É bem conhecida aquela história do mourense a quem o taxista perguntou “a sua casa é aqui para a esquerda, não é?”. “Para a esquerda nunca! Vire à direita!”. E assim se deram voltas e mais voltas até chegar a casa, virando sempre à direita.
A vida é feita de recordações e de factos que lembram outros factos.
Foi assim: vou eu e faço pisca à direita e saio da rotunda e vai uma patrulha da PSP atrás de mim e alto e pára o balho! “O senhor não desfez o pisca, os seus documentos etc e tal”. Pois é, não tinha desfeito o pisca, eu a andar em frente e o sacana do pisca a piscar. E logo à direita. E à frente da polícia, assim como se fosse uma provocação, não era obviamente, mas nestas coisas nunca se sabe o que pensam os outros. Reconheci que sim, que o sacana do pisca dizia que era para a direita. E que o automático não funcionou e que o pisca faz assim um barulhinho maricas (depois disto o Rafael nunca mais me empresta o carro), que eu nem ouvi, mas o guarda (acho que era guarda, mas nisto das hierarquias sou uma nódoa) tinha razão. A gente pede desculpa. Chega? Não chega, ah, ah, boa piada, ó pra ele tão humilde a pedir desculpa. O que vem a seguir? Pedagogia? Uma chamada de atenção? Uma carolada? O quê? Vou ser multado por isto? “O sr. vai ser autuado, por infracção ao artigo etc. etc.”. Aí desligo e deixo de ouvir enquanto puxo a carteira à procura dos 60 euros. Ias em segunda e a trinta? Não fosses. Fosses mais depressa, que pagavas o mesmo. Passam-me o papel para assinar. Aí fico enternecido. O texto começava com uma conjunção coordenativa explicativa. Daquelas que já não se usam: “porquanto o condutor após ter efectuado a manobra da viatura para a direita manteve a sinalização da mesma”. Em tradução livre, o gajo virou e não desfez o pisca. Bom depois daquilo, deu-me vontade de o desfazer, mas ao pontapé. Só que o carro é do Rafael e depois ele zangava-se comigo…
Para a próxima desfaço o pisca, claro que sim sr. guarda. Até porque se na escala de coimas um gajo em segunda e a trinta e por distracção (ias distraído? não fosses) leva 60 euros o que acontecerá numa ultrapassagem a duzentos numa lomba? Pelotão de fuzilamento? Trabalhos forçados na Guiana? Fica-me ainda a vaga esperança que na próxima vez que me distrair, está-me sempre a acontecer este raio das distracções, a tal coisa da coima venha em forma de soneto. E de preferência com uma conjunção coordenativa explicativa.
Moral da história: nunca devemos fazer pisca à direita. Só e sempre para a esquerda.
Os factos ocorreram nos inícios de 2008. A crónica foi publicada no jornal A Planície de 1 de fevereiro desse ano. Saiu depois no blogue em 24 de fevereiro de 2010. Repito-a, com a cópia da prova do crime, que guardo com ternura.
Concluo aquilo que todos nós concluímos: é melhor termos uma multa de 1.000.000 de euros para pagar do que termos uma de 60 euros.
1 comentário:
E qual foi o crime? E se o carro não tem as novas tecnologias " como o meu" que quando viro à direita ou à esquerda o pisca continua a funcionar?
PS. Esse Polícia devia deixar o lugar que ocupa e cavar as batatas.
"Incompetentes"
Um abraço amigo
José da Palma
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