É no próximo domingo. Dia de S. João e feriado municipal em Moura. Do ponto de vista pessoal, representa a conclusão de um processo com 24 anos (vinte e quatro, leram bem). Teve início em 1988, era eu um jovem chefe de divisão da Câmara Municipal de Moura, funções que acumulava com as responsável pelo Museu Municipal. Estavam, por essa altura, em fase de lançamento vários projetos nesta área. Para além da abertura ao público da exposição Moura na época romana (cujo catálogo contou com a participação de nomes de primeira linha da arqueologia portuguesa: Jorge Alarcão, José d'Encarnação, Maria da Conceição Lopes e Teresa Gamito), estava na calha a musealização da torre de menagem. Que ía a par do retomar das escavações arqueológicas e daquilo que deveria ser a reabilitação do castelo de Moura.
A história recente da torre de menagem dava um romance.
O projeto avança em finais de 1988 com a participação de Mariano Piçarra, que então começava o que viria a ser uma carreira de grande nível (é hoje o designer responsável pelas principais exposições da Fundação Calouste Gulbenkian). O estudo prévio foi concluído em 1989. As eleições autárquicas desse ano determinaram uma mudança na força política que estava à frente da Câmara Municipal. A entrada em funções de uma vereação para quem o Património Cultural era uma chatice e um embaraço levou a uma imediata paragem deste processo. A minha iniciativa foi desqualificada e o trabalho do Mariano sumariamente ridicularizado por dois ou três técnicos do IPPAR.
Capítulos seguintes:
1. O mesmo projeto foi aprovado depois de assinado por um arquiteto, mas logo a seguir metido na gaveta;
2. Com o José Maria Pós-de-Mina como presidente retoma-se o "dossiê castelo": primeiro a zona envolvente do convento, depois o resto;
3. Em 2004, e na presença do Presidente Jorge Sampaio, o castelo é reaberto ao público;
4. No mandato seguinte, avançaram os projetos ainda em falta, entre os quais o de musealização da torre de menagem;
5. A necessidade de articular financiamentos e intervenções levou-nos a escolher esta altura para a conclusão do processo;
6. A partir de agora, novas frentes de trabalho têm continuidade: conclusão do edifício de receção ao turista; iluminação das muralhas; continuação dos trabalhos arqueológicos;
7. Aqueles que durante muitos anos diziam "este castelo é uma vergonha, só em Moura blablabla" são os mesmos que hoje dizem "só em Moura é que se gasta dinheiro em pedras blablabla". Estou, como é natural, sempre atento a (todos os) comentários. Mas nem todos têm resposta. E le mot de Cambronne é tentador, mas pouco aconselhável.
Tenho, desde 2005, responsabilidades executivas na Câmara Municipal. Tenho a firme convicção do caminho que tem vindo a ser percorrido. Neste e noutros domínios. Mas este, o da reabilitação, dá-me especial prazer. Teria vergonha em sair, um dia, da minha autarquia sem ter tocado em dossiês como:
Castelo, nas suas múltiplas e complexas componentes;
Quartéis;
Matadouro;
Igreja de S. Francisco;
Pátio dos Rolins;
Mouraria;
Museu Gordilho;
E noutros, que só A questão financeira não permite que avancem. Havia alternativas? Então que as apresentem sff, para podermos debatê-las. É que em sete anos que levo disto nunca tive uma proposta alternativa concreta. Uma só, para amostra.
A torre de menagem? É no próximo domingo. Dia de S. João e feriado municipal em Moura.
5 comentários:
Parabéns, Santiago. Um grande abraço. Não vou poder estar mas é como se estivesse. E hei-de ir um dia para ver, espero.
António Martins (UC)
Enhorabuena a todos los que lo habéis hecho posible y especialmente a tí Santiago por no desfallecer. Un abrazo.
Fernando V.
Eu também um dia irei a Moura. Parabéns!
Parabéns, bom trabalho em prol da cultura!
Abraço
Parabéns Santiago! Chama-se a isto "remar contra a maré" da imbecibilidade e do obscurantismo. Mas é assim que Portugal pode avançar. É certo que é um árduo caminho, mas com coragem, persistência e a força da razão é possível vencer a adversidade e remeter os mentecaptos para o caixote do lixo da História.
David Zink (Ars Integrata)
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