A entrevista de Magalhães e Silva é interessante, por nos dar uma imagem dos corredores do poder a partir de dentro. Vale a pena a leitura de uma ponta à outra.
Gostei, em especial, desta passagem.
A entrevista de Magalhães e Silva é interessante, por nos dar uma imagem dos corredores do poder a partir de dentro. Vale a pena a leitura de uma ponta à outra.
Gostei, em especial, desta passagem.
Ontem, às 12:34, passou este barco junto à praia. Olhando para ele, estava a ver o sul.
Em linha reta:
394 km. - praia de Ain Sebaa (Marrocos), que fica mais perto do que Aveiro.
3580 km. - Greenville (Libéria)
8270 km. - Tristão da Cunha, um dos sítios mais solitários do planeta.
Outra praia. Menos lúdica, certamente. Mas não menos importante. Uma obra de Júlio Pomar, com quase 70 anos.
Reproduzo, do site do Centro de Arte Moderna / Fundação Calouste Gulbenkian:
A preocupação do movimento neo-realista com o acesso do povo à arte levou a que certos meios artísticos, como a gravura e o mural, fossem alvo de especial atenção, já que a primeira permitia uma maior difusão devido à sua reprodução técnica e o segundo permitia uma contemplação de massas e a saída da arte dos seus circuitos tradicionais. Contudo, devido ao contexto ditatorial português, o neo-realismo teve poucas possibilidades de expressão através da pintura mural, já que esta dependia de encomendas e ficava posteriormente sujeita à censura. A tapeçaria apresentava-se, assim, como uma alternativa possível.
Nesta tapeçaria realizada em 1953 Júlio Pomar regressa ao tema do mar, presente em várias das suas pinturas e gravuras. Numa linguagem pós-cubista com afinidades com Almada Negreiros, as formas resolvem-se em volumes geométricos, de contornos nítidos e onde a cor é parte crucial na definição dos volumes e na animação geral da composição. Em primeiro plano observamos duas personagens sobre o areal, em segundo plano um barco e formas piramidais e em terceiro plano as ondas do mar. As ligar e fundir os diversos planos, encontramos elementos decorativos e rimas entre os diversos tons empregues: uma meia lua cuja cor se sintoniza com o amarelo da areia, flores ou estrelas do mar sobre a mancha de azul que desce em diagonal sobre a personagem da esquerda, o ritmo das manchas de azul a dinamizar a horizontalidade de composição.
Porém, se compararmos esta tapeçaria, por exemplo, com o óleo de 1950 Mulheres na Praia (também pertencente à colecção do CAM), apercebemo-nos que a carga dramática que permeava as suas obras anteriores é aqui substituída por um decorativismo mais ameno. Nas palavras do próprio autor, esta fase da sua produção neo-realista caíra num “lirismo complacente”, onde a “procura das soluções formais começa a sobrepor-se ao vigor do conteúdo”.* Rostos e paisagens não contêm já a mesma urgência de denúncia social e política, não obstante o alheamento da expressão facial. Todavia, entre a forma semicircular colocada sobre a personagem da esquerda e a estrela recuada no canto superior direito podemos sempre ler um símbolo político camuflado. Para quem assim o queira interpretar.
* Júlio Pomar, “A tendência para um novo realismo entre os novos pintores” in O Comércio do Porto, 22.12.1953. Texto consultado em A Arte Portuguesa nos Anos 50, Beja, Câmara Municipal, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1992, p. 49
Luísa Cardoso (Fevereiro de 2015)
Um chapéu de sol, pintado em 1971, por David Hockney (n. 1937). Diverti-me a pensar que, por essa altura, tínhamos um igual lá em casa. Um chapéu, não um Hockney, bem entendido...
Este Umbrella beach foi vendido, em 2016, na Christie's, por mais de três milhões de libras.
A imagem de cima é a mais recente (2022), a de baixo evidentemente a mais antiga (1999). Entre a exposição de Tânger e a inauguração do Museu do Tesouro Real passaram 23 anos. Uma bagatela...
Da Comissão dos Descobrimentos, Pedro Moreira passou para a EGEAC, daí para o Turismo de Lisboa. Regressa agora à EGEAC, para um merecido lugar de topo.
Capacidade de trabalho, pragmatismo, conhecimento e seriedade, eis o novo presidente. Toda a sorte do mundo, Pedro.
Deliberadamente não se mostra o interior dos banhos islâmicos de Loulé. É importante que se veja o resultado desta recuperação. É crucial que se vá ao local. E se perceba como uma "ruína" se converte num poderoso elemento pedagógico ao serviço da comunidade.
Os banhos islâmicos são uma recuperação exemplar? Sim. Um projeto de grande qualidade dos arquitetos Sofia Aleixo e Victor Mestre. É mais fácil criticar e "dizer mal"? É. Não vou por aí.
À boleia do site do Museu Nacional de Arte Contemporânea, dirigido pela minha amiga Emília Ferreira:
A Manuela partiu ontem. Hoje foi o dia da despedida. Triste e silencioso, como são sempre estes dias.
Deixou-nos uma mulher sensível, de extraordinária inteligência e cultura. O olhar vivo substituía, amiúde, o atento silêncio que era o dela. A fina ironia da Manuela, aliada a palavras certeiras, sempre me impressionou. Confesso que, nos primeiros tempos, me intimidava bastante.
Ao longo de muitos anos, algo como 40, fui conhecendo a Manuela (entreguei-lhe mesmo textos para avaliação, que me foram devolvidos com sábias críticas e anotações), num crescendo de respeito e de admiração.
Fez uma brilhante carreira de investigação, reconhecida pelos seus pares e nos sítios por onde passou. A homenagem de Miranda do Douro, pelo seu trabalho em prol da língua mirandesa, é disso exemplo claro.
Uma mulher do Mediterrâneo, naquele sentido em que toda a casa e a família giravam em seu torno.
Não há insubstituíveis? Há. A Manuela é insubstituível. Tenho essa certeza.
Aqui reproduzo um texto publicado neste mesmo blogue em 10 de fevereiro de 2014:
Hoje acordei na busca de algo de sublime que me fizesse acordar contente por acordar. Algo entre o ‘já não’ e o ‘ainda não’. Por exemplo, não ser bébé e já não fazer xixi na cama e ainda não ser tão velha que faça xixi na cama. Mas não tive tempo para ficar contente: daqui a pouco a rápida manhã de dedos de rosa encosta-se à tarde e a rapidíssima tarde de dedos de sombra encosta-se à noite cheia de lâmpadas. Felizmente já não e ainda não tenho de escolher entre luz de cera, luz de azeite e luz de petróleo. Nesse tempo que aí vem com passos de coelho, escolherei, dado já não haver fósforos, pirilampos debaixo de um copo.
Thalassa! Thalassa! (O mar! O mar!), clamaram os soldados gregos comandados por Xenofonte ao chegarem ao Ponto Euxino.
É esse o ponto de partida para a exposição a organizar em colaboração com a CULTURGEST, que já anunciou a iniciativa no seu site:
https://www.culturgest.pt/pt/programacao/thalassa-thalassa/?typology=4
A exposição de homenagem a Sophia de Mello Breyner Andresen conta ainda com a colaboração da Embaixada da Grécia.
A partir de dia 25 de outubro, no Panteão Nacional.
Maria de Lurdes Pintasilgo arrancou como favorita, mas o resultado final foi um desapontamento. Obteve 7,38% dos votos e ficou em quarto lugar. Participei ativamente na campanha e votei, sem hesitações nem lamentos, em Mário Soares, na segunda volta.
Esse tempo ido reavivou-se hoje de manhã, ao ser conduzido por Maria Antónia Pinto de Matos numa visita à exposição que o Museu da Presidência dedicou à antiga primeira-ministra.
No final só me ficou uma dúvida, que prometi tentar esclarecer. A fotografia oficial de campanha é tida como "de autor desconhecido". Iria jurar que o retrato é de António Homem Cardoso. Sei que o semanário "O Jornal" dedicou um texto a estes aspetos e identifica quem fotografou. Mas falta-me o tempo para uma investigação tão precisa...
De início, correu muito bem. Ante um serviço de táxis com muitas insuficiências, estas plataformas começaram por garantir um serviço com qualidade, e a bons preços.
Depois, aconteceu uma coisa muito simples: os táxis subiram (e muito) a qualidade do serviço, os ubers e bolts são agora uma perfeita desgraça. Nem preços, nem resposta, nem nada. No outro dia, tive de ensinar o caminho a um pobre infeliz a quem o gps deixara de funcionar. Que isto de conhecer Lisboa não é com eles.
Estou de regresso aos táxis.
A apropriação cultural é o mais recente logro do "politicamente correto". Levado aos extremos da histeria. Não podemos utilizar elementos de outra cultura, porque nos estamos a "apropriar". Do ponto de vista pessoal, estou-me nas tintas se um esquimó usa capote alentejano ou se um nigerino canta o fado. Ao contrário, se se "apropriam" de algo que é intrinsecamente da minha cultura, vejo isso como interessante e salutar.
Já agora, e a propósito de "apropriações culturais": têm a certeza que os tecidos e padrões tidos como africanos - que uso, apropriando-me do que gosto e do que acho bonito - são mesmo africanos?
Decorreram, até há pouco, escavações arqueológicas nos terrenos do antigo Convento do Carmo, em Moura.
Sem entrar em detalhes sobre os trabalhos, que serão objeto de publicação próprias, quando tal for oportuno, deixo aqui duas ou três ideias. Que decorrem do meu conhecimento do sítio e que se reportam temas genéricos.
Em primeiro lugar, deve sublinhar-se a importância religiosa do sítio. Há a memória de uma ermida (eventualmente alto-medieval), que se situava a curta distância da atual igreja do Carmo. O templo atual tem pouco a ver com a obra do gótico alentejano que Duarte Darmas desenhou no início do século XVI. O enriquecimento do convento, proporcionado pelas propriedades que detinha na região, criou condições para sucessivas obras de expansão.
Há, em segundo lugar, que destacar a proximidade do cemitério islâmico, ao qual se sucedeu o bairro da Mouraria. Em 1970, foram acidentalmente escavadas várias sepulturas, na Rua da Estalagem, a cerca de 100 metros do adro do Carmo.
Deve, finalmente, ser sublinhada a ocupação agrária do espaço perirubano.
O local onde o convento foi construído é uma vasta plataforma com um ligeiro declive em direção a norte. Toda essa zona beneficiou das águas que saíam do castelo e que irrigaram as hortas em seu redor. No período islâmico haveria aí várias munyas, como o parecem atestar os materiais cerâmicos descobertos em tempos na Rua do Sete e Meio, assim como uma moeda de Hisham II encontrada na mesma área. Não sendo um "arrabalde" de Moura, poderia ser local de fixação de algumas famílias, que aí viveriam em pequenos casais.
Deixo aqui os sítios onde estão disponíveis um artigo (1993) e um livro (2013 e 2016) que lançam pistas sobre estas matérias:
https://www.camertola.pt/sites/default/files/Arqueologia%20medieval%202.pdf
http://www.santiagomacias.org/publi.php?livros
Ouço isto muitas vezes, como se ser a preto e branco fosse um sinónimo de qualidade. Ou seja, é melhor porque é diferente da realidade.
Pobres Davids, Alan Harvey e LaChapelle, só pra recordar dois usos vibrantes da cor.
Gosto de preto e branco? Sim, tal como gosto da cor.
Cada vez mais atividade rotineira.
Cada vez mais despesa corrente.
Cada vez mais autarcas "penhorados com a visita de Vexa. Senhor Ministro".
Cada vez mais a menoridade face ao Terreiro do Paço.
O Poder Local foi uma das mais belas e decisivas (re)criações do 25 de abril. Começa a decair às mãos do centralismo burocrático e cinzento do Terreiro do Paço.
Podem limpar as mãos à parede.
A fotografia de Paulo Cunha (LUSA) é extraordinária. Tem sido glosada, nem sempre de forma feliz. A imagem é poderosa e quase biblicamente simbólica.
Uma coisa é certa (e secundo uma velha amiga): isto dava um anúncio fantástico para a LEVI'S. Mas o estilo publicitário seria mais o do célebre Oliviero Toscani.
O Coro Gulbenkian volta ao Panteão. O concerto do ano passado foi um assinalável sucesso e teve transmissão televisiva.
Este ano, já em quase-pós-pandemia, regressamos a um modelo que garante mais público. Prevemos 500 lugares. E, naturalmente, prevemos também lotação esgotada.
Informações: https://gulbenkian.pt/musica/agenda/dialogos-improvaveis-no-panteao-2/
Moura é uma fortaleza de fronteira. Está incluída no Livro das Fortalezas de Duarte Darmas. O Castelo de Moura continua a ser um dos meus temas de estudo, tendo sido tema principal de dois livros sobre as escavações arqueológicas em curso e, indiretamente, de um outro sobre a Mouraria. Está ainda presente no recém publicado trabalho sobre Duarte Darmas:
http://www.santiagomacias.org/publi.php?livros
http://www.santiagomacias.org/PUBL/LIVROS/mouraria.pdf
http://duartedarmas.com/livro.php
Deste último retirei o excerto referente a uma das minhas terras. A divulgação dos sítios começa pelo seu conhecimento. O pecurso não é o inverso.
Encerra-se amanhã outro ciclo. Que teve por objetivo dar a conhecer seis teses de mestrado, que irão ser publicadas. Porque o conhecimento dos sítios é decisivo para se preparar a sua futura proteção.
Os meses de agosto e setembro serão um pouco mais calmos. Teremos apenas quatro iniciativas, embora duas delas sejam de maior dimensão.
Mais uma cara, esta à boleia do projeto Duarte Darmas. Fotografada em Olivença em junho de 2021. Fica na Porta do Calvário, onde outrora existiu uma pequena capela.
A luminosa música de Fernando Lopes-Graça (1906-1994) encontrou as não menos luminosas palavras de José Gomes Ferreira (1900-1985). Acordai!, dá hoje vontade de dizer. Há imensa gente quieta e a dormir. Não é aqui ou ali. É por toda a parte. Acordai!
O filme é fraquíssimo, mas tem um par de achados. Desde logo o destaque dado a Moura...
Mas o melhor momento de "O rei das Berlengas" é quando o Marquês de Pombal abre uma caixa de bolos, se aproxima de uma jaula e oferece um doce a um leão: "vamos lá comer um jesuíta". O alentejano Artur Semedo foi um daqueles talentos desperdiçados ao melhor estilo lusitano.
A popular ligação do marquês à imagem do leão é, contudo, recente e resulta da estátua, da autoria de Francisco dos Santos (1878-1930), existente em Lisboa.
Penso sempre que os livros ficam terminados mais cedo do que efetivamente acontece. Depois, desespero-me e impaciento-me. Depois, os trabalhos lá vão sendo acabados.
O ano de 2022 vai ser o término dos otimismos. Não porque vá deixar de traço metas irrealistas. Mas porque vários adiamentos vão ver o seu final. Resuma-se o ano, entre antes e depois:
Duarte Darmas - √
Pantheon & Panteão - √
Thalassa! Thalassa! - outubro
Um outro, sobre património arquitetónico, viu o texto ser terminado ontem.
Há um outro ainda, cuja equipa integro, que também verá a luz do dia antes do final do ano.
Mais irrealidades estão já a ser preparadas para 2023...
Termina depois de amanhã o primeiro ciclo "Música no Panteão", com direção artística do Prof. Paulo Amorim (Conservatório Nacional). Foi uma das formas pensadas para, de forma consequente, criar uma programação, construir um público e relançar o monumento, em termos públicos.
Nove concertos volvidos - no meio de outras iniciativas - deram resposta ao desafio.
A programação 2022/23 está a ser construída. Em outubro serão retomados os concertos.
Surgiu há dias, numa rede social, a pergunta "onde está o carro da rega?". Esteve, durante muitos anos, perto da entrada do Jardim Dr. Santiago. Lembro-me do carro da rega estar em uso, em 1972 ou 1973. Espalhava água pelas ruas da vila, refrescando o ambiente. Nós vamos atrás. Eram momentos de felicidade encharcada, a que se seguiam, à chegada a casa, outros momentos um pouco mais dolorosos...
Em 2015, o carro da rega foi transportado para a exposição "Água - património de Moura". Que alguns insistiam em chamar museu da água...
No verão de 2017, a exposição terminou. O carro da rega devia ter regressado ao ponto de origem no outono seguinte.
Porque não regressou? Não faço ideia. Responda quem de direito.
O filme é um conto de fadas simpático, com um argumento risível. "Vive" de dois grandes atores, Omar Sy e Charlotte Gainsbourg.
Como conto de fadas acaba bem. Em pano de fundo, está a tragédia dos migrantes. Mas só mesmo em pano de fundo e perceptível a espaços. Ainda assim, aqueles minutos em torno "dos que estão a mais" são suficientes para deixar um mar de questões.
Era assim e já não é. Na imagem está o edifício onde outrora funcionou a fábrica de pirolitos. Fica/ficava na esquina da Rua D. João I com a Rua Cardeal Lacerda, em Moura, a cerca de 100 metros da casa do meu avô. A cara que ali se via foi eliminada por obras recentes.
1962 e 1975.
Dias de festa para dois países. Dias que foram importantes, por diferentes razões, para a nossa própria liberdade. Porque a luta que travaram teve reflexos no nosso processo de tomada de consciência quanto à crucial importância da luta contra o colonialismo e contra a opressão.
Máquina de arrasar, verdadeiramente
A expressão foi criada pelo poeta satírico Juvenal, no início do século II. Quase dois mil anos volvidos, continua atual.
Quando não há um propósito político, nem trabalho de fundo ou serviço público, distraem-se as pessoas oferecendo-lhes pão (comida) e circo (diversão).
Essa política de paliativos tem limites. Os imperadores romanos que a promoveram acabaram mal. Os decisores atuais que a praticam têm vida política curta. Felizmente, na maior parte dos casos.