quarta-feira, 29 de junho de 2011

SECRETÁRIA DE ESTADO DO TURISMO

Nos membros do novo governo há quem me mereça simpatia: como, por exemplo, Cecília Meireles. Neste caso, por causa do nome (v. aqui), com passagens frequentes por este blogue.


Fotografia de Ansel Adams

terça-feira, 28 de junho de 2011

AS YOU LIKE IT




All the world's a stage,
And all the men and women merely players:
They have their exits and their entrances;
And one man in his time plays many parts,
His acts being seven ages. At first the infant,
Mewling and puking in the nurse's arms.
And then the whining school-boy, with his satchel
And shining morning face, creeping like snail
Unwillingly to school. And then the lover,
Sighing like furnace, with a woeful ballad
Made to his mistress' eyebrow. Then a soldier,
Full of strange oaths and bearded like the pard,
Jealous in honour, sudden and quick in quarrel,
Seeking the bubble reputation
Even in the cannon's mouth. And then the justice,
In fair round belly with good capon lined,
With eyes severe and beard of formal cut,
Full of wise saws and modern instances;
And so he plays his part. The sixth age shifts
Into the lean and slipper'd pantaloon,
With spectacles on nose and pouch on side,
His youthful hose, well saved, a world too wide
For his shrunk shank; and his big manly voice,
Turning again toward childish treble, pipes
And whistles in his sound. Last scene of all,
That ends this strange eventful history,
Is second childishness and mere oblivion,
Sans teeth, sans eyes, sans taste, sans everything.




Uma pintura conhecida, de De Chirico e um fotograma celebérrimo, do filme Morangos Silvestres, do sonho de Isak Borg. Servem-me para enquadrar uma passagem de uma peça de William Shakespeare, que fazia parte do meu livro de inglês do 11º ano e que tem a ver com a passagem do tempo. Pertence à peça As you like it, escrita por volta de 1600. No monólogo, Jacques, raio de coincidência, resume a vida de um homem a sete fases.


A parte engraçada, uma das poucas neste dia, foi a procura de uma tradução portuguesa. Vai de Do jeito que você gosta até Como quiserdes. São títulos que exprimem conceitos bem diferentes. Mas quem disse que tudo tem de ser linear?

segunda-feira, 27 de junho de 2011

SEKOU TOURÉ

Este post sobre Sekou Touré (1922-1984) foi motivado por uma conversa tida ao jantar, no dia 20, com o meu amigo Miguel Urbano Rodrigues. Por várias vezes me tem chamado a atenção para as contradições que, ao longo da vida, presenciamos e vivemos. E para os percursos pouco lineares que seguimos. Num homem há vários homens, diz ele amiúde.

Isso fez-me recordar uma passagem do primeiro volume do seu O tempo e o espaço em que vivi (pp. 233-234):


Sekou surpreendeu-me. Fez um gesto amistoso e informou que podia como jornalista contar com toda a ajuda do seu Governo no desenvolvimento da minha reportagem. Depois, esclareceu que veria com simpatia a vinda para a Guiné dos meus companheiros do "Santa Maria"; (...) Percebi então que me recebera antes do início de uma reunião da Comissão Política. O cenário e o à vontade traduziam, afinal, uma deferência.
(...) Muitos anos depois, quando os crimes da ditadura guineense eram comentados pelos mass media, imagens daquela manhã no Palácio Presidencial de Conakry ganhavam nitidez na memória. Senti sempre dificuldade em perceber os mecanismos da transformação do I Sekou Touré, o sindicalista revolucionário e marxizante, o autor do famoso 'Não' a De Gaulle, o admirador entusiasta de Fidel Castro, no II Sekou Touré, o caudilho primário e cruel cujos últimos anos de governo ficaram assinalados por banhos de sangue. Daqueles 18 membros da Comissão Política do seu partido, antigos coompanheiros de luta, creio que somente um, Dialo Sayfoullah, então presidente da Assembleia Nacional, não foi assassinado a mando de Sekou. Morreu antes, em consequência de um cancro.
Dois homens incompatíveis viveram na fundação do primeiro estado da antiga África Ocidental Francesa que conquistou a independência. O segundo negou o primeiro.


Sekou Touré governou na Guiné-Conakry entre 1960 e 1984. Morreu nos Estado Unidos, vítima de crise cardíaca.

domingo, 26 de junho de 2011

NÃO SERÁ MELHOR FECHAR O PAÍS?

No "Público" on-line de hoje (v. notícia completa aqui):

Documento feito, à revelia da Refer, pelo anterior Governo do PS deixa a rede ferroviária circunscrita basicamente ao eixo Braga-Faro, Beira Alta e Beira Baixa. Restantes linhas seriam amputadas ou desapareceriam.

O documento foi apresentado à troika como uma medida eficaz de redução da despesa pública, uma vez que tem um forte impacto simultâneo nas contas da Refer e da CP. Na primeira empresa reduz custos de manutenção e de exploração e na segunda permite-lhe acabar com o serviço regional onde este é mais deficitário (embora nalgumas linhas a abater exista um significativo tráfego de mercadorias). - fim de citação

Embora nalgumas linhas a abater exista um significativo tráfego de mercadorias? Ora, ora, não macem com detalhes, por favor! E começa a parecer evidente que a Solução Final para acabar, de vez, com a despesa, é mesmo fechar o País.


PARIS, JE T'AIME




O filme Paris, je t'aime data de 2006. Nele, vários realizadores contam histórias curtas, tendo como pano de fundo os bairros de Paris. São histórias em diferentes tons e que focam realidades que pouco têm a ver entre si. O resultado final é muito interessante. A minha história preferida é a que Alexander Payne (n. 1961). escreveu e dirigiu. Centra-se no 14º bairro, à partida um dos menos turísticos. Payne, contudo, teve a genial ideia de colocar Carol, uma carteira de Denver a contar as suas sensações sobre a cidade, falando num francês muito elementar, mas que dá encanto a toda a narrativa. Dois detalhes: o que se vê no início são os edifícios que Ricardo Bofill desenhou para a Place de Catalogne; e há um delicioso, e propositado equívoco na visita ao cemitério de Montparnasse quando Carol confunde Simon Bolívar com Simone de Beauvoir.

No final da história Carol conclui: ça c’était le moment ou j’ai commencé à aimer Paris et le moment que j’ai senti que Paris m’aimait aussi.

Talvez a minha amiga Luísa tenha concluído o mesmo, por estes dias.

sábado, 25 de junho de 2011

TUNÍSIA IX: CENAS DA VIDA QUOTIDIANA NO HOTEL AMILCAR

A última paragem daquela viagem foi Cartago. Passáramos, o António Cunha e eu, mais de uma semana às voltas pela Tunísia. Ele fotografava, eu tomava notas sobre as basílicas cristãs, das quais ía também fazendo alguns slides. Cidade da maior importância para a História do Mediterrâneo, nela se conservam vestígios de algumas das mais antigas igrejas. Tudo junto, era coisa para justificar três dias de paragem. Totalmente por acaso seguimos uma placa que dizia Hotel Amilcar. Achámos a entrada espaventosa e resolvemos perguntar os preços. Afinal, eram mais que abordáveis. Não sei se pelo facto do edifício, um daqueles blocos anos 60 estilo-Albufeira, ser à data ainda propriedade da UGTT, a central sindical tunisina.

Os motivos de diversão sucederam-se:
Primeiro chegou um saudita numa limusine. Ainda eu mal acabara de preencher o boletim do check-in quando ouço um berro desesperado. O saudita estava de mãos na cabeça: tinham-lhe mostrado o preço do quarto do hotel (se bem recordo qualquer coisa à volta de 30 euros). O empregado do hotel olhava, alternadamente e espantadíssimo, para a cara do saudita e para a limusine parada à porta.
Depois entrou a mulher do saudita, de niqab, a quem ele obrigou a sentar-se de frente para uma parede e de costas para o resto da sala. Durante os dias seguintes, a cena repetiu-se, e a pobre infeliz foi obrigada a tomar as refeições nos mesmos preparos.
Mais tarde, ao abrir a janela do quarto, constatei que o hotel e a praia eram só para turistas: um gradeamento vedava o acesso dos indígenas ao areal (v. imagem de baixo). Pelo menos a alguns. Na noite seguinte, ao chegarmos ao hotel fora de horas quase chocámos no lobby com uma senhora alemã na casa dos 60 que beijava furiosamente (é esse o termo) um moço tunisino que não teria mais que uns 16 anos e que, visivelmente, não sabia muito bem como atuar.
Mas o punch-line estava reservado para a última noite, quando fomos convidados para assistir a um espetáculo junto à piscina. Que deve ter sido muito interessante, pelo menos para conheça a língua alemã. Apercebemo-nos então que éramos os únicos não-alemães no hotel, tomado de assalto por aquelas excursões que vão fazer férias à Tunísia sem chegar a ver a Tunísia. O entertainer tunisino, que cantava e dizia piadas em alemão, fez um enorme sucesso.


Amílcar Barca (c. 270 a.C - 228 a.C.) - general cartaginês, pai de Aníbal.

DESIGN GRÁFICO

Criatividade e sentido de marketing é isto.

Ia a caminho de Moura quando, em Pias, deparei com uma daquelas enormes viaturas de feira onde se lia Walter Dias. Não queria chegar atrasado às comemorações do Feriado Municipal e não parei para tirar uma fotografia (a imagem que se apresenta está na net). Mas não pude deixar de me impressionar com a audácia do empresário Valter Dias pelo descarado copianço ao grafismo da Walt Disney.

Comentei depois com um designer gráfico esta façanha de Valter Dias. Ela já conhecia o logo e rematou, entre gargalhadas, com um "é lindo, lindo!". Não é por nada, mas também acho.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

BIBLIOTECA DE MOURA (24.6.1991) / BIBLIOTECA DE MÉRTOLA (24.6.2011)

Fui, entre setembro de 1986 e junho de 1992, funcionário da Câmara de Moura. Ninguém se banha duas vezes na água do mesmo rio e ninguém pode fazer duas vezes o mesmo percurso. Ao transferir-me para Mértola sabia que jamais voltaria ao quadro da autarquia da minha terra natal. Sem hesitações ou arrependimentos.

Desse percurso, curto e intenso, tenho boas e más recordações. A melhor de todas foi, sem dúvida, o processo de renovação da Biblioteca Municipal.

No dia em que assumi a chefia da divisão cultural da Câmara de Moura (25.9.1986) já tinha preparada uma ideia do que poderia ser a remodelação da Biblioteca Municipal. Passei dias a fio, nesses tempos bárbaros sem net nem telemóveis, até localizar a Dra. Maria José Moura, coordenadora do grupo de trabalho e então bibliotecária da reitoria da Universidade de Lisboa. Falar com ela foi o primeiro passo. Nos meses seguintes o programa de intervenção foi-se aprofundando, com a participação renitente do sr. João da Mouca, que preferia um programa mais discreto, e alicerçado no projeto de arquitetura de Maria Teresa Ribeiro. A nossa candidatura seria entregue em maio de 1987. Soubémos, algum tempo depois, que Moura integrava o primeiro grupo de sete municípios que, a sul, iria ter apoio. O contrato seria depois assinado e as obras iniciadas já em 1989.

A entrada em funções de um novo executivo camarário, no final desse ano, implicou mudanças substanciais de orientação na área da cultura. 1990 foi difícil e atribulado. À medida que o tempo avançava dei-me conta que a autarquia não se revia no projeto nem estava minimamente interessada no desenvolvimento das suas fases seguintes. A inauguração, ocorrida em 24 de Junho de 1991, foi o momento final da minha participação, nessa altura já só indireta, nesta história.



Vinte anos se passaram. A Biblioteca Municipal de Moura seguiu o seu percurso, cresceu e afirmou-se, com uma série de projetos de qualidade. O futuro está, agora, noutro edifício e em mais expetativas.

Percurso diferente teve a Biblioteca de Mértola. Inugurada no dia 24 de junho de 1992, teve depois um projeto de ampliação que conheceu um percurso conturbadíssimo. Vencidas algumas arqueológicas faltas de pragmatismo esta obra camarária está, finalmente, concluída. O edifício da antiga cadeia tem agora mais espaço, novo mobiliário e um estilo colorido. Não tenho dúvidas que o público, em especial o mais jovem, vai aderir.

O dia de amanhã será de festa para a cultura, na vila de Mértola. Razões suplementares para celebração terá a equipa residente da Biblioteca Municipal. São quatro: a Isabel, a Fernanda, o Marcos e a Manuela. Poucos mas bons.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

GEOGRAFIA FÍSICA: O VENTRE


"O menino da sua mãe"

No plaino abandonado
Que a morta brisa aquece,
De balas traspassado
- Duas, de lado a lado -,
Jaz morto, e arrefece.

Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.

Tão jovem! Que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
"O menino da sua mãe".

Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.

De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço... Deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há a prece:
"Que volte cedo, e bem!"
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto, e apodrece,
O menino da sua mãe.


Nesta peregrinação pelo corpo - quase só feminino - alguém me disse "falta o ventre". Não o ventre num sentido estritamente sensual, mas o ventre materno. Admitamos que sim. Daí também o sentido da imagem e das palavras. O retrato da mulher grávida (La donna gravida) foi pintado por Rafael por volta de 1505. Está hoje no Palazzo Pitti. A este tema, pouco habitual na época, juntam-se a palavras de Fernando Pessoa. Que nos trazem uma imagem a posteriori. Do tempo que não regressa e da esperança perdida.


Ver:

http://www.uffizi.firenze.it/palazzopitti/

terça-feira, 21 de junho de 2011

POR TEU LIVRE PENSAMENTO


A campanha foi produzida pela FUEL para a Amnistia Internacional. Ganhou um Leão de Ouro no Festival de Cannes (o outro, o da Publicidade).

Do site do Público:
O júri do festival distinguiu a campanha “Mugshot”, lançada em Maio e inspirada no livro “Por Teu Livre Pensamento”, do fotógrafo João Pina, que marca os 30 anos da Amnistia Internacional em Portugal. Nos outdoors e anúncios, a agência usou fotografias reais de verdadeiros presos políticos, retiradas do arquivo da PIDE.

Parabéns aos autores, e um abraço ao meu amigo Carlos Coutinho. Por teu livre pensamento é a primeira estrofe do poema Abandono, de David Mourão-Ferreira. Musicado por Alain Oulman tornou-se conhecido como Fado Peniche (v. aqui).

A ver:
http://www.joao-pina.com/
http://www.canneslions.com/

segunda-feira, 20 de junho de 2011

TEMPO DE BARBÁRIE E LUTA

Tempo de barbárie e luta é o título do livro de Miguel Urbano Rodrigues que, logo à noite (21.30), apresentarei no auditório da biblioteca municipal de Beja. Testemunha qualificada de acontecimentos políticos das últimas seis décadas, o Miguel é um analista brilhante e, felizmente, desalinhado em relação às perspetivas que as centrais de comunicação nos vendem todos os dias. Poder participar neste evento é, para mim, um privilégio raro.

D. JOSÉ POLICARPO

D. José Policarpo, cardeal-patriarca de Lisboa, escreveu, no dia 17 fevereiro, ao papa Bento XVI, a pedir a sua resignação como bispo diocesano quando completasse 75 anos, o que aconteceu a 26 de fevereiro. O papa, contudo, solicitou-lhe que permaneça no lugar até aos 77 (!) anos.

Onde é que os sindicatos andam, quando as pessoas precisam deles?

domingo, 19 de junho de 2011

CHULOS

Ainda a Carmen.

Quase no final do terceiro ato, o coro canta, no momento em que a corrida de touros está prestes a começar:

Et puis saluons au passage les hardis chulos! Bravo! Viva! Gloire au courage! Voici les hardis chulos!

Consegui conter-me e rir baixinho, mesmo ante a surpresa da pessoa ao meu lado, quando vi a legendagem (que também está no programa): Saudemos a passagem dos corajosos chulos! Vejam os chulos corajosos!

Ó diabo! É que chulo designa, em castelhano, os moços de espadas. Pelo que teria sido mais aconselhável algo como "saudemos os corajosos moços de espadas! vejam os moços de espadas corajosos". CHULOS é que não!



Eis o resultado de uma pesquisa na net. Só não escrevi chulo, mas sim pimp. Outra expressão coloquial.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

CARMEN



Não é hábito, mas para isso servem as exceções. O texto vem entre duas imagens. O pano de fundo é hispânico. Em cima, a ária Toreador, da ópera Carmen. O fundo da história é conhecido: a cigana Carmen enfeitiça os homens (D. José, Escamillo, Zúñiga...), que se vão perdendo por ela. Aqui, num quadro do 2º ato é Escamillo (Ruggero Raimondi) que tomba ante o encanto de Carmen (Julia Migenes).

A cena foi filmada na Puerta de Córdoba, na cidade de Carmona. Um sítio espetacular, encaixado no meio de penhascos. O filme, rodado em 1984 por Francesco Rosi, foi um assinalável sucesso de público. Vi-o no cinema Londres. Amanhã recordarei, no S. Carlos, essa tarde. Sem a companhia do amigo que então me acompanhou, ocupados por estes dias com atividades pouco salutares...

De um tema se passa a outro. E aproveito o balanço para render homenagem, et pour cause, a um dos meus matadores preferidos, Sebastian Castella, francês e tudo. O ritmo do capote é operático.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

RAILROAD TRAIN



Os armazéns vazios pelo sopro da noite

ouvem germinar a erva de betão.

Calcada por combóios e colectivos

a água escorre de ombros para escombros.
As oito chaminés da fábrica de gás

são os pilares de um berço tombado

onde a criança morreu e o choro da mãe

encharca de resíduos a terra que secou.

Comboios de mercadorias pelos postes sem luz.


Railroad train é o título de um quadro de Edward Hopper (1882-1967), pintado em 1908. Serviu de mote a um poema incluído num livrinho muito bonito, escrito por João Miguel Fernandes Jorge (n. 1943) e por Joaquim Manuel Magalhães (n. 1945), com fotografias de Jorge Molder (n. 1947). Intitula-se Uma exposição e é uma edição de 1980 d' A Regra do Jogo. Comprei-o quando andava no 12º ano e queria ser cineasta. Gostava muito das fotografias que Jorge Molder fazia nessa altura. Hoje nem por isso. Uma velha amiga, muito conservadora em termos estéticos, surpreendeu-me ao fazer há dias grandes elogios às séries pinocchio e ocultações. Pensamos nós que conhecemos tudo sobre as pessoas...

O PAPILLON, ESSA PODEROSA ARMA POLÍTICA

Um post mourense:


Recebo, dia-sim dia-sim, em blogues anónimos aqui do concelho, elogios à atividade que exerço como vereador. Assim interpreto a preocupação dos rapazes pelo facto de, por vezes usar lacinho (ou papillon ou bow tie). Que alterno, noutras ocasiões, com gravatas. Tenho esses "desvios burgueses", mas acho de péssimo gosto ser convidado para uma cerimónia e aparecer em bermudas. Pior ainda, os lacinhos são comprados em imperialistas sites americanos.


Em todo o caso, como usar lacinho parece ser o pecado maior do vereador do urbanismo/estudos e projetos/fundos comunitários, não me sinto nada mal.



Winston Churchill (1874-1965) era de direita mas tinha grandes virtudes: não praticava desporto, gostava de charutos, de cognac e, bem entendido, de bow ties. Tenho um igual ao da fotografia...

quarta-feira, 15 de junho de 2011

À ATENÇÃO DA JUÍZA ANA LUÍSA PASSOS MARTINS DA SILVA GERALDES

No "Público" online de hoje:


Indícios de um copianço generalizado num teste feito pelos 137 auditores que estão no Centro de Estudos Judiciários (CEJ) a formarem-se para serem magistrados levou à anulação do exame. Face à impossibilidade de encontrar uma data para repetir o teste a direcção da instituição decidiu atribuir nota dez a todos os futuros magistrados. (fim de citação)


Swell, para usar um calão da língua inglesa que já não está na moda. Percebi bem? Vão ser juízes. E fazem batota. E depois vão julgar outros. Alguns dos futuros réus também terão feito batota em várias coisas. E depois estes juízes vão ler sentenças, cheios de certezas e de verdades. Porque eles são a Lei.


O exame decorreu e havia vigilantes. Que não viram nada, porque decerto vêem menos que o Mr. Magoo. No meio desta cegada chega-se à conclusão do "não se pode saber quem fez batota e quem não fez" (tão portuguesíssima conclusão). Vai daí anula-se o teste e dá-se dez a todos os futuros magistrados. Chama-se a isto justiça salomónica.


Entretanto, com batota ou sem ela, com Salomão ou sem Salomão, aqui deixo, humildemente, à consideração da Dra. Ana Luísa Passos Martins da Silva Geraldes, juíza desembargadora e diretora do Centro de Estudos Judiciários, este bonito e prático adereço, que evitará olhares indiscretos e tentações de se olhar para a mesa do vizinho.


Sobre o CEJ veja-se:



Do site:

A principal missão do Centro de Estudos Judiciários é a formação de magistrados. Neste âmbito, compete ao CEJ assegurar a formação, inicial e contínua, de magistrados judiciais e do Ministério Público para os tribunais judiciais e para os tribunais administrativos e fiscais.
Em matéria de formação de magistrados ou de candidatos à magistratura de países estrangeiros, compete ao CEJ assegurar a execução de actividades formativas, no âmbito de redes ou outras organizações internacionais de formação de que faz parte, e de protocolos de cooperação estabelecidos com entidades congéneres estrangeiras, em especial, de países de língua portuguesa. Compete-lhe ainda assegurar a execução de projectos internacionais de assistência e cooperação na formação de magistrados e acordos de cooperação técnica em matéria judiciária, celebrados pelo Estado português.
Constitui também missão do Centro de Estudos Judiciários desenvolver actividades de investigação e estudo no âmbito judiciário e assegurar acções de formação jurídica e judiciária dirigidas a advogados, solicitadores e agentes de outros sectores profissionais da justiça, bem como cooperar em acções organizadas por outras instituições.

RECORDANDO BRITO CAMACHO (E A PRAIA DA MESSEJANA)

Brito Camacho nasceu em 1862 e faleceu em 1934.


Foi ministro na 1ª República. As expetativas criadas no seu concelho de origem (Aljustrel) levou a que uma delegação da Messejana se deslocasse a Lisboa, onde lhe apresentaram um caderno reivindicativo, bastante extenso, segundo se diz. Brito Camacho, célebre pela sua língua afiada, perguntou se não quereriam também uma praia. A resposta foi notável: arranje lá a água, que a areia arranjamos nós.


É uma das histórias mais célebres do Alentejo, a par da do combóio da Cuba e da dos ossos de Vasco da Gama. Obviamente, durante muitos anos, o tema da praia foi tabu na Messejana.



O texto de hoje foi motivado pela inauguração da Praia de Mangualde. A da Messejana não é para já.

Ver:


terça-feira, 14 de junho de 2011

DR. JONES

Noutros tempos, os arqueólogos aventureiros, nem sempre um modelo de ética, eram identificados com nomes como Howard Carter (1874-1939) ou Heinrich Schliemann (1822-1890). Duvido que a maioria dos alunos de História os identifiquem sequer (no próximo ano letivo tirarei isto a limpo...). Desde há trinta anos, o símbolo da arqueologia-flibusteira passou a ser Indiana Jones. O chapéu ou o chicote dão a imagem de marca. A procura de tesouros impossíveis dão à sua arqueologia uma aura romântica que esta só muito raramente tem. Vantagens de Indiana Jones: viaja imenso, frequenta ambientes sofisticados, à mistura com outros mais básicos e com aquele ar de cowboy da investigação e pinta de bad bay torna-se irresistível para as mulheres mais difíceis. A arqueologia não é assim, mas que importa?


Os salteadores da arca perdida foi estreado em 12.6.1981. Há trinta anos. Congratulations, Dr. Jones.




Os filmes:

Os salteadores da arca perdida (1981)

Indiana Jones e o templo perdido (1984)

Indiana Jones e a Grande Cruzada (d1989)

Indiana Jones e o reino da caveira de cristal (2008)


Foram todos dirigidos por Steven Spielberg, um funcionário da indústria, cujo melhor trabalho são os 8 minutos iniciais de O resgate do soldado Ryan.


Da saga Jones vi os três primeiros filmes. Descontando o segundo, que é uma sucata, os outros dois, e em especial o terceiro, são trabalhos divertidos, cheios de ritmo e que merecem uma ida ao cinema.

A FLORESTA EM BREMERHAVEN

- Hoje a senhora viu conhecidos! Não sei. Alguém a viu. O Manuel não foi, que não saiu daqui a lavar-lhe o carro. Queria fazer essa surpresa à senhora! E depois esteve o resto da manhã na horta. Alguém viu a senhora a falar com um homem na rua, um bocado abaixo do chafariz. Ah! Adivinhou! Fui eu, fui! Fui eu que vi! Era só a reinar! Tinha ido à água, que já estamos outra vez com falta dela. Vi a senhora fora do carro logo a seguir a abalar daqui. Estava a falar com um senhor de cabelo branco, um cabelo grande. Fez-me lembrar os cabeludos lá na Alemanha! Mas era um senhor fino, era. Bem vi que era um senhor de Lisboa. Amigo da senhora? Bem vi a festa que fizeram! O que riam! E a senhora depois meteu-se no carro e foi a caminho da praia, e ainda fazia adeus. Como é que a senhora lhe chamou?

- Oh, mulher! Deixa lá isso! Como é que a senhora lhe chamou! Tu não conheces!

- A senhora desculpe, mas é que era assim um nome esquisito, até pensei que fosse estrangeiro. Como diz? Blára! Belaira? Ah! Agusto! Esse, sim! Esse é nome como os nossos! Agusto! Escritor, diz a senhora?

- Pessoa importante, não?

- Pessoa de estudos, é?

- Querias! Então um escritor não devia de ser pessoa de estudos!



Este excerto fazia parte do livro de Língua Portuguesa do 10º ou do 11º ano (1978? 1979? 1980?). A escrita é rápida e em discurso direto, quase torrencial. Fiquei fascinado com o texto, mas nunca comprei nem li o livro, apesar do título, A floresta em Bremerhaven, me intrigar sobremaneira.


Tenho a vaga ideia que o texto ilustrava uma das funções da linguagem (seria a emotiva?). Ofereceram-me o livro há dias, numa edição de há 20 anos, desencantada na cave de uma livraria. O passeio pelo sul nos dias da Revolução, mas quase à sua margem, pontuado pelas referências à floresta em Bremerhaven, vale bem a pena. O onirismo de Magritte vai a par dessas sensações.


Olga Gonçalves (1929-2004) foi/é uma importante escritora portuguesa. Não creio que seja atualmente muito lida.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

TUNÍSIA VIII: SIDI BOU SAID

Há sítios encantadores e pitorescos que nos deixam um pouco frios? Há.
Há sítios bonitinhos e bem arranjados, que merecem uma visita mas não muito mais que isso? Há.
E por onde passamos como quem olha para um cenário mas onde não gostaríamos de viver? Também.

O meu exemplo de postal ilustrado é Sidi Bou Said, bem perto de Tunis. Demasiado compostinho para ser verdade, aquele azul e branco que tudo enxameia é uma criação do barão francês Rodolphe d'Erlanger (1872-1932).

A imagem das cidades cria-se. E há formas de apropriação do espaço urbano que, por vezes, tendem a deixar os indígenas à margem do futuro dos sítios. Vale a pena ir a Sidi Bou Said com este livro de Ana Paula Amendoeira debaixo do braço: Monsaraz - reconstruir a memória, editado pela Colibri em 2009. Entendemos melhor o que aconteceu em Sidi Bou Said e o que, felizmente, não aconteceu em Monsaraz.


Para ir a Sidi Bou Said: a melhor forma é o combóio, o popular TGM (na realidade quer dizer Tunis-Goulette-Marsa), com partida na estação de Tunis-Marine. Barato e muito mais divertido que o táxi.

domingo, 12 de junho de 2011

EUREKA

Nos jornais de hoje:

Lisboa, 12 jun (Lusa) -- A futura reorganização de municípios e de freguesias deve ter em conta a população que servem, a sua identidade cultural e o território onde estão localizados, consideram especialistas, que sugerem novas formas de gestão local para maior eficiência.

Segundo o memorando de entendimento entre Portugal e a "troika" internacional, "até julho de 2012 o Governo desenvolverá um plano de consolidação para reorganizar e reduzir significativamente o número" dos 308 municípios e de 4.559 freguesias atualmente existentes, alterações que "reforçarão a prestação do serviço público, aumentarão a eficiência e reduzirão custos".

Especialistas em poder local contactados pela Lusa concordam que esta reorganização exige um profundo debate e um consenso alargado, e que deve ter em conta não só o critério do número habitantes das autarquias, mas também o da territorialidade e o da distância das pessoas aos centros de decisão e às estruturas locais.


Os sublinhados são meus. Pensava eu, ingénuo, que a população que servem, a identidade cultural e o território onde estão localizados eram OS fatores justificativos da razão de ser dos municípios. E que a territorialidade e a distância das pessoas aos centros de decisão eram outros elementos essenciais para garantir que as zonas do interior não se convertam num deserto. Anónimos especialistas fazem, à conta disso, com que o sr. De La Palisse pareça um principiante.


Arquimedes, o do Eureka!, num quadro do veneziano Giuseppe Nogari (1699-1763), hoje no Museu Pushkin (Moscovo).

Já agora, obriguem o próximo José Junqueiro a ler este livro: Maria Helena Cruz Coelho e Joaquim Romero de Magalhães, O Poder Concelhio: das Origens às Cortes Constituintes, Coimbra, Edição do Centro de Estudos e Formação Autárquica, Coimbra, 1986. Para evitar a tentação da asneira.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

PRIMUM VIVERE...

Repetição do texto de um post aqui publicado no passado mês de Janeiro:

Podia ter começado o ano de outra forma mais descontraída, mas enfim... Foi assim. Não sei bem porquê, resolvi folhear de novo o livro Confissões, de José António Saraiva, antigo director do Expresso. No meio do ajuste de constas que o livro é, deparo com três ou quatro parágrafos verdadeiramente espantosos (e mais importantes ainda por terem sido escritos pelo ex-director do mais influente jornal português, grande conhecedor dos meandros da política da Pátria).

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Ora vejam:

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Passados uns anos percebi o "fascínio" (se assim se poderia chamar) de José Sócrates por [João Carlos] Espada. Quando saiu do Governo, após a demissão de Guterres, Sócrates foi fazer um estágio de Verão a uma universidade inglesa - e depois projectou fazer um mestrado em Londres. Ora Espada, para além das ideias quen defendia e com as quais Sócrates se identificava, representava esse espírito académico que atraía o futuro primeiro-ministro. (pp. 357-358)
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A conclusão de Sócrates era que na política não havia gratidão, os políticos por melhores que fossem saíam s
empre enxovalhados - pelo que a actividade política não era compensadora, não lhe interessava nada nos próximos anos, querendo dedicar-se à vida universitária. (p. 359)
.
No decorrer da conversa, Sócrates mostrou ingenuidade ao dizer que, num mestrado que estava a fazer em Londres, explicava como se cultivavam relações. Como se cultivavam relações - note-se - não numa perspectiva desinteressada mas com um objectivo instrumental e interesseiro. (p. 362)

.
Estes parágrafos são todo um programa. Fiquei com curiosidade em relação ao mestrado em Londres, mas a biografia oficial do PM guarda sobre o assunto um prudente silêncio. Sublinhe-se que o livro saiu em 2006, antes do caso licenciatura.



Primeiro foi o mestrado em Londres, agora é o estudo de filosofia em Paris, durante um ano (v. edição de hoje do semanário Expresso). Para José Sócrates, a vida universitária é uma forma de combater a melancolia política e de usar o tempo livre. Uma variante de turismo cultural, enfim. Uma coisa é certa: o percurso académico de Sócrates é de uma linear e absoluta coerência. Oxalá tenha tido bom aproveitamento na disciplina de francês técnico.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

UMA ARTE EM VIAS DE EXTINÇÃO

Primeira história verdadeira:
Estou no metro de Paris com uma amiga. Gente que sai, gente que entra. O combóio arranca e a minha amiga ri, dizendo-me baixinho: "vê-se bem que és portuguesinho". Ante a minha surpresa explicou: "quando a bonitona aí ao lado entrou foste o único a olhar; e não foste lá muito discreto". Surpresa redobrada e a segunda explicação: "os franceses são um mito; nem um piropo mandam". O autor do blogue, que não tem o mínimo jeito para piropos (isto nasce com a pessoa, diz que sabe) nem é D. Juan, corou até à raíz dos cabelos e emudeceu.
A minha amiga, que é descarada, confessou: "se há coisa que sabe bem é um piropo engraçado e com nível".

Segunda história verdadeira:
E, à partida, improvável. Esperava um amigo, encostado a uma parede da rua Didouche Mourad, na baixa de Argel. Aproximam-se duas jovens, muçulmanas no vestir (com aqueles trajes couraçados, de onde apenas emerge a face). Eram bonitas. Nisto, saem de um café dois rapazolas que se colocam ao lado das moças e, em tom de súplica quase chorosa e pondo o braço a jeito, pedem "levem-nos a passear, vocês são tão simpáticas e nós estamos perdidos". Elas seguem em frente, sem ligar, mas uma sorria levemente, ainda que fingisse indiferença. Os moços não pisaram o risco e a cena, teve, de facto, graça. Quando disse ao Boussad o que se passara comentou: "é frequentíssimo; e muitas vezes resulta". Ninguém diria, com tão estritas regras.


Vem isto a propósito de uma reivindicação da UMAR - União de Mulheres Alternativa e Resposta, que pede mudanças na lei para criminalizar o assédio sexual. Parece-me francamente bem, embora me pareça difícil definir o piropo (excetuo as ordinarices) ou o assobio (v. aqui) como assédio sexual. Depois, já chateia tanta legislação por dá cá aquela palha. E estou de acordo com a minha amiga parisiense. Embora me falte o talento.

A fotografia é célebre. Foi feita por Ruth Orkin (1921-1985), numa rua de Florença, em 22 de agosto de 1951. A modelo é a sua amiga Jinx Allen. A cena foi semi-encenada.

VAMOS VER O PORTER! VAMOS VER O PORTER!

É uma história com quase 20 anos. O então primeiro-ministro Cavaco Silva contratou Michael Porter, mago da Harvard Business School para dizer aos portugueses como é que era. Durante meses não se falou de outra coisa. O Porter vai cá estar, o Porter já cá esteve, o Porter vem, o Porter não vem. No fim saiu um relatório, que um conhecido economista meu amigo (bem conservador) me classificou como "um chorrilho de banalidades".

Do site Compromisso Portugal:

Os principais benefícios desse estudo foram a discussão pública que promoveu à volta de temas até então relativamente novos como a produtividade, a competitividade e o papel das empresas, empresários e Estado no desenvolvimento económico e que se tem prolongado até aos nossos tempos.

Alguns aspectos relevantes foram salientados no Relatório Porter:

- A importância dos factores de enquadramento desde a Educação (já então se falava num novo sistema de governo para as escolas e na avaliação e responsabilização dos professores) até à política da I&D, passando pelas vantagens da existência de mercados abertos e em sã concorrência, e de consumidores educados e exigentes.


- A vantagem de existirem clusters industriais, devendo Portugal, sem prejuízo de criar novos, aproveitar os existentes modernizando-os.


Ao contrário do que por vezes se escreveu, Porter não disse que nos devíamos basear apenas nas indústrias tradicionais e que para aí deviam ir todos os apoios públicos.


O que ele disse é que a existência de clusters em certas indústrias consideradas mais tradicionais não era necessariamente um ónus, mas uma oportunidade a explorar pois elas poderiam vir a ser fonte de criação de riqueza se a inovação e novas tecnologias nelas fossem devidamente aplicadas.


Também para Porter estava claro que não cabe ao Estado escolher as indústrias com sucesso no futuro. O Estado e os governantes não são os melhores decisores nessa matéria.


Cabe ao Estado criar um enquadramento favorável à atracção e retenção de investimento de qualidade, devendo os clusters resultar das iniciativas mais ou menos concertadas dos empresários.


O Estado poderá conceder algum apoio acessório logo que o cluster ganhe forma e obtidas provas do seu sucesso, nomeadamente promovendo a criação de condições específicas de enquadramento de suporte a essas indústrias/clusters.


Fim de citação. Queriam mais? Chamem de novo o Porter. Talvez ele, os seus ajudantes de feiticeiros, mais os economistas todos que, na Pátria, todos os dias nos apontam o caminho do paraíso, nos possam dar uma ajuda.


Há melhor? Há. Mário Cesariny de Vasconcelos (1923-2006) é melhor:

Vamos ver o povo
Que lindo é
Vamos ver o povo.
Dá cá o pé.

Vamos ver o povo.
Hop-lá!
Vamos ver o povo.

Já está.


in Nobilíssima Visão (1959)

quarta-feira, 8 de junho de 2011

A ÁRVORE DA CRENÇA





Não é meu hábito deixar aqui imagens de filmes de que não tenha gostado. Ou a que não tenha aderido. Abro uma exceção para um filme que esteve longe de me convencer, mas que tem longos excertos do melhor cinema que tenho visto nos últimos anos. Contraditório? Talvez. Explico-me: A árvore da vida, de Terrence Malick (n. 1943), cede, com frequência, à tentação do virtuosismo técnico e a tiradas pretensiosas sobre a Vida e a Morte. Mas condensa a narrativa numa excecional economia de palavras e na redescoberta da importância da montagem. Custou-me, na minha insignificante posição de espetador, que a narrativa em torno da ideia da perda e do papel do pai repressor na vida de uma família se desviasse para um discurso em torno do papel de Deus. No fim fiquei com uma certeza. O problema não está no filme, mas na minha não-crença. Ou seja, é impossível acreditar em Deus e não gostar do filme.

DOIGT D'HONNEUR


Não tendo gostado do tom e do conteúdo de uma resposta do primeiro-ministro François Fillon, o deputado socialista Henri Emmanuelli respondeu comme ça em plena Assembleia Nacional.

O que acho mais graça é o nome que em França se dá ao gesto: doigt d'honneur. Ah, la France, la douce France, cantada por Trenet...

terça-feira, 7 de junho de 2011

O PODER É UMA COISA ASSIM A MODOS QUE POUCO DIVERTIDA

Digam-me uma coisa:

É impressão minha ou, de repente, o 31 da armada, que era hilariante, ficou menos engraçado e com um toque de azedume? Não sei porquê, mas é melhor começar a ler o Câmara Corporativa e o Jugular. Esses, que eram sisudos e defensivos, vão tornar-se acutilantes e divertidos. Vai uma apostinha?

A ENTIDADE, A INDEPENDÊNCIA E AS CONTAS PÚBLICAS

No site da TSF:

Passos Coelho reconhece que é preciso criar um organismo independente e com amplos poderes que garanta a transparência das contas públicas e a consolidação orçamental.



Candidata a Presidente da Nova Comissão estudando as contas públicas

É um dos mais amados clássicos da nossa Pátria. Quando há falhas no funcionamento das instituições, em vez de se procurar melhorar o seu desempenho, criam-se outros organismos paralelos aos existentes. Aparentemente, nem o Tribunal de Contas, nem o Banco de Portugal (excetuando a parte do Dr. Vitor Constâncio), nem o próprio Ministério das Finanças bastam para este tipo de tarefas. É mesmo assim?

Sendo autarca, olho, quase divertido, para a mise-en-scène. Porque as autarquias são minuciosa e policialmente fiscalizadas. E porque não podem, sob pesadas sanções, aumentar o seu endividamento líquido.

Aguardo, com expetativa, o que se vai passar. Para lá da luta de competências entre organismos. Espero pelo enquadramento jurídico, mais pelos instrumentos legais, pela legislação atinente, pela criação de regulamentação. Bem como pela criação, pela AR, de uma comissão de acompanhamento e de fiscalização dos fiscalizadores.

Não me desapontem.

GEOGRAFIA FÍSICA: AS MÃOS


Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema – e são de terra.
Com mãos se faz a guerra – e são a paz.

Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.

E cravam-se no Tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.

De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.



Entre o estudo das mãos de Leonardo da Vinci (1452-1519) e o uso das mãos por Isabel Muñoz (n. 1951). Leonardo desenhou com uma mestria poucas vezes igualada na História da Pintura. Isabel Muñoz tem-se dedicado a fotografar o corpo humano. Os corpos dançam na sua objetiva, mesmo quando estão estáticos.

A escolha do poema de Manuel Alegre (n. 1936) era mais ou menos óbvia. Só hesitei, confesso, porque cada vez que leio este soneto ouço os Maranata...

UM QUARTO DE MILHÃO


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COMISSÃO POLÍTICA NACIONAL? QUAL COMISSÃO POLÍTICA NACIONAL?

À primeira pensei ter ouvido mal. À segunda não tive dúvidas. Nunes Liberato teve um delicioso deslize, ao referir que o Presidente da República pedira ao "Presidente da Comissão Política Nacional" que formasse governo. OK, a gente sabe que estão a jogar em casa, mas podiam ter tido a gentileza de dizer que se trata do PSD. Não é por nada, é que assim dá mau aspeto...

segunda-feira, 6 de junho de 2011

A MEDIDA DO TEMPO NAS SOCIEDADES TRADICIONAIS

Se fosse filósofo gostaria de escrever um ensaio - que, com toda a probabilidade, já existe - sobre a perceção do tempo e do espaço nas sociedades tradicionais. Refiro-me ao mundo agrário pré-industrial. A velha piada sobre os alentejanos a quem se pergunta uma distância e, supostamente, respondem "é logo ali" é o reflexo mais evidente daquela realidade.

Uma certa noção do tempo pré-industrial é a que rege a entrada em funções de um novo governo. Entre o ato eleitoral e a tomada de posse vão, com boa vontade, três semanas. No meio de homologações, reuniões, consultas, envios para DR, indigitações, aceitações e convites. Nunca consegui perceber para que serve este longo e pouco útil ritual bizantino, que deixaria Justiniano a torcer-se de inveja.


SANTO AMADOR NA UNIVERSIDADE DE COIMBRA


A história começou há quase quatro anos, no Rio de Janeiro. Escolhera, para ilustrar o passado do sul de Portugal no âmbito da exposição Lusa, várias sonoridades. Uma das faixas que selecionei pertencia a um CD editado no ano anterior pela Câmara Municipal de Moura, Até onde chegam as oliveiras. Era a moda Moura cidade formosa, cantada pelo Grupo Coral da Casa do Povo de Santo Amador. Aquele som vindo dos confins do Alentejo impressionou profundamente os colegas brasileiros, em particular o Marcello Dantas, e uma visitante da exposição, chamada Maria Damásio, a quem mais tarde enviei um CD.

Na altura foi-me sugerida a participação do Grupo Coral num evento que estava a ser preparado pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. A Mostra Luso-Brasileira teve um percurso prolongado, que culmina no encontro cultural que amanhã se inicia.

E, assim, às 18 horas de dia 7 de Junho de 2011, o Grupo Coral da Casa do Povo de Santo Amador participa na sessão solene de abertura, que terá lugar no Teatro Paulo Quintela, da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

Tudo por causa deste som:



Programa completo da Mostra Luso-Brasileira:
http://www.uc.pt/fluc/noticias/sesc

CONCELHO DE MOURA - COMENTÁRIO

Anónimo disse...

outra verdade e a derrota do pcp no concelho de moura...
6 de Junho de 2011 01:44

Anónimo disse...

e estranho que nao faça nenhum comentario a derrota estrondosa do pcp no concelho de moura!!!!!!
6 de Junho de 2011 01:41

Anónimo disse...

Curiosos os resultados de Moura.

Foi o concelho do distrito onde o PS teve melhor votação (35,6%).
Após seis anos de desgoverno Sócrates,após terem rebentado com a massa toda, rebentado com o serviço nacional de saúde, rebentado com o dinheiro da segurança social, rebentado com o ensino, em Moura a ordem foi para continuar como estávamos. Assim uma coisa é certa. Por muitos esforços que se queiram fazer, em Moura nunca iremos longe.
LT


Estes comentários (os dois do anónimo são, obviamente, do mesmo autor) levam-me a transcrever as percentagens das últimas cinco votações para as Legislativas no concelho de Moura:


PS

1999 - 53,73

2002 - 49,15

2005 - 59,33

2009 - 40,08

2011 - 35,55

CDU

1999 - 24,26

2002 - 20,97

2005 - 19,87

2009 - 25,75

2011 - 23,70


PSD

1999 - 11,87

2002 - 18,79

2005 - 10,08

2009 - 13,89

2011 - 21,14

Comentário breve:
O PSD obtém um importante progresso.
A CDU tem um resultado dentro do que é habitual.
O PS tem um visível recuo. Comparando com 2005 é mesmo estrondoso.

Caro LT,
Como sabes, e tantas vezes sobre isso temos conversado, tenho confiança no futuro do concelho de Moura. Caso contrário, não manteria uma insistência que é, também, pessoal, num percurso político que dura há quase 20 anos.