sexta-feira, 14 de setembro de 2012

MOURARIA - DA RUA DO CAPELÃO À RUA DO BENFORMOSO


Às voltas na Mouraria, entre uma reunião e outra. A Mouraria é um dos mais extraordinários sítios de Lisboa. Em tempos prolongava-se mais um pouco para norte. Recorde-se que a Rua do Forno de Tijolo se chamava, no século XIX, Calçada do Almocavar (ou seja, do calçada do cemitério muçulmano). Na mouraria moraram, até ao final do século XV, os muçulmanos de Lisboa, confinados a um ghetto. É um bairro popular e de povos. Nos últimos tempos, foi "tomado de assalto" por indianos, paquistaneses, senegaleses, guineenses etc. Bairro à margem da cidade, antes e depois.

Passei em frente à casa onde morou Fernando Maurício. Virei depois em direção à Rua dos Cavaleiros. Na esquina, um choque entre tradição e modernidade. Chega uma viatura do INEM, sirene a apitar e luzes por todo o lado. Trava a fundo e pergunta o condutor "onde é o Largo das Olarias?" (estranha pergunta para quem vai de urgência e nem um raio de uma planta da cidade tem). Salta uma matrona de negro, gorducha e redonda "ó querido, tens de virar ali à direita". O carro arranca e toma o caminho errado. Estão quatro pintas encostados a um chaveco; grita um de forma a ouvir-se no Rossio "não é por aí pá; éxtúpidocumócaralho". O carro corrige a rota. Rio baixinho e sigo para a Rua do Benformoso. Há casas à venda. Da EPUL. A 200.000 euros, no meio da populaça. Não sei quem irá ali viver. Mas não será nenhum artesão indiano, nem a matrona de seios melancia, nem o mangas da esquina da Rua dos Cavaleiros. A reabilitação torna-se anchluss. A burguesia anexa os espaços do povo. Que há-de ir viver para a periferia. Criando aí novas mourarias. E assim sucessivamente.

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