segunda-feira, 30 de maio de 2016

PORTUGAL E OS PORTUGUESES VISTOS POR DENTRO MAS DE FORA - I/X: GEORGE KRAUSE

São célebres as fotografias feitas por estrangeiros em Portugal. Abro agora uma nova secção no blogue dedicada ao tema. Começo com uma fotografia conhecida de George Krause (n. 1937). Eis Fátima em 1964. Agora que um certo Portugal ultramontano se mostra e, de novo, se revela com laivos de agressividade, esta imagem de um Portugal de outrora diz muito mais do que à partida poderia parecer.

George Krause viajou muito pela Península Ibérica. Não é um fotógrafo do "tipicismo", mas alguém que foi ao encontro da alma dos sítios e das pessoas. Sente-se bem isso neste esplêndido instantâneo.


CONTENDA - DO FÓRUM AO FUTURO


Foi no sábado, em Santo Aleixo. Teve lugar na Casa do Povo a 7ª edição do Fórum 21, subordinada ao tema Que Contenda no futuro? Apesar da ausência do ICNF, cuja presença reputávamos de fundamental, o debate revelou-se do maior interesse e lançou mais pistas e mais hipóteses para o futuro. Foram vários os temas em debate, sempre com a certeza que, nestes encontros, são sempre mais as questões que as respostas, as dúvidas que as certezas. Um foro é isso mesmo. O de sábado seguiu essa lógica e esse princípio. A Herdade da Contenda faz parte do futuro do concelho. Como frisei no final do encontro, temos toda a abertura para considerar parcerias. Desde que, no final, elas se revelem vantajosas para o Município.

A oitava edição tomará forma dentro de dias.

sábado, 28 de maio de 2016

REGRESSO A CASA

O livro Castelo de Moura - escavações arqueológicas vai ser apresentado no próximo dia 31, na Faculdade de Letras de Lisboa. É um regresso à casa onde me licenciei em 1985. E onde fiz o lançamento da minha tese de mestrado, em 1996. A apresentação contará com a presença da colega Vanessa Gaspar. O outro autor, José Gonçalo Valente, estará mais a norte, numa cerimónia oficial.


sexta-feira, 27 de maio de 2016

EASY RIDER

Recuperemos o fôlego. Ou retomemos as imagens. Com uma ligação direta aos dias recentes. Easy Rider, de Dennis Hopper (1936-2010), é uma obra emblemática do final dos anos 60. Foi feita sob o signo da liberdade. Revelou novo artistas e criou uma nova forma de fazer cinema.

Esta cena foi rodada na Bridge Street, em Las Vegas, no Novo México.

Curiosamente, Dennis Hopper está sepultado em Rancho de Taos, a poucas dezenas de quilómetros de Las Vegas.

quinta-feira, 26 de maio de 2016

UMA SEMANA NOUTROS LUGARES - DIA 7: ATERRAGEM NO QUOTIDIANO

16.500 quilómetros mais tarde, o regresso ao quotidiano. Eis um fim de semana "difícil" pela frente: Semana Cultural no Sobral da Adiça, Moura Cup, a concentração do Moto Clube, uma ida ao teatro ao Estoril, o Fórum 21 em Santo Aleixo, uma visita de estudiosos da Ordem de Santiago e mais umas coisinhas que me devem estar a escapar, sem ter a agenda aqui ao lado... Vamos, outra vez, andar os quatro num virote.

O ano vai quase a meio. Dentro de dias haverá mais iniciativas e mais novidades. O essencial está aí. Não parar e rejeitar que a atividade política seja uma mera gestão do quotidiano. Tem sido esse o propósito da equipa. O balanço começa a desenhar-se. As contas serão feitas no fim. E nessa altura poderemos demonstrar que a estratégia da equipa estava certa.

Montezuma e o Novo México ficaram para trás. Os dias de pausa relativa também. Agora há futuro a fazer.

quarta-feira, 25 de maio de 2016

UMA SEMANA NOUTROS LUGARES - DIA 6: SANTA FÉ

Mais um sítio mítico dos westerns. A arquitectura da zona mais antiga conserva reminiscências desses tempos. A Plaza, aprazível e tranquila, parece um qualquer largo das nossas vilas. Nesse sentido, Santa Fé liga-se mais ao passado colonial que ao estilo das grandes cidades americanas. Ainda que Santa Fé, com pouco mais de 60.000 habitantes, não seja exatamente uma grande cidade.

Santa Fé tem um toque cosmopolita. É um reputado centro de produção cultural e artística. Tem o notável Georgia O'Keeffe Museum, e isso bastaria. Mas há muito mais, incluindo uma conhecida ópera.

Voltarei a estes temas. Não sem deixar uma nota, sobre um aspeto muito particular. O mundo dos bons museus norte-americanos é especialmente snob. Constatei isso no Georgia O'Keeffe Museum, cujas funcionárias da receção me atenderam com um desdenhoso toque aristocrático, como se vender três bilhetes fosse uma maçada e um desperdício.

terça-feira, 24 de maio de 2016

UMA SEMANA NOUTROS LUGARES - DIA 5: RIO GRANDE

O rio é mais "chico" que "grande". Isso é o menos, ante a grandeza do canyon, da paisagem em volta e até, do arco da ponte em aço que vence o abismo. Passar o Rio Grande era um dos meus mitos de infância, de quando víamos os filmes de cabóis na geral do Cineteatro. O mito tornou-se realidade às 12 horas de ontem, estava o sol a pôr-se na Lusitânia.

Não é isso que vou reter, contudo. Há outro dado essencial. A verdade é que a ponte fica 172 metros acima do leito do rio. Os suicídios têm-se sucedido. Com bem intencionada ingenuidade, as autoridades puseram ao longo da ponte uma série de pontos de emergência telefónicos com a seguinte mensagem: LINHA DE CRISE - HÁ ESPERANÇA - FAÇA A CHAMADA. Fiquei a pensar quantos suicidas terão hesitado e feito a chamada que os manteve neste planeta...

segunda-feira, 23 de maio de 2016

UMA SEMANA NOUTROS LUGARES - DIA 4: TAOS

O sítio já aqui foi citado, há uns meses. Tive a curiosidade de saber como seria, fora de horas. Não fiquei defraudado. A aldeia, de construção em terra, não tem habitantes. Ou quase. Os guias dizem que vivem lá 100 pessoas, mas não vi vivalma. Uma barreira na estrada avisava TAOS IS CLOSED. As antigas famílias vivem em volta e, depois das 19 horas, não se pode entrar. Ou seja, se tem habitantes, têm estatuto de presidiário... Taos, que é Património da Humanidade, é um cenário. Bonito, mas morto. O que acontece a locais assim merece uma reflexão que não cabe nestas linhas. Fica um apontamento: a aldeia está mumificada. Não é permitido o abastecimento de luz elétrica e de água canalizada. Para não perder as "caraterísticas". Está quase tudo dito.

Voltarei a Taos. Fisicamente, daqui a horas. Como tema de escrita, dentro de dias.

domingo, 22 de maio de 2016

UMA SEMANA NOUTROS LUGARES - DIA 3: MONTEZUMA

A placa na estrada indica Montezuma. Mas Montezuma não é uma localidade, mas sim um sítio no meio da estrada. Há um posto dos correios (fiquei a perceber porque se mandavam as encomendas para Post Office, State Road 65...), mas não há casas. O sítio é um não-sítio... Tal como em Las Vegas, a cidade a oito quilómetros as ruas são largas faixas de alcatrão, com casas espalhadas ao longo da via. As ruas são não-ruas e os vizinhos moram muito longe uns dos outros. Não sei se é por isso ou pelo historial do território, mas imperam a rudeza e uma cortesia talhada a escopro.

É um dos condados mais pobres dos Estados Unidos. Isso nota-se por toda a parte. O centro da cidade está abandonado e mesmo o histórico Plaza Hotel, recuperado há pouco, parece que o não foi e que as obras não começaram.

Valham-nos as paisagens (ouço grilos a toda a hora, um som hoje mais raro pelas nossas bandas) e percebo agora porque há tantas fotografias de Ansel Adams destas paragens ou porque Georgia O'Keefe aqui se radicou).

Amanhã tentarei perceber de que ângulo Ansel Adams fotografou o seu "Moonrise".

sábado, 21 de maio de 2016

UMA SEMANA NOUTROS LUGARES - DIA 2: A ESTE DE PECOS

A pouca distância do local onde me encontro corre o Arroyo Pecos, que é afluente do Gallinas, que é afluente, agora sim, do Rio Pecos. Estou na margem oriental deste último, aquela onde se dizia que a lei parara.

Os nomes são espanhóis, as rádios passam, em permanência, música latino-americana. Fala-se espanhol. Se não é vingança pela ocupação dos que também eram ocupantes, parece...


Recolho imagens e tomo notas. Acumulo papéis e fotografias, para depois fazer qualquer coisa. Ou não. Um dia, esperemos que num dia distante, alguém se encarregará de chamar os serviços camarários para alguém se ver livre de tudo o que se acumula ao longo de uma vida.

sexta-feira, 20 de maio de 2016

UMA SEMANA NOUTROS LUGARES - DIA 1: ROISSY

Gostava de ter visto a exposição de Amadeo. Ou a de Seydou Keita. Ou qualquer coisa melhor que o RoissyBus, o 22, a linha 10 do metro e o RER. De Roissy para Roissy em 18 horas. Com a particularidade de ser o aeroporto que mais DETESTO. Começou por ser um modelo de modernidade e de organização. Hoje em dia é a imagem da balbúrdia e da incapacidade de resposta da nossa sociedade. Quase se pode dizer que todo o sistema capitalista se reflete em Roissy. A todos os níveis.

Próxima paragem: Atlanta.

Já só faltam 22 horas para o local de destino. Num dia de perfeito desatino.

quinta-feira, 19 de maio de 2016

MOURA: DENTRO E FORA

O trabalho prossegue.

Ontem, foram dadas a conhecer duas iniciativas da Câmara de Moura, que me parecem importantes. Uma mais perto, em termos de calendário, outra mais distante. Uma mais perto, em termos físicos, outra mais longínqua.

A saber: no dia 26 de junho, terá lugar a Manhã dos Campeões. Uma pequena cerimónia de reconhecimento aos que, em 2015 e em 2016, se distinguiram, a nível regional, nacional ou mundial, do ponto de vista desportivo. A isso se seguirá, na feira de setembro, uma iniciativa do mesmo género, que abrangerá as empresas locais que têm sido distinguidas aos mais variados níveis.

Um pouco mais além: "Moura fora de Moura" será o tema de duas câmaras abertas, em 2017. Uma na zona da Grande Lisboa, outra na Suiça. Proximidade aos nossos. Porque eles merecem essa preocupação.

UM BLOGUE ICONOCLASTA?

Um blogue iconoclasta? É capaz de o ser, pelo menos durante uns dias. O aparelho de que vou dispôr, até dia 25 e enquanto andar por fora, não me garante acesso a imagens, numa "coisa" chamada blogger.

Veremos. Sobretudo, tentaremos.

quarta-feira, 18 de maio de 2016

MÉLANGE OPTIQUE

A má qualidade de uma fotografia pode ser um bom ponto de partida para pensar em Arte? Pode, claro. Nesse sentido, a maior parte das imagens que faço que o meu telemóvel (a câmara é fracota) remetem para o pontilhismo. Uma, feita há dias nas margens do Lago Leman, e a grande distância (para a desgraça ser completa), evocou-me os Voiliers en mer, de 1868, e Le dégel, de 1880. São ambos de de Claude Monet. O primeiro está no Musée des Beaux Arts, de Lausanne, o segundo na Gulbenkian, em Lisboa. Deste último fiz, há dias, um pormenor, para ilustrar a mélange optique. Na realidade, todas as fotografias que faço com o telemóvel põem em prática a mélange optique...



terça-feira, 17 de maio de 2016

O BLOGUE E ESSA COISA CHAMADA SAUDADE

Façam-se contas. Tenho sempre os registos atualizados. Isso permite-me sabe quais os textos mais populares. Foi interessante verificar que, de um momento para o outro, um curto texto sobre um encontro com alguns emigrantes somou mais de 1500 visualizações.  Uma coisa espantosa e que me levou a refletir e a tomar uma decisão.

Para já, é este o balanço do blogue, nos dez mais:

1. REAL MADRID OU A MÁQUINA TRITURADORA (23.05.2010) 9981
2. TEMPOS DIFÍCEIS - II (16.12.2010) 2207
3. HISTÓRIAS DE VIDA NA SUIÇA, ENTRE O AEROPORTO DE GENEBRA E OS VINHEDOS DE EPESSES (16.05.2016)  1826
4. BURJ KHALIFA  (4.01.2010) 1730
5. CENTRO DE INSPEÇÃO DE VEÍCULOS (14.12.2015) 1495
6. ALENTEJO - MODOS DE VER (23.02.2016) 1291
7. BEJA ANTIGA - COLÓQUIO (14.01.2012) 1215
8. CLÁUDIO TORRES - HOMENAGEM EM LETRAS E EM MÉRTOLA(10.04.2013) 1188
9. BEJA - IMAGENS DA CIDADE ANTIGA (3.07.2011) 1153
10. EMPRÉSTIMO: ONDE, COMO E QUANDO (25.02.2016) 1083

BENFIQUISMO LICHTENSTEINIANO

À entrada, ontem, para o voo da TAP de Genebra para Lisboa, reparei num cachecol vermelho no cockpit. Aproveitei, por entre o pontilhado da parede de vidro, para fazer uma fotografia. A falta de qualidade da imagem tornou-se vantagem. Depois de passada para o computador, sugere vagamente o grafismo da obra do artista pop Roy Lichtenstein (1923-1997).

Já agora: ah, grande Comandante Bernardo Caetano!


segunda-feira, 16 de maio de 2016

HISTÓRIAS DE VIDA NA SUIÇA, ENTRE O AEROPORTO DE GENEBRA E OS VINHEDOS DE EPESSES

Blitz a Lausanne e a Epesses, para assistir à atuação do Grupo Coral Feminino de Santo Amador. O primeiro baque foi à chegada, quando encontrei este simpático grupo de patrícios "tire lá aqui uma fotografia com a gente e ponha no facebook que viemos trabalhar para a Suiça porque o nosso País não nos dá condições". A mesma realidade que encontrei, horas mais tarde, em Epesses. Uma festa de expatriados, de outra geração muitos deles, e mais instalados na vida. Mas com as mesmas saudades da terra natal. Os vinhedos de Epesses, Património da Humanidade, foram o pano de fundo para muitas conversas e para a magnífica presença o Grupo Coral Feminino de Santo Amador. Duas santo-amadorenses estão à frente de duas casas por onde o grupo passou (Domaine Blaise Duboux e Le verre gourmand).

Um dia demasiado rápido, com algumas conversas que terão continuidade no próximo verão.

Há sempre um momento cómico nestas ocasiões: estavam a assistir ao cante alentejano alguns japoneses, convencidíssimos que era um grupo folclórico suiço. Bem vistas as coisas, eu também não sei distinguir o folclore japonês do coreano...



domingo, 15 de maio de 2016

JORGE CAMPANIÇO

Termina hoje a Feira de Maio. Quatro dias intensos, apesar de chuva e do frio.

É também a derradeira oportunidade para ver a exposição do meu colega Jorge Campaniço. Ótimas fotografias. Cores intensas e Alentejo por toda a parte. Feiras são Cultura (também!) e daí o espaço de destaque que foi dado a esta mostra. Uma ideia de montagem muito simples e de extrema eficácia. Os elogios às fotografias têm-se multiplicado. Promover o trabalho de quem tal merece é (também!) a função das autarquias.



sábado, 14 de maio de 2016

PARQUE DE LEILÃO DE GADO - inauguração

Dia 12 de maio, e no ato de abertura da feira, teve lugar a inauguração do Parque de Leilão de Gado (edifício à esquerda, na fotografia), equipamento que veio fechar um ciclo de investimentos no Parque Municipal de Feiras e Exposições.

A Escola Nacional de Caça, Pesca e Biodiversidade vai ficar também instalada neste local, cuja gestão caberá à Herdade da Contenda, empresa municipal. O desafio mais interessante e importante começa agora. Essencial é que este espaço, que foi/é uma aposta importante da Câmara Municipal (a intervenção começou em 2005 e só agora se concluiu) seja posto ao serviço da economia do concelho. É isso que irá ser feito.


quinta-feira, 12 de maio de 2016

MADRID, ALMODÓVAR E LOLA BELTRÁN

Este filme já aqui andou, há seis anos. 

Repito o texto de 27.6.2010:

Gosto deste filme por muitas razões. Pela música, pela montagem, por Madrid, pelo ritmo, pelas mulheres neuróticas. É uma das obras mais conhecidas de Pedro Almodóvar (n. 1949), mas nem por isso foi especialmente incensada por parte da crítica. Mujeres al borde de un ataque de nervios, rodado em 1988, tem, por vezes, o ritmo e o estilo de uma slapstick comedy. Sob essa capa esconde-se um melodrama, tão ao gosto espanhol. É, também, um filme de cinéfilo. O que justifica que parte da trama se desenvolva em torno da dobragem de uma obra clássica: Johnny Guitar.

A primeira coisa de que gostei foi da canção inicial, Soy infeliz, da grande cantora ranchera Lola Beltrán (1932-1996). Levei anos de procura obsessiva à procura do disco. Valeu-me uma amiga mexicana, cujo rasto entretanto perdi. O que tem Mujeres? Amores e desencontros, dois actores que já se amaram e que dobram um filme, também sobre desencontros, sem nunca se cruzarem. Há uma mulher obsessiva e paranóica, uma advogada sem escrúpulos, terroristas xiitas e um extraordinário mambo-taxi.

No final do trailer vê-se Carmen Maura a cruzar uma rua, com a Torrespaña em fundo. É a Calle O'Donnell, perto do cruzamento com a Calle de Narvaez. A minha avó morava ali a dois passos. Passei por aquele sítio, pela mão dela, muitas vezes. São, também, as recordações que nos fazem regressar aos sítios. E aos filmes.

Retomo agora o filme, usando os créditos iniciais. Podia ter usado outras cenas, em que a ausência de duas pessoas é recordada através das suas vozes. Acabei por fazer esta escolha. Mujeres al borde de un ataque de nervios é o meu filme destes dias.


quarta-feira, 11 de maio de 2016

MISSÃO POUCO SECRETA EM LAUSANNE

O prometido é devido... Dei a minha palavra ao Grupo Coral Feminino de Santo Amador que iria LÁ estar. Ou seja, vai haver, entre domingo de manhã e segunda ao meio-dia, um ping-pong rápido Moura-Lisboa-Genebra-Lausanne-Genebra-Lisboa-Moura. Depois "isto" acalma. Acho eu.


AS MÍTICAS CURVAS DA CAPELA

A primeira era perigosa quando se ia para lá. A segunda, a contar de Moura, era perigosa quando se vinha para cá. Fizeram parte das nossas vidas durante dezenas de anos. Era duas, mas nós dizíamos sempre a curva da capela, no singular. Ficavam na estrada de Pias e foram fotografadas por Eduardo Gageiro e por Carlos Ferreira.

Ontem, às 14 horas, o sítio estava assim. A água vai começar a subir e, em breve, as curvas e a ponte deixarão de estar visíveis. A paisagem muda. Ora devagar, ora depressa, um pouco como acontece com as nossas vidas.


terça-feira, 10 de maio de 2016

MAIS UMA NOITE SEM DORMIR...

O PS cada vez mais à esquerda.
E o PS e o Bloco apostando nos sindicatos.
Como se diz na minha terra "isto é só fezes".

WAYS OF SEEING

Ways of seeing, assim mesmo, numa citação direta ao livro de John Berger. Que foi o mote de mais esta edição do Fórum 21. Uma iniciativa "desformatada" da presidência, e que tem por objetivo o debate dos mais diversos temas. Sempre numa perspetiva estimulante. Este sexto encontro teve como tópico a fotografia. Em especial, a obra de José M. Rodrigues, que pode ser vista no espaço do antigo matadouro.

E que foi o ponto de partida para a apresentação e a apreciação de alunos da área das Artes da Universidade de Évora. Uma sala cheia de uma juventude cheia de entusiasmo. Foram protagonistas e principais intervenientes deste fórum, e para além de José M. Rodrigues, dois nomes de grande importância no nosso panorama da crítica de arte: Alexandre Pomar e Jorge Calado. Moura fica a dever-lhes a generosidade e a disponibilidade que tiveram para trazer até à nossa terra o conhecimento que acumularam. As suas intervenções podem ser resumidas numa palavra, simples e complexa: QUALIDADE.



segunda-feira, 9 de maio de 2016

ÁGUA - DE BISKRA A MOURA, PASSANDO POR LISBOA E PELA ESTRELA, COM OUTROS COMPROMISSOS PELO MEIO...

O que estava previsto era um fim de semana em torno da água. Benza-a Deus, que não faltou. Mas o programa passava, inicialmente, por um colóquio internacional ao qual a Câmara se associou e pela inauguração do Centro Náutico, na Estrela. O resto, bom o resto foi fruto de uma multiplicidade de circunstâncias e de compromissos que saltaram em cima uns dos outros...

No início, estava um encontro que tinha/teve Biskra como ponto fulcral. A cidade já não será exatamente como Maurice Cullen (1866-1934) a pintou em 1983, mas a água está no quadro (1) e, espero eu ver um dia, o toque idílico também. Estivémos presentes no encontro de Lisboa, tendo cabido a apresentação do trabalho a Vanessa Gaspar (2). A água acompanhou-nos na inauguração que teve lugar na Estrela. O Vice-Presidente e eu ensaiámos uma pose Usain Bolt, ante o ar algo menos dinâmico do vereador Joaquim Simões (3). No domingo tivémos a prolongada visita a Moura da Embaixadora da Argélia, do Reitor da Universidade de Biskra e do Vice-Presidente da Associação Portuguesa de Museologia (4).

Nessa altura já as coordenadas espácio-temporais se tinham balburdiado, e a noção do tempo se tinha perdido. Ao longo de três dias, e com a água pelo meio, houve lugar a um encontro com o meu colega do Tarrafal, José Pedro Nunes Soares (6), à presença na justa homenagem ao Dr. Joaquim Simões (7) e na tarde/noite na animada Festa de Santo António, em Santo Aleixo (8). Tranquila mesmo foi a passagem pelo bar da Casa do Povo de Santo Amador, onde fui surpreendido pelo encontro, e pela longa conversa, com um antigo habitante na ilha de Bolama (9). Ficou marcada uma nova ida à aldeia, para lhe mostrar as fotografias que fiz, em tempos, na Guiné-Bisssau.


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QUASE EM MAIS UMA FEIRA

Os dias correm, as semanas correm, os meses correm. Estamos quase em mais uma feira de maio. Parece que o tempo vai "levantar".

A multiplicidade de iniciativas é o resultado da multiplicidade de contactos e do esforço feita pela equipa que coordena o evento (já lá vai o tempo em que me encarregava diretamente dessas tarefas...). O arranque é "em quarta", com a inauguração do Parque de Leilão de Gado. O programa aqui fica, porque se Paria vale bem uma missa, Moura vale bem uma visita.



domingo, 8 de maio de 2016

NUVENS, CHUVA, CHAMA E FUMAÇA


Chama e Fumo
Amor – chama, e, depois, fumaça…
Medita no que vais fazer:
O fumo vem, a chama passa…
Gozo cruel, ventura escassa,
Dono do meu e do teu ser,
Amor – chama, e, depois, fumaça…
Tanto ele queima! e, por desgraça,
Queimando o que melhor houver,
O fumo vem, a chama passa…
Paixão puríssima ou devassa,
Triste ou feliz, pena ou prazer,
Amor – chama, e, depois, fumaça…
A cada par que a aurora enlaça,
Como é pungente o entardecer!
O fumo vem, a chama passa…
Antes, todo ele é gosto e graça.
Amor, fogueira linha a arder!
Amor – chama, e, depois, fumaça…
Porquanto, mal se satisfaça
(Como te poderei dizer?…),
O fumo vem, a chama passa…
A chama queima. O fumo embaça.
Tão triste que é! Mas… tem de ser…
Amor?… – chama, e, depois, fumaça:
O fumo vem, a chama passa…

Ao passar esta tarde por Safara, e quando o sol começava a cair e tinha acabado de chover, o José disse, de repente, "espera aí, que tenho de fotografar isto". Não vi o que ele fez, mas está certamente melhor que a minha tentativa. Foram breves segundos, e a melhor luz perdeu-se. Recordámos os míticos seis segundos de Ansel Adams, na célebre fotografia feita em Hernández, no Novo México.
A recordação de Manuel Bandeira veio depois.

sábado, 7 de maio de 2016

NENHUMA CHUVA CAI

Chove ? Nenhuma Chuva Cai...


Chove? Nenhuma chuva cai... 
Então onde é que eu sinto um dia 
Em que ruído da chuva atrai 
A minha inútil agonia ? 

Onde é que chove, que eu o ouço? 
Onde é que é triste, ó claro céu? 
Eu quero sorrir-te, e não posso, 
Ó céu azul, chamar-te meu... 

E o escuro ruído da chuva 
É constante em meu pensamento. 
Meu ser é a invisível curva 
Traçada pelo som do vento... 

E eis que ante o sol e o azul do dia, 
Como se a hora me estorvasse, 
Eu sofro... E a luz e a sua alegria 
Cai aos meus pés como um disfarce. 

Ah, na minha alma sempre chove. 
Há sempre escuro dentro de mim. 
Se escuro, alguém dentro de mim ouve 
A chuva, como a voz de um fim... 

Os céus da tua face, e os derradeiros 
Tons do poente segredam nas arcadas... 

No claustro sequestrando a lucidez 
Um espasmo apagado em ódio à ânsia 
Põe dias de ilhas vistas do convés 

No meu cansaço perdido entre os gelos, 
E a cor do outono é um funeral de apelos 
Pela estrada da minha dissonância... 

Fernando Pessoa in "Cancioneiro" 

Nenhuma chuva cai é maneira de dizer. Tem caído com regularidade, num maio demasiado fresco. Hoje assim será, diz a net, que é quem tudo controla, nos nossos dias.

Fotografia feita, em tarde de sol, nos arredores de Moura.

TCHAU, QUERIDO!


sexta-feira, 6 de maio de 2016

YOUTH & YOUTH POR TERRAS DA MARGEM ESQUERDA

Dois dias quase só entre a juventude, por este meu concelho. Terceira edição de Um dia na presidência, com três alunos da Escola Profissional de Moura. Com três pontos cruciais: a obra de reabilitação do Pátio dos Rolins, a visita ao Parque de Leilão de Gado e a inauguração do novo campo de jogos na EBI de Amareleja. No final da tarde, assistiram a uma reunião com os trabalhadores da autarquia e à reunião de câmara.

Ontem, a tarde foi ainda mais jovem. Acho que me diverti mais que os meus jovens "espetadores", na Escola Básica do Sete e Meio. Uma aula sobre património da cidade e sobre as muralhas. Um público exigente e difícil...

O concelho não pára. E estes jovens cá estarão um dia, para o perpetuar.






De cima para baixo:

1. Obra do Pátio dos Rolins.
2. Visita ao Parque de Leilão de Gado.
3. O novo campo de jogos da EBI de Amareleja.
4. Reunião com os trabalhadores.
5. Aula na Escola do Sete e Meio (há fotografias magníficas mas, infelizmente, não utilizáveis, por questões de privacidade dos miúdos).

quinta-feira, 5 de maio de 2016

MOURA - FÓRUM 21: FOTOGRAFIA - MODOS DE VER

A segunda à tarde promete, aqui pelo burgo. Virá uma turma de Artes, da Universidade de Évora. Às 17 horas, no local da exposição "Gotas de água" terá lugar um debate, com a presença de Alexandre Pomar, Jorge Calado e José M. Rodrigues.

Antes de mergulhar no território da Contenda (7º Fórum 21, lá para final do mês), o tema é a fotografia. Porque há alunos da UE que andam a fotografar Moura. Porque José M. Rodrigues foi co-autor de um livro sobre a nossa terra. Porque está a preparar outro, sobre a Amareleja. Porque é importante ter no concelho contributos válidos. Nas mais diversas áreas.


O VENDEDOR DE ILUSÕES

The music man é o filme.  Não gosto especialmente nem do filme, nem dos gorjeios de Shirley Jones nem de Robert Preston, um clássico canastrão. Mas esta cena tem Till there was you. A canção é bonita, ainda que muito melhor na versão dos Beatles e insuperável na de Peggy Lee.

Homenagem do blogue aos musicais americanos, numa época em que o seu declínio era mais que evidente. Deste filme de 1962 de Morton DaCosta não reza a história. Mas é a minha escolha cinéfila da semana.


quarta-feira, 4 de maio de 2016

ENTASIS OU A ILUSÃO DE ÓTICA EM DISCURSO DIRETO

Definição na net para êntase - Técnica usada para reduzir a ilusão óptica provocada numa coluna quando as duas linhas paralelas do fuste parecem encurvar para dentro. De modo a diminuir este efeito o fuste passa a ter uma ligeira curvatura para fora resultando no efeito óptico de linhas paralelas. Esse engrossamento é mais visível no primeiro terços da coluna (as balaustradas barrocas que o digam...).
Há dias, num dos claustros da Universidade de Évora, tive um exemplo ao vivo de como a luz "usa" o fuste. O dia estava límpido. Daí a Alberto Caeiro foi um passo curto.

Querem uma Luz Melhor que a do Sol!

AH! QUEREM uma luz melhor que 
a do Sol! 
Querem prados mais verdes do que estes! 
Querem flores mais belas do que estas 
que vejo! 
A mim este Sol, estes prados, estas flores contentam-me. 
Mas, se acaso me descontentam, 
O que quero é um sol mais sol 
que o Sol, 
O que quero é prados mais prados 
que estes prados, 
O que quero é flores mais estas flores 
que estas flores - 
Tudo mais ideal do que é do mesmo modo e da mesma maneira! 

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos" 


CÁTEDRA CLÁUDIO TORRES

Estive ontem em Évora, claro está. Foi um momento importante para todos nós e, como é evidente, um especial reconhecimento à carreira de Cláudio Torres. Transcrevo o que está no site da Universidade de Évora e onde, infelizmente, não é feita qualquer menção à presença e à importante intervenção da Dra. Paula Amendoeira, antiga aluna de Cláudio Torres e atual Diretora Regional da Cultura.

Eis o texto do site da UE:

A investigação de qualidade deve ser transmitida “em linguagem de gente. O Museu é a grande divulgação”. São palavras de Cláudio Torres, fundador e diretor do Campo Arqueológico de Mértola (CAM), no âmbito da Cerimónia de criação da Cátedra de Ensino em Arqueologia Cláudio Torres, que teve lugar no dia 3 de maio, no Colégio do Espirito Santo.

Desconstruindo, no seu discurso, as não necessariamente coincidentes, em termos de resultados, historiografia escrita e historiografia arqueológica, Cláudio Torres destacou o papel fundamental e decisivo da UÉ, enquanto polo agregador e dinamizador do interior do país, ao promover a criação de redes e parcerias interinstitucionais na região. De facto “há toda uma geração de futuros investigadores, historiadores e arqueólogos que tem de ficar a trabalhar na sua região”. Espera, por isso, que “esta cátedra sirva para cimentar, justificar e para organizar estes que ficarem e os que vem a seguir.”

A reputação assinalável do CAM no panorama da Arqueologia foi realçada por Ana Costa Freitas, Reitora da UÉ, considerando-o “uma estrutura sem paralelo e de reconhecida excelência, ao qual estará sempre associado o nome de Cláudio Torres”, Doutor Honoris Causa da Universidade de Évora desde 2001.

Renovando agora esse reconhecimento de forma consequente, a Cátedra Cláudio Torres reforça os Programas de Ensino em Arqueologia da UÉ e abre caminho à concretização de projetos conjuntos neste domínio, no âmbito do qual a UÉ faz investigação de ponta. Traz vantagens para ambas as partes, sobretudo a valorização da formação dos alunos, pois esta relação incrementa a ligação com o terreno, potenciando tanto o trabalho desenvolvido no âmbito do CAM, como a qualidade da formação dos alunos da UÉ.

Referindo-se a Cláudio Torres como “um nome incontornável quando se fala em Arqueologia”, Fernanda Rollo, Secretária de Estado da Ciência, encerrou a sessão, salientando o seu entusiasmo, criatividade e inconformismo como características associadas ao próprio processo científico “a ciência é isto, o conhecimento é isto, a cultura é isto”. Frisou, ainda, que “o encontro entre a Ciência e a Cultura é absolutamente determinante” e que “a Cátedra ora instituída, materializa esta articulação que se pretende aprofundar”.


terça-feira, 3 de maio de 2016

UMA CIDADE E O SEU MUSEU: 19/20 - ARGEL

Penúltimo museu desta série de 20. O Musée national des antiquités et des arts islamiques é o mais antigo de África... Está numa cidade de que gosto particularmente. Onde várias vezes me perdi. A última passagem por Argel foi em abril de 2012. Houve uma conferência no museu, onde a minha exposição Mértola - último porto do Mediterrâneo foi (muito bem) montada e apresentada.

Tenho pena de nunca ter podido estudar o passado cristão da Argélia. A complexa situação do país leva a que temas como esse sejam relegados para um secundaríssimo plano. Estão, por isso, insuficientemente estudados os vestígios da Alta Idade Média. É certo que investigadores como Gsell ou Février se debruçaram sobre o tema. Mas sempre de forma demasiado rápida. A tese de Isabelle Gui podia ter aberto caminhos. Tal não sucedeu. Na primavera de 2012, percorri melancolicamente as salas do museu, com mais perguntas que respostas. Não consegui arranjar cópia dum baixo-relevo com um falcoeiro, estudado por Marçais em 1934. Uma peça de grande beleza e que merecia bem ser retomada.

Talvez esteja na altura de tentar um pretexto para regressar (v. aqui). Para voltar à casbah e para uma nova incursão a Tipasa, onde não regressei depois de 1999.

segunda-feira, 2 de maio de 2016

A BELEZA DO FUTEBOL INGLÊS

Leicester - 61.500.000 € em salários (clube pequeno, mas não tanto assim...).
Chelsea - 274.000.000 € em salários.

O Leicester acaba de ganhar o campeonato inglês, o Chelsea é nono classificado.

A beleza e imprevisibilidade do futebol inglês está, também, nestas coisas. 


QUANDO MOURA SE CHAMAVA LACANT


Quatro fragmentos cerâmicos existentes em Moura permitiram relançar o debate em torno da toponímia local e colocar novas hipóteses sobre o nome antigo da cidade. Moura conta-se no grupo dos sítios para os quais não dispomos de dados suficientes no que à época romana diz respeito. A hipótese de uma correspondência entre Nova Civitas Arucitana e Moura foi desmontada, há anos e de forma definitiva, por José d’Encarnação.

A ligação entre Julumaniya e Moura é um equívoco que remonta ao século XIX, e que deu origem a erros como al-Manijah ou Yelmaniah. Se aceitarmos como válido o texto de Ibn al-Faradi e a proposta que David Lopes produziu, fazendo a islâmica Mura coincidir com a atual Moura, ligação hoje aceite de forma generalizada, temos resolvida a toponímia posterior ao século XI.

As peças acimas referidas, datadas do século VII e descobertas na Rua de Arouche, na Primeira Rua da Mouraria e nas reservas do Museu Municipal, citam uma Ecclesia Santa Maria Lacantensis. Ou seja, de uma igreja consagrada a Santa Maria, numa localidade denominada Lacant ou Lacanta. A concentração de peças num só sítio permite supôr que o nome romano ou tardo-romano de Moura seria esse.

Este dado vem abrir novas possibilidades de explicação para a localização de um topónimo islâmico (Laqant) e para o qual se têm esboçado várias teorias. As referências a Laqant surgem, quase sempre, com a exceção do oriental Yaqut, em textos antigos, reportando-se a acontecimentos cuja cronologia não ultrapassa o período califal.

O que nos dizem as fontes sobre Laqant? E quem são os autores que ao sítio se reportam?

Ibn Idhari (inícios do século XIV) refere, pouco depois de meados do século VIII uma revolta, que teria tido lugar em Beja ou em Laqant e que teria sido conduzida por Ala b. Mughit al-Yassubi. No final do século VIII, ao mencionar-se uma campanha militar conduzida por Abu Ayyub Sulayman, refere Ibn Hayyan (séculos X-XI) a retirada que este teria feito para o “país de Firris e Laqant”. Os textos diferem um tanto sobre o início da revolta. Ibn al-Athir (séculos XII-XIII), retomando a interpretação do Fath al-Andalus escreveu: “(...)Ala b. Mughit al-Yassubi passou da Ifriqiya (Tunísia) à cidade de Beja, no al-Andalus, onde arvorou a cor negra dos Abássidas e fez fazer a hutba (prédica) em nome de al-Mansur. Numerosos aderentes se lhe juntaram rapidamente”. Segundo outra versão, a do Behdjat en-nefs, al-Ala ter-se-ia revoltado num local chamado Laqant, pertencente à kura de Mérida, tendo depois marchado sobre Beja e tornado-se senhor de todo o oeste da Península. A localização não era segura, tendo-se feito coincidir, durante muito tempo, Laqant com a zona de Fuente de Cantos, perto de Mérida, e Firris com Castillo del Hierro, nas serranias a oriente de Sevilha.

Foi dessa região que sairam movimentos tão importantes como o que terá tido origem em Laqant, referido expressamente como fazendo parte do “cantão de Beja” (Ibn Idhari). Esta região juntou-se a Sulayman b. Martin em 835 d.C. para fomentar uma revolta que assolou todo o território de Beja. A importância estratégica de Laqant levou os vikings, na invasão de 844 d.C.  a enviar destacamentos para este sítio, bem como para Firrish, Moron e Córdova.

Nesta zona, cerca de 50 quilómetros a leste de Beja, e no limite oriental do seu território, as ligações familiares e a componente mullawad (muçulmanos de origem local) continuam a marcar presença preponderante. Ibn Hayyan assinala a revolta de Faraj b. Hayr al-Tutaliqi, que se rebelou em 848-849 d.C.  contra o emir Abd al-Rahman II a partir de Aroche e de Dnhkt, topónimo não identificado. Pode tratar-se de um problema de transcrição e a referência reportar-se a Laqant e não a Dnhkt. Vencido pelas tropas do emir, põe-se ao serviço deste e é nomeado para diversos cargos, nomeadamente o de governador de Beja.

É ainda o sítio de Laqant que o califa Abd al-Rahman III coloca sob o comando de Abd al-Malik b. al-Asi, jurisdição que passaria, anos depois, para Abd al-Rahman b. Muhammad b. al-Nazzam.

Perto do final do século X, Laqant era ainda referida como kura (algo semelhante a um distrito): “en el jumada de este año [362 h., ou seja, entre outubro de 972 e outubro de 973), salió el sahib al-radd Abd al-Malik ibn Ibn al-Mundhir Ibn Said a las coras occidentales – que son: Ferris, Laqant, Sevilla, Niebla, Carmona, Morón, Ecija y Sidonia – en visita de inspección (...)”. Pela mesma época, e numa história da conquista da Península, é feita a seguinte referência explícita quando se fala da rota seguida pelas tropas: “después de Sevilla se fué a Lacant (es decir) a un lugar que se llamó “el desfiladero de Musa” en las cercanías de Lacant, en dirección a Mérida”.

Ou seja, a Lacant do século VII corresponde, segundo aqui se propõe, à Laqant dos textos islâmicos. A mutação do nome, ocorrida presumivelmente nos século X-XI, tal como sucedeu noutros sítios do Garb, como Ocsónoba, justificaria o esquecimento do nome antigo e a “criação” de um novo topónimo.

Texto preparado a partir da publicação “Castelo de Moura – escavações arqueológicas” (autoria conjunta com José Gonçalo Valente e Vanessa Gaspar) e que retoma um artigo publicado em “A Planície” no dia 15.7.2012.


Artigo publicado hoje em "A Planície"