segunda-feira, 2 de outubro de 2023

ERA UMA VEZ O CARMO...

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Quando iniciei a minha carreira de vereador na Câmara de Moura, em 2005, disse ao meu amigo José Pisa (várias vezes temos falado disso) “quando terminar o processo dos Quartéis dar-me-ei por satisfeito e poderei ir-me embora”. Afinal, não foi bem assim, muitas outras intervenções tiveram lugar, e as equipas que tive o gosto de integrar levaram muitos projetos até ao fim.

 

Fui, ao longo dos anos, escrevendo sobre a necessidade de se resolver o problema do Convento do Carmo. Em 2012, disse isto: “o Convento do Carmo vai ser um hotel? É das possibilidades, mas não a única. Depois de cometida a inacreditável estupidez de se ter de lá tirado o centro de saúde é preciso adequar o espaço a novas funções. Por favor, poupem-me a modelos de gestão do género “centro cultural”, “universidade”, “museu” etc. Façam-se contas, veja-se o País em que vivemos e calculem-se futuras amortizações antes de se fazerem propostas”.

 

Em 2016, acrescentei: “porque não avança o Convento do Carmo? Porque não se conseguiu ainda arranjar a parceria para o fazer”.

 

Em 2017, o executivo a que presidi conseguiu incluir o projeto de reabilitação do Convento do Carmo no REVIVE. A assinatura do protocolo teve lugar no dia 11 de julho de 2017. Lia-se na página do REVIVE: “a Câmara Municipal [de Moura] tem tido um papel importante neste processo, canalizando fundos comunitários para a requalificação urbana da cidade, da sua qualidade ambiental, promovendo ações de apoio social e divulgação do património e cultura. Resulta daí o aumento de visitantes no concelho, com benefícios para as empresas do sector, sobretudo de hotelaria e restauração, mas também para o comércio local”. Clarificando, os fundos comunitários para a requalificação urbana reportam-se a obras feitas ao longo de vários mandatos, como a do Castelo, da Mouraria, dos Quartéis, do antigo matadouro, do Jardim das Oliveiras, do Lagar de Varas etc. Foram estes os investimentos.

 

A partir daí, foi o desvario. Foi desenvolvido um projeto para um hotel de cinco estrelas, que previa a construção de anexos e obras profundas no subsolo. Ao tomar conhecimento do projeto, pensei “isto vai dar problemas”. Porquê? Porque espaços ligados a conventos têm sempre cemitérios, normalmente com muitas centenas de corpos. Estes trabalhos arqueológicos são, por norma, demorados e caros. Antes de se avançar para um projeto desta dimensão conviria olhar o terreno, estudar as suas condições específicas, consultar os técnicos e só depois decidir. Fez-se o contrário.

 

A culpa não é da arqueologia nem dos arqueólogos. A culpa é de um executivo camarário (presidente e vereadores PS) sem preparação nem conhecimentos. A impreparação custa caro. E não vale a pena dizer agora que o projeto é privado e a autarquia não tem nada a ver com ele...

 

Depois de tantos anos envolvido na reabilitação urbana de Moura, tudo isto me causa uma pena imensa. Ainda por cima, com a convicção que com outra equipa à frente da Câmara teria havido trabalho e resultados. Tal como aconteceu no passado. Com menos folclore, menos Domingão, mas mais concretizações.


Crónica hoje, em "A Planície"



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