sábado, 23 de novembro de 2024

TERCEIRA VEZ

Pela terceira vez, de forma surpreendente, "Chegar a casa" foi a jogo. Em concurso em Loulé, quase uma década depois de ter sido produzido.

As expectativas de apuramento eram baixíssimas. Mas o que divertiu foi ter tentado. Juro.




PANTEÃO NACIONAL - MODOS DE VER, AGORA EM VERSÃO XL

Para a próxima primavera:
O Panteão Nacional nas Artes (e na publicidade).
Exposição em preparação desde o início do ano passado.
É desta.


 

sexta-feira, 22 de novembro de 2024

QUEM PÕE O CHOCALHINHO AO GATO?

Era com essa frase, verdadeiramente decisiva na sua coloquialidade, que o José Maria Pós-de-Mina rematava muitas das discussões que havia na vereação. Ou seja, muito bem, há ideias, há intenções, há objetivos. E agora, quem se encarrega de os concretizar. Quem acompanha, quem executa, que trata, que resolve?

Conversa e teoria, há sempre muita. Concretizar é que é tramado... Constato isso sempre que é preciso passar da teoria e das boas intenções à prática. A parte menos brilhante é a da concretização. São dias e dias de trabalho duro e, muitas vezes, solitário. Há coisas para resolver? Ponha-se, então, o chocalhinho ao gato... Pessoalmente, foi coisa que aprendi a gostar de fazer. Mesmo falhando, por vezes.


quinta-feira, 21 de novembro de 2024

E EIS QUE PASSARAM DEZ ANOS...

Escrevi isto em maio de 2014:

"Não teremos extrema-direita enquanto Paulo Portas fizer o pleno da demagogia e se apropriar dos temas caros a essa faixa do eleitorado. E como ninguém leva a sério José Pinto-Coelho ou Humberto Nuno Oliveira, o justicialismo populista é tomado de assalto por Marinho Pinto, aka Marinho e Pinto. O estilo Berlusconi assenta-lhe na perfeição. Ele sabe disso e gosta de se/o exibir. Ou seja, a nossa sorte é que o espaço que os fascistas poderiam ocupar é tomado por Marinho Pinto. E pelo obscuro José Inácio Faria, na realidade o grande vencedor destas eleições. Ironia das ironias, ainda temos de lhes agradecer…"

Creio que não me enganei assim muito. A estupidez fascizante chegaria poucos anos depois.

quarta-feira, 20 de novembro de 2024

SAMBA

O Carnaval ainda vem longe, mas é a altura para recordar esta obra com quase um século (1925!) de Di Cavalcanti (1897-1976), um dos grandes nomes da pintura brasileira do século XX.

Sem verão à vista, mas com as imagens do Brasil bem presentes. De Carlos Drummond de Andrade, "O homem e seu carnaval":

Deus me abandonou
no meio da orgia
entre uma baiana e uma egípcia.
Estou perdido.

Sem olhos, sem boca
sem dimensões.
As fitas, as cores, os barulhos
passam por mim de raspão.
Pobre poesia.

O pandeiro bate
é dentro do peito
mas ninguém percebe.
Estou lívido, gago.
Eternas namoradas
riem para mim
demonstrando os corpos,
os dentes.
Impossível perdoá-las,
sequer esquecê-las.

Deus me abandonou
no meio do rio.
Estou me afogando
peixes sulfúreos
ondas de éter
curvas curvas curvas
bandeiras de préstitos
pneus silenciosos
grandes abraços largos espaços
eternamente.



terça-feira, 19 de novembro de 2024

REPÚBLICAS DAS BANANAS

A fotografia é de Carlos Cortés Vargas (1883-1954), um criminoso que teve a patente de general, na Colômbia.

Em dezembro de 1928 teve lugar a célebre Matanza de las bananeras. Centenas de trabalhadores morreram. A embaixada americana em Bogotá mandava telegramas para Washington garantindo "government would give adequate protection to American interests involved". A United Fruits e o negócio das bananas deram a etiqueta a este tipo de governos, que fazem os fretes aos Estados Unidos.

Do outro lado está Cuba. Eu estou do lado de Cuba.



segunda-feira, 18 de novembro de 2024

OXALÁ CORRA BEM...

Há uns meses, um veterano professor universitário (veterano da minha idade, quero eu dizer) acusou-me de "fatalista", quando comparava o desempenho dos nossos alunos com os de outros países. E citava eu uma cena do filme "Lisboetas", de Sérgio Tréfaut.

De cada vez que temos um Web Summit, há coisas estranhas nos astros. Agora prometem tutores educativos para ajudar os alunos a compreenderem o mundo (?????). Mais uma cena de conversadatreting... Oxalá me engane. É que os chegam à Universidade escrevem cada vez pior. E têm um sentido crítico cada vez menos evidente. A culpa é deles? Não é, é nossa. E das fantasias mias ou menos inúteis que todos os dias se criam.

domingo, 17 de novembro de 2024

STAR ???

Participei na rodagem deste documentário em fevereiro de 2022. Espero poder vê-lo um destes dias. Entretanto, vão-me chegando notícias pelas redes sociais. Estou com curiosidade, naturalmente.

Divertido fiquei, ao constatar no IMDb (Internet Movie Database) - que surge assim explicada: IMDb is the world's most popular and authoritative source for movie, TV and celebrity content - que sou definido como star. Ora bem!


sexta-feira, 15 de novembro de 2024

CONVENTO DO CARMO - DE MOURA A LISBOA

E agora, durante uns meses - até março de 2025 - alguns materiais provenientes das escavações arqueológicas no Convento do Carmo, em Moura, vão estar expostos no Museu Arqueológico do Carmo, em Lisboa.

Um trabalho notável das colegas Rute Silva e Vanessa Gaspar. Deixando de lado outas questões, a complexa realidade arqueológica do sítio merecerá bem uma monografia, a matizar com a informação histórica.

Coisas interessantes que resultaram da conferência de apresentação e que me mereceram reflexão:

* a presença de um sítio islâmico, que certamente corresponde a uma munya;

* toda a encosta a norte do castelo deverá ter tido pequenas hortas, de que parecem ser evidência a moeda de Hisham II e as cerâmicas encontradas na zona do Sete-e-Meio;

* todo esse espaço terá beneficiado das fontes do castelo, que viriam, muito mais tarde, a ser objeto de documentos de divisão da água;

* os três silos localizados têm uma capacidade de armazenamento de 7.300 litros, pelo que seria interessante ver qual a área necessária para garantir essa produção (talvez isso desse uma perspetiva sobre a dimensão da munya e pudesse dar pistas, um dia, para a origanização fundiária em toda esta zona)

* não por acaso, é aí que o Convento do Carmo se instala, muito pouco tempo após a Reconquista.

Um belo conjunto de peças a ver, e um trabalho de arqueologia a seguir.


quinta-feira, 14 de novembro de 2024

COMO SE FOSSE A PRIMEIRA VEZ...

O arranque foi no dia 28.11.2021. Tinha início o 1º. ciclo de concertos "Música no Panteão". Desde então já houve 25 concertos.

Começa agora o 4º. ciclo. Até julho de 2025 haverá mais nove concertos.

O projeto consolidou-se e fidelizou público.

Um dado importante: tem sido crucial o apoio da Antena 2 na divulgação via rádio.

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

O METRO DE LISBOA E A NOVILÍNGUA

Lemos coisas assim, a propósito das novas carruagens do metro:

"Estas novas carruagens, desenvolvidas pela Siemens e Stadler, para o Metro de Lisboa, prometem melhorar a experiência de viagem dos passageiros. Com janelas mais amplas, mais espaço para facilitar entradas e saídas, e uma disposição longitudinal dos lugares sentados, está prometido mais conforto para o passageiros. Cada unidade tripla dispõe de 90 lugares sentados, dos quais 30 serão prioritários (...).

As novas carruagens do Metro, muito semelhantes ao sistema de assentos que vemos noutras cidades mundiais como Nova Iorque, dispostos longitudinalmente, prometem transformar a experiência de todos os utilizadores, uma vez que disponibiliza mais espaço para circulação no seu interior".

Para além das comparações com Nova Iorque fazerem estoirar logo o parolómetro, sublinho coisas que me fazem sempre rir:

Cada unidade tripla tem 90 lugares sentados (ena tantos!); atualmente são 168. Passam a ser 90. Queres metro? Vais de pé...

O eufemismo "mais espaço para circulação no seu interior" significa que passa a caber mais gente. De pé. Apertadinhos.


terça-feira, 12 de novembro de 2024

IMIGRANTES ILEGAIS...

Chamava-se Goyaałé, foi líder dos Apache e ficou conhecido como "Jerónimo". Nasceu em 1829, morreu em 1909. A ele, nenhum "czar das fronteiras" lhe perguntou o que achava ou deixava de achar sobre os que chegavam de fora. Ficaram com o que era dele e enfiaram-no na prisão. Quem fez isso? Os antepassados dos da dimócraci e dos iuman rraites.


segunda-feira, 11 de novembro de 2024

SÃO MARTINHO - DE SZOMBATHELY A TOURS

Nasceu no início do século IV, no que hoje é a Hungria. A sua vida cruzou todo o século IV, época de importante afirmação do Cristianismo.

Foi bispo de Tours e é conhecido como São Martinho. A sua festa celebra-se hoje.

O quadro, muito curioso, foi pintado por Doménikos Theotokópoulos - El Greco (1541-1614) c. 1597. Mostra-nos um S. Martinho ao jeito dos cavaleiros aristocratas da sua época. A pintura tem duas versões, uma maior (na National Gallery of Art, em Washington), outra mais pequena (no Art Institute, em Chicago).


domingo, 10 de novembro de 2024

RÁDIO SAUDADE - 46 A 53

Gravação de mais oito emissões. Isto dá mais trabalho do que parece...

Quem se segue?

Luís Cilia, Jacques Brel, Rui de Mascarenhas, Doris Day, Banda do Casaco, João Gilberto, Carlos do Carmo e Specials.

Qual é o "racional", como se diz agora? É não haver "racional". O "racional" é fazer aqui o que me apetece.

Daqui por umas semanas volto ao estúdio.

sábado, 9 de novembro de 2024

SÃO MARTINHO E NOSSA SENHORA DO CARMO

A noite de hoje trouxe uma série de recordações - um coleção notável de cartazes e de programas das Festas de Nossas Senhora do Carmo -, que levaram muitos de nós a verdadeiras viagens ao passado. Pelo ano de 1974 passou o ar de todas as libertações. Recordo-me de celeuma que esta cartaz provocou (o seu autor foi, se não estou em erro, António Galvão). Que "aquilo" não tinha a ver com festa, "que ideia tão disparatada etc.". 50 anos volvidos, a sugestão cinética do cartaz, que evoca todo o movimento da Festa, faz dele, na minha opinião, o melhor do todo os que foram produzidos.

Que saudades do António Galvão...


sexta-feira, 8 de novembro de 2024

O VESÚVIO, SINICAMENTE

Foi há uns meses, em Estremoz. Aproximei-me do painel de azulejos com a certeza de ser uma paisagem oriental. Isto deve ser no Japão, ou em Macau, talvez... Não era, era em Itália. A legenda diz apenas "Painel de azulejos. Paisagem com Vesúvio. Séc. XX". Um Vesúvio de contornos sínicos.

Lembrei-me daquela vez em que fui com o Cláudio ao Além-Rio, ao cerrinho da antena, mais precisamente. Era um fim de tarde brumoso e o sol estava a pôr-se. "Já viste esta sucessão de sombras nos cerros?, assim a perder de vista", disse-me ele. "Parece uma estampa japonesa". Parecia mesmo! Memórias de outros tempos, em Mértola, que às vezes me parecem quase irreais.


quinta-feira, 7 de novembro de 2024

KLEE, NO NILO

Hino ao Rio Nilo
Salve, ó Nilo!
Que brotas da terra
E vens dar vida ao Egito!
Misteriosa é a tua saída das trevas
Ao irrigares os campos criados por Rá
Tu – inesgotável – que dás de beber à terra!…
Tu crias o trigo, fazes nascer o grão,
Garantindo a riqueza dos templos.
Se paras a tua tarefa e o teu trabalho,
tudo o que existe cai no desespero.
Espalha as tuas águas, ó Nilo!

O hino terá cerca de 3.500 anos. É a celebração de um rio que foi fonte de vida. Lembrei-me dele depois de perguntar a uma amiga "de que pintor gostas?" e de ter ouvido, um pouco surpreso, como resposta, "Paul Klee!".

Paul Klee esteve no Egito um ano antes de morrer, e pintou assim o Nilo. Só os maiores conseguem fazer da complexidade coisas tremendamente simples.


quarta-feira, 6 de novembro de 2024

O FLAUTISTA DE MAR-A-LAGO

O candidato diz, num comício, que tinha um amigo com um pénis enorme.

O candidato diz, num debate, que os imigrantes comem cães e gatos da vizinhança.

Um dos animadores de um comício do candidato diz chama a Porto Rico uma ilha de lixo flutuante. E daí? Os latino votaram no candidato.

O candidato diz que a adversária é índia ou malaia ou qualquer coisa assim.

O candidato contrata prostitutas e diz que agarra as mulheres "pela rata".

AS PESSOAS NÃO QUEREM SABER.

O eleitorado pobre votou nele. Lá como cá. Porque o eleitorado não quer saber da verdade. Quer a ilusão. Um clássico...


terça-feira, 5 de novembro de 2024

LOGO À NOITE

Não, também não votaria em nenhum dos dois. Ou, melhor, talvez, em último caso e com muito esforço, votasse na senhora. Não porque seja objetivamente muito melhor, em termos de ação, mas por que ele é um perigoso tresloucado.

Ela já disse ao que que vinha:

“As commander-in-chief, I will ensure America always has the strongestmost lethal fighting force in the world”.

Não há nada de relevante sobre a mortandade em Gaza, a construção da paz, o desenvolvimento global, o combate à pobreza, etc.nem se destacou pela positiva. Nada. O que (me) ficou foi o sublinhar da mais letal força no mundo.

Se vou acompanhar os resultados logo à noite? Sim. Adoro circos.


segunda-feira, 4 de novembro de 2024

2024 - ANO DE VIRAGEM

No início de 2024 nasceu a Museus e Monumentos de Portugal EPE. Foi um processo inovador e uma forma diferente de ver a realidade dos museus, monumentos e palácios. São constatações, nada mais.

Com mais um lote de lugares colocados, ontem, a concurso, já lá vão cerca de 30 processos abertos. Dentro de semanas, deverão abrir os que faltam:

Convento de Cristo, em Tomar.

Fortaleza de Sagres, em Vila do Bispo.

Mosteiro de Alcobaça, em Alcobaça.

Mosteiro de Santa Maria da Vitória, na Batalha.

Museu Nacional da Música, em Mafra.

Palácio Nacional de Mafra, em Mafra.

Panteão Nacional, em Lisboa.

Em 2025, a realidade será outra.


domingo, 3 de novembro de 2024

O MAR SEM FIM - EM BREVE, NA RTP2

Dias intensos, de preparação e de gravação de uma oratória, da autoria de Daniel Schvetz. "O mar sem sim" é uma peça inédita, baseada nos 10 cantos de "Os Lusíadas" e destinada a homenagear Vasco da Gama e Luís de Camões.
A emissão televisiva terá lugar dentro de algumas semanas.

Este projeto não teria sido possível sem o empenho da equipa da RTP2. E sem o apoio, a toda a hora, da equipa do monumento.

E sem a ativa presença e participação das seguintes entidades (por ordem alfabética):

Caixa Geral de Depósitos
Câmara Municipal de Sines
El Corte Inglés
Gelpeixe
Junta de Freguesia de S. Vicente
Rangel Logística
Servilusa













sábado, 2 de novembro de 2024

GOSTAR DE PINTURA

As recentes idas a exposições onde a pintura está no centro do que se apresenta, tem acentuado o meu gosto pela pintura e pelo desenho. Em especial, porque tenho uma triste incapacidade crónica para desenhar e para pintar. A quem devo esse gosto? A algumas das aulas de História da Arte, a professores como Cláudio Torres e Manuel Rio-Carvalho. Aos absolutamente maravilhosos programas televisivos de Edwin Mullins. Ao contacto pessoal com Rogério Ribeiro e com Moita Macedo. A uma exposição de João Penalva, há já uns bons anos. A uma ida a Madrid, para uma antológica de Velázquez. A coisas assim.

Reparo a frustração tentando fotografar. Os registos de ontem à noite são um contributo para mais um livrinho.


sexta-feira, 1 de novembro de 2024

O MUNDO ANTIGO DE PASCUAL DUARTE

O livro de Camilo José Cela foi lido há mais de 40 anos, seguramente. Não mais esqueci esta passagem, a mais tremenda de entre todas as das memórias de Pascual Duarte:

“La puerta de la cuadra que daba al corral era baja de quicio. Me agaché para entrar; no se veía nada.
—¡To, yegua!
La yegua se arrimó contra el pesebre; yo abrí la navaja com cuidado; en esos momentos, el poner un pie en falso puede sernos de unas consecuencias funestas. —¡To, yegua! Volvió a cantar el gallo en la mañana.
—¡To, yegua!
La yegua se movía hacia el rincón. Me arrimé; llegué hasta poder darle una palmada en las ancas. El animal estaba despierto, como impaciente.
—¡To, yegua!
Fue cosa de un momento. Me eché sobre ella y la clavé; la clavé lo menos veinte veces…
Tenía la piel dura; mucho más dura que la de Zacarías… Cuando de allí salí saqué el brazo dolido; la sangre me llegaba hasta el codo. El animalito no dijo ni pío; se limitaba a respirar más hondo y más de prisa, como cuando la echaban al macho”.

O homem vingava com sangue a ferida irreparável que a égua causara na sua mulher. A navalha é usada sem hesitações. A mentalidade mágica prevalece. Morta a égua, o mal é varrido.

Voltei a encontrar este mundo duro e arcaico anos mais tarde, no filme “Las hurdes. Tierra sin pan” de Luís Buñuel. Nele se retrata a violência de vidas marcadas pela miséria e pelo desconhecimento do que acontecia para lá do horizonte. A cena da festa popular, em que os cavalos passam a correr pelo meio de uma praça e o cavaleiro tem, à passagem, de arrancar a cabeça de um galo vivo, que está pendurado pelas patas, é de uma crueza que as palavras são curtas para explicar.

A essa Espanha profunda chegou, no início da década de 50 do século XX, o jornalista Eugene Smith. A reportagem, mais tarde publicada na “Life”, permanece como o testemunho poderoso de uma época. Sentimos a pobreza dos habitantes da Deleitosa (província de Cáceres) em cada uma das suas imagens. Sentimos a ferocidade da repressão franquista no trio de guardas-civis que olham para o horizonte, com uma expressão que não deciframos.

Não é que Deleitosa fosse muito diferente de outras localidades raianas – ao repassar as fotografias acho que há ali coisas parecidas com o “callejón” que separava a Calle Calvo Sotelo da Calle del Corzo, em Paymogo e há miúdas que me recordam a Aurélia, que morava na Calle Real (o que será feito da Aurélia?...) – mas Eugene Smith só houve um.

Sentados no sofá, olhando tranquilamente o écran, entre um café e a leitura do jornal, o mundo antigo de Pascual Duarte parece irreal. Pelos nossos olhos perpassam imagens de que foram testemunhas diretas três jovens artistas. As paisagens são frugais, as pessoas têm expressões de aspereza e de dor permanente.

A única coisa que nunca consegui perceber é a fantástica e precoce maturidade das suas obras. Eugene Smith tinha 31 anos quando fotografou Deleitosa. Luis Buñuel rodou “Las hurdes” aos 33 anos. Camilo José Cela escreveu La família de Pascual Duarte aos 26 anos.

As Hurdes ficam a 250 quilómetros de Moura,a Deleitosa a cerca de 230. Esse mundo antigo e violento é-nos próximo fidsicamente. E facilmente o entenderemos se, nas nossas próprias terras, recuarmos um século.

Crónica em "A Planície". A fotografia é de Eugene Smith.



quinta-feira, 31 de outubro de 2024

EÇA DE QUEIROZ NO PANTEÃO NACIONAL - 8.1.2025

Aparentemente, a cerimónia terá lugar no próximo dia 8 de janeiro (quarta-feira). Será o final de um processo longo e algo complicado. Resta agora ser preparada a cerimónia, a cargo dos serviços da Assembleia da República. A sala tumular do torreão III, a única que resta para estas homenagens vai passar a ter visitantes a partir do mês de janeiro de 2025.



 

RUBEN AMORIM

Aparentemente, irá sair do Sporting e rumar a Inglaterra. Depois de uma carreira mediana como futebolista, lançou-se como treinador. Rapidamente, mostrou o que sabia.

Achei mais invulgar o primeiro título que conquistou (2020/21) do que o mais recente. Pela surpresa e pelo pragmatismo com que geriu a época e um plantel tido como pouco experiente.

Não comento a questão da saída nem os termos, porque só comento o que conheço. Há um dado que tenho como certo: o pouco salutar ambiente do futebol português tem muito a perder com a partida de Ruben Amorim. É raro ver um treinador resistir à gritaria e manter a calma e a compostura. Um homem com nível. Oxalá a aposta lhe corra bem.


quarta-feira, 30 de outubro de 2024

ÁFRICA(S)

Duas imagens da exposição do MAAT, Black Ancient Futures. Peças de leitura política, como a do zambiano Nolan Oswald Dennis ou a da dinamarquesa de origem caribenha Jeannette Ehlers, não foram suficientes para dissipar o meu ceticismo em tempos de engajamento político radical, mas inconsequente.






terça-feira, 29 de outubro de 2024

CATAVENTOS

Um belo final de tarde na Casa do Alentejo, onde fui convidado a apresentar "Cataventos do concelho de Moura", de Luís Filipe Maçarico e Ana Isabel Veiga. Uma mais que meritória iniciativa da ALDRABA. De levantamentos assim se faz a construção da memória coletiva. Como me sublinhava Cláudio Torres, há muitos anos, este é o "outro património", o que não é o das volutas, o de Veronese, que nao é nem apolíneo, nem de tapetes fofos. É o dos outros...

segunda-feira, 28 de outubro de 2024

EL WILLIAM KLEIN

Há algum tempo que não via uma exposição com o prazer com que me cruzei com as imagens e os sons de  "O mundo inteiro é um palco". Uma evocação da obra de William Klein (1926-2022). O catálogo será lido mais tarde. Para já, fica a obra notável de um homem que passou pelo foto-jornalismo, pelo cinema, pela publicidade, pela pintura, pelo desenho...

O seu interesse pela vanguarda soviética (em baixo) terá tido reflexos numa obra de 1952 (em cima)? Parece-me que sim, mas eu não sou crítico de arte...


domingo, 27 de outubro de 2024

APOCALYPSE NOW - 45 ANOS SEM UMA RUGA. E CONTUDO...

São quatro longos minutos de silêncio e de som. De bem imaginados raccords, de música dos Doors, da memória de Joseph Conrad. Uma grande início para um dos melhores filmes de sempre. No outro dia mencionei Jim Morrison (1943-1971). Os meus jovens interlocutores não faziam a mais pequena ideia de quem eu estava a falar. Nem tinham visto "Apocalypse Now". Fiquei, sinceramente, desarmado e sem saber que dizer. 


PETRA...

Em Petra apareceu uma sala desconhecida com 12 esqueletos. Toda a gente ficou a pensar o mesmo, não é?...

A palavra nabattiyya aparece numa crónica árabe (Ibn al-Athir, se não me falha a memória) supostamente com o sentido de cristão. Tudo isto é estranho e intrigante.

A fotografia foi feita em dezembro de 2006, depois de uma muita longa caminhada pelos cerros, até ficar quase em frente ao Khazneh.


sábado, 26 de outubro de 2024

STARDUST MEMORIES Nº 79: PUXAR O AR

Noutras eras, muitos carros tinham esta patilha. Os carros, quando estavam frios, tinham a irritante mania de ir abaixo. Uma coisa muito frequente, em particular nos dias de inverno. Escapavam dessa maldição os maravilhosos VW Carocha, que arrancavam e pronto, com aquele inconfundível som de traineira.

A patilha diminuía o acesso do ar no carburador e enriquecia a mistura com mais gasolina (foi essa a explicação que me deram), o que fazia com que o "ir abaixo" fosse menos provável.

Uma senhora minha amiga foi protagonista de uma história dessas, há quase 50 anos. O carro era um Austin 1300. O local era o fim da rua da jopal, em Moura. O dia era um sábado de festa, no princípio de outubro. Ainda se andava de carro no centro da vila nos dias de festa... Receosa de deixar o carro morrer no cruzamento, e ante a habitual aglomeração de público masculino naquele sítio, resolveu, perto do final da rua, puxar o ar e acelerar ao mesmo tempo. Ambos os gestos terão pecado por exagero. Resultado: o motor do Austin 1300 fez um barulho lancinante, semelhante a um Boeing 727 arrancando para a descolagem. Um dos homens à esquina gritou "fuuujaaammm", provocando o riso dos outros, e eram muitos. A senhora jurou nunca mais tocar naquela patilha.

sexta-feira, 25 de outubro de 2024

E NÃO ARRANJAS UM ASTROLÁBIO AQUI MAIS PERTO?...

A história passou-se há mais de quatro anos, quando se preparava a exposição "Guerreiros e mártires", no Museu Nacional de Arte Antiga. Queríamos incluir um astrolábio feito em data próxima ao ano da morte dos frades fransciscanos (1220 d.C.). Havia vários "aqui perto", mas que estavam indisponíveis, por diferentes razões. Peças existentes em Toulouse, Madrid e Fez não poderiam vir para Lisboa. Consegui mais duas alternativas: um astrolábio feito em 1226/27, em Sevilha, e que está no Los Angeles County Museum of Art; outro, ligeiramente mais tardio (1252, também de Sevilha), pertence ao Museu de Arte Turca e Islâmica de Istanbul. Iria(m) a par com a cópia do mapa de Ibn al-Wardi existente na Biblioteca Pública de Évora.

Quando relatei as pesquisas ao Joaquim Caetano respondeu-me, com ar sardónico, "e no Museu de Mértola ou da Vidigueira, assim mais perto, não há um astrolábio desses? é que o custo de transporte, seguro, courier deve ser o que temos em orçamento para toda a exposição...". Desistimos da ideia, claro.

Vale a pena recordar estes episódios, agora que tanto se fala em financiamentos públicos e privados e quando se acredita que há mesmo, mesmo mecenato...


quinta-feira, 24 de outubro de 2024

QUANDO OS JOGOS TERMINAVAM...

Há muito que isto não se vê.

Quando os jogos terminavam as almofadas alugadas eram arremessadas para as bancadas e para o terreno do jogo. Uma selvajaria, murmurava o meu pai.

Porque razão isto aparece aqui? Porque há imagens de coisas quase esquecidas, de um mundo antigo e bruto, que, de vez em quando, me aparecem. O correr do tempo e o passar dos anos têm destas coisas.