sábado, 29 de fevereiro de 2020

LISBOA ISLÂMICA: SÓ 4 DE ABRIL

Cumpriu-se hoje de manhã a primeira de três visitas pelos limites da Lisboa Islâmica. Dentro e fora da cidade antiga, ao longo das muralhas.

O grupo era grande (30 pessoas), tal como será no dia 14 de março. Já só há vagas para dia 4 de abril. Um passeio que foi, também, uma maneira diferente de terminar a semana.


No Pátio da Sra. de Murça (Rua de S. João da Praça),
junto a um troço da muralha

ALBERTO RIBEIRO - 100 ANOS

Aqui se reproduz um pequeno excerto do filme "Capas negras", de 1947. O filme em si é pior-que-o-Deus-me-livre. Mas foi um sucesso colossal. Ainda o é. Em grande medida, graças a Amália Rodrigues. E, também, a Alberto Ribeiro (1920-2000). Tinha uma voz poderosa e límpida, de tenor, e boa presença. Tivesse nascido nos Estados Unidos ou em França e teria conhecido uma carreira internacional de sucesso. No Portugal de pequena paróquia em que viveu não teve essa abertura. Acabou por se retirar prematuramente da vida artística.

Alberto Ribeiro nasceu há exatamente 100 anos. Fico com curiosidade para ver/ler o eco que a efeméride vai ter.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

COMANDAR É ASSUMIR RESPONSABILIDADES

O ponto de partida para este post foi um episódio passado com o meu amigo José Correia Guedes. Um pequeno erro numa aterragem, que provocou atrasos e chatices. De quem é a responsabilidade? De quem comanda.

Sempre achei - e até hoje não mudei de opinião - da mais profunda cobardia a arte do descartar de quem está à frente de uma instituição, "isso não é comigo, é com o funcionário xis", "olhe, fale com fulano, que ele é que é dessa área". Uma vez, no meu gabinete, na Câmara de Moura, o responsável de uma entidade ligada à autarquia desabafava "tu também, tens de dar sempre o peito às balas...". Assim fiz, sempre. Em especial nas sessões da Assembleia Municipal. O que me deu especial prazer.

Esse assumir de responsabilidades - e de comandar, com todas as implicações - foi coisa que sempre vi fazer ao José Maria Pós-de-Mina. Chutar munícipes para irem falar com funcionários, porque "ele é que sabe disso!"? Nunca tal se fez. Isso seria indecoroso.

Dá a cara quem está à frente. O resto é conversa. Ou falta daquilo que José Mourinho às vezes referia.

QUINTA COLUNA Nº. 9: AUGUSTO E TIBÉRIO NO SÉCULO XXI


O imperador Augusto morreu em 19 de agosto de 14. Há mais de 2.000 anos. É do tempo deste homem de Estado a versão mais antiga do fórum de Beja. Com num jogo de “mikado”, as ocupações foram-se sucedendo no sítio mais alto, e mais importante, da cidade de Beja. Passos de maior destaque nesse longo processo de construção? A ocupação da Idade do Ferro, as imponentes construções de época romana, os vestígios do período islâmico e a extraordinária Casa da Moeda quinhentista.
Abel Viana tateou um pouco os terrenos do fórum de Beja. Os tempos eram outros e, para além da recolha de alguns materiais e de um esquiço do local, pouco mais se fez. Foi preciso esperar 50 anos para que um longo processo de resgate dessa memória da cidade se pusesse em marcha. A partir de 1997, e sob a direção de Maria da Conceição Lopes, professora na Universidade de Coimbra, começaram as escavações. A arqueóloga defenderia, pouco depois, uma tese de doutoramento sobre Beja e o seu território. Um trabalho corajoso e de difícil concretização. A cidade romana de Beja: percursos e debates acerca da "civitas" de Pax Ivlia é estudo com duas décadas que continua atualíssimo e que, ante os recentes ataques de que o Património em áreas rurais tem vindo a ser alvo, mais pertinente se torna.
A partir de 2008, as escavações ganharam outro fôlego e começaram a emergir dados de grande relevo sobre a cidade romana. A par com a descoberta de uma Casa da Moeda, da qual se pode dizer que é verdadeiramente única. Os tempos mais recentes foram marcados por alguns sobressaltos. Notícias menos boas – escavações interrompidas, degradação de estruturas, etc. – mereceram o destaque que as notícias menos boas sempre têm.
Na passada semana, teve lugar a apresentação do projeto para reabilitação do sítio do fórum romano de Beja. A esperança renasce. Pelo menos, foi essa a ideia com que fiquei. Dão-se, objetivamente passos para a reabilitação de uma área com cerca de 2.000 m2. Ainda que haja acertos a fazer – e aspetos a incorporar, em termos arqueológicos -, a reversibilidade / adaptação modular do centro de interpretação é um achado e lança pontes de diálogo para o futuro.
Que perspetivas se abrem, a partir daqui?
·      A concretização do projeto e a valorização das estruturas;
·      A possibilidade de monumentalização das ruínas, via anastilose - (re)construção a partir de elementos previamente existentes -ou outros métodos;
·      A necessidade de uma articulação do futuro centro de interpretação + centro de arqueologia com o restante património da cidade, nomeadamente o Museu Regional, a Rua do Sembrano, a igreja de Santo Amaro e o sítio de Pisões. Caso contrário, a lógica dispersiva e capelística dominará;
·      Uma desejável conclusão do processo de escavações, seguido da sua publicação.
Em 21 de junho de 2019, escrevi, neste mesmo jornal, um artigo sobre o fórum romano de Beja. Reitero o que então disse. Em seis meses, houve avanços significativos. Termino com as mesmas palavras que então: “A tomada de decisões sobre o património, na perspetiva da sua reabilitação, nem sempre é ‘simpática’. Nem imediata. É mais fácil ‘feirizar’ a História, criar ‘eventos’ e complementá-los com iniciativas folclóricas. Dá muito menos trabalho e rende mais, no curto prazo. Ora, como bem sabemos, e tendo em conta o que nos resta do fórum, o Património é matéria para o longo prazo”.

Hoje, no "Diário do Alentejo"

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

FUTEBOL DENTRO DE PORTAS

A realidade é simples, que não simplista. Os bons jogadores estão fora. A pouca classe está dentro.

O futebol dentro de portas é a não-qualidade que se viu. Que está de acordo com tudo o resto.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

INVESTIGAÇÃO ALARGADA

Por uma espécie de curiosidade masoquista fui ver os limites físicos e geográficos de um trabalho de levantamento em curso. A sul, Funchal, a leste, Miranda do Douro, a norte, Melgaço, a ocidente, Horta. É um trapézio com 4.500 quilómetros. Farei muito mais que isso, bem entendido, dentro do trapézio. Um projeto em objetiva olho de peixe, por assim dizer. Mas com resultados muito menos distorcidos. Haverá livro no início de 2021.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

E O CARNAVAL FOI

Como desde há muitos anos, Carnaval e Moura são sinónimos. São, sobretudo, dias de reencontro. De "peregrinações" a vários sítios que fizeram parte de um quotidiano ainda recente. Há coisas que não mudam. O apego à terra é uma delas. A vontade de estar por aqui, ainda que aos poucos, é outra. Alguns amigos são outra ainda.

O regresso será em março, noutro registo.






sábado, 22 de fevereiro de 2020

DA CONHECIDA SAGA "SE QUERES SER BOM, MORRE OU VAI-TE"


Mandava calar toda a gente na sala de leitura da Biblioteca Nacional, onde estava sempre de ar mal-humorado.
Dominava a técnica da crónica curta (1.500 caracteres) como ninguém.
Escrevia de forma magnífica. Quase nunca concordava com o que escrevia, em especial com a sua tendência "anjo do apocalipse".

HOUVE FÓRUM, HAVERÁ FÓRUM

O processo é longo. No limite, podemos dizer que é um processo com 2.000 anos.

Pelo fórum de Beja, andou Abel Viana. Um herói quase desconhecido do nosso Património. Em 1997, iniciou-se o resgate do fórum. Um processo lento, cuja condução científica coube a Maria da Conceição Lopes, professora na Universidade de Coimbra. A Conceição defenderia pouco depois uma tese de doutoramento sobre Beja e o seu território. Um trabalho corajoso e duro. A cidade romana de Beja: percursos e debates acerca da "civitas" de Pax Ivlia é estudo com duas décadas que continua atualíssimo e que, ante os recentes ataques de que o Património tem vindo a ser alvo, 
mais pertinente se torna.

O processo de escavação do fórum tem sido longo e complexo. Ontem, em Beja, teve lugar a apresentação do projeto de arquitetura previsto para o sítio. Uma boa iniciativa da autarquia bejense, que assim dá passos decisivos para a recuperação do sítio. O projeto foi uma boa surpresa. Porque mesmo com pontos ainda por esclarecer (ou mesmo por valorizar) do sítio não compromete a continuação de trabalhos arqueológicos. A reversibilidade / adaptação modular do centro de interpretação é um achado e lança pontes de diálogo para o futuro.

O que penso, em suma, de todo aquele processo?

1. Que a Câmara Municipal de Beja tem legitimidade para tomar decisões e para as por em prática, dentro do que é o legal de atuação. Não vi nada que contrarie este princípio;

2. Que o projeto tem princípios fundamentais de reversibilidade que permitem que a arquitetura se minimize ou, mesmo, se anule;

3. Que a monumentalização do sítio - via anastilose ou outros métodos - é fundamental para a leitura pelos visitantes;

4. Que o centro de interpretação + centro de arqueologia deveria ter um programa articulado com o restante património da cidade, nomeadamente o Museu Regional, a Rua do Sembrano, a igreja de Santo Amaro e o sítio de Pisões. Caso contrário, a lógica dispersiva e capelística dominará;

5. Que é imprescindível ter em conta os sábios comentários que ouvi ontem a propósito de drenagens, valorização de aspetos importantes (cisterna republicana, casa da moeda etc.), que em nada contrariam o que está previsto.

Houve aspetos que correram menos bem, neste processo? Sim, manifestamente. Está na altura de arrumar essa parte do dossiê. E de retomar o estudo com quem melhor conhece o sítio, e há mais de duas esforçadas e militantes décadas o escava. Continuo com a esperança que o retomar do diálogo resolva o que está por resolver.

Este debate será repetido, em breve, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Porque é importante que os alunos destas áreas de conhecimento tenham a perceção da complexidade destas valorizações.


sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

FOTOGRAFIA OBRIGATÓRIA

É uma espécie de anti-aniconismo. Escrevo dois textos, para duas publicações diferentes. Não quero imagens, só o texto corrido. Recebo mails "isso é que não pode ser, os textos têm de ser ilustrados, são as normas sabe?...". E ouço isto, uma, duas, três vezes. Mas que raio... como se ilustra a Reconquista do Alentejo? Como se traduz em imagem a importância de arqueologia num processo de desenvolvimento? Não quero imagens, "pois, mas tem de mandar sugestões". Nada melhor que uma solução "gráfica". As ilustrações serão tão esotéricas como a exigência, é o que é.



E leio Drummond de Andrade, que sabia de fotografia.

DIANTE DAS FOTOS DE EVANDRO TEIXEIRA

A pessoa, o lugar, o objeto
estão expostos e escondidos
ao mesmo tempo, sob a luz,
e dois olhos não são bastantes
para captar o que se oculta
no rápido florir de um gesto.

É preciso que a lente mágica
enriqueça a visão humana
e do real de cada coisa
um mais seco real extraia
para que penetremos fundo
no puro enigma das imagens.

Fotografia-é o codinome
da mais aguda percepção
que a nós mesmos nos vai mostrando,
e da evanescência de tudo
edifica uma permanência,
cristal do tempo no papel.

Das lutas de rua no Rio
em 68, que nos resta,
mais positivo, mais queimante
do que as fotos acusadoras,
tão vivas hoje como então,
a lembrar como exorcizar?

Marcas de enchente e de despejo,
o cadáver insepultável,
o colchão atirado ao vento,
a lodosa, podre favela,
o mendigo de Nova York,
a moça em flor no Jóquei Clube,

Garrincha e Nureyev, dança
de dois destinos, mães-de-santo
na praia-templo de Ipanema,
a dama estranha de Ouro Preto,
a dor da América Latina,
mitos não são, pois que são fotos.

Fotografia: arma de amor,
de justiça e conhecimento,
pelas sete partes do mundo,
viajas, surpreendes, testemunhas
a tormentosa vida do homem
e a esperança de brotar das cinzas.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

CARNAVAL: ABRIL EM FEVEREIRO

Foi o meu amigo Miguel quem me mandou este clip. Há de tudo um pouco. Uma esforçada desafinação, tiradas de eroto-marxismo, imagens de Brasília e do Rio (o que eu gostava de ver de novo o Aqueduto da Carioca, caramba) e há um entusiasmo que nos dá um pouco, ainda que só um pouco, de esperança.

Posto isto, está encerrada a sessão dos invernos. Toca marchar para Moura. Me beija, que eu não sou fascista.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

CTT

Há logotipos que identificam e marcam. E que são tão bons que não vale a pena serem mexidos. Exemplos? A CP, a Caixa Geral de Depósitos, o Banco Espírito Santo (bom, esse já foi...), o Sporting e os CTT. A feliz imagem do cavalinho, que passou por vários ajustes, identificava um serviço e uma empresa. Desde os tempos das velhas placas esmaltadas até agora. Agora foi renovado e ficou "moderno". Uma fatelice pop à Agatha Ruiz de la Prada em dia mau... Alguém consegue sinceramente dizer que "aquilo" era necessário? E que ficou melhor? Devo estar a ficar velho.



terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

JAGHBUB

De tempos a tempos, lá vem o palavrão: jaghbub. Os gráficos ficam de cabelos em pé, porque não há alternativa ao uso desta fonte. Ou melhor, há, mas com base em "truques" morosos e que esgotam a paciência ao mais pintado...

O que é o jaghbub? É uma variante do times new roman. E a única fonte que permite fazer as transliterações fonéticas do alifato. Trocando por miúdos, e dando um exemplo: o som "ch" em árabe corresponde à consoante ش . Que é transliterada com um "s", com um acento circunflexo invertido (ver penúltima linha do texto). O problema maior é que instalar isto num PC não é fácil. Resultado, tenho de andar a passear o meu macbook da biblioteca para o gabinete, enquanto acabo um texto. Que terei de entregar amanhã, acompanhado com um pdf. Porque já sei que vai "desconfigurar" e os gráficos, entre arrepelões de cabelos, vão ter de cotejar os textos. Ou seja, o jaghbub é uma chatice necessária e cientificamente correta...

Título do texto? O Gharb al-Andalus - cristãos e muçulmanos no século dos almoádas. Um mano-a-mano com Cláudio Torres, recuperando o prazer de escrever a meias com o meu mestre. Nada mau, tantos anos passados sobre a última coisa em conjunto.

Ver - https://org.uib.no/smi/ksv/jaghbub.html


segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

CHELLAH, 1991

Foi há quase 30 anos, numa tarde de outono. Em novembro de 1991, para ser preciso. Não costumo ter imagens tão precisas do momento, mas desta tenho. Do sol abafado e da luz coada sobre a Chellah. Não era bem poente, mas quase.

Nunca sei como é que se pode achar um poente triste


Nunca sei como é que se pode achar um poente triste.

Só se é por um poente não ser uma madrugada.

Mas se ele é um poente, como é que ele havia de ser uma madrugada?

Alberto Caeiro

NEL MEZZO DEL CAMMIN...

O meio do caminho não é o meu, esse já passou. É, neste caso, o meio do caminho de uma exposição que está a ser construída.

Sempre gostei de usar vinhetas para me orientar, quando preparo este género de trabalhos. Dá uma visão de conjunto por sala ou por tema. Arcaico? Sim, um tanto. Mas muito mais prático que andar com powerpoints e bases de dados. O mesmo faço com as vitrinas e com uns modelos em cartolina, à escala 1:1. Colocados no chão, para saber o que é preciso construir ou refazer. O mesmo faço com os textos, para os quais defino primeiro o tamanho (900 caracteres, lorem ipsum factum etc.) e só depois escrevo. Arcaico? Sim, de novo. Mas resulta.

Daqui até junho só falta a outra metade do caminho. Está quase.

domingo, 16 de fevereiro de 2020

PINACOTECA CASCALENSE

Fiquei com a ideia que o projeto da curadora Luísa Soares de Oliveira passou, em parte, por um exercício de mimetismo com as antigas pinacotecas reais. Sendo assim, ou não, a montagem está perfeitamente conseguida. A exposição da pintura de Moita Macedo (1930-1983) revê parte do seu percurso (nesse sentido, será mais uma escolha que uma antologia), em especial a sua vertente mais gestualista ou memográfica, como o próprio gostava de dizer.

Se uma pintura me chamou a atenção foi a Senhora de Akita. Em determinada fase da sua produção, Moita Macedo, cuja obra tem matriz oriental, dá especial atenção a temáticas que o aproximam do Japão. Como e porquê é o que falta saber...

Até 26 de abril.
Terça-feira a domingo, das 10h00 às 18h00


Gallery of Archduke Leopold Wilhelm in Brussels (1650)
David Teniers, o Novo (1610-1690)
Petworth House and Park

sábado, 15 de fevereiro de 2020

O DIÁCONO DAVID DINIS

Quando li, ontem, a chamada do Expresso dizendo que, segunda uma sondagem, só um partido à esquerda subia, não pude deixar de rir. O facto de não se nomear esse partido tornava evidente que só podia ser a CDU a subir...

O diácono David Dinis - "os comu..., os comu..." - é um caso incurável. O texto tem 147 linhas (tive a pachorra de contar). Só na linha 110 consegue escrever - "os comu..., os comu..." - a CDU (que ganha 1,7 pontos). São menos de 30 carateres, num texto de cerca de 5.000.

Deixei, há muito, de comprar o "Expresso". Cada vez vale menos a pena. Agora venho à Biblioteca Municipal, só para ter a certeza que foi uma decisão acertada. A minha outra decisão acertada é continuar na mesma área política.


BERNARDO ALABAÇA, RUA!

Tenho no meu currículo de memórias vários casos de nomeações polémicas que se revelaram excelentes soluções. Não sei se vai ser o caso de Bernardo Alabaça, o recém-nomeado Diretor-Geral do Património Cultural. Desde há dois dias que soa um imenso clamor em torno da nomeação. Parte desse clamor é corporativo.

O nome suscita-me reservas? Sim. O percurso do novo diretor-geral é causador de entusiasmo? Muito pouco, francamente.

Por ser de direita? Não.
Por não ser "da área" (nem museólogo, nem arqueólogo, nem...)? Não.
Por ser um engenheiro, logo um insensível? Não.
Por ter trabalhado na iniciativa privada? Não.
Por ser gestor imobiliário? Não.

Por nunca o ter visto/ouvido tomar uma posição pública sobre questões do Património ou da Cultura. E por ter proposto, na sua tese de mestrado, "a criação de um portal imobiliário que permitisse atuar como uma central de vendas do património público e também como uma central de compras para instalação de entidades públicas". Uma perigosa Caixa de Pandora... Preocupante ainda foi a travagem que fez, em Oeiras e tendo um cargo importante no Ministério das Finanças, do processo de alargamento de classificação do Palácio do Marquês de Pombal.

Grande parte do percurso de Bernardo Alabaça tem sido feito no Estado. O que se espera é que quem trabalha para o Estado o fortaleça e o melhore. No caso do Património, o que é necessário é que o Estado assuma responsabilidades e que não desbarate Património, sob a capa, pífia e por provar, que os privados gerem melhor... Às vezes gerem, mas com o Estado a dar um jeitinho. E o que não podemos permitir é que uns poucos lucrem com o que é de todos, à custa de todos nós. É que em Portugal, já lá dizia Diogo Bernardes no séculos XVI, "de mecenas tantos temos, como brancos tem a Etiópia".

Que se espera? Que promova uma política de requalificação do Património, dos Museus, dos sítios arqueológicos, de conservação e restauro etc. E de rentabilização do Património? Seguramente.

Bernardo Alabaça, rua? Ainda não, caramba. É mais prudente e mais justa a expetativa. Ainda que atenta. O caso Vila Galé será o primeiro teste da nova equipa.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

LISBOA ISLÂMICA - TRÊS VEZES

Bom, na verdade não é em tapete voador. O que faria jus à lenda orientalista. E seria mais exótico. Não será assim. Irei conduzir mais três visitas à cidade antiga. Repetir-se-á o percurso de 2019. Começa-se no castelo e desce-se em ziguezague, até ao exterior da muralha islâmica. No ano passado terminámos no Chafariz d'el Rei. Este ano será nos antigos Armazéns Sommer.

Pelo meio haverá leitura de textos e a evocação da Carta a Obserno, que estará no centro do passeio.

Datas - 29 de fevereiro; 14 de março; 4 de abril

Extensão do percurso - 2.200 metros

Duração aproximada - 1h 30 / 1h 45

Informações e inscrições - https://www.facebook.com/lisboacultura.itinerarios/

Tapete voador (1880), de Viktor Vasnetsov (1848-1926)

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

RENFE - um quizz

E por falar em combóios, o verdadeiro desafio é encontrar coisas que estejam certas neste mapa que a RENFE publicou numa revista. Ao menos, Vigo é nossa. Olivença está vingada.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

2010... 2020... 2030... OU 40 OU 50 etc.

A história tem barbas brancas. Se não fosse triste, tudo isto daria imensa vontade de rir. Fazer uma revisão do que se tem vindo a passar, ao longo da última década, explica, por si só, porque estamos assim. Depois dos Amigos da Coesão terem vindo a Beja - "aquilo" foi importante porquê?, alguém me explica - vamos continuar à espera. Já terá sido lançado o concurso previsto para 2018? Pode ter-me passado ao lado...



SÁBADO, 27 DE ABRIL DE 2019


PARA UMA VISÃO FERROVIÁRIA DA LINHA DO HORIZONTE

De 2017 para 2018.
De 2018 para 2019.
De 2019 para 2020. Ou 2021. And so on.

O mais engraçado - engraçado mesmo - nesta sequência de balelas são as visitas convictas à OVIBEJA:

Oh, sim, o interior;
Oh, claro, o cante alentejano;
Oh, sem dúvida, o Património;
Oh, pois evidentemente, o queijo e os enchidos e mais o vinho.

O candidato terá vindo de altometôra?

SÁBADO, 28 DE OUTUBRO DE 2017


SLOW TRAIN COMING, LÁ DIRIA BOB DYLAN...

Isto, se não dá um filme anda lá perto...

Até 2011 havia o INTERCIDADES, que ligava Beja a Lisboa. Um comboio direto, que dava imenso jeito e que usei vezes sem conta.

No dia 14 de janeiro de 2011, o Grupo Parlamentar do PCP apresentou na Assembleia da República, um Projecto de Resolução sobre a manutenção do serviço intercidades Beja-Lisboa-Beja. O documento foi rejeitado pelos votos contra do PS e as abstenções do PSD e CDS/PP. Os deputados Pita Ameixa e Conceição Casanova estavam no grupo que votou contra. Em fevereiro, o mesmo Pita Ameixa diria que "tem de haver um claro compromisso com a qualidade do serviço, com a qualidade dos equipamentos e com a modernização e electrificação da infraestrutura ferroviária que, directamente, serve e tem de continuar a servir Beja".

O compromisso ficou pelas palavras e o INTERCIDADES direto acabou mesmo. Entraram em cena automotoras de qualidade mais que discutível.

Em 2014, o presidente da  presidente da concelhia de Beja do PS, Paulo Arsénio, pedia à REFER que insistisse "na electrificação do troço de 64 quilómetros de via entre Casa Branca e Beja, dotando assim a capital do Baixo Alentejo de condições iguais a outras capitais de distrito",  assim como uma melhoria substancial da qualidade do material circulante entre Beja e Casa Branca. E concluía, "o PS aguarda, a partir de agora, resposta das empresas em questão, na expectativa que, num curto espaço de tempo, os utentes da Linha do Alentejo possam retirar algum benéfico das diligências que concretizámos".

Na passada semana, tornou-se prática corrente a substituição das automotoras por autocarros. Ou seja, os comboios tornaram-se rodoviários. Estamos em 2017. O PS está no poder. Pita Ameixa é presidente da Câmara de Ferreira do Alentejo, Paulo Arsénio é presidente da Câmara de Beja. Não há nem intercidades diretos nem sequer automotoras. Aguardo, ansioso, pelo próximo murro na mesa.

E a Unidade de Missão para a Valorização do Interior serve exatamente para quê?...

Fotografia de Ogle Winston Link (1914–2001)

TERÇA-FEIRA, 18 DE JANEIRO DE 2011


O INTERCIDADES, O PCP E O PS

No site da Rádio Voz da Planície:
PCP: Apresentado projecto de resolução sobre serviço intercidades
O Grupo Parlamentar do PCP apresentou na Assembleia da República, um Projecto de Resolução sobre a manutenção do serviço intercidades Beja-Lisboa-Beja. O documento foi rejeitado pelos votos contra do PS e as abstenções do PSD e CDS/PP.
Os votos contra do PS, incluindo os dos deputados Luís Pita Ameixa e Conceição Casanova eleitos pelo distrito de Beja, e as abstenções do PSD e CS/ PP, rejeitaram um Projecto de Resolução apresentado pelo Grupo Parlamentar do PCP e votado na passada sexta-feira na Assembleia da República, que “defende a manutenção do serviço intercidades, Lisboa-Beja e Lisboa-Évora e reclama a sua qualificação em termos de oferta e adequação de horários". (fim de citação)
Será que percebi bem? O PCP apresentou uma uma proposta defendendo a manutenção do intercidades Lisboa-Beja e o PS votou contra? Os srs. deputados baixo-alentejanos (como eles gostam de dizer) Pita Ameixa e Conceição Casanova, do PS, votaram contra essa manutenção. Contra? Porque será? E se a linha fosse Lisboa-Baixo Alentejo votariam a favor?

Fotografia no blogue: http://texasselvagem.blogspot.com. Ia jurar que é a estação do Barreiro...
Automotoras como esta tiveram uma longa vida nas linhas férreas do sul. Em segunda classe havia bancos de madeira e um inconfundível cheiro a gasóleo. No Ramal de Sueste chegavam a atingir uns estonteantes 70 kms/hora. A estrutura rangia toda e ficávamos com a sensação que a automotora ia descolar em direcção aos céus. Ainda não se falava no Beja International Airport, claro.
Vale a pena ler o que Luís Maneta escreveu hoje no A Cinco Tons(v. aqui).

O SÍTIO ONDE NÃO IREI

Não sei bem porquê, mas esta imagem "apareceu-me", de manhã bem cedo. Claude Monet (1840-1926) esteve em Zaandam em 1871. Por lá ficou 4 meses. Esta imagem do canal chega a ter um toque de fauvismo. Bucólica é. Não se consegue identificar o sítio, no meio da monótona regularidade da arquitetura da Zaandam atual. Arrependi-me de ter ido a Hernández à procura de Ansel Adams. Não voltarei a cair na mesma asneira. Antes a distância e o esforço de imaginar como teria sido o sítio.

Alberto Caeiro

Hoje de manhã saí muito cedo,

Hoje de manhã saí muito cedo,
Por ter acordado ainda mais cedo
E não ter nada que quisesse fazer...
Não sabia por caminho tomar
Mas o vento soprava forte, varria para um lado,
E segui o caminho para onde o vento me soprava nas costas.
Assim tem sido sempre a minha vida, e
Assim quero que possa ser sempre —
Vou onde o vento me leva e não me
Sinto pensar.
Esta obra de Monet está hoje num museu em Atlanta

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

CLAIRE BRETÉCHER (1940-2020)

O meu primeiro contacto com o humor de Claire Bretécher foi, salvo erro, no Observer. E tudo aquilo me parecia tão britânico que só ao fim de algum tempo me apercebi que a senhora era francesa (!). O que mais gostei, sempre, em Claire Bretécher foi do estilo ácido e pouco convencional. A par de uma certa iconoclasia, muito pouco reverente. Não consegui encontrar um dos meus desenhos favoritos, sobre a falta que um cérebro faz...

A partir de hoje, não haverá mais desenhos novos. Ficam os do passado.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

EPIGRAFIA MOURENSE

O mail chegou ontem à tarde. No meio dos trabalhos em curso, só hoje reparei no texto "espera lá aí, este livro é sobre Moura!". Pois é, e até tem um par de referências simpáticas à equipa de arqueologia do castelo.

Mais importante que isso, o texto, da autoria de excelentes especialistas, revê a epigrafia romana de Moura e de Barrancos. Uma atenção especial é dada à inscrição honorífica de Agripina, novamente discutida e reenquadrada.

Quem escreve? Manuela Alves Dias,  Ricardo de Balbín-Bueno, Catarina Gaspar, Helena Gimeno Pascual e J. L. Ramírez Sádaba. A edição é do Centro de Estudos Clássicos (FLUL) / Fundación General Universidad de Alcalá (UAH).

PDF disponível em: http://baetica.letras.ulisboa.pt/wp-content/uploads/2020/02/IRCBM.pdf

domingo, 9 de fevereiro de 2020

MARXISMO-LENINISMO: VERSÃO TROPICO-DOMINICAL

Marx parece-se com o Lula de outros tempos. E gosto dos alamares do Lenine.

Como dizia um amigo, hoje por terras australianas, "bom dia e boas melhoras".

PELA TARDE DE SILVES

A Câmara Municipal de Silves organizou uma simpática abertura das Caligrafias, na torre de menagem do castelo. Foi um ida e volta em registo blitz. O suficiente para recordar o que foi a aventura da montagem da exposição Algarve Islâmico, inaugurada a 16.7.2010 (v. aqui). A tarde estava cinzenta, a fazer recordar o célebre poema céu pluvioso, de Ibn Ammar. Mas deu para ver que Silves continua bonita.

As caligrafias estarão por Silves até ao próximo dia 12 de abril.