pela cabeça
Dentro a quem quer parar um só momento
Em ver onde é que tem o pensamento
Antes que o ser e a lucidez lhe esqueça...

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

TASSILI EM SANTO AMADOR


Hoje houve a queima da comadre. Um evento desta época do ano, quando o carnaval se aproxima e o paganismo se liberta. O percurso foi pelas ruas da aldeia, numa celebração histriónica. Num canto estava, juro!, um pouco do Tassili, sob a forma de pintura numa parede.

... THE PLEASING SCENE

Uma das "descobertas" é recente. Há dias, numa galeria de arte longe de casa, dei com uma fotografia de um autor que não conhecia: Yinka Shonibare (n. 1962). Este britânico de origem nigeriana tem várias recriações de obras de arte mais antigas. Uma delas replica uma conhecida tela de Édouard Manet. Com os antigos tons cinza e nacarados a serem substituídos pelas cores vivas do batik africano. A lógica das coisas pode ser discutível, mas o seu sentido aceita-se. Embora não possa deixar de se ler em Shonibare uma fina e ácida ironia.



O quadro de Manet está numa fundação suíça. A fotografia não sei onde está. De uma coisa se vai a outra e fui dar com este poema, absolutamente magnífico, de Emily Dickinson (1830-1886).


If I Should Die
If I should die,
And you should live,
And time should gurgle on,
And morn should beam,
And noon should burn,
As it has usual done;
If birds should build as early,
And bees as bustling go,–
One might depart at option
From enterprise below!
‘Tis sweet to know that stocks will stand
When we with daisies lie,
That commerce will continue,
And trades as briskly fly.
It make the parting tranquil
And keeps the soul serene,
That gentlemen so sprightly
Conduct the pleasing scene!

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

...DO LADO DE CIMA DO EQUADOR - II: CORNO MUSIC

Não garanto que fossem o Jads e o Jadson. Provavelmente não eram. Mas aquele zunzum estava a chatear: "méééuuu amóóóóór!!! voltáááá práaáá miiiimm". Um tipo a querer beber uma cerveja e a suspirar por um pouco de silêncio e a aqueles marmanjos putaquepariu não se calavam no televisor "nããão mi deixa nããão". Às tantas soltei um "ó pá, vai cantar prá tua rua!". Um homem na mesa ao lado riu alto. Era brasileiro. Inquiriu "sabe como chamamos este estilo de música no Brasil?". Eu não sabia mas ele esclareceu: "isso aí é corno music!". Foi a vez de eu rir alto. Não há nada como uma cerveja numa noite de calor para ganhar cultura.

LEITE DE VASCONCELOS - ARQUEÓLOGO

Foi ontem à tarde, na Assembleia da República. Nem audição, nem contestação, nem audiência, nem visita. Nem contacto formal com deputados, nem nada disso. O convite partiu do Museu Nacional de Arqueologia que, em conjunto com a AR, desenvolve esta iniciativa.

Coube-me fazer uma intervenção sobre o trabalho arqueológico de José Leite de Vasconcelos. Uma oportunidade para estar com colegas que muito prezo. E, também, a possibilidade de reafirmar princípios e opções que passam, em grande medida pelo papel dos municípios na salvaguarda, na promoção e na divulgação da nossa memória coletiva.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

...DO LADO DE CIMA DO EQUADOR - I: ARQUITETURA


Já uma vez aqui referi a tremenda vantagem de fazer boa arquitetura adaptada ao calor dos trópicos. Sem ar condicionado. Pude constatar, uma vez mais, a inteligência de um desses projetos, em Santa Catarina, na ilha de São Tomé. Durante uma visita a uma escola deparei com um sistema de ventilação que resulta do adequado posicionamento do edifício face à envolvente e da forma como o arejamento é feito. Funciona na perfeição, fazendo com as outras construções à sua volta pareçam (e são) um erro disparatado.

A obra é, seguramente, dos anos 50. Não sei o nome do arquiteto.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

JOSÉ NELA - I

Inicio aqui uma pequena série de textos sobre o pintor mourense José Nela, cujo nome verdadeiro era José Mendes Alves. Popularizou-se concebendo quadros por encomenda, que muitas vezes tinham por destino tabernas ou eram adquiridos por particulares. Não era um pintor naïve, mas sim um verdadeiro artista popular, com uma particular argúcia e com uma forma de fazer (através das colagens, em particular) que o aproxima de um certo estilo pop.

Este quadro, representando o castelo de Guimarães, apresenta-se, na escrita, como se de um ex-voto se tratasse. Data de maio de 1979.

A Câmara Municipal de Moura editou, em 1993, um catálogo sobre a sua obra.

Transcrevo o texto da pintura:

O CASTELO DE GUIMARAES
MUITO.SANQUE.1143.1148
FUI.DERRUTADO.SINTRA.MAFRA.PALMELA.LISBOA.ABRANTES.7.5.1979
OS.MOUROS.VOLTARO.ATACARA.O.CASTELO.DE.GUIMARAES.E.FUI.ACAMINHANDO.D.AFONSO.
PARA.AMAOS.ESTRANHAS.ORA.D.AFONSO.HENRIGUES.FILHO.DO.CONDE.D.HENRIGUE.
E.DE.D.TERESA.NETO.REI.DE.LEÃO.D.AFONSO.VI.TOMOU.DE.SUA.MAE.DEU.
CONDADO.PORTUGALENSE.EGAS.MONZ.SEU.AIO.DE.MUITO.VALORA.
A.SANGUE.DERRAMADO.O.REI.DE.LEAO.D.AFONSO.VII.PRIMO.DE.D.AFONSO.HENRIGES.
CUMESO.CONGUISTA.ENTRE.AS.TERREAS.AREMATADAS.AOS.MOUROS.SANTAREM.EVORA.BEJA

OS MELHORES CONGRESSOS SÃO OS DO PSD

Pensava eu que as eleições diretas tinham arrumado os congressos do PSD... Qual quê. Enganei-me em toda a linha. É claro que há coisas previsíveis. Mas aquele ritmo de ópera trágica não se esfuma assim, de um ano para o outro. São os eventos partidários mais animados e mais genuínos.

Ontem vinha de viagem e perdi parte da festa. Mas não deixei de acompanhar o essencial. Num gesto teatral ressurge Relvas. Depois houve Santana e Marcelo e Meneses. Houve vedetas e starlettes. E muita animação verbal. Cinco estrelas, para usar uma expressão que detesto.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

ENTÃO ATÉ JÁ...

O sítio até tem net, mas eu "só" levo a pasta dos papéis, um caderno de trabalho e o iPad.

O blogue regressa no dia 22, lá para o final da tarde.

AND THE OSCAR GOES TO... ASSUNÇÃO ESTEVES!

É uma breve interpretação, mas plena de significado e subtileza. Temos tido políticos poetas, romancistas, historiadores etc. Faltava-nos uma atriz. Pronto, já está. Assunção Esteves, presidente da Assembleia da República, consegue, em pouco mais de um minuto, conseguir dizer tudo sobre o inconseguimento. Ingmar Bergman, se fosse vivo, torcer-se-ia de inveja ante tão existencialistas tiradas. Ora lede e ouvi:

O meu medo (...) é o do inconseguimento;
O inconseguimento de eu estar no centro de decisão fundamental a que possa corresponder uma espécie de nível social frustracional;
Tenho medo que a crise não permita espaços de energia;
Tenho medo do não conseguimento ainda mais perverso, o da Europa se sentir pouco conseguida e de ela não projetar para o mundo o seu softpower sagrado, a sua mística dos direitos, a sua religião civil da dignidade humana.
Tenho medo do não conseguimento.

Uf! Tudo isto num minuto.

Mário Elias (esta é só para os mertolenses) foi um precursor; Jorge Jesus e Manuel Machado são compagnons de route.

A curta-metragem O inconseguimento, de e por Assunção Esteves, é a minha escolha cinéfila da semana.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

FLAGRANTES DA VIDA REAL - VI

Éramos vários à mesa. Pedi um jarro de vinho. "Meio litro", clarifiquei. O moço trouxe uma garrafa de quarto. Na rodada seguinte especifiquei "traga-nos agora uma de meio litro, se faz favor". Voltou a trazer um quarto. Depois dele se ausentar, já numa de boa disposição, olhei em volta e perguntei "enganei-me no pedido?". Confirmaram-me que não. Na seguinte, e só para ver no que dava, limitei-me a dizer "é mais meio litro". Não falhou. Veio mais um quarto. Tive uma crise de gargalhadas. Comentei que aquilo fazia lembrar uma cena de um filme de Truffaut (A noite americana, talvez), em que a atriz se engana sistematicamente, abrindo sempre a porta errada.

Agora, quando vou ao restaurante, já só peço "vinho, se faz favor". O jovem decide a quantidade. Que, por acaso, é sempre um quarto de litro.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

A CHUVA CAI LEVEMENTE

Levemente, mas sem parar. Não parou hoje, nem ontem, nem anteontem. Nem há vários dias. Nem amanhã, nem depois de amanhã. Nem no sábado. Um inverno cinza e frio. As palavras de Fernando Pessoa dizem essas coisas melhor do que eu diria.

A chuva e o hiper-realismo trouxeram-me à memória este Rue de Paris, temps de pluie, pintado por Gustave Caillebotte (1848-1894), um dos menos conhecidos do grupo dos impressionistas. O seu estilo de abordagem realista será recuperado mais tarde.

O quadro encontra-se hoje no Art Institute of Chicago.


    Cai chuva do céu cinzento
    Que não tem razão de ser.
    Até o meu pensamento
    Tem chuva nele a escorrer.
    Tenho uma grande tristeza
    Acrescentada à que sinto.
    Quero dizer-ma mas pesa
    O quanto comigo minto.


    Porque verdadeiramente
    Não sei se estou triste ou não.
    E a chuva cai levemente
    (Porque Verlaine consente)
    Dentro do meu coração.



    Fernando Pessoa, 15-11-1930



VIVER MOURA

Aqui se tenta contrariar o exercício de masoquismo em que somos - nós, os mourenses - tantas vezes useiros e vezeiros.

Ora bem, "então é assim":

Moura está em 11º lugar entre os 58 que integram a região alentejana;
É o 2º concelho do interior, atrás de Elvas (excluamos destas contas as capitais de distrito);
É o 1º concelho do Baixo Alentejo (excluindo a capital de distrito);
Está em 8º (!) lugar no capítulo de visitas e de negócios;
Deixa a larga distância algumas localidades, apontadas como supostos faróis do desenvolvimento.

Numa recente campanha eleitoral, um candidato à Câmara afirmava, com tanto de atrevimento como de desconhecimento, que apenas vira 2 (dois) turistas em Moura.

Como Presidente da Câmara registo estes dados e tenho a convicção que a política de infraestruturas iniciada há anos dá frutos. O resto é fraca conversa.

Ver o estudo completo em:
http://bloom-consulting.com/sites/default/files/files/Bloom_Consulting_City_Brand_Ranking_2014_Portugal.pdf


terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

UM HIPER-REALISTA NA CÂMARA DE MOURA



O título não é piada nem há qualquer tentativa de humor. O enquadramento é, exclusivamente, pictórico. Ao escolher, de entre um espólio guardado em instalações municipais, quadros para a sala de reuniões da presidência, a arq. Patrícia Novo fez questão em manter esta pintura, de temática vegetalista e muito ao jeito dos hiper-realistas. Está assinado "João Carvalho" e tem data, 2008.

Para se entender melhor o contexto aqui vos deixo uma tela de Richard Estes (n. 1932), concebida em 1969 e intitulada New York City Subway. 

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

OS TEXTOS DA MANUELA

Serve este "post" para dizer que todos os dias leio os textos que a Manuel Barros Ferreira escreve no facebook. São textos muito curtos, bem sei que as palavras não se medem aos palmos, imagens de um quotidiano ao começar do dia, embora não seja sempre isso. Gosto muito dos textos da Manuela e disse-lhe que um dia os divulgaria no meu blogue. Acho que não me levou a sério.

Hoje acordei na busca de algo de sublime que me fizesse acordar contente por acordar. Algo entre o ‘já não’ e o ‘ainda não’. Por exemplo, não ser bébé e já não fazer xixi na cama e ainda não ser tão velha que faça xixi na cama. Mas não tive tempo para ficar contente: daqui a pouco a rápida manhã de dedos de rosa encosta-se à tarde e a rapidíssima tarde de dedos de sombra encosta-se à noite cheia de lâmpadas. Felizmente já não e ainda não tenho de escolher entre luz de cera, luz de azeite e luz de petróleo. Nesse tempo que aí vem com passos de coelho, escolherei, dado já não haver fósforos, pirilampos debaixo de um copo.

Ó NÃO! O PEDRO LOMBA RESSUSCITOU OUTRA VEZ...

Em conferência de imprensa, no final do Conselho de Ministros, Pedro Lomba anunciou a transformação do Alto-Comissariado para a Integração e Diálogo Intercultural, I.P, em Alto-Comissariado para as Migrações, I.P, com o qual O executivo PSD/CDS-PP pretende colocar Portugal "na competição global pelo talento".
Questionado sobre qual a estratégia definida pelo Governo para conseguir esse objectivo, o secretário de Estado adjunto do ministro adjunto e do Desenvolvimento Regional respondeu que "um dos aspectos importantes dessa estratégia" consiste na "captação de estudantes internacionais", assinalando que hoje foi aprovado um diploma que estabelece o estatuto do estudante internacional.
"Por outro lado, através da criação de centros de conhecimento, de novos centros de investigação, de novas instituições, vai ser possível atrair mais talento estrangeiro, vai ser possível reter o talento nacional e vai ser possível criar condições para reverter a saída de muitos dos nossos jovens qualificados", sustentou.
"A estes instrumentos acrescerão outros, naturalmente, que fazem parte, de facto, de uma estratégia de captação. Depois, noutra ocasião poderemos falar um pouco mais aprofundadamente até sobre esses instrumentos", completou Pedro Lomba. [in SOL]

Perceberam? Sim? Mesmo? Eu não percebi. Primeiro aconselhamos os nossos jovens a dar o salto (a saírem da sua zona de conforto, para usar a expressão do PM). Depois fala-se numa estratégia de captação de talentos estrangeiros. E em NOVOS centros de investigação e em NOVAS instituições. Peço perdão, mas esta criatura está a falar de que País?

O Lomba é este moço. Não tenham dúvidas que vai longe. Tem todos os predicados do  perfeito arrivista. Com uns pózes académicos.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

NEVE NÃO É CERTAMENTE...

Permito-me citar aqui o conhecido poema (para a geração mais de 50) de Augusto Gil. Não vou à bola terça. Mas, se fosse, trocava o boné por este capacete. Não é por nada. É só porque sim...

sábado, 8 de fevereiro de 2014

"COMO É QUE AINDA TENS TEMPO PARA O BLOGUE?"

"Como é que tens tempo para o blogue?", perguntam-me, em particular desde finais de outubro. Tenho menos tempo, de facto, e daí a maior irregularidade com que escrevo. Ainda assim, tento manter uma presença tão assídua quanto possível. Quase sempre à volta dos temas que me interessam: Moura, a política, os livros, a pintura, a fotografia, a poesia, o património... A programação do que sai é feita com antecedência. Vivo, desde 20 de outubro, em ritmo (ainda mais) veloz. Vivo, como Harold Lloyd, pendurado do relógio, dos minutos e dos compromissos. No meio de tudo isto continuarei, ao fim do dia, ou de manhã bem cedo, a escrever o que me vai na alma. Tenho contado com a presença benevolente de cerca de 250 leitores diários.

O blogue continuará, pelo menos até 8 de dezembro de 2018. Se tudo correr bem, claro.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

O TÁXI COR DE MALVA

Aqui vão algumas imagens de um filme que não voltarei a ver. O táxi cor de malva, uma inocente obra de Yves Boisset, que comoveu os meus 14 anos. Vi-o, solitariamente, no Cine-Estúdio Lido, na Amadora. Estava apaixonadíssimo por uma colega da mesma idade, mas a paixão não era matematicamente biunívoca, e aquela história de amores desencontrados fez-me suspirar ainda mais.

Rever filmes de juventude raramente é boa ideia. Quando "retomei" esta película, já bem adulto, fiquei desapontado com o tom xaroposo da narrativa. Pior, muito pior, foi não perceber porque é que o filme me agradara tanto.

Aqui fica a escolha cinéfila da semana, em memória de todos os filmes que não devemos rever.

UMA IGREJA PALEOCRISTÃ NO CASTELO DE MOURA

Houve, certamente, uma igreja paleocristã no castelo de Moura. Os vestígios, dispersos mas com alguma importância, têm-se acumulado ao longo dos anos. A cronologia dos materiais oscila entre os séculos V e VIII.

Durante os trabalhos arqueológicos de acompanhamento do edifício de receção aos turistas surgiu, no meio do entulho, este fragmento de cancela (imagem de cima). O José Gonçalo Valente encontrou depois um paralelo perfeito, numa cancela do séc. VII, que pertence à coleção do Museu Arqueológico Nacional (Madrid).

A crença dos mourenses da Alta Idade Média gravada na pedra. Mais um testemunho da importância do sítio.


quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

GIRASSÓIS

Um ambiente vangoghiano (a palavra não existe, decerto), num restaurante de Moura. Girassóis sobre um azul barragan. Um momento insólito e colorido num dia em tons de cinza. A prova de que a Arte nos espera onde menos esperamos. Ela está lá. Só temos de A encontrar.

Não sou grande fã da poesia de Vinicius, mas este vem a propósito.



O GIRASSOL

Rio de Janeiro , 1970

Sempre que o sol
Pinta de anil
Todo o céu
O girassol
Fica um gentil
Carrossel.

O girassol é o carrossel das abelhas.

Pretas e vermelhas
Ali ficam elas
Brincando, fedelhas
Nas pétalas amarelas.

— Vamos brincar de carrossel, pessoal?

— “Roda, roda, carrossel
Roda, roda, rodador
Vai rodando, dando mel
Vai rodando, dando flor.”

— Marimbondo não pode ir que é bicho mau!
— Besouro é muito pesado!
— Borboleta tem que fingir de borboleta na entrada!
— Dona Cigarra fica tocando seu realejo!

— “Roda, roda, carrossel
Gira, gira, girassol
Redondinho como o céu
Marelinho como o sol.”

E o girassol vai girando dia afora...

O girassol é o carrossel das abelhas.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

MIREM MIRÓ

Miró? Quem diabo é Miró? Quantos membros do governo, perdoem-me a presunção, terão ouvido falar em Miró antes deste episódio? Agora é Miró de manhã, à tarde e à noite. Miró é bom? Miró é muito bom. Não conheço os mirós do bpn nem sou perito. Mas tudo isto é uma lástima. Uma tristeza.

Celebremos então Miró, a nudez de uma pintura de 1926 e a poesia de Maria Teresa Horta. Miremos Miró e obriguemos os membros do governo a gostarem de poesia de Miró e de Maria Teresa Horta.


Morrer de AmorMorrer de amor 
ao pé da tua boca 

Desfalecer 
à pele 
do sorriso 

Sufocar 
de prazer 
com o teu corpo 

Trocar tudo por ti 
se for preciso

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

MARCO 1008

Escolhi, simbolicamente, esta fotografia (original aqui) do marco 1008, ponto fronteiriço entre Portugal e Espanha, situado num dos limites da Herdade da Contenda.

São, ainda, os efeitos do encontro que teve lugar no passado sábado, no Museu Alberto Gordillo, em Moura. A apresentação de perspetivas intelectualmente estimulantes e muito diversas (a cargo de Cláudio Torres, Francisco Seixas da Costa, Jorge Macaísta Malheiros, José Maria Pós-de-Mina e Paulo Paixão) sobre o tema das fronteiras fizeram com que o tempo passasse depressa. Deram-me, também, a certeza que é possível "abanar a rotina dos dias locais" - cito a simpática referência que o Embaixador Seixas da Costa fez ao evento no seu blogue (v. aqui).

Em breve - maio ou junho - será organizado novo fórum. Sempre com a esperança de romper barreiras e de avançarmos para novas fronteiras.


Fotografia no blogue http://acstcmm.blogspot.pt

domingo, 2 de fevereiro de 2014

A CONTENDA, À VOL D'OISEAU

A Contenda "à vol d'oiseau" não porque seja vista de cima, como a imagem sugere, mas sim em linha reta. A direito, como todas as questões devem ser tratadas.

Foi hoje inaugurada, em tom festivo e com bem mais de uma centena de presenças, a sede da empresa municipal Herdade da Contenda, em Santo Aleixo da Restauração. Um novo espaço de trabalho e novas responsabilidades para a Câmara Municipal e para esta sua entidade. O futuro da Herdade é uma responsabilidade coletiva, onde o interesse público terá de prevalecer, mas onde as parcerias com entidades privadas deverão/serão consideradas.

Esta empresa municipal é mais uma peça importante no futuro do concelho. Mais uma vez, enquanto nos forçam a agregar freguesias e nos querem fazer capitular, em nome das estatísticas, dos rácios e da burocracia, mais nós fazemos o contrário. O futuro nos dará razão e condenará os que abandonaram o interior do País.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

DEVEM AS CÂMARAS MUNICIPAIS RESTAURAR IGREJAS?

Em abril de 2013 recebi uma carta do Padre Carlos Sepúlveda Escobar, pároco da Estrela, da Póvoa e da Amareleja. Era um pedido de restauro da igreja da Póvoa de S. Miguel, com uma chamada de atenção para o estado em que se encontravam os frescos da capela-mor. Em 17 de janeiro de 2013 tivera lugar a assinatura do contrato de restauro da igreja da Estrela. Nesse ato participou o padre Carlos, manifestamente satisfeito por ver chegar ao fim um processo que se arrastou por muitos anos. Meses depois, a primeira fase dos trabalhos estava terminada, conforme o mesmo padre publicamente reconheceu.

Devem as Câmaras Municipais restaurar as igrejas? Deve uma autarquia, ainda para mais tendo como Presidente um agnóstico, gastar o dinheiro do povo recuperando espaços de culto? A pergunta pode ser fácil, a resposta não o é. Se somarmos as obras de restauro da igreja do Convento do Castelo, mais as da igreja de S. Francisco, mais as da igreja de Santo Aleixo e ainda as do Convento do Espírito Santo e as da Estrela teremos atingido uma soma na ordem dos dois milhões de euros. Isso mesmo, dois milhões de euros.

Retomo a pergunta do parágrafo anterior, respondendo-lhe. Sem dúvida que a recuperação de igrejas é fundamental. Poderíamos embarcar numa qualquer demagogia fácil – “com tanta gente a passar necessidades e gastam o dinheiro com igrejas...” – mas esse não é o nosso estilo nem essa é a nossa forma de atuação. Entendemos, pelo contrário, que a reabilitação urbana e a recuperação do património histórico-cultural fazem parte do nosso compromisso para com a população do concelho. O restauro das igrejas e a proteção de todas as nossas tradições têm a ver com a nossa vida, com aquilo que os nossos antepassados nos legaram, com o concelho que eles construíram e com a terra que um dia vamos querer deixar a quem vier a seguir. Os templos religiosos foram construídos, decerto, em tempos de grande dificuldade e quando as carências eram ainda maiores do que hoje. Ignorar esses factos é desconhecer a realidade das nossas terras. Pior ainda, fazer demagogia com as dificuldades que nos rodeiam é faltar ao respeito de quem aqui vive.

Devem as Câmaras Municipais restaurar as igrejas? Decerto que que sim. Na justa medida em que elas se assumem como espaços decisivos para a vida de uma comunidade. É possível que esta maneira de ver as coisas possa parecer estranha nas palavras de um presidente de câmara comunista.  Mas terá tanto de estranha como de convicta, na escrita e nas convicções de alguém que defende os valores da sua terra. E nesses fazem parte os de uma crença que ele não tem.

A próxima igreja a ser restaurada será a de Safara.

Artigo publicado hoje, no jornal "A Planície".



Da esquerda para a direita - Santiago Macias, António Cordeiro (da empresa Monumenta), José Maria Pós-de-Mina, Manuel Rico, Josefa Rico e o Padre Carlos Sepúlveda Escobar, no dia de assinatura do contrato de restauro da igreja da Estrela