sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

GANÂNCIA

Este texto foi publicado, aqui no blogue, em 22.10.2010. O tempo voa... Retomo-o, justamente neste dia que hoje se celebra.

"A leitura do Orçamento do Estado não é leitura que se recomende. Verlaine, ou qualquer outro poeta, é infinitamente mais interessante. Não resisto, contudo, a transcrever este artigo, para o qual um amigo, gestor financeiro, me chamou a atenção:

Artigo 88.º


Concessão extraordinária de garantias pessoais do Estado

1 - Excepcionalmente, pode o Estado conceder garantias, em 2011, nos termos da lei, para reforço da estabilidade financeira e da disponibilidade de liquidez nos mercados financeiros.

2 - O limite máximo para a autorização da concessão de garantias previsto no número anterior é de € 20 181 583 965,10 e acresce ao limite fixado no n.º 1 do artigo 77.º.

3 - Este limite é reduzido no exacto montante das operações activas que venham a ser efectuadas em 2011, ao abrigo da Lei n.º 8-A/2010, de 18 de Maio.

Ou seja, o Governo ou, melhor dizendo, nós somos fiadores da banca. No outro dia Teixeira dos Santos falava da "insaciabilidade dos mercados". Está agora ainda mais claro aquilo a que se referia. Nós (eu e você que me lê) somos a garantia dos eventuais buracos da banca. Habituemo-nos. Ou não.


Ilustrar esta situação com a sequência final de Greed (Ganância), realizado em 1924 por Erich von Stroheim (1885-1957), parece-me conveniente. A ganância e a sede do ouro levam à morte. Embora, no caso vertente, sejamos nós a representar os dois condenados. Os abutres que não tardarão a surgir são os outros.

Vale a pena ver o filme todo, embora vos confesse que a minha memória reteve apenas esta poderosa sequência final. Vale também a pena ler um pouco sobre este filme. A rocambolesca história da sua produção, e os fragmentos de que hoje dispomos, assemelham-se um pouco ao percurso pouco linear dos benditos mercados financeiros."


Cinco anos volvidos, a ganância, em todo o seu esplendor, deu no que deu. O BPP, mais o BPN, mais o BES, mais o BANIF, mais a PT. Entidades geridas por gente qualificada, e seríssima, e que eram capa de revista, todos beautiful, todos recomendáveis, todos isso e muito mais. Nos Estados Unidos, ao menos, são engavetados à frente de toda a gente e são condenados a milhares de anos de cadeia. Aqui dão entrevistas aos principais órgãos de comunicação, onde explicam como foram injustiçados. Não esquecendo que, para muitos deles, a culpa continua a ser do PREC. E do 25 de abril, claro está.

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