quarta-feira, 20 de novembro de 2024

SAMBA

O Carnaval ainda vem longe, mas é a altura para recordar esta obra com quase um século (1925!) de Di Cavalcanti (1897-1976), um dos grandes nomes da pintura brasileira do século XX.

Sem verão à vista, mas com as imagens do Brasil bem presentes. De Carlos Drummond de Andrade, "O homem e seu carnaval":

Deus me abandonou
no meio da orgia
entre uma baiana e uma egípcia.
Estou perdido.

Sem olhos, sem boca
sem dimensões.
As fitas, as cores, os barulhos
passam por mim de raspão.
Pobre poesia.

O pandeiro bate
é dentro do peito
mas ninguém percebe.
Estou lívido, gago.
Eternas namoradas
riem para mim
demonstrando os corpos,
os dentes.
Impossível perdoá-las,
sequer esquecê-las.

Deus me abandonou
no meio do rio.
Estou me afogando
peixes sulfúreos
ondas de éter
curvas curvas curvas
bandeiras de préstitos
pneus silenciosos
grandes abraços largos espaços
eternamente.



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