Declaração inicial: Julian Assange não me suscita especial simpatia. O sistema de divulgação indiscriminada de informações importantes para a segurança dos Estados (que tanto gáudio causa à esquerda) não me merece entusiasmo. Embora, confesso também, a existência do wikileaks nos tenha proporcionado dados cruciais sobre a atuação de governos portugueses em tempos recentes.
Assisti, por isso, com a maior perplexidade, aos desenvolvimentos dos últimos dias. A história da agressão sexual a duas mulheres é bizarra e pouco clara. O desejo dos Estados Unidos consumarem a vingança derradeira sobre o aventureiro Assange é mais que óbvia - Bradley Manning faz parte da mesma trama...
Chegados a este ponto - nem claro nem linear - temos que:
1. O cidadão australiano Julian Assange pediu asilo político à República do Ecuador;
2. O governo britânico, provavelmente convencido que o primeiro-ministro se chama William Gladstone, Robert Gascoyne-Cecil ou Benjamin Disraeli, resolve dar-se ares de império e avisa os equatorianos de que poderá vir a invadir a embaixada (não guardei, infelizmente, um cartoon publicado no New Statesman dos anos 80 em que se via Michael Heseltine a rebolar-se aos pés de Ronald Reagan, depois de fingir dureza com os americanos no tratamento de questões importantes);
3. O governo britânico diz agora que não deixará Assange sair, seja em que cisrcunstância fôr.
Muito bem. Isso faz-nos recuar a 1959, quando Henrique Galvão fugiu do Hospital de Santa Maria e se refugiou na embaixada argentina, à qual pediu asilo político (se bem recordo, Galvão conta, no seu Assalto ao Santa Maria, que não confiava no governo de Juscelino Kubitschek). Depois de três meses de tensão Salazar permitiu que Galvão saísse do país. Fico na expetativa para ver o que se vai passar. A menos que Cameron esteja mesmo convencido que é primeiro-ministro da rainha Vitória...
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