Início de uma longa série de 20 (vinte) textos sobre museus e a sua relação com as cidades e onde se situam. E qual a relevância social, cultural e económica que esses museus têm.
O Museu de Moura, depois de décadas com a casa às costas, vai ter o seu espaço próprio. Graças ao empenho de muita gente e ao financiamento comunitário. Uma zona pouco considerada da cidade vai, também, ganhar novo alento.
A entrevista que se segue saiu hoje, no jornal "A Planície".
Em
que consiste a intervenção no antigo Matadouro, que visa transformar aquele
espaço no novo Museu Municipal?
Não é só um
museu que aqui está em causa. A intervenção envolve o edifício do antigo Matadouro,
mas também toda a zona à sua volta. Repare que estamos a falar de um espaço que
estava morto para a cidade. Entre a Mouraria e a urbanização do Rio da Roda
havia uma terra de ninguém. O edifício estava sem uso, não havia passeios e a
circulação dos peões fazia-se de forma precária.
O espaço do Matadouro
em si acolherá a área de exposição do museu, os serviços de apoio e a equipa de
arqueologia. Deixa-se de trabalhar em áreas improvisadas e passa-se a fazê-lo
em condições.
Qual
o motivo da escolha desta localização e espaço, para instalar o novo Museu
Municipal?
Não houve
exatamente “um motivo de escolha”. Quando começámos a trabalhar, em 2007/2008,
no plano de reabilitação de espaços do centro histórico de Moura, havia um
princípio que nos norteava: o de tirar partido de edifícios de qualidade e de
os reutilizar. Temos nesta terra uma arquitetura de extraordinária qualidade.
Não se deve, a nosso ver, andar a fazer de novo só por exibicionismo ou
vaidade. Por isso tomámos como ponto de partida edifícios já existentes para
neles serem colocados coisas novas. Quer exemplos? O espaço internet no Pátio
dos Rolins, o centro de joalharia no antigo quartel dos bombeiros, a
reabilitação do antigo Café Cantinho como conservatório, a criação de uma área
multiusos na igreja do Espírito Santo (outrora em ruínas) ou, mais
recentemente, a recuperação dos Quartéis. Podemos juntar as estas intervenções
a adaptação de um quintal a Jardim das Oliveiras ou o lançamento de projetos
como o da Biblioteca no edifício do Grémio da Lavoura. Este último só não
começou a ser concretizado porque insuperáveis problemas financeiros nos
impedem de o fazer, agora. Mas é um dos nossos próximos objetivos.
Em resumo, a
escolha não é fruto de um capricho ou de um acaso. Resulta, sim, de um plano de
trabalho que ganhou, com o tempo, corpo e solidez. E que muito deve à
intervenção do arq. João Maria Trindade, autor do projeto de reabilitação do
edifício e a da intervenção nos espaços exteriores.
Que
valências irão resultar desta intervenção no antigo Matadouro?
São várias. Um
museu não é só uma exposição. Ou um conjunto de peças. Já não falo no poder do
marketing que envolve muitos projetos deste género. Ou na exportação de “selos”
como o nome de Guggenheim. Mesmo a uma escala mais pequena, sem grande esforço
financeiro, é possível criar produtos que sejam a marca da diferença.
Precisamos que as exposições - peça essencial num museu como o de Moura – se
aliem a uma política de comunicação eficaz. E precisamos de dar espaço à
investigação. Gostaria de sublinhar que o Museu de Moura tem nas suas diversas
componentes, que incluem a arqueologia, técnicos qualificados que levarão o
projeto a bom porto. E que lhe saberão dar um rumo, de forma autónoma.
Qual
o valor do investimento que está a ser realizado neste projecto?
Estamos a falar
de cerca de 1.200.000 euros. Recordo que se trata de uma obra que tem um
financiamento comunitário de 85%. Ou seja, a parte do município é de cerca de
180.000 euros
Não faltarão os
demagogos e os especialistas-de-vão-de-escada que aparecem, regularmente, a
contestar este tipo de intervenções. Tínhamos, como alternativa, deixar
edifícios importantes da nossa cidade em ruínas e abandonados à sua sorte. Não
é essa, nem será, a opção. Teria vergonha de ter passado pela Câmara, primeiro
como vereador e agora como presidente, sem tentar concretizar uma política de
intervenções com este fôlego. Porque não podemos deixar de o fazer.
Quando
se prevê que a obra esteja concluída e que o novo Museu inicie a sua
actividade?
A obra tem duas
fases. Esta estará terminada, no essencial, no final do ano. A primeira
exposição do novo museu deverá abrir as portas no outono de 2015. Esperamos dar
depois seguimento ao projeto. Que tem um razoável grau de complexidade e que
teve vários contratempos. Em todo o caso, não será o facto da obra não estar
terminada a 100% que impedirá o seu uso.
O arranque é um
momento importante de afirmação. Nesse sentido, apostamos num projeto original que
agregue a História, a Arqueologia, a Geologia, a Antropologia, a Música...
Tema? A água. Temos exemplos abundantes para todos os domínios que acabo de
referir. Sabia, por exemplo, que Alfredo Keil, o autor do nosso Hino Nacional,
compôs uma valsa dedicada à Moura Salúquia, encomendada pela empresa da Água
Castello?
A procura de
caminhos originais é essencial. É assim que pensamos fazer.
O que
trará de novo este espaço à cidade?
Mais vida,
esperamos nós. E acreditamos nós. Como já terá reparado, temos nesta altura
muito mais visitantes em Moura. As pessoas procuram a diferença. É difícil para
quem vem de fora não reparar na nova cara do castelo de Moura, ou no feliz
resultado da obra dos Quartéis ou na beleza da Mouraria. Este bairro tem, à
noite, um charme muito particular. Quem andar por aí reparará nos estrangeiros
que por lá passeiam. Não são muitos? Ainda não. Mas o número de visitantes deu
um salto significativo. E penso que é na criação de tópicos de inovação que
reside a chave do nosso futuro.
Junto
ao Matadouro, estava também prevista a instalação da gare de Moura, esta será
uma obra para avançar a curto ou médio prazo?
De momento, não
é essa a opção. Quando o processo arrancou, em 2008, havia ainda um
financiamento de 90% para este tipo de equipamentos. As regras do jogo mudaram
e nós temos de nos adaptar. Enquanto durarem os constrangimentos financeiros
que temos, as opções à nossa frente são duas: ou concretizamos o terminal
rodoviário no terreno junto aos cortes de ténis ou o fazemos na antiga estação
da CP. Quais as condicionantes? A primeira hipótese situa-se num terreno
camarário mas custa cerca de 600.000 euros. A segunda é menos cara, qualquer
coisa à volta dos 250.000, mas o edifício não é nosso. Abrimos um processo
negocial com a REFER e iremos passar os próximos meses à volta deste dossiê. Em
qualquer dos casos, iremos necessitar de financiamento comunitário.