Dois Rumos
Mentir, eis o problema:
minto de vez em quando
ou sempre, por sistema?
Se mentir todo dia,
erguerei um castelo
em alta serrania
contra toda escalada,
e mais ninguém no mundo
me atira seta ervada?
Livre estarei, e dentro
de mim outra verdade
rebrilhará no centro?
Ou mentirei apenas
no varejo da vida,
sem alívio de penas,
sem suporte e armadura
ante o império dos grandes,
frágil, frágil criatura?
Pensarei ainda nisto.
Por enquanto não sei
se me exponho ou resisto,
se componho um casulo
e nele me agasalho,
tornando o resto nulo,
ou adiro à suposta
verdade contingente
que, de verdade, mente.
A cor vermelha domina nesta tela de Félix Vallotton (1865-1925). Intitula-se, vá lá saber-se porquê, A mentira. Isso levou-me, em linha reta, a um poema de Drummond de Andrade, que anda à volta do mesmo tema.
Primeiro post de uma série à volta das cores em pintura e daquilo que elas sugerem.
O quadro está no Baltimore Museum of Art: http://www.artbma.org/
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