sexta-feira, 30 de setembro de 2022

QUANDO SE CONFUNDEM FACTOS E OPINIÕES: OS AFLITIVOS TEXTOS DE UM EX-VEREADOR DO PS/MOURA

Factos e opiniões


O Sr. António José Gomes (ex-vereador do PS) não consegue destrinçar factos de opiniões. Escreveu no jornal “A Planície”: “a CDU, no final do último mandato [2013-2017] acabou por determinar o encerramento da empresa LÓGICA”. Depois de não ter conseguir provar esta afirmação veio atacar-me, no seguinte número do jornal, com um aborrecido arrazoado de opiniões que não perderei tempo a comentar. O que ele, objetivamente, não consegue provar é aquela afirmação.

 

Para lhe avivar a memória, recordo que a Câmara deliberou, em maio de 2017, por unanimidade, aprovar uma proposta de dissolução da empresa, “com a correspondente internalização das atividades que se enquadrem dentro daquilo que é o âmbito de atuação da autarquia e salvaguardando a totalidade dos postos de trabalho”. Ao que parece, em cinco anos ainda não arranjaram forma de resolver isto. Solicito que dirija futuros artigos de opinião ao Senhor Presidente da Câmara. É a ele quem compete tomar a iniciativa de resolver o assunto, devendo sempre ser salvaguardados os postos de trabalho.


Texto ao abrigo de direito de reposta, que será amanhã publicado em "A Planície"

 

OTOÑO

Acaba setembro e já estamos no outono. Não há um só dia, nesta altura do ano, em que não penso em territórios mais a sul. No Mzab, em Tamanrasset, em Arlit e em Agadez. Talvez um dia...

A fotografia é de Ghardaia, no Mzab, de autor desconhecido, nos anos 30. As palavras são do imortal Juan Ramón Jiménez.












Esparce octubre, al blando movimiento
del sur, las hojas áureas y las rojas,
y, en la caída clara de sus hojas,
se lleva al infinito el pensamiento.

Qué noble paz en este alejamiento
de todo; oh prado bello que deshojas
tus flores; oh agua fría ya, que mojas
con tu cristal estremecido el viento!

¡Encantamiento de oro! Cárcel pura,
en que el cuerpo, hecho alma, se enternece,
echado en el verdor de una colina!

En una decadencia de hermosura,
la vida se desnuda, y resplandece
la excelsitud de su verdad divina.

Juan Ramón Jiménez

quinta-feira, 29 de setembro de 2022

EM 2030? NÃO ACREDITO.

Sou um utilizador convicto dos transportes coletivos. E usei, com frequência, o TGV quando estava a fazer o doutoramento, em Lyon. Duas horas separam a primeira e a terceira cidades de França. 400 quilómetros de linha, com o combóio a atingir uma velocidade máxima acima de 300 kms/hora. São cerca de 25 composições diariamente em cada sentido. Gostei de usar o TGV. Era prático e, fora das horas de ponta, razoavelmente económico.

Agora nós. Vai haver alta velocidade entre Lisboa e Porto. Vai mesmo? Não tenho a certeza. Em 2030? Sinceramente, não acredito.

Circula hoje mas redes sociais uma primeira página do "Público" de julho de 1999. Passados 23 anos estamos exatamente no mesmo ponto. Somos o País das COMISSÕES, dos GRUPOS DE TRABALHO, dos OBSERVATÓRIOS. E da pouquíssima decisão. Cumprir prazos e orçamentos é que nem por isso. E olhar para o que está fora da faixa litoral é um exercício diletante.


NA BATALHA, DAQUI POR UM MÊS

Ainda há pouco, ao preparar um ensaio que sairá na revista marroquina "Hesperis-Tamuda" dei comigo a pensar que o mundo do sul é mesmo outra realidade. E que o Islão Peninsular foi mesmo o outro lado do espelho. Ou quase. É algo que irei abordar dentro de um mês neste encontro/ação de formação. O que sublinhar? "Paradoxalmente", o papel das elites locais e o espaço ocupado pelas comunidades cristãs nestas regiões de controlo muçulmano. Nada como usar exemplos ainda recentes (as cidades de Maaloula e Saidnaya, nas montanhas do Antilíbano) para ilustrar essa realidade.


quarta-feira, 28 de setembro de 2022

CORO GULBENKIAN

Grande concerto do Coro Gulbenkian esta noite, no Panteão Nacional.

Casa cheia para aplaudir o maestro Jorge Matta, o solista Jorge Ribeiro e o Coro.

A próxima iniciativa (não musical) é no dia 12 de outubro.


terça-feira, 27 de setembro de 2022

MUSEU DE MÉRTOLA CLÁUDIO TORRES

Do site da Câmara Municipal de Mértola:

Museu de Mértola Cláudio Torres

Foi aprovada por unanimidade, em reunião de câmara, a atualização do Regulamento Interno do Museu de Mértola onde a alteração mais relevante está relacionada com a sua nova designação – Museu de Mértola – Cláudio Torres. Trata-se de uma merecida homenagem e reconhecimento por um trabalho de mais de 40 anos em prol da preservação e valorização do património do concelho de Mértola que tem forte expressão nos 14 núcleos do Museu de Mértola.

Do Museu, salienta-se o reconhecimento de um projeto museográfico verdadeiramente pioneiro quer na sua metodologia polinuclear e colaborativa, quer na sua estreita interligação com os processos de desenvolvimento do território, fazendo valer o património como fator decisivo para a criação de emprego, valor, economia, coesão e sustentabilidade. 

Tendo desenvolvido um importante trabalho científico na área do património cultural, nomeadamente nos domínios da arqueologia peninsular, da investigação histórica e da museologia, a valia do trabalho desenvolvido em Mértola pelo Prof. Cláudio Torres e equipa do Campo Arqueológico de Mértola, extravasou em muito, a dimensão deste concelho, revelando-se, fundamental para uma nova compreensão da historiografia portuguesa, e promotor do posicionamento e notoriedade de Mértola a uma escala global.

Que dizer em momentos assim? Raras vezes haverá tão grande e completa unanimidade. Ainda bem que assim é.

A PROPÓSITO DO "OPUS GEOGRAPHICUM", DE IBN HAWQAL

Ao reler, pela enésima vez, o "Configuration de la terre" (numa reedição da obra de Johannes Hendrik Kramers e de Gaston Wiet, onde traduzem o Opus geographicum, de Ibn Hawqal) assaltou-me uma dúvida. Talvez disparatada, mas nunca me tinha ocorridos. Que sítio é aquele que os autores identificam como Avis?

O texto diz "de Santarém a Avis, quatro jornadas". Mas diz mesmo? Não. O que o texto original (ver em baixo) diz é "wa min shantarin ila byza". Ou seja, de Santarém a Byza. Pode ser Avis. Mas pode, com mais lógica, ser Nisa. Pela proximidade fonética. E pela possibilidade, ainda que mais remota, de haver um lapso na cópia e ter ocorrido uma troca de diacrítico. Como o desenho da consoante nun e ba é idêntico em início de palavra, a troca pode ter acontecido e o sítio ser nyza e não byza.

Nisa não tem uma estrutura urbana anterior ao século XIV? Sim, e então? O mesmo acontece em Sines e está lá o testemunho da existência de um ribat.

CANTIGA DE AMIGO

Cantiga de amigo, que me foi enviada esta manhãzinha. Autor? D. Dinis.

Ai flores, ai flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo!
     Ai Deus, e u é?

Ai, flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado!
     Ai Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pos comigo!
     Ai Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amado
aquel que mentiu do que mi ha jurado!
     Ai Deus, e u é?

-Vós me preguntades polo voss’amigo,
e eu ben vos digo que é san’e vivo.
     Ai Deus, e u é?

Vós me preguntades polo voss’amado,
e eu ben vos digo que é viv’e sano.
     Ai Deus, e u é?

E eu ben vos digo que é san’e vivo
e seerá vosc’ant’o prazo saído.
     Ai Deus, e u é?

E eu ben vos digo que é viv’e sano
e seerá vosc’ant’o prazo passado.
     Ai Deus, e u é?




domingo, 25 de setembro de 2022

VAMOS LÁ AO 37

Pois é, devia estar agora a cortar a linha da meta, mas não vai ser assim.

Quando entrei para a Função Pública, no dia 25 de setembro de 1986, a expectativa era passar à reforma no dia 25 de setembro de 2022. Não vai ser assim. O novo prazo é, agora, o segundo semestre de 2029. Ou algo do género, já nem sei bem.

Seguimos em frente, ainda com entusiasmo.

NA MAESTRANZA DE SEVILLA

Caía a noite em Sevilha quando a corrida terminou. Vale a revelação de Calerito numa tarde meio azarada e com um lote que não deu para grande espetáculo. Melhores dias virão. mas Sevilha e a Real Maestranza valem sempre a pena.

Um bom final para umas férias a cavalo entre verão e outono.




sexta-feira, 23 de setembro de 2022

AEROPORTO DE LISBOA: 53 ANOS, 7 MESES E 25 DIAS...

Em 29 de janeiro de 1969, ainda eu não estava na escola primária, estava quase. Hoje continua quase. Só falta mesmo resolver esse quase.

Na minha longínqua carreira de vendedor de livros da CREDIVERBO (1981 ou 1982) fui à empresa ANA. Tenho a ideia que era para os lados de Entrecampos. Lá estava, em plena entrada, uma maqueta do Aeroporto de Rio Frio. Ficaria, o projetado aeroporto, no ponto que assinalo em rosa.

Os anos sucederam-se. As ideias e as intenções também. Está quase. 53 anos, 7 meses e 25 dias passados continua quase.




SEM CARROS, SEMPRE

Acho uma certa graça aquele folclore (inútil) do dia 22 de setembro. Sem carros e a pé, etc. Sobretudo porque ouço, há muitos anos, as piadas dos amigos e dos familiares pela convicta mania de andar a pé e de transportes públicos.

Quais são os meus territórios? No metro, as linhas azul e amarela. Na Carris, o 12, o 34, o 54. Na CP, de Benfica ao Rossio ou a Entrecampos. Quando tenho de ir à Ajuda, o 28 e o 60. Maníaco? Sim, mas convicto.

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

MAIS PANTEÃO - QUERER IR MAIS ALÉM

A iniciativa tem uma semanas e prende-se com a necessidade de dar mais consistência ao trabalho no Panteão Nacional. Fruto de várias circunstâncias, o número de trabalhadores ao serviço do monumento sofreu uma redução entre 2019 e 2021. Importa inverter o ciclo.

Está aberta a porta:

𝐁𝐨𝐥𝐬𝐚 𝐝𝐞 𝐄𝐦𝐩𝐫𝐞𝐠𝐨 𝐏ú𝐛𝐥𝐢𝐜𝐨 (𝐁𝐄𝐏) 𝐑𝐞𝐜𝐫𝐮𝐭𝐚𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨 𝐞𝐦 𝐫𝐞𝐠𝐢𝐦𝐞 𝐝𝐞 𝐦𝐨𝐛𝐢𝐥𝐢𝐝𝐚𝐝𝐞 𝐢𝐧𝐭𝐞𝐫𝐧𝐚 𝐩𝐚𝐫𝐚 𝐨 𝐏𝐚𝐧𝐭𝐞ã𝐨 𝐍𝐚𝐜𝐢𝐨𝐧𝐚𝐥

1 Técnico Superior na área de mediação – Código da Oferta – OE202209/0604

https://www.bep.gov.pt/pages/oferta/Oferta_Detalhes.aspx?CodOferta=101247  

2 Assistentes Técnicos na área de serviço administrativo e vigilância - Código da Oferta – OE202209/0608 

https://www.bep.gov.pt/pages/oferta/Oferta_Detalhes.aspx?CodOferta=101251 

As candidaturas decorrem de 20 de setembro a 04 de outubro 2022.

quarta-feira, 21 de setembro de 2022

EM OUTUBRO, EM MOURA

Será daqui a um mês. No dia 22 de outubro haverá, às 11 da manhã, abertura ao público. Sou um dos participantes, com duas fotografias. Lá estarei.


AGAVE AMERICANA & OPUNTIA FICUS-INDICA: NA AMÉRICA SEM AMÉRICA

Deambulações meridionais, entre mar e terra.
A inspiração da pintura de Emmerico Nunes (1888-1968) e de Henrique Pousão (1859-1884).
O dia magnífico de ontem, entre sul e sul.



terça-feira, 20 de setembro de 2022

NOUTRO TEMPO, NOUTRO LUGAR

O mapa, à entrada de uma das salas do Museu de Sines, é quase insólito. Mais interessante e bonito, por isso mesmo. Mértola não está lá. Não estava porque o Sotavento e o Baixo Alentejo "pertenciam" à Empresa Rodoviária do Sotavento do Algarve.

Mas lembro-me bem dos autocarros verdes e brancos da Setubalense. Durante uns minutos andei por ali, numa espécie de máquina do tempo e fazendo recuar o relógio uns bons 50 anos. E recordando-me que havia mapas muito parecidos em Évora e em Moura (na Auto-Salúquia).

segunda-feira, 19 de setembro de 2022

ADOLF HÜBNER EM MOURA

A Câmara Municipal de Moura tem, no seu património, aguarelas do artista alemão (ou checo?) Adolf Hübner (1890-1954). Tratou-se de um artista muito ativo na década de 30, na área do teatro. Têm surgido, esporadicamente, obras suas à venda em leilões.

Esta aguarela, que retrata um bem conhecido recanto da terra, data de 1935. É interessante ver como o Dr. António Fialho Pinto, o presidente da câmara de então, deu um toque de requinte à sua passagem pela autarquia. São dessa época os levantamentos fotográficos de Zambrano Gomes e a compra de uma cadeira concebida por Le Corbusier: o célebre modelo LC07, que andou pelos meus gabinetes entre 2005 e 2017.


domingo, 18 de setembro de 2022

YOUTUBE: PANTEÃO NACIONAL

https://www.youtube.com/channel/UCsh4S7llpJkRH5wDgck4npg

Quatro meses de divulgação. Reúnem-se vídeos dispersos e produzem-se outros. O objetivo número um é dar visibilidade ao monumento. O que é simples e "não-simples". A palavra desistir está fora deste dicionário.


SÉTIMO DIA

O fotograma é do filme A cidade branca (1982). O já desaparecido Bruno Ganz deambula pelas ruas de Lisboa. Recordo-o a propósito de Alain Tanner (1929-2022), falecido há uma semana.

Durante a juventude valorizei muito os filmes de Tanner. Parecem-me hoje bem menos importantes. Ainda assim, este A cidade branca é o mais lisboeta dos filmes rodados sobre a cidade. A alma da cidade antiga está lá.


sexta-feira, 16 de setembro de 2022

A PROPÓSITO DE ILUSIONISMO E ILUSIONISTAS

"Sou um charlatão", declara Orson Welles no início do filme. F for fake (1973) é sobre "trapaças, fraudes e mentiras". O personagem central é o falsário Elmyr de Hory (1906-1976).

Elmyr acabou por ser desmascarado. Todos os charlatães o são, mais cedo ou mais tarde.

Eis o início de um filme genial:



POST MOURENSE - SE O VELÓRIO FOSSE CÁ...

... a bicha passava da Ponte da Toutalga. Medido agora mesmo.

 

quinta-feira, 15 de setembro de 2022

MARIA JOSÉ MOURA - INOVAR COM DETERMINAÇÃO

O colóquio de homenagem tem lugar hoje. É bom vermos que os exemplos de dedicação, determinação e competência não são esquecidos.

Razões de ordem pessoal levam-me a não poder responder favoravelmente ao convite que recebi. Espero poder adquirir depois o livro que vai ser editado. Enviei, em tempos, um curto testemunho, que não sei se chegou a tempo de ser incluído:

MARIA JOSÉ MOURA

 

No dia 3 de abril de 1986, um simples despacho de Teresa Patrício Gouveia, Secretária de Estado da Cultura, criava condições a instalação de uma rede de bibliotecas municipais. Era preciso alguém que capitaneasse o projeto. O grupo de trabalho que então se constituiu era coordenado por Maria José Moura, uma veterana bibliotecária, que foi a alma do que se seguiu. E o que se seguiu foi uma verdadeira revolução cultural. Era preciso rigor administrativo, mas muito mais que isso. Era imprescindível criatividade e energia, dentro das baias da legislação. Maria José Moura fez da teoria prática. À mistura com uma fervorosa crença na capacidade da juventude.

Só a conheci depois desse processo ter arrancado. Tive a perceção que algo de único se iria passar. A minha perceção ficou, felizmente, muito aquém da realidade futura. No dia em que comecei a trabalhar na Câmara de Moura (em setembro de 1986) estava decidido a avançar para uma remodelação da Biblioteca Municipal. Passei dias a fio, nesses tempos bárbaros sem internet nem telemóveis, até localizar Maria José Moura, então bibliotecária da reitoria da Universidade de Lisboa. Falar com ela foi o primeiro passo. O segundo, e decisivo, foi ter-nos explicado, com detalhe, o âmbito do projeto. De uma remodelação conduziu-nos, firmemente - “isto faz-se assim, perceberam?” -, para uma intervenção mais profunda e radical. A nossa candidatura seria entregue em maio de 1987. Soubémos, algum tempo depois, que Moura integrava o primeiro grupo de sete municípios que, a sul, iria ter apoio. O contrato seria depois assinado e as obras iniciadas já em 1989.

No dia em que partiu, a sua missão estava bem cumprida. Nunca, até ao fim, a vi deixar de acreditar nas bibliotecas, na capacidade das novas gerações, na decisiva importância da presença da Cultura na vida dos cidadãos. Tal como nunca deixou de acreditar e de evocar o Alentejo onde quis ficar para sempre.

A Maria José Moura devo as primeiras e algumas das mais importantes lições da minha carreira de funcionário público. Mais importante, e é isso que se deve reter, o País deve imenso, ainda que possa não o saber, a Maria José Moura.

 

Santiago Macias

Historiador


quarta-feira, 14 de setembro de 2022

NIGHT AND DAY

Duas imagens de um mesmo sítio. A noite e o dia em torno de um monumento. Fotografias inspiradoras. E que levam, em cada dia, a lutar pelo futuro do Património.

As imagens estão no instagram de Francisco Crocco.

terça-feira, 13 de setembro de 2022

OBITUÁRIO SOBRETUDO SINCERO

Sei que Jean-Luc Godard (1930-2022) marcou várias gerações e que deixa importantes páginas escritas na Sétima Arte do século XX.

Confissão: vi uns cinco filmes dele. Não gostei de nenhum.

Compromisso: ir ver outros, não por penitência, mas porque sim.

LII - CRÓNICAS OLISIPONENSES: CALA-TE, SATANÁS!

Alguns leitores do blogue recordar-se-ão de um homem que estava sempre na intersecção do Rossio, da Rua do Carmo e da Rua do Ouro. Tinha junto a si uma carripana forrada de imagens religiosas. Ele próprio estava "decorado" com imagens de santos, que lhe cobriam até o boné. Na mão esquerda tinha um megafone, na direita um exemplar dos Evangelhos. Ia debitando, convictamente, frases sobre o fim dos tempos, o pecado, a necessidade da oração, os malefícios das tentações etc.

Um belo dia, haverá uns 40 anos, um amigo meu, bem mais velho e com pouco juízo, ao passar pelo pregador atirou-lhe um "vai trabalhar, malandro!". O pregador que estava a dizer "livrai-vos do pecado, arrependei-vos" interrompeu para retorquir "cala-te, Satanás", ante o gáudio dos passantes.

Isto seria possível na Lisboa dos nossos dias? Não me parece...


(esta imagem da Nigéria não está, bateria e guitarra à parte, assim tão longe da realidade lisboeta de 1980)


segunda-feira, 12 de setembro de 2022

16,95

16,95 foi a nota de acesso do último colocado no curso de História da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Ou seja, os outros 44 colocados tiveram classificação idêntica ou, seguramente, superior. É a nota mais alta a nível nacional.

Dia 20, às 8 horas, retomo as aulas. Se a estimativa não me falha, dos 30 alunos da turma, três ou quatro serão verdadeiramente excecionais. É uma forma de acreditar no futuro.

BENTO GONÇALVES (1902-1942)

Fez ontem 80 anos que foi assassinado, no Campo do Tarrafal, Bento Gonçalves, secretário-geral do Partido Comunista Português.

O campo de concentração funcionou entre 1936 e 1954. Foi reaberto em 1961 para fechar, de vez, em 1974.


sexta-feira, 9 de setembro de 2022

RGFAM - 51 ANOS

O dia é hoje, a celebração será amanhã. Lá estaremos, como desde há muitos anos. Para dizer a verdade, desde há 51 anos. Gostava de um dia (2046), celebrar os 75 do grupo. Uma coisa que me parece difícil e que, manifestamente, não depende de mim.


quinta-feira, 8 de setembro de 2022

DE PORTAS ABERTAS

Sempre gostei de portas abertas. Literalmente.

No Panteão trabalho assim quase todo o ano. Um privilégio raro.

O meu gabinete em Moura estava de portas abertas. Ao castelo e às pessoas. Às vezes precisava de um pouco de sossego e não o tinha. Mas o preço a pagar era esse. E pagava-o com gosto.

Amanhã é de dia de regresso. Literalmente. A feira começa. Até já, Moura.


quarta-feira, 7 de setembro de 2022

BRASIL 200

Hoje foi o Dia do Bicentenário.

1822 foi um ano decisivo para dois países. O mundo colonial começara a ruir 46 anos antes. Um processo que ainda levaria mais 150 a consumar.

Era uma vez um império.

 

SAUDADES DE HAMA

Hama foi há quase 20 anos. Duvido muito que "volte a ser". Tenho a recordação de uma cidade tranquila e, comparada com Damasco, quase silenciosa. A febre alta que assombrou aqueles dias não me impediu de fotografar (ao contrário...) nem me apagou a recordação de dias extraordinários. Muito menos me esqueço das noras. O que será feito do sítio? E do sr. Abu Radwan? E de Fahd Kanara?






























La noria

La tarde caía 
triste y polvorienta. 
El agua cantaba 
su copla plebeya 
en los cangilones 
de la noria lenta. 
Soñaba la mula 
¡pobre mula vieja!, 
al compás de sombra 
que en el agua suena. 
La tarde caía 
triste y polvorienta. 
Yo no sé qué noble, 
divino poeta, 
unió a la amargura 
de la eterna rueda 
la dulce armonía 
del agua que sueña, 
y vendó tus ojos, 
¡pobre mula vieja!... 
Mas sé que fue un noble, 
divino poeta, 
corazón maduro 
de sombra y de ciencia

Antonio Machado

terça-feira, 6 de setembro de 2022

MUITO ANTES DO GPS

Esta placa resistiu até hoje. Está em frente à antiga Fábrica da Pólvora, em Barcarena. Fica na bifurcação das Estradas das Fontaínhas e do Cacém. Há 50 anos, toda esta zona era um vasto deserto. Hoje já não é bem assim.

A estação de caminhos de ferro que assinala é a de Barcarena. Que não fica a dois quilómetros, mas sim umas centenas de metros antes. Mas nesta altura dois queria dizer "mais-ou-menos-dois".

Barcarena era a estação entre o Cacém e Queluz-Belas. Foi esta que Fernando Pessoa imortalizou:

No comboio descendente

No comboio descendente

Vinha tudo à gargalhada,

Uns por verem rir os outros

E os outros sem ser por nada —

No comboio descendente

De Queluz à Cruz Quebrada...

No comboio descendente

Vinham todos à janela,

Uns calados para os outros

E os outros a dar-lhes trela —

No comboio descendente

Da Cruz Quebrada a Palmela...

No comboio descendente

Mas que grande reinação!

Uns dormindo, outros com sono,

E os outros nem sim nem não —

No comboio descendente

De Palmela a Portimão...


segunda-feira, 5 de setembro de 2022

SOPHIA

A 50 dias da inauguração da exposição(Thalassa! Thalassa! O mar e o Mediterrâneo na poesia de Sophia de Mello Breyner Andresen) , e por entre as dificuldades habituais - que são habituais e não o deveriam ser - estrutura-se uma programação paralela. Este filme tem ali lugar obrigatório. Foi a primeira obra cinematográfica de Joao César Monteiro.





domingo, 4 de setembro de 2022

DO SÉCULO XVIII AO SÉCULO XXI, sem tempo para pensar

Os arredores a ocidente de Lisboa são um território fascinante. Não há, nunca houve, tempo ou vontade para pensar. Tudo feito a enorme velocidade, atendendo a vontades particulares, a interesses privados ou sob a pressão do "desenvolvimento".

Em Belas, de uma igreja construída no século XVI, refeita no XVIII, reconstruída no XIX e acrescentada no XX, passa-se a uma azinhaga antiga, dos tempos em que não havia carros. É um mundo antigo, de hortas, palacetes e quintas que por ali assoma. Ao fundo da azinhaga há uma estrada. Ao longe um bloco de habitações estropiou a paisagem. Sobre Belas passa a CREL.

Acaso, improviso e mais improviso. Horas mais tarde, encontrarei o mesmo em Barcarena. Não somos nórdicos, mas um pouco mais de organização...


sexta-feira, 2 de setembro de 2022

NÓS, O POVO

Gosto muito de ouvir falar no Povo. Gosto dos que estão a falar no Povo e em coisas populares. E que dizem que gostam dessas coisas populares. E lembro-me, também, de José Malhoa e de Cesariny.

















Vamos ver o povo
Que lindo é
Vamos ver o povo.
Dá cá o pé.

Vamos ver o povo.
Hop-lá!
Vamos ver o povo.

Já está.


Mário Cesariny de Vasconcelos (1923-2006) in Nobilíssima Visão (1959)

JOSÉ CARLOS LOUREIRO (1925-2022)

O arq. José Carlos Loureiro ficará, para sempre, ligado à imagem do Palácio de Cristal, no Porto. Um projeto arrojado, que marcou a cidade.

Cruzei-me com os sues projetos num trabalho recente, ainda inédito. São da sua autoria, em parceria com Luís Pádua Ramos (1931-2005), os projetos da Caixa Geral de Depósitos de Barcelos e de Viana do Castelo, ambos de finais da década de 70 do século passado.






SIM, JÁ COMPREI A MINHA EP. E SIM, VOU À FESTA DO AVANTE!

Relapso e distraído como sou, umas vezes vou, outras vezes não. Porque marco coisas, porque assim, porque assado. Comprei EP em 2020 e não fui à Festa. Em 2021 fui no domingo.

Este ano vou mesmo.

Por convicção.

Para estar com camaradas e amigos.

Porque me apetece.

Porque, se dúvidas tivesse, tirei-as ao ver, hoje de manhã, um pasquim asqueroso.

Porque embirro solenemente com quem me diz como devo fazer, como me devo comportar, o que devo dizer etc.

Uma das melhores é quando me dizem "só te prejudicas!". Aí, rebento rindo.