Ia a caminho da Buraca. A senhora não falava alto, falava altíssimo. Ia três filas à minha frente e era como se estivesse a falar comigo. Acompanhava-a um netinho. A senhora falava ao telemóvel, com a Maria (não garanto a total fidelidade do monólogo, mas era mais ou menos isto) "sim, vamos aqui no autocarro também. Ontem fui à consulta também, mas também ainda não me sabem dizer nada. Amanhã vou à praia também aqui mais o meu pequenino. Também. Não, não este ano não estou a pensar ir à terra, também. Acho que está muito calor e depois a casa ainda não tem grandes condições, também. Sim, é minha e da minha irmã, também. Não, também, aquilo lá há cada vez menos gente. Qual praia? Vamos à Costa, também. Apanhamos o autocarro e passamos lá o dia, também. O miúdo também gosta. Olha, espera também, que estou a chegar à paragem. Já falamos, também".
Uma viagem curta, a meio caminho entre o monólogo do "Cavaleiro Andante", de Almeida Faria, e "A floresta em Bremerhaven", de Olga Gonçalves.
Também.
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