segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

SOPRAM VENTOS ADVERSOS

Não desistir nunca, mesmo quando há ventos adversos.


domingo, 30 de janeiro de 2022

XLIX - CRÓNICAS OLISIPONENSES: HUMBERTO DELGADO, COM O PANTEÃO AO FUNDO

No meio de pesquisas sobre o Panteão fui dar, por puro acaso, com esta conhecida fotografia, feita no exterior da Estação de Santa Apolónia. A imagem data de 16 de maio de 1958. Humberto Delgado regressava do Porto e foi impedido de prosseguir até ao Rossio. Em fevereiro de 1965, era assassinado pelo regime fascista.

Ao fundo, vemos o Panteão Nacional, ainda sem a cúpula. É ali que Humberto Delgado repousa, para sempre, desde 5 de outubro de 1990.

A História escreve-se. O Fascismo existiu.


sábado, 29 de janeiro de 2022

QUARANTE VIOLONS VOUS CONTEMPLENT...

De um político, hoje na reforma:

TRÊS ORFEUS

Depois de desconcertante e "infiel" Orfeu de quinta-feira - seguramente por retomar o filme de Jean Cocteau e não, de forma estrita, o mito em si - decidi passar ao "Orfeu negro", de Marcel Camus. Uma visualização longamente adiada. E um colossal desapontamento. Há filmes que não resistem ao tempo...

A calma do domingo será consagrada a uma revisão da matéria dada, com Jean Cocteau. Depois deixo o mito em paz...




sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

XLVIII - CRÓNICAS OLISIPONENSES: THE GOSPEL ACCORDING TO ELLIOTT ERWITT

A janela do gabinete, virada ao Tejo, aberta de par em par e eu sentado e escrevendo no colo (rascunhos, programações, mails, etc.) e vendo o rio e Palmela lá ao fundo. Assim passei a manhã. A manhã estava quente - depois de anos a fio no meu Alentejo  todas as manhãs de inverno me parecem quentes e agradável. O calor ajuda a alma.  De quem me havia de lembrar? De Elliott Erwitt. Que tem 93 anos, que é um dos muito grandes fotógrafos do planeta e que sublinha o papel do clima na vida das pessoas. Acho que não nos podemos queixar.


quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

LIÇÃO MUITO RÁPIDA DE FILOSOFIA POLÍTICA

A história é verídica e passou-se no Brasil dos anos 90.

Um gestor português, que conheço desde os bancos da escola, passava férias no Brasil. Lula da Silva era, por essa altura, visto pela direita e pelo mundo financeiro como a reencarnação do Demo. A dada altura, num restaurante, esse gestor resolveu falar um pouco da situação do País com o empregado de mesa. Que, descontraidamente, lhe foi relatando o que era a vida no Brasil, os problemas dos mais pobres etc... A páginas tantas, o gestor pergunta a quem o atendia "E Lula? Lula é a solução? O que pode trazer de bom?". Aí, o homem hesitou, para depois responder "bem, eu não sei se ele é bom; mas o meu patrão o detesta, por isso ele deve ser bom".

Nem o dr. Karl Marx, nem o dr. Friedrich Engels conseguiriam, de forma tão concisa, explicar isso da luta de classes.

INICIATIVA LIBERAL

Eles até são a favor de uma sociedade sem classes. Exceto a deles.

Que pena que El Perich já não esteja entre nós...

segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

TEMPORADA CRUZADA

No início de abril estávamos no ponto zero. Havia a intenção dos dois panteões - Lisboa e Paris - fazerem um projeto comum a integrar na Temporada Cruzada Portugal-França 2022. Começou-se de seguida, a partir de maio, com a via sacra habitual (estabelecer contactos com pessoas que não conhecemos, marcar reuniões, traçar objetivos, definir datas, escrever textos, pesquisar iconografia, mails e mais mails, zoom e mais zoom, grafismos, cores e ideias). E agora já está. Com um comissariado tripartido (Edouard Bueno, em Paris, Isabel Inácio e o autor do blogue, em Lisboa), a exposição está a ser finalizada. Inauguração no dia 14 de fevereiro lá, no dia 15 de fevereiro cá.

Ver:





COR E NÃO COR

A Rua do Mirante não tem especial interesse (há um edifício "português suave" ali ao lado, na esquina da Calçada dos Cesteiros que não é nada mau) mas esta parede grená, que é do Exército tem a sua graça. Dá sempre fitas de luz, a diferentes horas do dia. Quase em frente ficam as Manufacturas Roma, bem conhecidas de quem anda pela administração pública e precisa saber a quantas anda.

Mesmo com a brevidade do telemóvel há que esperar, fazendo uma pausa a caminhos dos correios, que os carros passem e que não apareça o 12.

Cor e não cor no inverno luminoso de Lisboa.


domingo, 23 de janeiro de 2022

VOTO ANTECIPADO - DA TEORIA À PRÁTICA

Foi ao princípio da tarde. Votei antecipadamente numa das minhas duas terras. O voto antecipado foi uma excelente iniciativa. Com uma organização à altura de um Estado credível. Porque o Estado faz falta. Para que as coisas funcionem.


sábado, 22 de janeiro de 2022

PUTIN

Um recente artigo da "Visão" compara determinados aspetos de Putin a Estaline. Grande parte do artigo é um amontoado de lugares-comuns e de desconhecimento da História.

Putin não é comunista, nem socialista, clarifique-se. Nem é, à luz da nossa lógica, particularmente recomendável. É o herdeiro de Bizâncio e representa uma mentalidade imperial. A Rússia é isso. Não é preciso estudar ciência política ou qualquer outro ramo do ocultismo. Eisenstein e um par de livros dão uma ajuda.

Leitura simplista? Seguramente. Mas, segundo creio, não menos verdadeira. Tal como me dizia, há muitos anos, um então conhecido professor universitário de direita, hoje caído no esquecimento: "sabe, ainda bem que há União Soviética, caso contrário os americanos varreriam tudo... bom, mesmo, é que a União Soviética fique lá longe, que faça esse papel, mas não se aproxime de nós". Ainda hoje, quando vejo as entradas de Putin no Kremlin, entre o vermelho e o ouro de Bizâncio, me lembro dele. 


HERMENEGILDO FERNANDES - AGREGAÇÃO

Foi um privilégio ter podido assistir, ontem à tarde, à agregação do meu amigo e colega Hermenegildo Fernandes. A lição sobre os mercado foi esplêndida, a arguição (de Amélia Andrade) não o foi menos. Achei especialmente interessante o contraponto entre norte e sul, nas suas variadas vertente, incluindo a perspetiva que as fontes nos dão.

Mais ano, menos ano, o Hermenegildo chega à cátedra. O que vai ser mais que merecido.



sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

O TEMPO QUE SE PERDE...

Foi na primavera de 2017...

Numa deslocação ao Palácio Nacional da Ajuda, um alto responsável da Cultura comunicou-me que a abertura de concursos para os museus - e mencionou especificamente o de Beja - estava "para muito breve" (a expressão foi exatamente essa). Passaram quase 5 (cinco) anos.

Levamos a vida nisto. Regulamentando (falta legislar!, ouço dizer amiúde, e escangalho-me a rir), avaliando, esperando, esperando, porque está quase, porque vai sair um novo quadro, porque vai haver uma reforma e agora é que é, porque vai sair nova legislação (e então sim, fica tudo resolvido). Como se a vida dependesse só do que nós pensamos ou deixamos de pensar. Porque fazemos legislação e está tudo resolvido. Nós pensamos e o mundo vai atrás de nós.

Lembro-me sempre do Garrincha. Quando Vicente Feola, antes de um jogo com a União Soviética, em 1958, explicava "vocês fazem assim, depois eles respondem assim e depois vocês entram assado", Garrincha perguntou "e já combinaram isso com os russos?".



 

DEOLINDA TAVARES NA DIREÇÃO DO MUSEU DE BEJA

O "Diário do Alentejo" anuncia hoje a nomeação de Deolinda Tavares para o lugar de direção do Museu de Beja. Uma escolha muito acertada, que foi resultado de um concurso.

O Museu de Beja é um sítio extraordinário, com um potencial enorme e que enceta agora uma nova fase na sua vida. Duplamente: com uma nova diretora e com um plano de reabilitação que o irá colocar na primeira linha dos museus nacionais.

É isso que a cidade precisa. É isso que o Museu merece.



quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

REGADIO EM MOURA - UMA CRONOLOGIA RECENTE

A CDU não fez nada e não se mexeu? Alto e para o baile! Independentemente do que o meu amigo e camarada José Maria Pós-de-Mina tiver a dizer (e argumentos e factos não lhe faltarão) aqui vão dados ainda recentes.

Republico um texto saído neste blogue logo após o triunfal anúncio feito por Capoulas Santos na Feira de Moura. Já lá vão 3 anos, 4 meses e 3 dias. O regadio e linha ferroviária são a nossa linha do horizonte. Vão-se afastando, sem data de conclusão precisa.

Mas tanto, tantíssimo que eles gostam do Alentejo 💜💜💜


SEGUNDA-FEIRA, 17 DE SETEMBRO DE 2018

ALQUEVA E MOURA - 2014/2023: CRONOLOGIA RECENTE E FUTURA DO REGADIO


Teve lugar em Moura uma sessão de apresentação do do Bloco de Rega de Moura, Póvoa e Amareleja. O anúncio tem sido saudado com agrado, como seria de esperar. E como se justifica. Não se trata, contudo, de uma novidade.

Final de junho de 2014 - Elaboração dos termos de referência para os concursos dos projetos de execução da zona de Reguengos e Póvoa-Amareleja.
3.11.2015 - José Pedro Salema, presidente da EDIA, anuncia que está em estudo aumentar 27% e beneficiar mais 45 mil hectares, ou seja, passar dos 120 mil hectares, previstos no projecto inicial, para 165 mil hectares. Havia uma estimativa do investimento necessário, que era de 150 milhões de euros para os 45 mil hectares, mas não havia garantia de financiamento.
14.1.2016 - Sessão, em Moura, de apresentação de arranque do projeto.
8.3.2016 - Sessão sobre o futuro do regadio no concelho de Moura: encontro com agricultores (na Junta de Freguesia da Póvoa de S. Miguel).
6.7.2016 - Afirmava o Ministro da Agricultura que sem o financiamento do BEI [Banco Europeu de Investimento] não era possível concluir o Alqueva.
14.11.2017 - O Banco Europeu de Investimento aprovou um empréstimo de 260 milhões de euros para Portugal; a maior parte do dinheiro é para aumentar a área de regadio do Alqueva.
17.11.2017 - Anúncio, pelo Ministério da Agricultura, que irão ser, até 2022, criados mais 49.427 hectares de regadio, distribuídos por 13 novos blocos de rega
1.2.2018 - O anúncio volta a ser repetido. Moura/Póvoa: 10.000 hectares previstos.
12.5.2018 - Jornal "Público": Preço da energia em Alqueva é um buraco financeiro para a EDIA. Interesse público “não foi devidamente salvaguardado” nas concessões das centrais hidro-eléctricas de Alqueva e do Pedrogão à EDP e a EDIA tem de se virar para o fotovoltaico.

Agora, o anúncio voltou a ser repetido. Prazo de conclusão das obras? 2021/2022/2023. Curiosamente, os comunicados que vão saindo não permitem apontar, com rigor, uma data.


Novidades, não há. Expetativas, sim.

VOTO ANTECIPADO

Recebi, hoje de manhã, um mail de amigo enviando-me (isto só mesmo entre velhos amigos) o comprovativo da sua inscrição no voto antecipado. E fazendo troça de mim "és um velho troglodita", quando depois liguei e disse que preferia o voto no próprio dia.

Tive de recuar e reconhecer que ele tem razão. Este sistema é muito prático e, tenho agora essa convicção, vai progressivamente ser banalizado. Tenho, contudo, algumas reservas quanto à sua aplicação às autárquicas...

Em definitivo, as imagens do dia 25 de abril de 1975 são mesmo coisa de um passado distante.




quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

GARDEL, AO FIM DA TARDE

Pareceu-me ouvir música, ontem à tarde. "Que estranho, a esta hora?" (eram 16:30). E era mesmo por debaixo da minha janela. Não resisti à curiosidade. Fui devidamente compensado. Um parzinho treinava passos de tango. Com uma coluna de som a dar o devido enquadramento. E velhos tangos de Gardel. Foram uns momento de privilegiado anonimato.




















segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

ESPERANÇA

Os dias são-me de esperança e de um contínuo batalhar. E de um permanente desafio. Uso a técnica do bypass, uma forma de atuar que apurei nos anos do Campo Arqueológico de Mértola. Contornam-se as sitações mais difíceis sem choques nem roturas.

A minha esperança é pragmática. A de Juan Ramón Jiménez não é pragmática, mas é infinitamente mais bonita. A tela de Pedro Chorão (Chegada à Quinta nos anos 50, 1994) aparece porque Pedro Chorão pinta sempre a esperança.















Esperanza


¡Esperar! ¡Esperar! Mientras, el cielo

cuelga nubes de oro a las lluviosas;

las espigas suceden a las rosas;

las hojas secas a la espiga; el yelo

sepulta la hoja seca; en largo duelo,

despide el ruiseñor las amorosas

noches; y las volubles mariposas

doblan en el caliente sol su vuelo.

 

Ahora, a la candela campesina,

la lenta cuna de mis sueños mecen

los vientos del octubre colorado...

 

La carne se me torna más divina,

viejas, las ilusiones, encanecen,

y lo que espero ¡ay! es mi pasado.

LINCOLN A PASSAR POR MOURA

Podem enganar-se algumas pessoas o tempo todo.

Podem enganar-se todas as pessoas durante algum tempo.

Mas não é possível enganar todas as pessoas durante todo o tempo.


Frases atribuídas a Abraham Lincoln. Aplicam-se a tantíssima gente na política. A começar pela local. 


domingo, 16 de janeiro de 2022

MOURA - SOBRE UMA DEMISSÃO ANUNCIADA

A CDU denunciou, no sítio próprio (o tribunal), uma situação de ilegalidade. Ou seja, a candidatura de Paula Ramos (PS) à Assembleia Municipal de Moura.

O que disse o tribunal?

Cito (e sublinho) da recente posição pública da CDU:

Na sua pronúncia o Procurador do Ministério Público deu razão à CDU e intentou junto do Tribunal Administrativo a ação de perda de mandato. Importa referir duas considerações importantes do Procurador efetuadas no processo e que passamos a citar “ao decidir suspender o mandato, no momento da apresentação da candidatura, a demandada [Paula Ramos] revelou possuir plena consciência de que o possível exercício dos cargos de membro da assembleia municipal e de funcionária com funções de direção da COMOIPREL gerava uma situação de inelegibilidade especial” e ainda que “incorreu, supervenientemente, em situação de inelegibilidade 24 horas após a eleição, revelando uma consciência aguda da sua existência, em termos de se poder afirmar a verificação de uma ilicitude grave e de uma culpa intensa”. Quem disse/escreveu isto foi o tribunal.

Querer fazer de Paula Ramos vítima de uma conspiração é lamentável. Usar a situação para desatar a insultar ("pífio", "lamaçal", "ressabiamento") revela o ponto a que chegou a presidência da câmara da minha terra.

Ao fim de três meses de mandato autárquico é isto...



sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

COMO NASCEM OS SANTOS

A tentação de criar santos e beatos é longa e persiste até aos nossos dias. A fabricação de milagres implicava prodígios de imaginação. Cada época beatifica o que pode e como pode. Repito um texto publicado há anos:

As paisagens dos nossos campos e das nossas cidades, vilas e aldeias estão cheias de nomes de santos hoje desaparecidos do calendário oficial da igreja. Muito pouco se sabe sobre a maior parte deles: Santo Amador, São Barão, São Brissos, São Matias, Santo Aleixo, São Sesinando ou o extraordinário São Facundo fazem parte das tradições mais antigas de uma religiosidade popular onde o sagrado, o profano e o mágico se misturam. São santos sem presença no martirológio (catálogo dos mártires e santos), mas cuja existência e devoção não têm discussão para as comunidades que os acolhem.


As suas origens são obscuras e sempre envoltas em lendas, muitas vezes de contornos improváveis. Alguns deles, como São Facundo ou o São Barão, venerado nos campos de Mértola, estão certamente ligados a atos ou cultos de fertilidade. São os verdadeiros santos do povo, de uma devoção local que não desaparece. Em certos casos, o santo não tem representação física e elege-se outro com imagem e percurso reconhecido. É o que acontece em Santo Amador, onde se escolheu outro mártir (Santo Evaristo) para dar representação física ao que o não tinha.

Na transição do mundo romano para a Idade Média, a vida de homens cujo percurso os destacara de modo positivo numa comunidade era continuado após a sua partida deste mundo. Oferendas e orações faziam parte desse ritual, praticado junto ao túmulo. Daí à santificação era um passo curto. Ao longo da Antiguidade Tardia, generalizou-se a prática das sepulturas “ad sanctos”, junto aos santos. Procurava-se a proteção divina, das mais variadas formas. Os mais ricos, claro, levavam vantagem, e ficavam dentro das igrejas. Os outros procuravam fica o mais perto possível do espaço consagrado. Queriam, desse modo, ficar ao abrigo do Mal.

Para surpresa dos meus alunos de “Arqueologia Medieval” costumava dar um exemplo vivo de um fenómeno paralelo ao da santificação de um túmulo. E mostrava a sepultura de Jim Morrison, vocalista e mentor dos Doors, prematuramente falecido. A sua sepultura, no Père-Lachaise, em Paris, é objeto de peregrinação. Não se reza, mas canta-se junto à sepultura. Já lá vi devotos deixarem maços de cigarros, charros e garrafas de bebida intactas (tal como no antigo Egito se deixava comida para o defunto percorrer o mundo das trevas). Há inscrições de quem ali esteve e benfazejas frases de apoio ao ídolo. É Jim Morrison um santo do século XXI? Nem tanto. O exemplo é anacrónico? Também não. Há gestos e atitudes que se repetem. Século apos século. A proximidade dos que marcaram a nossa vida tende a ser prolongada pelo tempo. Do modo festivo que a sua vida justificava. Com o tempo, nascia o mito. E, depois, o santo.

De tal modo assim é que, nos últimos anos, não é possível chegar mesmo junto ao túmulo de Jim Morrison. Foram colocadas cancelas protetoras. Como as que, nas basílicas, separavam o altar do espaço restante.

MAIS UM FILHO DESCONHECIDO...

Ligo o computador, de manhã cedo, e recebo uma notificação do site academia.edu:

Santiago, is this publication yours? Help us keep your profile up to date.

A referida publicação é um artigo de 2002 intitulado "Mértola: de la excavación al museo". Um texto conjunto, com mais três colegas. Não tinha a mais pequena ideia do que se tratava. Vou ver o texto, onde há, de facto, "coisas minhas". Subitamente, faz-se-me luz e recordo uma ida a um colóquio, em Murcia. Mas tinha-me esquecido do encontro e das atas.

Vou juntá-lo ao meu currículo. Isto nem sequer é inédito. E é mesmo por esquecimento e não por pose. Não faço como aquele professor, cujo nome omito, que falava de si próprio na primeira pessoa do plural e dizia "onde é que isso terá sido? é que nós pensamos tanto, escrevemos tanto...".


quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

NHO SANTIAGO

Ildo Lobo (1953-2004) já desapareceu há uns anos. Mas não a sua voz. Lembrei-me dele hoje e desta morna (sobre uma ilha, que não aquela onde tinha nascido). Passei boa parte do dia trabalhando na conclusão do plano deste ano. Este som serviu-me de inspiração. Tenho o nome da ilha. E sou cidadão honorário da Ribeira Grande, o maior grau do meu currículo.



quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

À ATENÇÃO DE LECH WALESA

Lech Walesa vivia das conferências. Imagino que cobrasse menos que Tony Blair (que leva 200.000 euros por cada speech...).

Depois veio o COVID-19, depois há o custo de vida, mais as despesas da mulher, mais a reforma que é curta etc. Conclusão: está sem dinheiro. Muita gente que passou pela política tem dificuldade em fazer a transição e em conseguir voltar a outra normalidade.

Pode sempre seguir as pisadas de Gorbatchev. No Kentucky Fried Chicken de Varsóvia precisam de pessoal.


terça-feira, 11 de janeiro de 2022

AINDA (E UMA VEZ MAIS) AS ESCAVAÇÕES NA SÉ

O que desde há muito defendo em relação à questão da Sé? Isto:

1. Deverá procurar-se, e tomando como tópico fundamental a preservação das estruturas acima mencionada, compatibilizar o que for possível em termos de percurso de visita, de forma a tirar partido do que se identificou;

2. Caso se revele existir uma incompatibilidade entre o projeto de arquitetura previsto e a preservação das estruturas arqueológicas, tornando inviável a construção de um percurso de visita, deverá considerar-se o abandono desta última componente;

3. Ou seja, deverá, nesta fase de decisões, partir-se da arqueologia para o projeto e não o contrário. Havendo risco de as obras em curso (ou previstas) poderem interferir com as estruturas arqueológicas, danificando-as, deverá optar-se pela cobertura integral do que tem vindo a ser escavado, garantindo a sua completa preservação;

4. Trata-se de uma opção que está longe de ser inédita. Em tempos recentes, foi posta em prática na proteção do Castelo da Lousa, submerso pelas águas da Barragem de Alqueva em 2002, e nas estruturas do mausoléu da Antiguidade Tardia, em Mértola, em 2009. Ambos os monumentos foram totalmente cobertos, estão devidamente salvaguardados e preparados para uma futura valorização.

Acessoriamente, penso que seria importante tomar as seguintes medidas:

5. Estabelecimento de um plano e cronograma tendo em vista a conclusão das escavações arqueológicas, que vão no seu 31º. ano;

6. Estabelecimento de um plano tendo em vista a publicação da memória das escavações;


Em resumo, e depois do que ontem foi falado:

Depois de mais 30 anos de intervenções na Sé, continua a não haver uma ideia clara sobre o remate desde já longo processo.

Pensar que o que foi feito pode ser revertido de forma radical desafia as regras da mais elementar ponderação.

O que se fizer daqui para a frente serão sempre remendos.

Tudo isto, independentemente do final a que se chegue, não vai deixar boa imagem da arqueologia.

Do ponto de vista pessoal já colhi muitos ensinamentos com este processo. Que irei transmitir aos alunos do seminário em "Gestão e Proteção do Património Arqueológico". Há, no projeto da Sé, matéria que dá quase para um semestre.


segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

O QUE ANDAMOS AQUI A FAZER???

Reproduzo na íntegra o texto do meu amigo e colega Carlos Fabião, sobre um anúncio de venda de uma casa, recentemente visto no google. A parte "engraçada" disto é gostarmos tanto, em Portugal, de dar ares de "país sofisticado, evoluído, de futuro etc.".


Estupefacção / Indignação:

As ruínas do teatro romano de Felicitas Iulia Olisipo foram identificadas em 1798, no contexto dos desaterros para a reconstrução da cidade de Lisboa, depois do grande terramoto de 1755. Numa época em que se afirmava o gosto pela arquitectura clássica, Francisco Fabri, arquitecto italiano o serviço da coroa portuguesa propôs no ano seguinte (1799) o embargo das obras de reconstrução naquela área e a conservação in situ das ruínas (a primeira proposta do género que se fez em Portugal). A longa conjuntura turbulenta e conflitiva da primeira metade do nosso século XIX inviabilizou o plano.
As ruínas do teatro jazeram quase esquecidas até aos meados do século XX, quando sofreram novas afectações, numa época em que já não estavam à vista.
Nos inícios da década de 60, começou a tentativa de valorização, conservação e divulgação das ruínas e a persistente batalha de Irisalva Moita na sua promoção, nem sempre com êxito.
Ainda assim, as ruínas foram classificadas como Imóvel de Interesse Público, por Decreto de 1967, e publicada a sua ZEP (Zona Especial de Protecção), por Portaria de 1969.
Os avanços e recuos continuaram, aparentemente porque nenhum responsável (?) político alguma vez entendeu que Lisboa é a única capital europeia (para além de Roma, bem entendido) que possui um teatro romano, ou seja, uma indiscutível mais-valia em múltiplas dimensões.
Finalmente, já neste século, em 2001, foi inaugurado o Museu do Teatro Romano de Lisboa. Um projecto modesto, face à dimensão da área abrangida pelo monumento, mas um excelente equipamento que poderia ser bom ponto de partida para, paulatinamente, se reconfigurar a área, de modo a valorizar essa magnífica pré-existência.
Lamentavelmente, reabilitação urbana em Lisboa é sinónimo de fazer tábua rasa das preexistências, conservando aqui e ali uns “apontamentos de memória histórica”, para apaziguar consciências. Nem vale a pena voltar a falar aqui do exemplo de Cartagena…
Mas este caso está para além de tudo o que se pudesse temer. Um Imóvel de Interesse Público, devidamente classificado, com ZEP publicada, é literalmente atropelado por um projecto imobiliário. Como foi possível? Como se licenciou?
Já não pergunto como pôde alguém propor-se a projectá-lo ou a fazê-lo, porque sabemos bem da desigual repartição do Bom Senso e Bom Gosto entre o Género Humano.
Como se admite que a memória histórica de uma cidade se venda assim, por bom preço, note bem, porque se está a pagar não somente o “loft”, mas a memória histórica, a alma, a dignidade da capital do país!...
Amargamente, veio-me à memória um velho (?) tema de Sérgio Godinho: O Charlatão.
“Na ruela de má fama, faz negócio o charlatão (…) entre a rua e o país vai o passo de um anão (…) e o trono é do charlatão”…
Estávamos então em ditadura, agora em democracia, o trono voltou a ser do charlatão.
Quando uma cidade e um país estão dispostos a vender a sua herança cultural, memória histórica, alma e dignidade, sendo somente questão o preço, algo vai mal.
Pela minha parte, pergunto-me: o que ando eu aqui a fazer?

domingo, 9 de janeiro de 2022

LEMBÁ - A IMPORTÂNCIA DA SOLIDARIEDADE

A tempestade que, no final de 2021, se abateu sobre S. Tomé e Príncipe causou estragos importantes e tornou inoperacionais muitas infraestruturas. Foi particularmente afetado o distrito de Lembá, tendo sido atingida a cidade das Neves, bem como outras localidades.

  

A destruição de infraestruturas básicas é sempre uma perda relevante para o bem-estar das pessoas e as consequências em termos de saúde pública são preocupantes. Moura e Lembá estão ligados por laços de amizade, que podem/devem tornar-se, nesta altura, numa atitude de solidariedade.

 

Consideramos que a cooperação internacional, especialmente, entre povos que falam a mesma língua, deve ser um elemento essencial de qualquer política autárquica. Expressamos o desejo de que rapidamente se encontrem as soluções financeiras, técnicas e operacionais que permitam resolver o problema do abastecimento de água e a recuperação de todas as infraestruturas afetadas.


É nestas alturas que devemos estar, todos, à altura dos desafios.


Enviámos (o José Maria Pós-de-Mina e eu, na qualidade de antigos presidentes da Câmara de Moura) uma mensagem ao Presidente da Câmara de Lembá.




sábado, 8 de janeiro de 2022

MESQUITA ALJAMA DE LISBOA - ENÉSIMO CAPÍTULO

Mais de 30 anos já passaram e continua a não haver um fim à vista para o "romance" das escavações obras na Sé de Lisboa.

Em 2020, a DGPC pediu-me um parecer sobre esta matéria. Onde escrevi o que pensava/penso sobre esta matéria. Na segunda-feira haverá um debate, onde irei participar.

Deixo, em jeito de introdução, um par de declarações, estritamente pessoais:

* Detesto cenas inquisitoriais;

* Detesto ajustes de contas;

* Detesto avaliações marcadas pelo nervosismo e pela gritaria;

* Não é do interesse deste projeto a procura de "culpados";

* É urgente que se ponha, com pragmatismo e rapidez, uma solução no terreno.

Até segunda.






SIDNEY POITIER (1927-2022)

Vi o filme há muitos anos, numa daquelas sessões da meia-noite que a RTP1 tinha, na altura em que passavam bons filmes e antes dos bons filmes ficarem acantonados na RTP2. "No calor da noite", de Norman Jewison (n. 1926) é um filme muito bom. O melhor de tudo é mesmo a assombrosa interpretação de Rod Steiger (1925-2002), no papel de um polícia racista e sulista.

À distância de tantos anos, o filme resulta ainda mais extraordinário. Para a história ficaram o "they call me Mr. Tibbs" e, mais ainda, a bofetada de Tibbs a um branco rico. Isto passa-se no Mississippi... No ano em que o filme foi rodado os casamentos interraciais ainda não estava legalizados nesses estado. Muitos anos decorreriam até Obama chegar à presidência.

Sidney Poitier ficaria como o símbolo de uma época de viragem. Tal como o filme que protagonizou.


sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

ORÇAMENTO MUNICIPAL - A ANÁLISE DE JOSÉ MARIA PÓS-DE-MINA

SOBRE O ORÇAMENTO DO MUNICÍPIO DE MOURA PARA 2022

Este é o primeiro texto que vou publicar sobre a questão do Orçamento e das Grandes Opções do Plano do município de Moura para 2022.
Tal como tinha feito a propósito dos Orçamentos de 2019, 2020 e 2021 a CDU voltou a votar contra. Dada a nova correlação de forças existentes resultou que os documentos previsionais foram rejeitados.
Na sequência deste resultado, responsáveis institucionais e do Partido Socialista entraram numa campanha de deturpação da posição da CDU e de demagogia sobre as consequências da deliberação tomada.
Foram ditos e escritos disparates como a CDU votou contra só porque é do contra, que a CDU pretende estrangular e prejudicar a atividade da câmara e que a rejeição do orçamento implica a não realização de um conjunto de obras.
A CDU fundamentou de forma clara e explicita a sua oposição. Em mais de uma dúzia de intervenções na Assembleia Municipal feitas por todos os seus eleitos, pelo levantamento de questões e criticas, pela apresentação das prioridades que se entende deverem ser definidas para o mandato, pela apresentação de dez grandes desafios estratégicos para os próximos anos, pelo elencar de ações concretas que deviam constar do orçamento, e por considerar que as responsabilidades em matéria de educação e ação social só devem ser assumidos a partir do momento em que se tornem obrigatórias. A declaração de voto, que desafio todos os interessados a ler, traduz de forma sintética a posição essencial que foi tomada.
Afirmar que a CDU pretende prejudicar a atividade da Câmara é uma acusação injusta, que procura ignorar o que têm sido as posições da CDU sobre a matéria, a existência de uma alternativa ao caminho que está a ser seguido e acima de tudo pretende esconder as insuficiências e a incapacidade da atual gestão da autarquia, cuja atuação nestes anos tem ficado aquém das expectativas e não tem correspondido ao que devia ser uma gestão interveniente, proactiva e que enfrente os problemas e promova o desenvolvimento do concelho. Por ter uma posição responsável a CDU continuará a apresentar propostas centrada nas soluções e não nos problemas.
Dizer que não é possível realizar determinadas obras porque o orçamento não foi aprovado, foi na fase da discussão uma manobra de chantagem e é uma falsidade, porquanto as intervenções, nomeadamente as que foram referidas no comunicado do Partido Socialista, têm todas as condições para serem concretizadas. Quase todas constam do orçamento, algumas desde 2018 (no próximo texto entrarei em detalhes sobre cada uma delas) e uma até nem consta da proposta do orçamento com rubrica específica estando a ser executada com recurso a outras rubricas.
Há todas as condições, desde que essa seja a vontade do Partido Socialista, de executar todas as intervenções referidas e de gerir sem perturbação a Câmara Municipal. A questão essencial que não poderá ser efetuada será assumir as competências em matéria de educação e ação social por não existir rubrica para o efeito, mas isso pode ser resolvido a tempo de exercer essas competências quando elas forem obrigatórias.
A diferença entre ouvir e escutar condicionará a posição da CDU nas questões essenciais do mandato. E por isso é preciso e urgente uma postura diferente do PS na Câmara. O concelho de Moura merece e exige essa transformação.

O comunicado emitido pelo Partido Socialista em 30/12/21 refere expressamente que pelo fato do orçamento não ter sido aprovado “não se realizarão, entre muitas outras, um conjunto de ações que enunciam” e que são 18. Trata-se de uma afirmação despropositada, que visa lançar a confusão e que não tem qualquer adesão à realidade. Seguramente que não haverá capacidade para as concretizar todas no ano de 2022, mas isso não terá nada a ver com a questão orçamental, mas sim com falta de capacidade para as concretizar. Até porque algumas delas apresentam valores insuficientes, outras nem projeto ainda têm e outras pela sua complexidade têm ainda muito caminho por fazer.
Tanto assim é que há ações destas que estão inscritos em orçamento desde 2018, e não terá sido por falta de orçamento que não foram ainda concluídas, de que são exemplo a UP4 de Amareleja e a beneficiação de arruamentos em todo o concelho que até se trata de uma obra que ocorre todos os anos.
Relativamente a 2019 temos a conclusão da empreitada da requalificação da rotunda na entrada da ER258 (obra com caráter intermitente sobre a qual é impossível determinar quando se concluirá), ou o ridículo da referência à via pedonal no mesmo local que tem inscrito na proposta de orçamento qualquer coisa como 100€.
Temos ainda com data de inscrição orçamental em 2019, o novo cais de embarque na Aldeia da Estrela, as áreas de serviço de autocaravanas da Estrela e da Barragem de Alqueva, a reconstrução da estação elevatória de Amareleja, a reabilitação do Caminho de Fernão Teles, as obras previstas na área recreativa e de lazer do núcleo da Barragem de Alqueva e a 2.ª fase da reabilitação do antigo Matadouro.
Quanto a 2020, estão inscritas desde este ano as seguintes ações: Centro Escolar dos Bombeiros, Reabilitação das Igrejas de São João Baptista e Santo Aleixo da Restauração, requalificação do Jardim de Santa Justa e requalificação das instalações sanitárias do Jardim Dr. Santiago em Moura.
Desde 2021 estão com verba no Orçamento: Construção da Casa Mortuária na Póvoa de S. Miguel, requalificação urbana da Travessa das Cruzes e da Rua Martinho Mariano Ganhão em Moura e reabilitação da Esquadra da PSP.
A conclusão da empreitada da reabilitação de arruamentos e rede de esgotos entre a Latôa e a Praça Sacadura Cabral em Moura nem consta dos orçamentos anteriores, nem no agora proposto.
Em síntese podemos dizer que nenhuma destas ações é nova. E se não foram integralmente concretizadas até agora não foi por culpa dos orçamentos, mas sim do facto de estarmos num concelho com uma gestão em câmara lenta.
Há neste momento margem orçamental para dar resposta a estas ações. Assim haja vontade e capacidade.
Mas pode-se perguntar se tudo pode ser feito, é indiferente haver ou não orçamento novo aprovado? É evidente que há ações que não se podem realizar, mas essas são as que teriam a primeira inscrição em orçamento em 2022. E essas são em número reduzido. Agora é evidente que assumir as competências em matéria de educação e ação social não é possível. Tal como não é possível dispor de um orçamento de 35 milhões de euros, e só se pode dispor de 28 milhões de euros, mas aqui temos de ter presente que a execução da receita em 2021 terá ficado à volta dos 19 milhões.
Mas ainda é possível aprovar um orçamento para 2022. Haja disponibilidade para escutar a CDU. Haja vontade de abrir espaço a um processo que não sendo o que o concelho necessita, o que só seria possível com uma gestão CDU, permita minorar os estragos e haver uma atitude de maior dedicação, de maior empenho e de maior acerto nas opções a tomar.
Sobre as propostas necessárias para viabilizar o orçamento falarei no próximo texto.

Este será em princípio o último texto sobre este tema. Penso que está a ficar claro o posicionamento coerente, construtivo e verdadeiro da CDU e que os assuntos devem ser abordados duma forma séria, aprofundada, não nos limitando a ficar pela superfície e a utilizar técnicas de ilusionismo para esconder as questões principais.
A CDU tem todo o direito e a legitimidade - pelo conhecimento que tem da realidade, dos processos com destaque para os processos de elaboração e gestão orçamental, como de toda a gestão da autarquia - de ter as suas próprias ideias, não estando refém de posição alguma de outrem. A CDU toma as posições que entende tomar em cada matéria, de acordo com o que julga ser o interesse da população e do concelho de Moura. E assim continuará a atuar neste e noutros processos.
Não vale a pena entrar em mais detalhes sobre os números do orçamento, sobre a existência de rubricas sem qualquer valor indicado, nem sobre opções mais específicas em relação à forma como deve ser gerida a autarquia. Isso ficará para outras ocasiões e decerto que muitas destas questões serão debatidas quando o assunto voltar à câmara e à assembleia municipal.
Sobre a problemática da gestão sem orçamento aprovado a tempo de entrar em vigor a 1 de janeiro, para aqueles que gostam muito de olhar para o passado, importa recordar que não é a primeira vez que tal acontece, tendo inclusive havido um ano, o de 2005 em que a Assembleia Municipal não aprovou o orçamento. O de 2004 foi aprovado em 27 de fevereiro desse ano, e o de 2003 viu o seu processo concluído em 3 de janeiro desse ano após a rejeição das grandes opções do plano em dezembro de 2002.
Como já referimos é possível encontrar soluções que permitam dar continuidade a obras que até já deviam ser uma realidade. Mas é evidente que é importante ter um novo orçamento aprovado se este for melhor que o que está atualmente em vigor. E por isso a CDU está disponível para contribuir para a sua viabilização. E por isso já apresentou e tornou públicas um conjunto de propostas, sobre as quais se aguarda agora uma resposta por parte da gestão socialista. São propostas sérias que não alteram o fundamental das opções da maioria PS, mas que contribuem para termos um melhor orçamento.
Intervir nas redes de águas e saneamento, dar mais atenção a determinados eventos culturais e ao movimento associativo, tratar de forma igual as juntas de freguesia e aumentar os apoios para a sua ação, são questões que deviam ser incontornáveis e opções de qualquer executivo minimamente preocupado com a vida das suas gentes. Tal como faz todo o sentido só assumir encargos nas áreas da educação e da ação social quando eles forem obrigatórios, pois a sua concretização, tal como está a ser tratado pelo governo, alijando as suas responsabilidades em matérias essenciais da vida das comunidades, trará prejuízos para o concelho e para o País.
Reafirma-se a esperança na possibilidade de termos uma vida melhor e um concelho mais ativo, com maior capacidade de realização, que não se limite a cumprir os mínimos e a andar ao sabor de oportunidades que surgem do exterior. Temos a obrigação de fazer mais e melhor.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

CÂMARA DE MOURA INVESTE 700.000 EUROS NA ESTAÇÃO NÁUTICA

Do site da Executive Digest de dia 3 de janeiro:

Através de três obras, o projeto prevê a construção de vários equipamentos e infraestruturas para atividades náuticas no concelho de Moura, no distrito de Beja, a maioria junto à barragem do Alqueva, num investimento total previsto de 2.162.466 euros, disse hoje à agência Lusa o presidente do município, Álvaro Azedo.

A obra mais pequena e a primeira a arrancar no terreno, durante este mês, vai permitir a construção das duas áreas de serviço de autocaravanas da estação náutica, num investimento de 202.446 euros, disse o autarca.

Deste montante, cerca de 700.000 euros saem diretamente do orçamento municipal.

Ou seja, uma vez mais fica claro que o chumbo do orçamento não impede o investimento nem a realização de obras.

Uma coisa estranha:

O site e o facebook da Câmara de Moura não dizem uma palavra sobre o assunto;

O site e o facebook da Rádio Planície não dizem uma palavra sobre o assunto.

Haverá duas verdades? Uma para consumo interno, outra para exportação?

DIA DE REIS

O sonho dos Reis Magos não é a parte mais conhecida da história. Um anjo avisou-os, durante o sono e no caminho de regresso, para se desviarem do caminho de Herodes.

A iconografia é divertida. Dormiam na mesma cama e de coroa na cabeça (rei é rei, embora estes, provavelmente, não o fossem).

Já comi bolo-rei e já bebi vinho do Porto. Viva o Dia de Reis.


Letra capitular iluminada com a cena do Sono dos Reis Magos. Missal de Salzburgo (Ratisbona, c.1478-1489). Munique, Biblioteca Estatal Bávara.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

A RAPARIGA NA PRAIA

Ainda Hergé. Na exposição da Gulbenkian está um conjunto de posters publicitários em que trabalhou nos anos 30. Um deles publicita a praia belga de Knocke (é daquelas onde só se vai de sobretudo, bbbrrrrr). Uma moça, de púdico fato de banho, tem uma bola vermelha e branca na mão.

O mesmo motivo está na peça pop de Roy Lichtenstein (1923-1999) Girl with a ball, de 1961. Não gosto especialmente desta obra. Em todo o caso, quando fui à procura de uma qualquer relação entre o cartaz de Hergé e a pintura de Lichtenstein fui remetido para uma cartaz publicitário de uma estância balnear americana.

É só uma coincidência? Incluindo a bola vermelha e branca, que é igualzinha?

O tema da rapariga na praia era tão banal e usual que qualquer o poderia ter usado?

Francamente, não sei. Diria Jeremy Boob, PhD, "Ad hoc, ad loc and quid pro quo. So little time — so much to know!".