quarta-feira, 15 de outubro de 2025

NA MORTE DE JOSÉ AFONSO FURTADO

Terminava o ano de 1987 e a assinatura do protocolo de renovação da Biblioteca Municipal de Moura tinha sido marcada para as 21 horas (de dia 29 de dezembro?, é o que me dita a memória, mas não posso jurar).

Não é uma hora habitual para fechar documentos, mas o Dr. José Afonso Furtado, então presidente do Instituto Português do Livro e da Leitura, cumpria uma maratona de assinatura de protocolos em várias câmaras do sul de Portugal. Estava em marcha aquela que foi, muito provavelmente, a maior revolução cultural do pós-25 de abril. Punha-se de pé a rede de leitura pública.

Recordo-me, nitidamente, de o ver subir com algum esforço as escadas para a presidência da câmara (o equivalente a um terceiro andar) e de comentar, à chegada, "este gabinete bem que podia estar no rés-do-chão...".

José Afonso Furtado foi um brilhante servidor público. E muito mais do que "o pioneiro da era digital do livro", como um jornal hoje o etiquetava. Foi levado à demissão por Santana Lopes (pois evidentemente) e dirigiu depois, durante duas décadas, a Biblioteca de Arte da Fundação Gulbenkian.

Em jeito de rodapé: o projeto da Biblioteca de Moura nunca foi concluído. A mais recente versão, de 2017, foi eliminada por analfabetas vereações .


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