terça-feira, 31 de outubro de 2017
BALANÇO DO MANDATO 2013/2017 - ENTREVISTA EM "A PLANÍCIE"
Assumindo, com orgulho, o trabalho de quatro anos.
Qual o balanço que faz dos anos como
autarca e dos últimos quatro à frente da Câmara de Moura?
Auto-avaliação
arrisca-se sempre a ser auto-elogio... Que quer que lhe diga? Naturalmente que
faço uma avaliação positiva do trabalho da equipa. Num momento de grande
dificuldade, sem grandes financiamentos externos (recorde-se que o mandato se
passa “entre” dois quadros comunitários (o 2007/2013 que fechava, o de
2014/2020 que só agora dá sinais de vida), com uma Assembleia Municipal que
hostilizou o trabalho da Câmara (chumbo de orçamentos, chumbo de empréstimos,
chumbos na área do pessoal), com a necessidade de dar mais disciplina à
política financeira da Câmara, isto foi tudo menos fácil. Foi ainda assim um
mandato de algumas grandes realizações (obras como as dos Quartéis, do
Matadouro, do Pavilhão das Cancelinhas, da Ribeira da Perna Seca, do Parque de
Leilão de Gado, nas quais me envolvera intensamente como vereador, foram
terminadas entre 2014 e 2017), entre as quais inclui a renovação do Campo Maria
Vitória e a instalação de uma grande superfície comercial. E que preparou o
caminho do futuro. Diminuimos os pagamentos em atraso (de 967.000 para menos de
90.000 euros), aumentámos o investimento no parque de viaturas do município (de
79.000 para mais de 800.000 euros), baixámos a dívida de curto prazo (é neste
momento de 1.450.000 euros), lançámos projetos para o novo quadro comunitário e
tenho a certeza de termos prestigiado o Município. Os vários prémios nacionais
que recebemos são disso testemunho.
Nos anos de presidência, na Câmara de
Municipal de Moura, qual foi o momento que o mais marcou?
O
da conclusão das obras da Ribeira da Perna Seca, no dia 18 de dezembro de 2016.
Tinha sido um projeto em que me envolvera a fundo desde 2005. A obra tinha um
caráter simbólico evidente (os deputados do PS na Assembleia da República
tiveram uma deplorável atitude. Votaram a favor e contra o financiamento desta
obra pelo Poder Central, consoante o PS estava na oposição ou no poder... gente
assim toma estas decisões sobre as nossas vidas e não tem vergonha). Por outro lado, a intervenção era absolutamente
indispensável. A população da aldeia não podia continuar a ser fustigada por
cheias que tantos prejuízos causaram. Foi obra do Município e isso registo com
prazer.
O
dia da inauguração foi um momento complicado. Mal tinha começado a ler o
discurso que preparara, começa-me a falhar a voz. Emocionei-me muito mais do
que esperava. Um amigo sobralense que assistiu à cerimónia disse-me “você
estava mesmo aflito, nunca o tinha visto assim!”. De voz embargada e sem ser
capaz de resistir à alegria do momento, acabei o discurso com dificuldade.
Não
sei se sabe, mas há sempre quem (em todos os quadrantes políticos) insista em
fazer uma divisão grandes obras / pequenas obras e que dizem (ouço muitas vezes
este disparate) “a Câmara fez grandes obras e devia ter feito pequenas obras,
que são aquelas que as pessoas precisam”. As obras não são grandes ou pequenas,
são necessárias ou o não são... Continuo a pensar que a regeneração urbana é um
tópico essencial na vida de um concelho como o nosso. Mas isso será matéria
para outro debate no futuro.
Marcaram-me
também as relações fortes que estabeleci por todo o concelho (em especial nas
aldeias), tal como não esqueço o momento fortíssimo que foi a ida à Suiça e a
receção quente que tivémos. Nada na face da Terra paga coisas assim.
Conseguiu como presidente do município
levar a cabo todos os objectivos que tinha planeado para os quatro anos?
Qual
quê! Nunca se consegue. Até porque, com uma realidade dinâmica, novos desafios,
novas ideias e novos problemas surgem a cada momento. O que posso dizer é que
lutei em cada momento para alcançar objetivos.
Fizémos
questão de obter financiamentos, de deixar projetos terminados e financiados. E
obras já em curso. Não venha agora o novo executivo com o argumento “isto está
mau e isto está muito pior do que se imaginava” porque não é verdade...
A saúde financeira do Município não é
brilhante? Não é. Mas o futuro não está comprometido. Isto para voltar atrás e
para dizer que para além dos projetos com financiamento garantido, há muitos
outros já terminados que podem arrancar. Assim haja dinheiro para estes outros.
E há um objetivo que só tomou forma no último ano: o do aproveitamento do
Convento do Carmo. Esse é daqueles que não pode falhar. Fomos o primeiro Município
a integrar o programa. Qualquer falhanço não terá perdão.
Objetivos
a concretizar e para os quais não tivemos dinheiro? A Zona Industrial da
Amareleja (1ª fase: 500.000 euros), a renovação da rede de águas de Amareleja
(4 milhões de euros), a conclusão da renovação da rede de águas de Moura (2,7
milhões de euros). E tantos outros.
Fale-nos um pouco de como vê o futuro
do concelho de Moura?
Com
preocupação e com ceticismo. Muitas vezes tenho dito que o nosso grande
problema é demográfico. Ou seja, perdemos população e a que temos envelhece a
olhos vistos. Pensar que atraímos população diminuindo a taxa variável do IRS e
devolvendo umas dezenas ou centenas de euros a alguns habitantes (foi uma
descoberta da maioria PS no último mandato da Assembleia Municipal) daria
vontade de rir se não fosse trágico. Continuar a ignorar, como tem sido feito
pelos sucessivos governos, que o problema é estrutural e não de conjuntura, não
nos trará soluções...
Não
é com a política da caridadezinha (kits bebé e 500 euros em produtos para os
recém-nsacidos), e com uma área social marcada pelo assistencialismo (pagamento
de consultas, pagamento de medicamentos) que criaremos soluções. Até porque há
áreas que são da responabilidade do Estado e é um erro as autarquias assumirem
essas responsabilidades.
Como viu a derrota da CDU para o PS,
nestas autárquicas, no concelho de Moura?
Com
preocupação, pelo que acima disse. Foram feitas inúmeras promessas, muitas das
quais vão ser levadas pelo vento. O PS embarcou no populismo – diz-se às
pessoas o que elas querem ouvir -, sem se avaliar o que estava a prometer.
Prometer o Paraíso qualquer um pode, chegar lá é mais dificilzinho...
O
PS capitalizou alguma vontade de mudança, que teve no regresso do meu camarada
José Maria Pós-de-Mina um ponto fulcral. A candidatura do José Maria foi vista,
injustamente e erradamente, como um regresso ao passado. E isso foi decisivo.
Como
várias vezes, tenho dito tenho grandes reservas quanto ao tipo de política que
se pretende pôr em prática neste mandato. Oxalá me engane, porque os anos que
se avizinham serão marcados por desafios de grande complexidade.
Há
financiamentos grantidos e obras em condições de arrancar que não podem parar.
Seria criminoso abdicar de intervenções como a do Bairro do Carmo, a da
recuperação do antigo grémio, a obra do novo cemitério. Espero que não se
cometa esse erro…
Qual foi o motivo que o levou a não se
recandidatar à presidência da Câmara de Municipal de Moura?
Houve
vários motivos, não apenas um. Não foi o cansaço, apesar do cargo ser
desgastante. Cansaço devem ter os reformados que recebem pensões de 270 euros e
gastam o dinheiro em medicamentos...
Enviei
uma carta ao meu partido onde expliquei todas essas razões. Entendo não dever divulgar
o conteúdo dessa carta. Depois disso, surgiram vários boatos, todos eles sem
pés nem cabeça: para uns eu teria sido afastado, para outros teria tentado
impôr condições nas listas, para outros ainda quis um nº 2 rejeitado pelo
partido. O que vale é que dizer disparates não paga imposto…
É
um facto que o meu estilo de liderança nem sempre gerou consenso, e falo mesmo
a nível interno. Havia medidas drásticas a tomar e foram tomadas. Tenho um
estilo e uma forma de trabalhar diretos e frontais. Isso nem sempre é muito apreciado. Admito que possa não ter razão na
forma de atuar, mas as metas do mandato e o modo de as atingir foram apontadas
logo no início. E, na verdade, o mandato deu resultados palpáveis. Houve
muitas obras e muita presença junto dos munícipes. E uma boa recuperação
financeira.
Por
outro lado, gosto imenso do meu trabalho e da minha área profissional. Quero
regressar ao meu outro mundo, o das exposições, da produção cultural, da
investigação… Gosto de fotografar e de escrever. Vou retomar isso.
Foi
tudo junto, portanto.
Pensa continuar no activo na política
ou vai-se dedicar a outros projetos?
Na
política estarei sempre, enquanto cidadão. Manterei a minha intervenção e
tomarei posições sempre que entender. Se me pergunta se penso manter atividade
partidária, direi que muito pouco. Se a questão se reporta a futuras
candidaturas em eleições, a resposta é, claramente, NÃO. Muito menos numa
altura em que a legislação tende a tornar os autarcas algo parecido a delegados
locais do Poder central.
Outros
projetos, de cariz científico, na área da investigação, no domínio da Cultura, sempre
tive, mesmo enquanto autarca. Vou continuar o meu trabalho. Na área da
arqueologia talvez um pouco menos que no passado... Na área dos museus e da
conceção de conteúdos para exposições seguramente. Na escrita, de certeza.
Como líder da autarquia nos últimos
quatro anos, qual a mensagem que gostava de deixar, principalmente aos
munícipes de Moura?
A
de que é imprescindível continuarmos a lutar pelo nosso futuro. A de que é
necessário termos confiança no futuro. A de que o nosso concelho não está nem
estará atrás de outros. A de não podemos nem devemos esperar benesses do Poder
Central. Que não podemos fazer vénias aos supostamente poderosos.
Do
ponto de vista pessoal, cá estarei. Esta é a minha terra e este é o povo a que
pertenço.
segunda-feira, 30 de outubro de 2017
(QUASE) TODA UMA VIDA
In http://anabelamotaribeiro.pt:
Cláudio Torres, o arqueólogo de Mértola: a associação tem tanta força que a descrição da tarefa e do lugar parecem um cognome ou qualquer coisa que poderia ser ligada com hífen.
Instalou-se na antiga cidade portuária em 1985, deu-nos, não só, uma nova visão do sul de Portugal, mas também da nossa relação com o Mediterrâneo. Deu e dá, porque o trabalho de escavar é um trabalho sem fundo, que traz algumas respostas e levanta muitas novas questões. É também um trabalho que faz do tempo uma massa elástica: onde estamos exactamente quando encontramos um artefacto com séculos de existência?
E como é que isso nos ensina a estar preparados para o futuro? Ler os signos, a matéria, as ruínas, o que não se vê e existe, é aquilo a que tem dedicado boa parte da sua vida.
Mas há um antes de Mértola. Nasceu em Tondela, esteve exilado, foi professor universitário. E há um país que se desenha na história de vida deste arqueólogo, nascido em 1939.
Na impossibilidade (minha) de estar no CCB no próximo sábado, dia 4, às 17 horas, aqui fica a publicidade. A sala deve ser pequena...
domingo, 29 de outubro de 2017
PADRINHOS DE LEITURA
A fotografia retrata o momento em que José António Oliveira, responsável pela Biblioteca Municipal de Moura, recebe a menção honrosa no Prémio Boas Práticas em Bibliotecas Públicas Municipais 2016. Houve apenas três bibliotecas distinguidas a nível nacional: Ílhavo, Sever do Vouga e Moura.
O que se distinguiu, no caso de Moura? O projeto PADRINHOS DE LEITURA. Um programa de promoção da leitura que envolve entidades públicas e privadas e as escolas do primeiro ciclo. O projeto (lançado por Zélia Parreira e continuado por José António Oliveira) tem sido um estrondoso sucesso de envolvimento das mais variadas entidades com a Biblioteca Municipal.
Cultura é coisa chata? Não me parece...
A parte triste neste prémio: o projeto PADRINHOS DE LEITURA não foi apoiado em 2016 e em 2017 pelo presidente da União de Freguesias de Moura e Santo Amador, Álvaro Azedo. Ou seja, o atual presidente da Câmara não pode, por razões financeiras (estamos a falar de 100 euros), apoiar um projeto de promoção da leitura. Ou seja, portas abertas, mas não para os livros...
Ver - http://dglab.gov.pt/premio-boas-praticas-bibliotecas-publicas-municipais-2016/
O que se distinguiu, no caso de Moura? O projeto PADRINHOS DE LEITURA. Um programa de promoção da leitura que envolve entidades públicas e privadas e as escolas do primeiro ciclo. O projeto (lançado por Zélia Parreira e continuado por José António Oliveira) tem sido um estrondoso sucesso de envolvimento das mais variadas entidades com a Biblioteca Municipal.
Cultura é coisa chata? Não me parece...
A parte triste neste prémio: o projeto PADRINHOS DE LEITURA não foi apoiado em 2016 e em 2017 pelo presidente da União de Freguesias de Moura e Santo Amador, Álvaro Azedo. Ou seja, o atual presidente da Câmara não pode, por razões financeiras (estamos a falar de 100 euros), apoiar um projeto de promoção da leitura. Ou seja, portas abertas, mas não para os livros...
Ver - http://dglab.gov.pt/premio-boas-praticas-bibliotecas-publicas-municipais-2016/
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DE QUINTOS À SALVADA
Horas usadas na recuperação da memória. Há mais de dez anos que não percorria estas estrdas com vagar e em luz plena. Parte da paisagem foi tomada pelos olivais. Fotografias e perspetivas que, tinha a certeza!, poderia repetir um dia, desapareceram para todo o sempre.
Há um poema de Wislawa Szymborska que começa:
Nothing can ever happen twice.
In consequence, the sorry fact is
that we arrive here improvised
and leave without the chance to practice.
É mais ou menos isso.
Entre Quintos e a Salvada há um pequeno troço intocado. Repeti-o, sem muita fé... Luz muito baixa, rolo 152 ASA, 1/250 e 8 de abertura. Deve ficar uma boa porcaria...
Surpresa na Salvada, uma terra que enriqueceu depressa e bem. Obras públicas no século XX e um espaventoso Cine Monumental. Coisas de outros tempos.
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sábado, 28 de outubro de 2017
SLOW TRAIN COMING, LÁ DIRIA BOB DYLAN...
Isto, se não dá um filme anda lá perto...
Até 2011 havia o INTERCIDADES, que ligava Beja a Lisboa. Um comboio direto, que dava imenso jeito e que usei vezes sem conta.
No dia 14 de janeiro de 2011, o Grupo Parlamentar do PCP apresentou na Assembleia da República, um Projecto de Resolução sobre a manutenção do serviço intercidades Beja-Lisboa-Beja. O documento foi rejeitado pelos votos contra do PS e as abstenções do PSD e CDS/PP. Os deputados Pita Ameixa e Conceição Casanova estavam no grupo que votou contra. Em fevereiro, o mesmo Pita Ameixa diria que "tem de haver um claro compromisso com a qualidade do serviço, com a qualidade dos equipamentos e com a modernização e electrificação da infraestrutura ferroviária que, directamente, serve e tem de continuar a servir Beja".
O compromisso ficou pelas palavras e o INTERCIDADES direto acabou mesmo. Entraram em cena automotoras de qualidade mais que discutível.
Em 2014, o presidente da presidente da concelhia de Beja do PS, Paulo Arsénio, pedia à REFER que insistisse "na electrificação do troço de 64 quilómetros de via entre Casa Branca e Beja, dotando assim a capital do Baixo Alentejo de condições iguais a outras capitais de distrito", assim como uma melhoria substancial da qualidade do material circulante entre Beja e Casa Branca. E concluía, "o PS aguarda, a partir de agora, resposta das empresas em questão, na expectativa que, num curto espaço de tempo, os utentes da Linha do Alentejo possam retirar algum benéfico das diligências que concretizámos".
Na passada semana, tornou-se prática corrente a substituição das automotoras por autocarros. Ou seja, os comboios tornaram-se rodoviários. Estamos em 2017. O PS está no poder. Pita Ameixa é presidente da Câmara de Ferreira do Alentejo, Paulo Arsénio é presidente da Câmara de Beja. Não há nem intercidades diretos nem sequer automotoras. Aguardo, ansioso, pelo próximo murro na mesa.
E a Unidade de Missão para a Valorização do Interior serve exatamente para quê?...
Até 2011 havia o INTERCIDADES, que ligava Beja a Lisboa. Um comboio direto, que dava imenso jeito e que usei vezes sem conta.
No dia 14 de janeiro de 2011, o Grupo Parlamentar do PCP apresentou na Assembleia da República, um Projecto de Resolução sobre a manutenção do serviço intercidades Beja-Lisboa-Beja. O documento foi rejeitado pelos votos contra do PS e as abstenções do PSD e CDS/PP. Os deputados Pita Ameixa e Conceição Casanova estavam no grupo que votou contra. Em fevereiro, o mesmo Pita Ameixa diria que "tem de haver um claro compromisso com a qualidade do serviço, com a qualidade dos equipamentos e com a modernização e electrificação da infraestrutura ferroviária que, directamente, serve e tem de continuar a servir Beja".
O compromisso ficou pelas palavras e o INTERCIDADES direto acabou mesmo. Entraram em cena automotoras de qualidade mais que discutível.
Em 2014, o presidente da presidente da concelhia de Beja do PS, Paulo Arsénio, pedia à REFER que insistisse "na electrificação do troço de 64 quilómetros de via entre Casa Branca e Beja, dotando assim a capital do Baixo Alentejo de condições iguais a outras capitais de distrito", assim como uma melhoria substancial da qualidade do material circulante entre Beja e Casa Branca. E concluía, "o PS aguarda, a partir de agora, resposta das empresas em questão, na expectativa que, num curto espaço de tempo, os utentes da Linha do Alentejo possam retirar algum benéfico das diligências que concretizámos".
Na passada semana, tornou-se prática corrente a substituição das automotoras por autocarros. Ou seja, os comboios tornaram-se rodoviários. Estamos em 2017. O PS está no poder. Pita Ameixa é presidente da Câmara de Ferreira do Alentejo, Paulo Arsénio é presidente da Câmara de Beja. Não há nem intercidades diretos nem sequer automotoras. Aguardo, ansioso, pelo próximo murro na mesa.
E a Unidade de Missão para a Valorização do Interior serve exatamente para quê?...
Fotografia de Ogle Winston Link (1914–2001)
COR E NÃO-COR EM SINES
Princípio de tarde demasiado quente em Sines. Estamos em final de outubro e a temperatura andava pelos 30º. Um exagero, que vai trazer consequências nefastas a outros níveis. Deambulação entre o Museu, o Centro de Artes e a baía. Demasiada luz para o rolo de 400 ASA. Luz e não-luz, cor e não-cor. Retorno ao grande pintor Emmerico Nunes (1888-1968) e aos seus tons hooperianos. O estio numa pintura não datada dos arredores de Lisboa. O contraste com a frieza urbana das salas do Centro das Artes de Sines. Prepara-se a próxima exposição. Tiveram a gentileza de me deixar entrar e de me poder passear pelas salas vazias.
HETERODÒXIES
Sexta-feira heterodoxa.
1. Não fiz greve porque não percebi o sentido da greve e porque "afino" com as greves à segunda e à sexta. Soam-me sempre a "bora lá fazer um fim de semana prolongado, pipal".
2. Não percebi, ainda, o entusiasmo, que me parece um tanto juvenil e cheio de acne, de uma certa esquerda a propósito da chamada independência da Catalunha. Um tema seríissimo e que tenho, amiúde, visto tratado ao nível da opção clubística e do "eu cá acho que...".
A realidade desmultiplica-se. Como o mostra este Homem a andar (1890/91), de Étienne-Jules Marey.
1. Não fiz greve porque não percebi o sentido da greve e porque "afino" com as greves à segunda e à sexta. Soam-me sempre a "bora lá fazer um fim de semana prolongado, pipal".
2. Não percebi, ainda, o entusiasmo, que me parece um tanto juvenil e cheio de acne, de uma certa esquerda a propósito da chamada independência da Catalunha. Um tema seríissimo e que tenho, amiúde, visto tratado ao nível da opção clubística e do "eu cá acho que...".
A realidade desmultiplica-se. Como o mostra este Homem a andar (1890/91), de Étienne-Jules Marey.
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sexta-feira, 27 de outubro de 2017
BEIRA MAR
Sou moradora das areias,
de altas espumas: os navios
passam pelas minhas janelas
como o sangue nas minhas veias,
como os peixinhos nos rios...
Não têm velas e têm velas;
e o mar tem e não tem sereias;
e eu navego e estou parada,
vejo mundos e estou cega,
porque isto é mal de família,
ser de areia, de água, de ilha...
E até sem barco navega
quem para omar foi fadada.
Deus te proteja, Cecília,
que tudo é mar - e mais nada.
de altas espumas: os navios
passam pelas minhas janelas
como o sangue nas minhas veias,
como os peixinhos nos rios...
Não têm velas e têm velas;
e o mar tem e não tem sereias;
e eu navego e estou parada,
vejo mundos e estou cega,
porque isto é mal de família,
ser de areia, de água, de ilha...
E até sem barco navega
quem para omar foi fadada.
Deus te proteja, Cecília,
que tudo é mar - e mais nada.
Foi como se o barco tivesse passado e tivesse deixado as velas em terra... beira mar ou beira terra? Cecília Meireles e uma imagem de uma rua de Mértola, depois do Festival Islâmico.
quinta-feira, 26 de outubro de 2017
SINES - ENTRE VELHAS E NOVAS ROTINAS
O prazer de outras coisas, de outros ritmos que já quase esquecera.
Vejo-me como o ciclista que descolou do pelotão e que agora tem de voltar a colar... Três noites (sem pedidos internos, sem despacho de correspondência, sem projetos, sem fundos disponíveis, sem telefonemas, sem...) deram-me tempo para estruturar e para tentar construir um primeiro corpo de texto para uma publicação sobre a Mouraria, a sair em 2018.
Próxima paragem: Sines.
quarta-feira, 25 de outubro de 2017
REVIVE: O DIABO COMEÇA NOS DETALHES E ACABA NA VENDA DA ALMA
Importante artigo do meu amigo Luís Raposo, presidente do ICOM EUROPA, no "Público" de hoje:
Noticiava o PÚBLICO recentemente (13
de Outubro) a realização de um seminário internacional sobre “Descentralização
da Gestão Patrimonial”, em Amarante, durante a primeira Bienal Ibérica de
Património Cultural, promovida por agentes empresariais do sector. Aí estive,
com muito gosto, porque constitui sempre um prazer trocar ideias com pessoas
inteligentes, mais ainda quando tendemos a discordar em quase tudo... menos
naquilo que nos faz sermos portugueses: a defesa dos valores identitários
legados por todos os que nos precederam — algo a que chamamos patriotismo,
palavra de que nunca tive nem tenho medo.
Dito isto, claro que pelo meu lado não confundo descentralização
e até regionalização, que defendo, com privatização, de que discordo fora do
quadro de políticas públicas de cultura bem definidas. Tenho plena consciência
de que nunca o Estado poderá (nem nunca deveria, mesmo podendo) zelar por todo
o património cultural nacional, mesmo que fosse somente o classificado (de que,
aliás, é proprietário de somente cerca de 10%). É fundamental a participação
dos movimentos de cidadãos, mobilizados por finalidades cívicas, e há também
amplo lugar para os privados, inclusive para os investidores que visem o lucro.
Mas tal terá sempre de ser suportado em políticas .públicas de cultura
abrangentes e consistentes. Ora, são estas que não existem. Na aflição em que
se encontram após anos e anos de penúria (política sobretudo, antes de ser
também financeira), as políticas públicas de cultura desceram talvez abaixo do
plano mínimo que continua a justificar existir um ministério. Este limita-se
por isso a dançar as músicas que lhe põem no gira-discos. Há excepções, é
certo, sobretudo a nível local e regional (por exemplo, a magnífica Rota do
Românico). Mas o panorama geral, e sobretudo o de maior responsabilidade
governativa, é desolador.
A apresentação do REVIVE feita no supra-referido seminário por
um dos subdirectores-gerais da ainda subsistente DGPC espelha eloquentemente o
que fica dito. Evitei até hoje pronunciar-me sobre este programa, porque penso
que poderia ter aspectos positivos, dado o enquadramento político e social mais
vasto a que aludi acima. Sei bem o que significa a aflição de ter monumentos a
cair e não saber como lhes acudir, podendo os Revives desta terra serem
encarados, sobretudo pelas administrações locais, como bóias de salvação face à
ineficácia do Governo. Mas houve na apresentação feita em Amarante uma tal
entusiasmo e uma tal sinceridade que, embora humanamente compreensíveis, me dão
pena pelo que testemunham do “estado a que isto chegou” (expressão que por
certo na actual maioria parlamentar haverá quem recorde quando foi proferida).
Percebemos ali todos que a Cultura (e não apenas a DGPC, insisto) deixou
definitivamente de poder contribuir para qualquer política decente de
Património Cultural. Tudo se resume nisto: como não podemos fazer nada, é
melhor entregar os monumentos a quem os possa manter de pé, em lugar de os
deixar cair em ruínas. A DGPC remete-se para a condição de fiscal de obras
(enquanto quem manda a quiser aturar, claro) e deixa-se as “forças do mercado”
actuarem, melhor, deixa-se os grandes tubarões cilindrarem os pequenos.
Política patrimonial cidadã? Balelas. Precisamos é de quem tome conta dos
empecilhos, e ponha dinheiro, mesmo que através de linhas de financiamento
(portuguesas e europeias) fortemente bonificadas pelo recurso aos impostos que
todos pagamos.
Convém dizer que não atiro pedras a quem assim se resigna, por
força dos cargos que ocupa. Admito que se tivesse feito a mesma escolha (cargos
de chefia são escolhas e não imposições), e a quisesse manter navegando à
bolina, poderia talvez ter chegado aos mesmos becos, escusos e escuros.
Concordo em que quase tudo é preferível à ruína. Mas, caramba, não penso que
seja necessário ser-se escutista militante na defesa da venda da alma ao diabo.
Dos 30 monumentos incluídos no REVIVE, quantos não virão a ser hotéis e
restaurantes? Quantos serão aquilo que piedosamente se diz também poderem ser,
centros de arte ou residências de estudantes, por exemplo? Para já, os únicos
três contratados são hotéis. E tudo parece resumir-se a negócios do Grupo
Pestana. A demissão da Cultura quanto ao uso cidadão do Património Cultural
conduz também à exclusão das pequenas empresas e das associações ligadas ao
sector, porque nenhuma terá condições de concorrer — no que melhor se percebe
como se justifica a plataforma patriótica que, afinal, em quase nove séculos de
história, constitui a base do nosso contrato nacional.
Dos trinta miraculados “redivivos” (desculpe lá Herculano, onde
estiver, roubar-lhe o termo do combate nos seus “monumentos pátrios” contra a
fúria do camartelo), tomemos um caso apenas, pelo que encerra de paradigmático:
a Quinta Real de Caxias. Ao longo de anos, a Câmara Municipal de Oeiras investiu
no local um acumulado de cerca de três milhões de euros. Fê-lo sobretudo na
cascata e no jardim, porque no palácio lhe estava vedado intervir, por ser
propriedade militar. De repente, o golpe de mágica: o palácio já pode ser
entregue a exploração de privados, por pelo menos três décadas. Ora, fumos de
venalidade à parte, estou certo que nem neste nem em nenhum outro caso foram
feitos os estudos económicos que considerem o investimento público, directo ou
indirecto, local ou de contexto, e regulem no detalhe as condições contratuais
de tal modo que o capital privado e as taxas da sua remuneração sejam
aceitáveis e tudo não se converta em mais exemplos das PPPs de tão má memória.
Isto sem falar no principal: aceitar que espaços de tanta carga emotiva memorialista
possam ser, no todo ou na parte (beneficiando, aliás, esta do todo), subtraídos
ao seu uso cidadão.
Estamos, pois, no REVIVE perante um caso típico de alienação da
função primordial dos monumentos, curiosamente promovido por um Governo suportado
na maioria parlamentar mais à esquerda que tivemos em décadas. Mas quero ser
frontal: não são tanto os Revives, os pequenos-grandes dirigentes da
administração pública ou os políticos de discurso fácil em favor da cultura que
estão em causa neste processo, onde até autarcas comunistas colaboraram. Somos
nós, cidadãos, na facilidade com que nos deixamos desapropriar daquilo que nos
deveria ser mais caro, a nossa memória colectiva.
O Luís não deixa, em termos gerais, de ter razão. No entanto, o que aconteceu em sítios como o Convento do Carmo não deixam à nossa terra outra alternativa a não ser participar no REVIVE. Ou seja, o primeiro erro esteve na "relocalização" do Centro de Saúde. O abandono de edifícios em vez da sua refuncionalização é opção que se torna, a médio prazo, caríssima. A quem cabe hoje a responsabilidade de conduzir a reabilitação do Convento do Carmo? À Câmara de Moura... Quem, no início dos anos 90, assumiu estas opções não tem de pagar por elas.
segunda-feira, 23 de outubro de 2017
HEIMATEN
Não o único sítio da minha vida, mas um dos sítios decisivos da minha vida. Pensei nisso intensamente, na luz da manhã de hoje, enquanto descia a rua em direção ao trabalho. Com o prazer de ir sendo saudado pela rua fora, como se tivesse regressado do Hades.
Um dos problemas que não resolverei nunca é o ser geograficamente volúvel. Mas Mértola, tal como Moura, não se vão. Tive essa certeza ao longo do dia e quando o dia se apagou e um amigo de Moura me perguntou onde andava...
Aguarela de um amigo, Leonel Borrela, infelizmente já desaparecido.
domingo, 22 de outubro de 2017
STARDUST MEMORIES Nº 14: ARQUEOLOGIA EM MOURA / 1990
Arrumações num escritório pouco usado nos últimos anos. O caos é total. A preparação, que agora inicio, de ensaios sobre o período medieval não ajudam muito a melhorar o panorama.
No meio da bagunça, caiu-me em cima (literalmente) o relatório das escavações arqueológicas no Castelo de Moura realizadas entre 6 de junho e 13 de julho de 1990... Quem colaborou naquela campanha? Entre outros amigos, Helena Pato (uma talentosa desenhadora, hoje funcionária do Centro de Saúde), Carlos Rico, Eduardo Moreira, Fernando Monteiro, Luísa Abade e Lino Pinto (trabalhadores da Câmara Municipal de Moura), Nuno Santinha (professor e que na altura tinha apenas 15 anos!) e Luís Jacob (à época futebolista profissional e hoje presidente do Moura Atlético Clube).
O Passado
é o Presente na Lembrança
Se recordo quem fui, outrem me
vejo,
E o passado é o presente na lembrança.
Quem fui é alguém que amo
Porém somente em sonho.
E a saudade que me aflige a mente
Não é de mim nem do passado visto,
Senão de quem habito
Por trás dos olhos cegos.
Nada, senão o instante, me conhece.
Minha mesma lembrança é nada, e sinto
Que quem sou e quem fui
São sonhos diferentes.
Ricardo Reis - "Odes"
E o passado é o presente na lembrança.
Quem fui é alguém que amo
Porém somente em sonho.
E a saudade que me aflige a mente
Não é de mim nem do passado visto,
Senão de quem habito
Por trás dos olhos cegos.
Nada, senão o instante, me conhece.
Minha mesma lembrança é nada, e sinto
Que quem sou e quem fui
São sonhos diferentes.
Ricardo Reis - "Odes"
Etiquetas:
arqueologia,
crónica dos dias que passam,
poesia
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