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Cristina García Rodero (n. 1949) esteve no Haiti e produziu uma das mais belas reportagens visuais de que tenho memória. São rituais arrancados às raízes das memórias africanas de toda uma população. O seu registo implica uma cumplicidade com as pessoas que não está ao alcance de todos.
Cristina García Rodero (n. 1949) esteve no Haiti e produziu uma das mais belas reportagens visuais de que tenho memória. São rituais arrancados às raízes das memórias africanas de toda uma população. O seu registo implica uma cumplicidade com as pessoas que não está ao alcance de todos.
Sou boa leitora de Graham Greene, e esta sua obra (de 1965) é uma das mais divulgadas, contando-se entre aquelas de que mais gosto. Nela se faz a denúncia do que se passava em Haiti, sob a governança do dr. Duvalier, a quem também chamavam Papa Doc, à frente do desalmado rebanho de Tontons Macoute, também conhecidos por Lunettes Noires (Óculos Pretos).A parte ficcional insere-se portanto numa situação real num país real ? e é sobretudo essa situação e esse país que protagonizam, como personagem-chave, a presente obra.E a atmosfera de terror em Haiti é-nos primorosamente revelada por G. G., o qual, com toda a contenção possível, com algum filtrado sarcasmo, com a dispensa de explosivos verbalismos, torna ainda mais revoltante e patético este quadro de tragédia, ignomínia, miséria e, simultaneamente, quadro de uma genial farsa.Os Comediantes são, afinal, os que se alheiam, os actores que sempre se desmarcam das vivas e activas personagens que representam, vivendo a vida como uma comédia que logo esquecem mal abandonam o teatro. É a indiferença. Afinal «a violência pode ser expressão de amor, mas a indiferença nunca. Uma é a imperfeição da caridade, a outra é a perfeição do egoísmo». Saliente-se que os nomes das 3 personagens mais intervenientes me parecem, até pela sua vulgaridade ? Jones, Smith Brown ? como sinédoques comportamentais, a parte pelo todo, um por muitos, o indivíduo por um colectivo.
Fernanda Botelho, 1997 in http://www.leitura.gulbenkian.pt/
Macumba do Pai Zuzé
Na macumba do encantado,
Nego véio pai de santo fez mandinga.
No palacete de Botafogo,
Sangue de branca virou água.
Foram ver, estava morta.
Manuel Bandeira
Os rituais de raíz africana estão ali, nos poemas de Manuel Bandeira e nas imagens de Cristina García Rodero. E no livro Os comediantes, de Graham Greene (1904-1991), editado entre nós pela Livros do Brasil. Custa uns insignificantes 16 euros.
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