No dia 1 de
fevereiro de 1988 Moura foi elevada à categoria de cidade. A designação é
honorífica e não traz consigo recompensas adicionais. Depois de longos anos de
“reivindicação” instalou-se a pergunta e a dúvida “o que se ganhou em ser cidade?”.
A pergunta em si é um tanto deslocada, porque as localidades não ganham ou
perdem com as qualificações que as leis lhes atribuem.
Importaria antes
ver o que se passou em Moura nos últimos 25 anos e que diferenças substanciais
a cidade conheceu. Moura é uma terra melhor e mais qualificada hoje do que era
há 25 ou há 30 anos? Indiscutivelmente, é. A cidade tem hoje melhores
infra-estruturas do que tinha então? Sem dúvida. Temos hoje mais movimento do
que antes? Aí andaremos ela por ela.
Que balanço
podemos fazer? Projetos importantes – e contra os quais tantos esbracejaram… -
sedimentaram-se e deram visibilidade e trouxeram investimento para o concelho.
Problemas sérios como a situação do Castelo e dos Quartéis ficaram resolvidos
ou estão em vias de o ser. Renovações decisivas nas redes de águas e esgotos
deram resposta a situações que causavam transtornos aos habitantes.
Equipamentos culturais e desportivos conheceram uma nova vida. O investimento
na Educação ganhou um novo impulso depois de 1997. É uma cidade melhor?
Decididamente, sim. Curiosamente, os problemas maiores foram causados pelo
desinvestimento do Poder Central que, desde há muito, deixou o interior de
Portugal entregue a si mesmo.
25 anos depois é
bom que olhemos para a cidade e para o concelho. Mas também, e sobretudo, para
a realidade da zona raiana do nosso País. Para as desigualdades que se foram
acentuando. Para a incapacidade de sucessivos governos em criarem condições que
invertam um problema que tem décadas e que não parou de se agravar. Para a
desertificação de freguesias e de concelhos. Que têm agora um futuro mais
difícil, depois da aplicação de leis imbecis, que extinguem freguesias à
tesourada, sem pensar nas implicações que isso virá a ter. É só o nosso
concelho que vive estes problemas? Faça-se então um périplo por Alcoutim, por
Idanha-a-Nova, por Almeida ou por Mirandela e pense-se depois em que raio de
País vivemos e que gente é esta que nos olha a partir de Lisboa.
Duas notas
finais: a primeira é que o ato de resistência em que se tornou a vida em
concelhos como Mértola ou como Moura é para continuar. Falo, naturalmente, do
ponto de vista pessoal, e fiel a um caminho iniciado há quase 30 anos. E que
essa opção tem, terá sempre, reflexos naquilo que é um princípio de combate
político e de afirmação de valores de cidadania.
A segunda é para
notar que há quem, no meio de tantas dificuldades e de tantos problemas, se
preocupe com ramos de árvores. É caso para dizer que se olha para a árvore sem
ver a floresta. E isso pode ser trágico.
Texto publicado no jornal "A Planície" de dia 1.2.2013.
A fotografia, de Orlando Fialho, dá-nos testemunho de mais uma obra de reabilitação iniciada na cidade. Começaram os trabalhos de restauro da igreja do Convento do Espírito Santo. Vai ser galeria de exposições. Os andaimes refletem bem este princípio de um percurso em construção. Voltarei ao tema, dentro de semanas.
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