Foi há cerca de uma hora que o fado passou a ser Património da Humanidade. Um processo longo e cuja qualidade foi reconhecida pelo comité da UNESCO. Um justo prémio para uma vasta equipa, dirigida por um homem culto e de invulgar competência: Rui Vieira Nery, professor na Universidade Nova de Lisboa e musicólogo.
O fado é do sul, não se explica nem se entende sem Lisboa, sem as vielas de Lisboa nem sem a luz de Lisboa. O fado não é fascista - embora o fascismo o tenha, inteligentemente, usado - nem é reacionário. Nem é só trágico nem só choroso. Tem a ver com alma? Tem, claro que tem. E há fado de salão e fado com toque moderno. Mas a verdade do fado está nos bairros populares, faz-se à sombra da igreja de Santo Estêvão, passa por Alfama e pela Mouraria. Não há fado sem povo, nem sem tabernas.
A classificação em si vai trazer mais responsabilidades e mais possibilidade de divulgação. É uma dose de otimismo quando dele mais precisamos e uma afirmação de um dos nossos mais sólidos valores culturais. Numa altura em que o fado se diversifica, toca outras camadas etárias e acompanha o ar dos tempos este reconhecimento traz mais possibilidades e mais deveres. Ainda bem que assim é.
Ao passar ontem à tarde pelo Largo das Portas do Sol, apontei Alfama aos meus alunos e indiquei-lhes a igreja de Santo Estêvão. E falei na obrigação de irem visitar o Museu do Fado.
Do jornal Público:
"Foi em 2005 que Portugal começou a preparar mais seriamente esta
candidatura que o Museu do Fado, em nome da Câmara Municipal de Lisboa,
formalizou junto da UNESCO em Junho do ano passado (tinham passado
apenas dois anos sobre a aprovação da Convenção para a Salvaguarda do
Património Cultural Imaterial). Mas a ideia, ou o sonho, tem quase 20
anos - surgiu por altura da Lisboa Capital Europeia da Cultura, em 1994,
garantiu ao PÚBLICO há dias Ruben de Carvalho, vereador da CDU em
Lisboa e um dos que mais apoiaram o projecto desde o início."
Não é por nada, mas gostei desta referência ao meu camarada Ruben de Carvalho.
Não encontrei imagens que me agradassem de um dos meus fados preferidos, Lágrima, escrito pela própria Amália. Aqui fica um excerto do filme Fado - história de uma cantadeira, de Perdigão Queiroga, datado de 1948. Amália Rodrigues tinha então 28 anos.
2 comentários:
Parabéns! Eu gosto de ouvir na voz de Amália Rodrigues:Estranha forma de vida;Barco Negro; Primavera; Fado do Ciúme e Lágrima. São músicas lindas! Aqui no Brasil, a versão de Solidão ( Canção do Mar) ficou bastante conhecida na voz de Dulce Pontes por causa de uma telenovela,baseada na obra de Julio Dinis, As Pupilas do Senhor Reitor.
Obrigada por este comentário.
Temos ouvido tantas baboseiras das pseudo esquerdas que me fez bem ler o que escreveste.
Eugénia Gomes
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