sexta-feira, 4 de outubro de 2024

CAMÕES & MAPPLETHORPE

Tanto de meu estado me acho incerto,

Que em vivo ardor tremendo estou de frio;

Sem causa, juntamente choro e rio,

O mundo todo abarco, e nada aperto.


É tudo quanto sinto um desconcerto:

Da alma um fogo me sai, da vista um rio;

Agora espero, agora desconfio;

Agora desvario, agora acerto.


Estando em terra, chego ao céu voando;

Num' hora acho mil anos, e é de jeito

Que em mil anos não posso achar um' hora.


Se me pergunta alguém porque assim ando,

Respondo que não sei; porém suspeito

Que só porque vos vi, minha Senhora.


Dois épicos pela manhã. Luís de Camões (1524-1580) e Robert Mapplethorpe (1942-1989). Uns têm, outros não. Por mais que queiram. E por mais que tentem.


quinta-feira, 3 de outubro de 2024

ARMINDO CARDOSO

É um dos grandes fotógrafos do século XX. Chama-se
Armindo Cardoso e não creio que seja muito conhecido
para lá do mundo dos que gostam de fotografia. Esteve
no Chile de Allende (a imagem é de 18 de setembro
de 1971), foi um homem comprometido com os
combates políticos do seu tempo. Com talento e com
fotografias que são documentos históricos de grande
qualidade estética.

quarta-feira, 2 de outubro de 2024

OS RIDÍCULOS

6 anos, 11 meses e 10 dias depois de ter deixado funções voltei a ser acusado, na Assembleia Municipal de Moura, de uma coisa qualquer. Em quase todas as sessões a cena se repete. Como em Roma, quando o célebre Catão dizia, sempre, nos seus discursos, destruam Cartago.

Há sempre um amigo que me telefona, no dia a seguir, "olha, voltaram a atirar-se a ti na Assembleia Municipal". Quase fico amuado quando isso não acontece 😂😂😂😂😂.

Fora de brincadeiras, sinto orgulho no trabalho das equipas que integrei, entre 2005 e 2017. Quisessem eles fazer a décima parte do que nós fizemos. Conseguissem eles concretizar coisas que se vejam. O resto - as críticas, os insultos, "o Dr. Santiago Macias era isto e aquilo" etc - só me dá prazer.

O que importa? O futuro, sempre!  Quem olha só para o retrovisor normalmente estampa-se.

UM GENOCÍDIO SEM FIM

Não consigo explicar, racionalmente, porquê, mas esta sucessão de factos no Médio Oriente, causou-me, do ponto de vista emocional, um impacto sem precedentes. Talvez pelo facto de se não se ver um fim neste processo. A não ser o do continuado e selvático extermínio da população palestiniana.

Em vez de imagens recentes, fui buscar esta, mais antiga, de Larry Towell. Porque o massacre é permanente. Retrata a destrruição de uma campo de refugiados, em Jenin, em 2002. Mais de 4.000 pessoas ficaram sem casa, destruídas pelo exército israelita.

Quando falarem destas operações, nomeadamente no sul do Líbano, chamem-lhes incursões, ok? Invasões é noutros sítios...


O PROJETO DO MUSEU DAS DESCOBERTAS - dia 8 (EL CORTE INGLÉS)

Falta menos de uma semana e o texto está terminado.
É uma abordagem prática e concisa ao tema. A questão central é esta: porque falhou?


terça-feira, 1 de outubro de 2024

NO INÍCIO DO ANO ESCOLAR

Nas semanas que antecedem o começo das aulas fico sempre na dúvida: este ano quantos alunos serão? Leciono, no primeiro semestre, uma cadeira de opção, aberta a outras licenciaturas, para além da História. Em 2021/22 houve um recorde de 41 (!), no ano passado eram 17, o número mais baixo desde que regressei à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Este ano são 28…

 

Nos primeiros anos, “arrancava em quarta”. Depois da apresentação do programa e da definição dos objetivos da cadeira – História do al-Andalus – iniciava as sessões, sempre às terças e quintas, sempre às 8 da manhã. Uma prática que é prática (as aulas terminam às 9.45), mas quando chego ao fim do dia o cansaço nota-se. Nos últimos dois anos – e este ano ainda de forma mais enfática – dediquei especial atenção às questões de metodologia da investigação. No fundo, como resolver na prática as questões que a investigação coloca e como se pensa, estrutura e executa um trabalho. Não são aulas exatamente “simpáticas”, mas são necessárias.

 

Questão nº 1: PLANEAMENTO. Falo-lhes sempre de Alfred Hitchcock, que gizava a produção dos seus filmes com tanto rigor, que depois achava a rodagem uma maçada… O planeamento tem de ser preciso e pensado com rigor geométrico (uma amiga em Moura dizia que eu era perfecionista e irascível, sendo que a primeira parte é exagerada e a segunda totalmente falsa). Mas não se começa um trabalho de investigação sem um plano, sem recolha de bibliografia (incluindo listagens de cotas em bibliotecas sff), sem um índice provisório do que vamos fazer, sem uma lista telefónica de colegas a quem recorrer.

 

Questão nº. 2: LOGÍSTICA E EXECUÇÃO. Tudo tem de estar preparado e, minimamente, estar previsto. “Quanto tempo vou levar em leituras?”, “de que recursos vou necessitar?”, “que impacto tem o meu trabalho?”, “como posso passar a minha mensagem?”, são questões que nos ajudam a criar uma logística interna. O improviso – “ah!, não há problema que eu desenrasco-me” –, o trabalho de terreno feito com base em meras intuições, e sem prever todas as variáveis, designadamente o que pode correr bem ou mal, é meio caminho andado para o desastre. Aconselho sempre o maior cuidado na forma de executar. E digo sempre que isso lhes será útil, quer sejam investigadores, professores ou, até, autarcas.

 

Questão nº. 3: AVALIAÇÃO E AUTO-AVALIAÇÃO. Peço sempre que sejam críticos e autocríticos. Que fujam das “inspirações” (insisto sempre que o sucesso de qualquer coisa é feito de 10% de inspiração e de 90% de transpiração), que se preparem, que fujam dos amadorismos e dos resultados de efeito fácil. Recordo-lhes sempre que o conhecimento é essencial e que uma visão global das coisas nos ajuda a perceber onde tivemos sucesso e onde falhamos.


Tenho estes, e outros princípios básicos que aqui não cabem, como essenciais numa atividade académica, profissional ou autárquica. São coisas de que alguns, por absoluta falta de conhecimento (e pela falta de vontade em aprender), por arrogância e por vaidade, se esquecem. Constato isso cada vez mais. O que é pena.


Crónica em "A Planície"




O IMIGRANTE QUE NÃO GOSTA DE IMIGRANTES

O rapaz é imigrante. É português mas não nasceu português. A questão da imigração mexe com ele, porque ele não é português.

Perceberam? OK, então têm mais sorte que eu...