As tardes de domingo televisivas são
assombradas por programas tenebrosos. Cantores de quinta categoria enquadradas
por “dançarinas” da quarta divisão guincham slogans que querem parecer canções.
De vez em quando aparece o apresentador, que entrevista artesãos e entidades
locais. Há, sempre, lugar à inevitável entrevista do autarca. O custo
financeiro destas coisas é sempre muito mais alto que o verdadeiro interesse
que possam ter. Saem caro e é dinheiro deitado à rua. Sempre me recusei,
enquanto presidente da câmara, a trazer a Moura programas que saem caro e nos
quais metade do tempo é gasto a promover concursos (“ligue para o 700” etc.).
Pior é hoje a ideia que este estilo
do “Somos Portugal” está no centro da atividade autárquica. Substituem-se
intervenções de fundo (obras de reabilitação e de reequipamento) por coisas
efémeras (mega-caminhadas e festas e festinhas). Deixa-se a política social
para segundo plano e adotam-se práticas que pouco têm a ver com solidariedade.
A feirização da política é uma tragédia e a falta de preparação que por aí
campeia outra tragédia.
Fazer da política local um “tele-show”
de sorrisos de plástico e de discursos xaroposos em que se tratam as pessoas
por “amiguinhos” é um equívoco e um perigo. Há quem tenha essa tentação e não
conheça os seus limites.
O que é uma Câmara Municipal? Uma
máquina de 350 pessoas, 17 milhões de euros de orçamento, dezenas de viaturas, responsabilidades
na área da educação, da limpeza urbana, na reparação de estradas e caminhos
municipais (169.350 metros...), mais o dever de manter e melhorar equipamentos
culturais e desportivos. Mais aquilo que tem de ser feito em termos de
habitação. E que tem sido feito, com determinação.
O que nos espera a partir de outubro?
O arranque de obras de mais de 5
milhões de euros. Mais o projeto para o Convento do Carmo, no qual fomos
pioneiros no âmbito do programa REVIVE. E mais o desenvolvimento de novos
projetos, que necessitam conhecimento e preparação. Pensar que isso pode ser
subsituído por uma política de festinhas, cabazes e coisas soltas é um erro
sério...
Uma Câmara é uma máquina complexa e
cuja gestão exige trabalho duro. Não é uma pequena estrutura de 10 funcionários.
Os próximos anos serão de grande exigência. Tão exigentes como estes que acabam
de passar. E isso implica, passe a imodéstia, preparação e conhecimentos. E, já
agora, boa educação.
Artigo publicado em "A Planície" de 15.9.2017
Fotografia de José Manuel Rodrigues
1 comentário:
também a imagem que passam para o exterior por exemplo para os emigrantes poderia ser melhorada !
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