quarta-feira, 31 de agosto de 2022

A SEGUNDA MORTE DE GORBACHEV

Mikhail Gorbachev (1931-2022) deixou ontem o mundo dos vivos. O seu percurso político foi tudo menos pacífico. E continuará, decerto, a ser discutido.

Não é sobre isso que me interessa agora escrever. Mas sim recordar o momento em que decretou a sua própria "morte", ao ser estrela num anúncio da "Pizza Hut". Há coisas que eu nunca imaginaria que um estadista pudesse fazer... O resto foi uma lenta e longa agonia pessoal.

O anúncio data de 1998.



FECHANDO O MÊS, COM O EXÉRCITO

Visita, na passada semana, de um grupo de militares da área de comunicação e relação públicas do Estado-Maior do Exército. O estreitamento de relações com as Forças Armadas - com quem mantemos excelentes relações, a começar pelas de vizinhança - é um dos domínios em que temos apostado. E iremos continuar.


terça-feira, 30 de agosto de 2022

A PROPÓSITO DE UM TEXTO DE MARIA VLACHOU

Maria Vlachou, que se identifica como museóloga e gestora cultural, assinou um texto no "Público" que tem por título "O que podemos esperar de quem dirige um museu?".

Não perderei muito tempo com este assunto, aproveitando apenas para transcrever algumas afirmações da autora: "várias pessoas partilham  da opinião de quem dirige um museu é um simples funcionário, que pode muito pouco", "a verdade é que esperamos pouco dos nossos colegas que ocupam estas posições", "é preciso identificarmos, formarmos, apoiarmos e colocarmos nas posições certas, colegas, que possam ser líderes no nosso sector", "desejamos (...) que quem dirige organizações culturais tenha a ambição e a competência para ser mais que um simples funcionário". A desqualificação de quem dirige os museus e os monumentos não podia ser mais completa. O desprezo por quem, no dia-a-dia, luta por instituições melhores, com enorme carência de meios, é total.

Tenho 38 anos de carreira profissional. Continuo com vontade de aprender e de melhorar. Faço-o, na minha área profissional com quem dirigiu museus ou monumentos, com quem escreveu artigos sobre coleções, com quem coordenou catálogos de exposições ou com quem as comissariou. Não com quem da prática tem vasta teoria e quer ensinar a fazer o que nunca fez.

Pergunto-me quais terão sido as razões que levaram Maria Vlachou a não concorrer aos recentes concursos para a direção de museus e de monumentos. Poderia, na prática e no mundo real, demonstrar como se faz.

Uma coisa tenho como certa: os "treinadores de bancada" nunca perdem jogos. Ganham-nos todos. Mas é só na bancada.


NECRÓPOLE DE CARENQUE

Uma necrópole com milhares de anos a 1.500 metros do centro da Amadora? Sim. Uma escavação arqueológica de há quase um século, tendo nós a sensação de estarmos em pleno campo e fora de uma cidade com 170.000 habitantes? Sim.

A escavação dirigida por Manuel Heleno revelou três câmaras funerárias. Ao encarar estes rituais nunca deixo de me espantar com o engenho e arte destes homens. Viveram ali há mais de 4.000 anos.

Dei comigo a pensar que vivi 13 anos (1973/1986) a dois quilómetros da Necrópole de Carenque (monumento nacional!) e nunca lá tinha ido...


segunda-feira, 29 de agosto de 2022

MANOLETE: 75 ANOS

Há apenas uma sequência da fatal colhida de Manolete, na praça de touros de Linares. Foi registada pelo fotógrafo Francisco Cano (1912-2016), na fatídica tarde de 28 de agosto de 1947. Manolete morreria na madrugada do dia seguinte. Faz hoje 75 anos.

O Llanto por Ignacio Sánchez Mejías, escrito em 1935 por García Lorca, foi dedicado ao toureiro morto no dia 13 de agosto de 1934. Tinha sido colhido dois dias antes, em Manzanares. Cada palavra se adapta à tragédia de Manolete.


La cogida y la muerte

A las cinco de la tarde. 
Eran las cinco en punto de la tarde. 
Un niño trajo la blanca sábana 
a las cinco de la tarde. 
Una espuerta de cal ya prevenida 
a las cinco de la tarde. 
Lo demás era muerte y sólo muerte 
a las cinco de la tarde.

El viento se llevó los algodones 
a las cinco de la tarde. 
Y el óxido sembró cristal y níquel 
a las cinco de la tarde. 
Ya luchan la paloma y el leopardo 
a las cinco de la tarde. 
Y un muslo con un asta desolada 
a las cinco de la tarde. 
Comenzaron los sones del bordón 
a las cinco de la tarde. 
Las campanas de arsénico y el humo 
a las cinco de la tarde. 
En las esquinas grupos de silencio 
a las cinco de la tarde. 
¡ Y el toro solo corazón arriba ! 
a las cinco de la tarde. 
Cuando el sudor de nieve fue llegando 
a las cinco de la tarde, 
cuando la plaza se cubrió de yodo 
a las cinco de la tarde, 
la muerte puso huevos en la herida 
a las cinco de la tarde. 
A las cinco de la tarde. 
A las cinco en punto de la tarde.

Un ataúd con ruedas es la cama 
a las cinco de la tarde. 
Huesos y flautas suenan en su oído 
a las cinco de la tarde. 
El toro ya mugía por su frente 
a las cinco de la tarde. 
El cuarto se irisaba de agonía 
a las cinco de la tarde. 
A lo lejos ya viene la gangrena 
a las cinco de la tarde. 
Trompa de lirio por las verdes ingles 
a las cinco de la tarde. 
Las heridas quemaban como soles 
a las cinco de la tarde, 
y el gentío rompía las ventanas 
a las cinco de la tarde. 
A las cinco de la tarde. 
¡ Ay qué terribles cinco de la tarde ! 
¡ Eran las cinco en todos los relojes ! 
¡ Eran las cinco en sombra de la tarde !


domingo, 28 de agosto de 2022

VILA FRANCA DE XIRA - ENTRE O MALI E A SÍRIA

Várias vezes me lembrei da cor da arquitetura de Luis Barragán (1902-1988), ao visitar a exposição A família humana, organizada por Jorge Calado. As imagens têm rodado com regularidade e esta é, segundo creio, a última série de fotografias. Fui surpreendido com a exibição de duas imagens minhas: uma feita na Síria, outra no Mali. Faço companhia a nomes como Willy Ronis, José Manuel Rodrigues, Kees Scherer ou Claude Jacoby. Um privilégio raro. E, num certo sentido, divertido.


VILA FRANCA DE XIRA - ARQUITETURAS

Ida a Vila Franca de Xira, em busca de fotografias. O Museu do Neorrealismo alberga A Família Humana. E outras iniciativas. Na Rua Alves Redol confrontam-se duas arquiteturas: a de Nuno Craveiro Lopes (1921-1972), refeita por José Leopoldo Leal [agência da Caixa Geral de Depósitos, dos anos 50 do século XX] e de Alcino Soutinho (1930-2013), que está no outra esquina [museu].

sábado, 27 de agosto de 2022

ELEIÇÕES EM ANGOLA

Nunca fui a Angola nem conheço a realidade política do país. Não comento o que não conheço.

Chamam a atenção a queda do MPLA (um partido da Internacional Socialista, recorde-se) e a subida da UNITA.

Mas o que me chamou mesmo a atenção foi a queda na participação dos eleitores. A abstenção passou de 24% em 2017 para 55% (!), nestas eleições. Um voto na descrença.

Veja-se o site da Comissão Nacional de Eleições: https://www.cne.ao


sexta-feira, 26 de agosto de 2022

CAIXA CULTURA - 3ª. EDIÇÃO

Vai para a terceira edição o CAIXA CULTURA. Dotação: 50.000 euros. Candidaturas até 30 de setembro.

Do regulamento:

"O programa (...) visa promover, através da atribuição de apoios financeiros, a criação artística e cultural nas seguintes áreas: Teatro, Dança, Música, Artes Visuais, Cinema, Literatura, Performance, Conferências e Debates."

https://www.cgd.pt/Institucional/Caixa-Cultura/Documents/Regulamento_CxCultura_JUL2022.pdf

Premiados na edição anterior:

https://www.cgd.pt/Institucional/Caixa-Cultura/Pages/Cx-Cultura-Vencedores-22.aspx


PANTEÃO NACIONAL - MODOS DE VER

A antecâmara do Coro Alto é um sítio privilegiado do monumento. Decidimos, por isso, tirar partido desse facto e fazer deste espaço um local de pequenas exposições, relacionadas com o Panteão Nacional.

A primeira obra a ser aqui exibida, em novembro de 2021, foi o quadro “A infanta D. Maria em oração à imagem e às relíquias de São Vicente”, que talvez tenha como autor o pintor régio Amaro do Vale (m. 1619).

Modos de ver é o título de uma obra do ensaísta John Berger (1926-2017). Nela se explica como a Arte revela os contextos em que é produzida, bem como a forma como a perceção das obras de arte se altera ao longo do tempo.

Para o Panteão Nacional, modos de ver é o mote para olharmos de perto as diferentes perspetivas e visões que o monumento motivou.

De agosto a novembro - David Stephenson, Santa Engrácia, Lisbon


quinta-feira, 25 de agosto de 2022

TODO O EXOTISMO DE UMA BATATA COZIDA

O restaurante fica à saída de Alfama. É uma casa de comida caseira, bem portuguesa, a preços portugueses. A clientela é quase exclusivamente local. Hoje, numa das mesas, estava o condutor de um tuk-tuk, com um casal de americanos. O guia português tinha pedido peixe grelhado com batatas cozidas. A americana, boquiaberta, apontou para uma batata "what's thatttt???", como se tivesse visto um legume selenita. "It's a potato!", esclareceu o nosso compatriota. "Woowww", foi a reação.

Conclusão: quanta felicidade e quanto exotismo pode haver numa batata cozida.


BAILE DE MÁSCARAS

Final do segundo ato do "Baile de Máscaras", de Verdi. O libretto, de Antonio Somma, é risível. Sendo generoso.

Mas este final é fantástico. Até nos esquecemos das incongruências da narrativa.



quarta-feira, 24 de agosto de 2022

MUSEU - NOVA DEFINIÇÃO

Um museu é uma instituição permanente, sem fins lucrativos, ao serviço da sociedade que pesquisa, coleciona, conserva, interpreta e expõe o património material e imaterial. Os museus, abertos ao público acessíveis e inclusivos, fomentam a diversidade e a sustentabilidade. Os museus funcionam e comunicam ética, profissionalmente e, com a participação das comunidades, proporcionam experiências diversas para educação, fruição, reflexão e partilha de conhecimento.

Definição votada e adotada, hoje, na reunião do ICOM, em Praga.

terça-feira, 23 de agosto de 2022

DO CINZA CLARO AO CINZA ESCURO

Isto está a ficar chato... Todos os dias aparece uma nova "teoria". Há dois dias surgiu este texto de Joana Fonte, icenciada em Ciências da Linguagem, mestranda em Ensino de Português e militante do Bloco de Esquerda (assim se apresenta).

Qual o título?

E se fizéssemos uma revisão ao programa de Português?

Qual o foco?
A Mensagem, de Fernando Pessoa, recupera o famoso mito do Quinto Império — um suposto novo império civilizacional, que acreditava ser o português — e, assim como Os Lusíadas, exalta a acção humana no domínio dos mares e a superação dos limites humanos pelos heróis portugueses.

E segue:

Ao longo dos três anos que compõem o ensino secundário, há alunos que perdem o gosto pela disciplina de Português – se algum dia o tiveram. Se programa actual é defendido com unhas e dentes por muitos, por outros e outras é visto como antiquado. Os e as estudantes lutam por conseguir identificar-se com a linguagem de Fernão Lopes, Gil Vicente, Almeida Garrett, Eça de Queirós, Luís de Camões e Fernando Pessoa.

Deve-se ressalvar que não está em causa o mérito dos autores, mas sim a importância que estas obras detêm para a actualidade. Se a disciplina se destina aos estudantes, a ensinar e educar a aprender o gosto pelo português e pela leitura, não deve então ser nossa obrigação apresentar um programa actualizado e com o qual o nosso público-alvo realmente se identifique? Não deve este programa estar revestido por obras que representam os valores actuais da nossa sociedade?

Na verdade, o texto é uma crítica ácida a três obras: Os Maias, Os Lusíadas e a Mensagem.

A conclusão é esta:

Afinal, o programa e a disciplina de Português destinam-se a quem? Aos alunos e às alunas ou aos autores? A disciplina de Português serve para quê? Para homenagear autores ou para transmitir a paixão pela leitura às próximas gerações?

E pronto. Nem uma proposta alternativa, nem uma sugestão de leitura, nem uma palavra sobre como despertar a paixão pela leitura.

Não há nada como uma prédica matutina explicar o que devemos ou não ler, como devemos ou não gostar. "Refugio-me" na frase de um velho amigo: "o passado quase nunca foi democrático".

Ou seja, pelos parâmetros Joana Fonte temos a "Odisseia" em perigo. Frederico Lourenço, que fez uma versão para a juventude, ainda vai ser acusado de coisas descabeladas...



segunda-feira, 22 de agosto de 2022

PANTEÃO: ANTÓNIO BARRETO & DAVID STEPHENSON & CASA-MUSEU MANUEL DE ARRIAGA & TEMPORADA CRUZADA

Quatro exposições simultâneas no Panteão Nacional, durante esta semana. Setembro será tempo de tomar fôlego. No outono haverá mais novidades. O que temos agora para oferecer, de momento?

1. A exposição "Pantheon & Panteão" (que, oficialmente, fechou ao público no dia 14 de julho, mas vai continuando até outubro [sala de exposições temporárias];

2. A exposição sobre a Casa Manuel da Arriaga, que fez agora 10 anos [coro alto];

3. A exibição da fotografia "Santa Engrácia, Lisbon", de David Stephenson [antecâmara do coro alto];

4. A exposição "Gente da batalha", fotografias de António Barreto [corpo principal].


domingo, 21 de agosto de 2022

TURISMO SACAVENENSE

Passagem vespertina pelo Museu de Loures. O espaço da antiga fábrica é hoje uma urbanização. Restou, algures no meio, uma chaminé - tal como aconteceu na Av. João XXI, quando construíram a sede da Caixa Geral de Depósitos -, à volta da qual se edificou um museu-memória.

Uma apreciável coleção de materiais e de referências, que julgo não serem assim tão conhecidas quanto isso...


JOÃO XXI OU XII OU XI?

O jornal SOL anuncia, em tom dramático, que a Caixa vai ser despejada. E diz que "Costa despeja Macedo da João XII". Contudo, a edição impressa garante que a Caixa vai mesmo sair é da João XI. E mais, que o Ministério das Finanças não sairá do Terreiro do Espaço. Um manancial de criatividade, numa "notícia" falha de rigor...

Já agora:

João XXI - Papa entre 1276 e 1277

João XII - Papa entre 955 e 964

João XI - Papa entre 931 e 935

sábado, 20 de agosto de 2022

ESTÁ NA HORA DE COMEÇAR A CONSTRUIR O FUTURO

O artigo de Lucinda Canelas vem, uma vez mais, chamar a atenção para um problema que se agrava a cada dia que passa.

O diagnóstico está mais que feito. Agora, das duas, uma: ou o problema se resolve ou não se resolve.

https://www.publico.pt/2022/08/20/culturaipsilon/noticia/escassez-dramatica-pessoal-compromete-futuro-museus-nacionais-2017691



sexta-feira, 19 de agosto de 2022

MIGUEL HERNÁNDEZ, TRINTA MESES VOLVIDOS

Foi há dois anos e meio. Os criptofachos do PP mais os fachosmesmofachos do VOX removeram versos do poeta Miguel Hernández de um cemitério de Madrid. Tal como, meses antes, já tinham eliminado as placas com os nomes dos fuzilados por Franco entre 1939 e 1944.

Ver: https://elpais.com/ccaa/2020/02/19/madrid/1582111821_370947.html

A direita na Câmara de Madrid tenta destruir a memória do passado, que bem lhe pesa.

Em Moura há, desde 2012, um Jardim Miguel Hernández. Uma reparação tardia que, por razões muito nossas, o poeta bem mereceu.


HERNÁNDEZ, NO DIA DA FOTOGRAFIA, PELA QUARTA (E ÚLTIMA) VEZ

Não ligo nada a isto dos "dias de". Mas o pretexto é bom. talvez esta seja a minha fotografia preferida, de entre todas as que vi. Uma escolha pouco original, bem sei. Já aqui falei dela três vezes: em 2 de setembro de 2009, em 22 de maio de 2016 e em 19 de agosto de 2021. Não repetirei.

É uma fotografia estranha, quase irreal. Foi tirada quase às 5 da tarde (16:49:20, na realidade) do dia 1 de novembro de 1941. A principal coisa que a imagem me evoca é o silêncio. Não sei se essa sensação é acentuada pela presença do pequeno cemitério e pela completa ausência do elemento humano.

Recordei, depois, a respeito do local e da minha tentativa de o encontrar, durante uma breve passagem pelo Novo México:

O sítio de “Moonrise” foi (...) difícil de encontrar. A igrejinha com o cemitério à frente jaz no meio de restos de sucata, de construções em mau estado e de arremedos de vedações. O sentimento só não foi da mais completa frustração porque me preparara para o choque. A estrada pejada de trânsito pesado corre ao lado, mas o sentido de horizontalidade perdeu-se. As construções em volta alteraram a paisagem, demasiado bela, da fotografia de 1941. Não cheguei a sair do carro.

Ansel Adams, sobre esta fotografia:

“We were sailing southward along the highway not far from Espanola when I glanced to the left and saw an extraordinary situation – an inevitable black & white photograph! I almost ditched the car and rushed to set up my 8 x 10 camera. I had a clear visualization of the image I wanted, but I could not find my Weston exposure meter! The situation was desperate: the low sun was trailing the edge of clouds in the west, and shadow would soon dim the white crosses.”


quinta-feira, 18 de agosto de 2022

PRATA E AZUL

A extraordinária fotografia de Bruno Barbey (1941-2020), feita a Nazaré, em 1979, e ainda que esteja identificada no site da Magnum com o bizarro título de "Carapou", remeteu-me para a não menos brilhante vista que tenho, todos os dias, da janela do meu gabinete. Vejo o Castelo de Palmela (a 25 kms., mas parece que também se vê do Castelo dos Mouros, a 49 kms., o que remete para "velhos privilégios", quanto tinha o Castelo de Beja a 39 kms. em linha reta) e o Mar da Palha, que é sempre bem mais azul, de todos os tons, que palha.


Fragmentary Blue

Why make so much of fragmentary blue
In here and there a bird, or butterfly,
Or flower, or wearing-stone, or open eye,
When heaven presents in sheets the solid hue?
 
Since earth is earth, perhaps, not heaven (as yet)—
Though some savants make earth include the sky;
And blue so far above us comes so high,
It only gives our wish for blue a whet.
Robert Frost


quarta-feira, 17 de agosto de 2022

BRASIL 2022

Mais claro não se pode ser.

Melhor motivo para reflexão não pode haver.

ALTMAN, ANTONIONI & CLOUZOT

O que têm em comum Henri-Georges Clouzot (1907-1977), Michelangelo Antonioni (1912-2007) e Robert Altman (1925-2006)? Ganharam a Palma de Ouro (Cannes), o Leão de Ouro (Veneza) e o Urso de Ouro (Berlim). Nenhum deles ganhou qualquer Oscar em competição. Mais um argumento a favor deles. De Clouzot não vi nenhum filme, de Antonioni e de Altman vários. Antonioni sempre me pareceu inteligente, talentoso, mas frio. Altman é outra coisa (em especial pela capacidade de gerir várias histórias em simultâneo) e faz parte do meu panteão (salvo seja...) particular.

Viva o Cinema!


Robert Altman

Cannes: MASH Berlim: Buffalo BillB Veneza: Short Cuts (Os Americanos)


Michelangelo Antonioni

Cannes: Blow-Up Berlim: A noite Veneza: Deserto Vermelho


Henri-Georges Clouzot

Cannes: O salário do medoO Berlim: O salário do medor Veneza: Manon


terça-feira, 16 de agosto de 2022

FALUA

Todas as tardes tenho, em frente à janela, uma falua. Dá sempre a mesma volta, o que me leva a pensar em rota turística. Li algures, uma vez que falua significava, em árabe, potro. Não sei a base de tal afirmação... Em todo o caso, a ideia de um barco a cavalgar as ondas tem o seu toque poético.

Falua vem de فلوكة  (falūka).

Mesmo sem mar nem ondas, aqui fica um poema de Ibn Assid:

É um cavalo negro que pertence à família dos garanhões
Aluají e Lahíque. A noite serve-lhe de veste
e a aurora pôs malhas brancas nos seus cascos.

A água da beleza gelou estupefacta sobre a sua pele.
Não fosse o ardor do galope e a água não teria escorrido.

Dir-se-ia que o crescente da ruptura do jejum
brilha sobre o seu semblante
e os nossos olhos se voltam de desejo.

Dir-se-ia que os ventos violentos o arrastam
quando o peitoral e o cachaço
se mostram inteiramente banhados se suor.

Ibn Assid (Silves, 1052-Valência, 1127). Não consegui usar a tradução de Henri Perès, por isso me socorri da adaptação de António Borges Coelho, no 4º volume (edição antiga) do Portugal na Espanha Árabe.


TEXTO 7000

E assim o blogue chega ao texto número 7.000. Uma caminha já longa e, como diria um amigo meu, vasta, ampla e diversificada.

segunda-feira, 15 de agosto de 2022

O QUE SERÃO "COLABORADORES"?

Abomino a palavra "colaboradores". É uma nova formulação que a novilíngua capitalista encontrou para designar os que trabalham mas são mais o menos descartáveis.

Ouvi muitas vezes o meu avô dizer "vou ali trabalhar na horta". Não me recordo de ter tido que ia colaborar para a horta ou colaborar com a terra...

Não sei o que é colaborar, nesse sentido. Sei o que é trabalho. Trabalho no Estado há 36 anos. Não "colaboro"... E vou continuar a trabalhar até à aposentação. Com o mesmo entusiasmo que tinha a 25 de setembro de 1986, dia em que comecei.












Obra de Gustav Klutsis (1895-1938)

PELA AMARELEJA

Agora que as sombras da pandemia se vão afastando, há regressos que (nos) fazem falta. Estes dias fizeram parte desse regresso. Entre um jantar com amigos da CDU, a corrida de touros e o reencontro com muita gente amiga se fizeram as noites desta Santa Maria. Pelo meio, a amizade do Alfredo Guerra fez-me sentir, de novo, em casa.

A corrida foi de lotação esgotada e teve uma mais que assinalável qualidade.

Não deu para tudo, porque o tempo dos expatriados nunca dá para tudo. Uma nota (pessoal): nunca pensei que o Panteão Nacional despertasse tanta curiosidade...


domingo, 14 de agosto de 2022

NIKIAS SKAPINAKIS - ÚLTIMA SEMANA

Entra na última semana a exibição de "Vista de Santa Engrácia", de Nikias Skapinakis.

Usa-se a entrada do coro alto do Panteão Nacional como local para pequenas exposições. Esta foi a quarta. Segue-se outra, já na próxima semana. E está uma sexta edição programada para dezembro. E, de seguida, outras virão.


sábado, 13 de agosto de 2022

HISPANOPOP - OBJETIVO BIRMANIA

Ao recordar, há dias, a Orquesta Mondragón lembrei-me também de um grupo pop de há três décadas. Na sua fase final era um trio vocal feminino - ao estilo das Bananarama de boa memória - e teve um álbum de grande sucesso. Pop em espanhol. Ao menos, não tentavam cantar em inglês. Eu gostava das Objetivo Birmania. Mais uma heterodoxia.




sexta-feira, 12 de agosto de 2022

VÍRGULA

Lido algures:

"O presidente da Câmara de Barrancos, declarou (...)"

Pela última vez: não pode haver vírgulas entre o sujeito e o predicado.

SEMPÉ (1932-2022)

E ontem partiu Sempé.

Foi, sempre, um dos meus cartoonistas preferidos. Teve cinco passagens pelo blogue. O que gosto em Sempé? Do humor negro, fino e discreto. Da sua subtileza.

Aqui deixo dois exemplos, em jeito de homenagem.


A BIBLIOTECA DA FACULDADE DE LETRAS

A minha vida entre 1981 e 1985 foi marcada por três sítios:

O bar da faculdade;

A associação de estudantes;

A biblioteca central.

Por razões que agora não interessam, criou-se o falsíssimo mito entre os amigos que eu era uma espécie de monge eremita, refugiado na biblioteca, onde ía acumulando fichas de leitura e apontamentos para investigações em preparação. Porque estava fadado a "fazer carreira" e patati-patata.

Não tendo sido verdade nada disso - nem o eremitério nem a carreira - é um facto que esta foi a primeira das bibliotecas da minha vida de investigação. Um sítio inesquecível. Onde trabalhava sempre de costas para o janelão grande, para não me distrair. Essa parte é verdade.




quinta-feira, 11 de agosto de 2022

JUVENTUDE NOS MONUMENTOS

Gosto do grafismo do cartaz.

E gosto do motivo no centro do cartaz.

Para os de 19/29 (e para os outros, claro) a palavra de ordem é:

TODOS AOS MONUMENTOS, JÁ!

quarta-feira, 10 de agosto de 2022

FERNANDO CHALANA (1959-2022)

Estava, há tempos, gravemente doente e retirado da vida pública. Desapareceu hoje, aos 63 anos.

Lembro-me de o ver jogar quando fui assíduo do Estádio da Luz. Lembro-me de muitas tardes espantosas, e de quase ter pena dos defesas que tinha de defrontar. Num jogo, com o seu poder de drible, sentou várias vezes (de umas cinco me lembro...) um pobre defesa-direito, que já não sabia que fazer. Foi, muitas vezes, jogador a mais para a sua equipa. Perfeitamente genial. E de uma entrega que dava gosto ver.

A sua vida no topo acabou demasiado cedo. Nunca percebi - não é essa a minha área - se a gestão que foi feita do seu início de carreira foi a mais adequada. Começou a jogar na equipa principal aos 17 anos... 

Tornou-se um símbolo do Benfica e do futebol português. Parte demasiado cedo.

MOURA NUM ATLAS ITALIANO DO SÉCULO XVII

Não é a mais rigorosa planta de Moura. Tem nomes trocados e outros inventados. Não adiante muito ao conhecimento das muralhas. Com uma exceção: reafirma a existência de uma linha defensiva antiga, que deveria ser muito precária e que circundava toda a localidade. É um testemunho bonito da fortificação. Não o conhecia. "Dei" com ele durante a visita conduzida pela arq. Margarida Valla à sua exposição "Restauração e a fortificação moderna - Nicolau de Langres e as praças do Alentejo".

O original, da autoria de Lorenzo Possi, está no Museo Galileo, em Florença. Pode ser consultado online: https://opac.museogalileo.it/imss/resource?uri=301911&v=l&dcnr=7


terça-feira, 9 de agosto de 2022

RAZÕES PARA AMAR PORTUGAL: MAIS UM EPISÓDIO

O metro até pode só aparecer de 10 em 10 minutos. Até pode andar a abarrotar. Em troca, temos citações de Deleuze, de Heraclito e de Nietzsche nas paredes. É o toque de classe final a caminho da Reboleira ou de Santa Apolónia.

Como diria, se é que não disse já, Pedro Chagas Freitas, "Portugal é do caraças".








segunda-feira, 8 de agosto de 2022

LI - CRÓNICAS OLISIPONENSES: PANORÂMICO DE MONSANTO

Regressei ontem, passados 29 anos, ao Panorâmico de Monsanto. O edifício é usado como miradouro sobre Lisboa. À hora do almoço andavam(os) por ali umas 15 ou 20 pessoas. Estrangeiras, na quase totalidade.

Um trabalho fotográfico de Francisco Seixas compara, com eficácia antes e depoishttps://www.memoriasdelisboa.pt/?foto=panoramicomonsanto

O edifício é uma quase ruína e isso só me causa espanto e aquela dor de vivermos num País que deixa de lado tanta coisa que vale a pena e tem potencial. O Panorâmico de Monsanto foi projeto de um discreto arquiteto camarário, Carlos Oldemiro Chaves Costa (1922-1990), e é uma obra da qual sempre gostei.

Não percebo como é um que sítio tão fascinante, e com a vista que tem, pode estar como está...