Foi o mais bizarro ano destes 57 que conheci. Um tempo inclassificável. E, no entanto, nada o faria prever. A capacidade de adaptação que todos temos é espantosa. Em março fui para casa. Em junho regressei a 100%. No final desse mês comecei um levantamento fotográfico concluído em outubro. Foram meses de bisonha solidão. Mas o trabalho fez-se. Terminaram-se livros, concluíram-se exposições. Dei aulas e fui trabalhando. A vida é menos divertida que antes? Muito menos. Faltam-me as festas e as romarias, as corridas de touros e os jantares com os forcados. A ópera e o cinema. As saídas sem máscara. Andar na rua. Isto vai ter de terminar. Ou em autómatos nos tornaremos.
O que destaco no meu ano de 2020? Foi um ano muito profissional. Centrado em projetos de trabalho. As alternativas eram poucas.
Janeiro
Arguição de uma tese de doutoramento na Universidade Nova. Um momento que fez parte de um percurso retomado em final de outubro de 2017.
QUARTA-FEIRA, 22 DE JANEIRO DE 2020
DIA DE TESE
Safim e a aventura colonial portuguesa no norte de África foram a minha companhia nos últimos dias. Virar de página. Outras coisas se aproximam.
(gosto em especial que o traje académico de Letras, em França, seja amarelo e preto, as cores de uma das minhas terras; a fotografia, com a luz detrás, fez-me lembrar uma música dos Pink Floyd...).
Fevereiro
Ida a Silves, para a derradeira viagem da exposição "Caligrafias". Um caminho iniciado em finais de 2017 e que em 2020 se concluiu.
DOMINGO, 9 DE FEVEREIRO DE 2020
PELA TARDE DE SILVES
As caligrafias estarão por Silves até ao próximo dia 12 de abril.
Março
Subitamente, tudo mudou. O mundo começava a parar. De uma forma que não se imaginaria. Recordo-me de ir dar aula e dizer "para a semana, não estaremos aqui". Não voltei a ver os alunos pessoalmente.
SEXTA-FEIRA, 13 DE MARÇO DE 2020
UM POUCO DE UM DESNECESSÁRIO AGOSTO EM MARÇO...
A Faculdade fecha na segunda e só abrirá no final do mês. Acho que será depois, mas isso agora é irrelevante.
Os adiamentos sucedem-se:
12 - adiada reunião na Câmara Municipal de Lisboa
14 - adiada a visita à Lisboa Islâmica
14 - adiado o lançamento de um livro
19 - adiada reunião na Caixa Geral de Depósitos
21 - adiado o concerto no CCB
31 - adiada uma conferência no Gabinete de Estudos Olisiponenses
Creio que não ficará por aqui.
Abril
À falta de melhor, e fechado em casa, resolvo falar sobre o Património de Moura. Para minha enorme surpresa, quando aquilo acaba, tenho mais de 6.000 (!) visualizações.
QUINTA-FEIRA, 30 DE ABRIL DE 2020
PATRIMÓNIO DE MOURA X 6.000
No início de abril comprei dois meses de "zoom". Era a maneira mais prática de continuar a dar as aulas. O método funciona, ainda que saiba a pouco. É um pouco como aquelas rodas estreitinhas que os carros agora têm quando temos um furo. Dão para desenrascar.
Resolvi aproveitar o zoom, o trabalho acumulado sobre Moura e projetos em curso para quatro curtas conversas à volta do Património. Tive a surpresa de contar, ao todo, com mais de 6.000 visualizações. Esperava umas centenas, vá que chegasse ao milhar.
O mérito não é meu, é da terra. E dos que lá nasceram ou vivem e que gostam de Moura. E do interesse que os temas suscitam.
Aqui ficam os links e os temas:
COMO DUARTE DARMAS VIU MOURA EM 1510
https://www.facebook.com/santiago.macias.58/videos/10217653092060859/
A MOURARIA DE MOURA
https://www.facebook.com/santiago.macias.58/videos/10217722009183744/
AS MURALHAS MODERNAS DE MOURA
https://www.facebook.com/santiago.macias.58/videos/10217799001228497/
DA PRATA DA ADIÇA À MOURA SALÚQUIA
https://www.facebook.com/santiago.macias.58/videos/10217871808568635/
DOMINGO, 24 DE MAIO DE 2020
MÚSICA GUINEENSE
Marjen di riu i un tapadu di tarafi. Marjen di riu i un linha ki ka kortadu. Tris ora dipus di ianda na iagu na metadi di tarafi, di seu fungulidu ku di mar fungulidu, barku tchiga Bulama. Na mar no ka na odja sidadi. No na odja son puntu, ku pekaduris manga del suma kakris na kabas.
Pensada em 2012, anunciada em abril de 2013, está perto do final esta saga teimosa sobre Bolama. Há dias, um escritor guineense, Geraldo Marinho Pina, enviou-me a tradução do texto. Vamos ao financiamento do que falta.
Junho
Foi tempo de recordar prémios recebidos pelo Museu de Moura em 2016 e em 2017.
TERÇA-FEIRA, 30 DE JUNHO DE 2020
JUNHO, MÊS DE MUSEUS
No próximo ano letivo, irei explicar, em Moura, aos alunos do Mestrado em Património quais as possíveis opções ante os recursos que temos. Como se fez a intervenção na arqueologia e nos museus 💗💗💗, áreas onde trabalho há 35 anos (esta parte custa a escrever...). Em especial, há um aspeto que importa frisar. Não há caminhos únicos, não há projetos "exemplares" nem há exemplos a seguir. Há, sim, esforço e a procura da originalidade a partir do território.
Julho
O "Público" pediu-me um testemunho sobre a reconversão da basílica de Santa Sofia. Vim depois, a constatar, não sem surpresa, que o texto era menos pacífico do que eu suporia. É a vida...
DOMINGO, 19 DE JULHO DE 2020
QUANDO O PATRIMÓNIO É ARMA POLÍTICA
Agosto
Em meados de agosto fechava-se a lista de apoios a este projeto. O verão e o outono forma passados numa incessante recolha de imagens.
QUINTA-FEIRA, 13 DE AGOSTO DE 2020
DUARTE DARMAS - O SITE E OS APOIOS
Setembro
Ainda sob o signo do Património. O mês de setembro veria chegar ao fim o processo de deliberação em torno do Prémio Vilalva. Não tivemos granes dúvidas, sobretudo depois da visita ao local.
SEGUNDA-FEIRA, 21 DE SETEMBRO DE 2020
RESTAURO DA IGREJA DE SANTA ISABEL, EM LISBOA, VENCE PRÉMIO VILALVA
A notícia foi hoje divulgada. O Prémio Vilalva é atribuído ao restauro de um igreja em Lisboa.
O júri salientou ainda:
A espetacularidade e requinte estético do projeto de pintura de Michael Biberstein (na foto), que cobre a totalidade da abóbada. Trata-se de uma das mais notáveis intervenções da arte contemporânea numa arquitetura clássica, concretizada depois da morte do pintor com o acompanhamento do artista Julião Sarmento e do curador Delfim Sardo;
A pluridisciplinaridade e elevadíssimo nível de qualificação da equipa (coordenada pelo Padre J.M. Pereira de Almeida e pelo Arq. João Appleton) que tem procedido aos trabalhos, potenciando saberes da engenharia, da conservação e restauro, da história da arte, do design de equipamentos e da arte contemporânea;
A metodologia de intervenção em faseamentos sucessivos que, em 2020, se concentram na valorização do altar inicial da Igreja e na criação de novo mobiliário litúrgico.
O júri decidiu ainda atribuir uma menção honrosa ao projeto de reconversão e reabilitação do Prédio na Rua da Boavista, 69, também em Lisboa. A decisão, de acordo com o júri, justifica-se pela qualidade do projeto de reconversão e reabilitação de um prédio que será de fundação fino-setecentista e pelo empenho dos arquitetos Filipa Pedro e Paulo Pedro na recuperação e recriação de diversos elementos construtivos e decorativos do edifício inicial ou das sucessivas fases da sua historicidade.
Ver - https://gulbenkian.pt/noticias/restauro-da-igreja-de-santa-isabel-em-lisboa-vence-premio-vilalva/
Outubro
Conclusão de mais um processo "longo". Depois de quase 5 anos de avanços e recuos, era inaugurada na Sé Patriarcal a exposição "Moita Macedo - diálogo na Sé". Por razões que agora não vêm ao caso, foi também um saboroso ajuste de contas com um passado próximo.
SEXTA-FEIRA, 23 DE OUTUBRO DE 2020
MOITA MACEDO - DIÁLOGO NA SÉ
"Moita Macedo - diálogo na Sé" é o título da exposição que pode ser vista na Sé de Lisboa, entre 27 de outubro e 29 de janeiro de 2021.
O projeto, que arrancou em 2013 ou em 2014 (foi anunciado aqui no blogue como "recente" em 22 de março de 2015). Não é que seja complicado, do ponto de vista técnico. É um projeto bem fácil, diga-se de passagem... O pior foi lidar com o Sr. Cronos. E, ultimamente, com a Pandemia. E com outras limitações. Mas o projeto está terminado, haverá exposição e catálogo. A partir de dia 27 de outubro, na sala do tesouro da Sé Patriarcal.
O catálogo, que também coordenei, tem textos de D. Manuel Clemente, do Pe. Vítor Melícias e do autor do blogue. As fotografias, de grande qualidade, são de Fábio Moreira, que fez impossíveis, tendo em conta as difíceis condições de trabalho.
Do meu texto para o catálogo:
Os tons nacarados do algumas das suas obras parecem ter sido pensados para o ambiente operático do tesouro da Sé Patriarcal. Vermelhos cardinalícios, ouro e prata estão perto da cor das pinturas de Moita Macedo. Tal como Cristo Crucificado pertence a este sítio. Foi esse jogo, de temas, de cores, de evocações, de palavras que ecoam na Catedral, que quisemos criar e dele fazer diálogo.
Novembro
Dois anos passados (o processo tiver início em novembro de 2018), abria finalmente ao público a exposição sobre os mártires de Marrocos. À medida que o ano caminhava para o final, ganhar a sensação de ser um tempo de viragem. Muitos processos concluídos, pensando já noutros tantos para o futuro.
QUINTA-FEIRA, 19 DE NOVEMBRO DE 2020
FINALMENTE, "GUERREIROS E MÁRTIRES"
Uma longa e sinuosa estrada, desde a primeira proposta, enviada ao Diretor do Museu Nacional de Arte Antiga, no outono de 2018.
A partir do martírio de cinco frades franciscanos, ocorrido em janeiro de 1220, construiu-se um projeto ao qual se deu o subtítulo A Cristandade e o Islão na formação de Portugal.
São mais de 200 peças, com as quais se tenta enquadrar uma época, a partir do que aconteceu em Marrakech.
A exposição está muito bonita, mas esse mérito é da Manuela Fernandes e da Sónia Teixeira Pinto, não dos comissários.
A inauguração foi hoje tarde, presidida pela Ministra da Cultura.
Dezembro
Termina o ano com um texto sobre Mértola. Há regressos a que não se escapa, nem quer escapar.
SÁBADO, 26 DE DEZEMBRO DE 2020
REVISTA PATRIMÓNIO: UM TEXTO SOBRE MÉRTOLA
Verdade se diga que ainda não vi a revista. Recebi um mail do Manuel Lacerda avisando que, depois de inúmeros constrangimentos devido à COVID, saiu finalmente o nº. 7 da Revista Património, uma edição da Direção-Geral do património Cultural. Fui, há meses, convidado para escrever sobre Mértola. A abordagem é marcadamente impressionista, como tudo o que se passou (falo do ponto de vista pessoal) ao longo destes quase 40 anos. Pouca teorização, muita atuação de terreno. Muitos textos, exposições, livros e permanente interação.
Foi assim e assim será.