OS ESPELHOS
O Guadiana feito espelho, numa destas tardes. Vendo o rio a partir da ponte. O espelho do rio esteve aceso todo o dia. Como deve ser.
Os espelhos acendem o seu brilho todo o dia
Nunca são baços
E mesmo sob a pálpebra da treva
Sua lisa pupila cintila e fita
Como a pupila do gato
Eles nos reflectem. Nunca nos decoram
Porém é só na penumbra da hora tardia
Quando a imobilidade se instaura no centro do silêncio
Que à tona dos espelhos aflora
A luz que os habita e nos apaga:
Luz arrancada
Ao interior de um fogo frio e vítreo
Nunca são baços
E mesmo sob a pálpebra da treva
Sua lisa pupila cintila e fita
Como a pupila do gato
Eles nos reflectem. Nunca nos decoram
Porém é só na penumbra da hora tardia
Quando a imobilidade se instaura no centro do silêncio
Que à tona dos espelhos aflora
A luz que os habita e nos apaga:
Luz arrancada
Ao interior de um fogo frio e vítreo
Sophia de Mello Breyner Andresen
in "Geografia"
O Guadiana feito espelho, numa destas tardes. Vendo o rio a partir da ponte. O espelho do rio esteve aceso todo o dia. Como deve ser.
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