Entra-se em contagem decrescente. A partir daqui todas as intervenções serão as últimas. Como a de hoje, no almoço dos trabalhadores da Câmara Municipal e das Juntas de Freguesia do concelho. Aqui fica o texto que tive a oportunidade de ler.
Caros colegas autarcas
Caros trabalhadores da Câmara
Municipal de Moura e das Juntas de Freguesia
Caros amigos do Um dia na
Presidência
Por norma, estas intervenções são o
momento em que se faz o balanço do ano que passou e se apontam metas para o ano
seguinte. Este ano, a intervenção será diferente. Desde logo, porque em 2018
não terei estas funções.
Gostaria, assim, de deixar algumas
ideias sobre o tempo que passou. E sublinhar o caráter crucial de algumas
opções que foram sendo tomadas. Em cinco pontos.
Começo antes por vos contar uma
coisa que os que não se interessam por História normalmente desconhecem. Lembrei-me,
há dias, e por motivos de ordem pessoal, de um livro escrito em 1957,
intitulado “O capitalismo monárquico português”.
Em 1517 (há 500 anos), o País
estava fortemente endividado.
O rei tinha acumulado empréstimos
atrás de empréstimos.
Quem nos emprestava dinheiro?
Banqueiros alemães.
Onde eram feitas as transações? Em
Antuérpia.
500 anos depois, estamos fortemente
endividados.
Quem manda? Os alemães.
Onde se tomam as decisões? Em
Bruxelas (que fica a 40 quilómetros de Antuérpia).
Tudo se mantém monotonamente igual.
O País continua pobre e dependente.
O interior despovoa-se e envelhece.
Faltam políticas capazes de invertir a situação e faltam homens de Estado. O
último a ter uma noção precisa da importância do interior foi o Marquês de
Pombal. Morreu há 235 anos e usava, em temos políticos, métodos discutíveis.
Somos, para mais, desgraçadamente,
pobres com mentalidade de rico. Muitas vezes o temos constatado, ao longo dos
últimos anos. Acha-se que tudo é possível, ou que a tudo temos direito ou que o
dinheiro não se acaba. Não é assim. Daí também o estilo austero e firme que
adotámos. Nem sempre pudémos agradar a todos. Não foi essa a nossa preocupação.
Porque isso não é possivel. Ai dos que acham que a governação é um exercício de
consulta a todos a toda a hora, para depois tomarem decisões. Ai deles.
O que faríamos outra vez e porquê?
1. Voltaríamos a apostar na
reabilitação do património edificado. Obras como a do Matadouro, a dos
Quartéis, a da igreja de Safara, a do Pátio dos Rolins, são importantes porque
resolveram problemas. Mas são também decisivas pelo seu caráter simbólico. Não
há futuro sem um passado sólido. Não há futuro sem que os centros urbanos se
renovem. E sem que edifícios antigos ganhem novos usos. Não perceber que isso
não é um capricho (ou arqueologia e museus) é, do ponto de vista político,
social e cultural, uma tragédia. Uma perfeita tragédia.
2. Voltaríamos a apostar em infraestruturas.
Está agora em moda a ideia de que o essencial das infraestruturas está feito e
que agora a opção é a “área social”. Um perfeito disparate. Primeiro, as
infraestruturas precisam de permanente renovação e manutenção. Depois a
realidade, não é um bolo de bolacha, com camadas que podem ser retiradas. A
realidade é global. Na política social apostámos na habitação (perto de um
milhão de euros). É a condição primeira para uma vida digna. Às obras em casas
particulares segue-se a recuperação do Bairro do Carmo.
Houve outras apostas em
infraestruturas? Sim. No Parque de Vale de Juncos e no Pavilhão das
Cancelinhas, na Amareleja. Na reabilitação de escolas. Na renovação da Zona
Industrial. Na obra em curso na Ponte do Coronheiro. Na criação do Centro
Náutico da Estrela. Na conclusão da obra da Ribeira da Perna Seca. Era possível
mais? Talvez. Assaltando um banco. E tinha de ser bem escolhido. Que alguns não
têm dinheiro.
3. Voltaríamos a investir no setor
operacional e na atenção que démos à área financeira. Nós não somos donos do
Município. Somos transmissores daquilo que recebemos. Por isso tivémos a
preocupação de dar aos nosso trabalhadores melhores condições e melhores
equipamentos. Essa opção implicou não fazer outras coisas. Ou isto ou aquilo,
como no célebre poema de Cecília Meireles. Aumentámos 10 vezes a compra de
equipamentos e diminuimos 10 vezes o montante de pagamentos em atraso. Houve
esforço de todos, empenho de todos. Teve de haver uma atitude tesa e de não
transigência em muitas ocasiões. A Câmara Municipal de Moura está no pelotão da
frente em termos de novos investimentos e no aproveitamento de fundo
comunitários.
4. Voltaríamos a apostar nas novas
oportunidades que surgiram na área económica. Sim, voltaríamos a criar
condições para a instalação do CONTINENTE. Voltaríamos a apostar no Centro de
Acolhimento a Microempresas de Moura. Voltaríamos a negociar e criar condições
para a instalação do Centro de Inspeção de Veículos. Voltaríamos a criar
condições para o Centro de Fisioterapia começar a laborar. Voltaríamos a
disponibilizar lotes para os dois importantes investimentos em curso
(apicultura e vinhos) na up 11. Não esqueçamos o domínio do fotovoltaico. Que
gera agora tantas e tão assolapadas paixões.
O Município de Moura cresceu 350% em
termos de exportações (estamos em 3º lugar a nível nacional). O mérito é dos
empresários. Mas uma Câmara inimiga das empresas não criaria condições para
eles trabalharem.
5. 0 futuro que aí vem passa por todos
nós. Passa pelas associações (ainda ontem distiguimos sete, Associação Humanitária dos Bombeiros
Voluntários de Moura, Centro
Recreativo Amadores de Música "Os Leões", Círculo Artístico Musical Safarense, Grupo Desportivo Amarelejense, Moura Atlético Clube, Sociedade Filarmónica União Musical
Amarelejense, Sociedade
Filarmónica União Mourense "Os Amarelos" com a
medalha de honra do município). O futuro passa pela afirmação do nosso
concelho. Passa pelos novos investimentos. Neste momento temos candidaturas em
curso de mais de cinco milhões de euros: o antigo grémio, a Torre do Relógio
(Amareleja), o futuro terminal rodoviário, a reabilitação do Bairro do Carmo e
a consolidação das muralhas modernas. Mais a obra do novo cemitério e
ultrapassamos os seis milhões e meio de euros.
Precisamos que as regras do jogo, em
termos de financiamento, sejam alteradas para que seja possível renovar redes
de águas e de saneamento. E para que possamos criar e expandir as zonas
industriais. Só com o orçamento municipal não vamos lá.
Temos tudo isso e temo-los a eles. Aos
jovens do “Um dia na presidência”. Foram eles os protagonistas dos melhores
momentos que tive neste mandato. Conseguir estar perto da juventude foi um
privilégio. Sem preço.
São eles o futuro. Temos a obrigação
de lhes explicar aquilo que vão herdar e a responsabilidade que vão ter em
melhorar aquilo que foi feito ao longo de centenas de anos. Terão de fazer do
nosso concelho um concelho melhor. É uma responsabilidade grande. E eles vão
conseguir.
Reitero o que há poucos meses disse
numa cerimónia pública: “de uma coisa tenho hoje a certeza. As soluções e a
força estão em nós. Em todos nós. Não há salvadores da pátria, nem profetas nem
homens ou mulheres providenciais. Estamos todos nós, com o nosso empenho, o
nosso sentido de luta e a nossa capacidade de concretização. Estamos nós e,
como me disse um dia o Prof. José Mattoso, a ‘infinita liberdade do espírito’.
É a essa, cada vez mais, a minha firme convicção.”
Devo um agradecimento final aos trabalhadores
da Câmara Municipal de Moura. Fiz parte da vida deles durante estes anos. E
eles da minha. Graças a eles pude melhorar o meu trabalho e tornar diferente a
perspetiva que tenho das coisas e da vida. Devemos-lhes reconhecimento. O
trabalho deles foi decisivo para termos um concelho melhor. O esforço deles é
um contributo essencial na construção do futuro. Tarefa que se faz e recomeça
em cada dia.
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