O percurso foi, durante anos, monotonamente o mesmo. Chegava a Denfert-Rochereau, metia-me na linha 6 do metro, trocava a meio do percurso pela 10 e, ao fim de uns 25 minutos estava em casa da Júlia, na Rue Balard.
Mas não daquela vez. Mal tinha acabado de sair do autocarro do aeroporto e já era interpelado por três ingleses. Estavam a pé, estavam completamente perdidos, não falavam uma de francês e estavam um pouco distantes do objectivo. Queriam ir às meninas ao Pigalle. Ainda hesitei, pensando que era melhor avisá-los que boa parte das meninas do Pigalle e da Place Blanche eram travestis. So they say... Achei, contudo, melhor não ir por aí. Disse-lhes rapidamente como ir, que bilhetes comprar etc. Nesse momento, um chama os outros dois de lado. Rápida conferência. E surge a proposta: ía com eles, orientava-os nos restaurantes e nos bares. Eles pagavam tudo. E, bem entendido, eu teria direito a uma miúda de borla! E podia escolher a meu gosto. Declinei, entre muitos agradecimentos, que eram simpáticos mas eu tinha de ir jantar com a minha irmã etc. etc. Olharam-me como se fosse anormal e entraram rapidamente na estação do metro. Os crentes vão pensar que foi castigo de Deus Nosso Senhor, mas os rapazes enfiaram, e a despeito do meu esbracejamento (que tomaram como despedida), a toda a velocidade para uma composição da linha B4 do RER, que vai para Saint-Rémy-lès-Chevreuse e não para a linha 4, em direcção à Porte de Clignancourt. Ou seja, foram para sul e não para norte, no combóio da linha de Sintra lá do sítio. Não consigo imaginar o que terão pensado, quando se viram a muitos quilómetros do ponto desejado, sem miúdas, nem copos, nem nada.
Fachada da fatídica estação.
Monumento à Defesa Nacional, em plena praça Denfert-Rochereau (14º bairro). O leão é uma referência a Pierre Marie Philippe Aristide Denfert-Rochereau (1823-1878), celebrizado na guerra franco-alemã de 1870 pela defesa que empreendeu da praça-forte de Belfort, na Alsácia. A tenacidade na resistência valeu-lhe o cognome de leão de Belfort.
1 comentário:
Sera que é neste tipo de situaçoes que se emprega a expressao : "Até perdem o norte ..." ?
Esta historia é D'ENFER ...
Dulcineia
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