O meu texto de ontem sobre a triste figura da UGT no processo de negociação com o governo (v. aqui) mereceu um ácido comentário ao meu amigo Humberto Nixon, que o publicou no facebook:
"Quem está na função pública pode cantar de galo, porque recebe o salário a horas e não é despedido.
Não têm a noção do que é não saber se o emprego vai fechar e se há dinheiro para pagar salários.
Esta é que é a realidade, o resto é conversa de agitador sentado confortavelmente no sofá e a olhar para a caderneta da Caixa Geral de Depósitos no dia 26 de cada mês."
Não têm a noção do que é não saber se o emprego vai fechar e se há dinheiro para pagar salários.
Esta é que é a realidade, o resto é conversa de agitador sentado confortavelmente no sofá e a olhar para a caderneta da Caixa Geral de Depósitos no dia 26 de cada mês."
O comentário foi depois complementado por outro que, por qualquer motivo, surge no meu mail mas não no facebook:
"O meu amigo Santiago Macias, englobo-o no grupo dos agitadores, mas não de sofá."
Achei curiosos os dois comentários (mesmo tendo em conta que recebo a 23, que não tenho conta na caixa nem caderneta):
1. É relativamente banal a identificação funcionário público = parasita;
2. Trata-se de uma generalização disparatada e sempre fácil de agitar;
3. Trata-se, sobretudo, de uma falsidade que insulta milhares de pessoas que dão o seu melhor, não podendo essas ser confundidas com os incompetentes e preguiçosos, que existem, tal como existem no setor privado (sim, também os há);
4. A função pública que o Humberto Nixon descreve é uma realidade do século passado, sem qualquer correspondência com o mundo atual (o governo socialista via João Figueiredo poupou à direita essa tarefa pouco digna);
5. As leis que este governo aprovou obrigam, às cegas, as câmaras a reduzirem pessoal, forma subtil de começarem os despedimentos;
6. A ânsia da direita é reduzir os que estão em "funções públicas", porque são os que mais fazem frente (porque a chantagem sobre eles é mais difícil, é verdade) a um sistema capitalista cada vez mais opressor e destravado, e onde todos os joões proenças são uma benesse;
7. Há dinheiro ao fim do mês? Há, ainda há. Com cortes brutais.
Sabes uma coisa, Humberto? Sou funcionário autárquico desde 25.9.1986 e tenho um grande orgulho em estar ao serviço da República. Toda a minha carreira foi feita no Estado (nas Câmaras de Moura e de Mértola e, esporadicamente, nas universidades), coisa que muito me honra.
Um não-agitador num sofá. Pelo menos dá a ideia que não está assim muito agitado. Onde está o marxismo deste texto? Aqui: "no picture can hold my interest when the leading man's bust is bigger than the leading lady's." (Groucho Marx, comentando e comparando os atributos físicos de Victor Mature e Hedy Lamarr).
Caro Humberto, a tua afirmação sobre o sofá deu-me uma ideia que pode ter interesse. Nas próximas semanas por aqui passarão pinturas onde a imagem do sofá estará presente. E alguma poesia apropriada.
8 comentários:
Bonito sofá, sim senhor...! Os que virão são como este??
Ass: Fã de Sofás(destes)
Excelente como sempre! Revejo-me nas palavras do Santiago. Que os deuses lhe dêem muita força para explicar com esta clarividência aos que se deixam manipular pela comunicação social dos governos...Abraço
Ora aí está! uma bela ideia de sofá, que aguardo com impaciência. Ou será com agitação?
Permita-me dar-lhe uma sugestão ;)
Sento-me num sofá sem tempo
em posse sensual, desabusada
espero-te com sorriso libidinoso,
nos lábios um toque vermelho
de paixão desmesurada.
O decote, intencionalmente descaído
espera teu olhar devorador,
ao lado, licor doce
que afoga a sede de ti.
Abre-se a porta
teus passos lentos
vigorosos, soam-me estranhos….
Elegantemente cruzo as pernas,
estás ali, mesmo à minha frente.
Elevo o rosto, lambo o vermelho
dos meus lábios
e rasgas-me as vestes
numa fúria excitante.
As minhas mãos perdem-se no teu corpo
numa fome reprimida
pulsa o desejo já descontrolado
os corpos unem-se em beijos loucos
tão loucamente perversos..
amamo-nos
e delicadamente as palavras
ficam por dizer…
para quê?
- Comprei uma hora dos teus serviços. Saíste sorridente, mas apressado. Eu... por ali ainda fiquei… sem o vermelho rubro do bâton e... sozinha de novo!
Rosa Maria Anselmo
Sou funcionária pública há 31 anos, quando pensava estar a cinco anos da reforma eis que me vejo confrontada com o facto de ter que trabalhar mais 10 anos para além desses. Tive o salário congelado e depois reduzido. Perdi quase metade do 13º mês. Este ano não vou receber subsídio de férias nem de Natal. Trabalho quase todos os dias entre 1 e meia a 2 horas para além do horário normal sem receber horas extras. Estou a chefiar um serviço e a receber exatamente o mesmo vencimento que teria se não tivesse nessas funções. Chegada aqui, eis que me vejo “alapada” no sofá a pensar como é maravilhosa a minha vida e a sentir-me grata pelo facto de não ser insultada (ainda) pelos meus concidadãos pelo facto de trabalhar para o Estado, isto é, para eles!
Dois pequenos comentários, porque te dei a resposta no facebook.
Não está escrito no meu comentário que um funcionário público é um parasita. Trata-se já de uma distorção tua, nunca ninguém me ouviu proferir nem escrever isso. Prezo muito os funcionários públicos, como quaisquer outros funcionários desde que cumpram as suas tarefas.
Segundo comentário, a senhora da foto, pelo deficiente trabalho, devia ser despedida.
H.Nixon
Não falaste em parasitas, foi leitura minha a partir desta frase elucidativa: "conversa de agitador sentado confortavelmente no sofá e a olhar para a caderneta da Caixa Geral de Depósitos". Isto não dá assim um ar de muito empenho no trabalho, pois não?
Qto à senhora da foto, sou bem capaz de estar de acordo...
Permita-me concordar com oasis dossonhos e dizer que fui funcionária pública (professora da rede estadual)por mais de 10 anos. Além de quase perder minha voz passei todo o tempo tendo que provar que de fato trabalhava. Coincidência: Passei no concurso para professores do Estado em 1986. Em 2000 pedi demissão.
Quanto ao sofá... ideias não faltam.
Essa ideia de que no funcionalismo público só há calões é o pretexto ideal para reduzir, cada vez mais, o Estado Social e entregar os direitos e bens nucleares – saúde, educação, habitação, água, luz, transportes – às empresas privadas e lucrativas onde certos políticos se vão instalar depois de lixarem o cidadão comum. Certos partidos estão cheios destes exemplos pornográficos. Há bons e maus trabalhadores quer no público quer no privado. A estabilidade no trabalho com todos os direitos e deveres que lhe estão inerentes é essencial na vida das pessoas. Ponto. E a ironia de tudo isto é que enquanto pretendem despedir trabalhadores, por um lado, a pretexto do seu excesso, conseguem bater o recorde em nomeações políticas com ordenados imorais...
Afinal para esta gente o Estado interessa: desde que seja para clientelismo político ou para engordar inúmeras empresas privadas que vivem à sua custa. Quando é para despedir o Zé Povinho que ganha pouco mais que o salário mínimo já o Estado tem que reduzir “nas gorduras”… Vão-se encher de moscas!
SMNT
P.S. - Onde é que se adquirem esses sofás?
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