terça-feira, 16 de outubro de 2018

NO RIO


Este guache está à venda num leilão da Veritas. O preço é irrisório (em termos absolutos) e inatingível (para mim). Vale a oportunidade de poder olhar para ele. Valha-nos a net que permite a Beleza num piscar de olhos.

Obra de Jorge Barradas (1894-1971), datada de 1923. Vale a pena também o poema do grande Drummond de Andrade. Mais agora que o Rio se agita.

Ver: https://veritas.art/



TAMBÉM JÁ FUI BRASILEIRO

Eu também já fui brasileiro
moreno como vocês.
Ponteei viola, guiei forde
e aprendi na mesa dos bares
que o nacionalismo é uma virtude.
Mas há uma hora em que os bares se fecham
e todas as virtudes se negam.

Eu também já fui poeta.
Bastava olhar para mulher,
pensava logo nas estrelas
e outros substantivos celestes.
Mas eram tantas, o céu tamanho,
minha poesia perturbou-se.

Eu também já tive meu ritmo.
Fazia isso, dizia aquilo.
E meus amigos me queriam,
meus inimigos me odiavam.
Eu irônico deslizava
satisfeito de ter meu ritmo.
Mas acabei confundindo tudo.
Hoje não deslizo mais não,
não sou irônico mais não,
não tenho ritmo mais não.

Carlos Drummond de Andrade

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