quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

O AMOR E A MORTE, EROS E THANATOS, DE NOITE E DE DIA, ATÉ MESMO PELA MANHÃ



Soneto do amor e da morte


quando eu morrer murmura esta canção
que escrevo para ti. quando eu morrer
fica junto de mim, não queiras ver
as aves pardas do anoitecer
a revoar na minha solidão.

quando eu morrer segura a minha mão,
põe os olhos nos meus se puder ser,
se inda neles a luz esmorecer,
e diz do nosso amor como se não

tivesse de acabar, sempre a doer,
sempre a doer de tanta perfeição
que ao deixar de bater-me o coração
fique por nós o teu inda a bater,
quando eu morrer segura a minha mão.

Vasco Graça Moura, in "Antologia dos Sessenta Anos"


O quadro pertence ao Museu Regional de Beja, que hoje visitei, com os colegas Sara Romão e Marcelo Guerreiro. Com a sombra da Eternidade pairando algures.

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