sábado, 3 de outubro de 2020

AINDA A MESQUITA DE LISBOA - II

Os professores universitários na área da arqueologia entenderam, através do presente comunicado, tomar posição relativamente às notícias que têm vindo a lume relativamente a achados de época medieval islâmica surgidos no âmbito do projecto de valorização da Sé de Lisboa.

Por um lado, cumpre-nos sublinhar que os dados conhecidos até ao momento são inequívocos relativamente à excepcionalidade científica e patrimonial dos achados, tratando-se de estruturas associadas ao complexo da mesquita maior da cidade de Lisboa em época islâmica, singulares no contexto nacional e relativamente raros no panorama europeu. De resto, já há anos que se conheciam vestígios deste período no claustro da Sé, não tendo, contudo, à época sido possível interpretá-los cabalmente. As imagens divulgadas até ao momento mostram vários compartimentos de grande monumentalidade, ocupando uma área e com um grau de preservação assinaláveis, tornando imperiosa a sua conservação e desejável a sua valorização.

Por outro lado, é impensável que um projecto de valorização de um momento classificado da importância nacional como é a Sé de Lisboa destrua as suas preexistências. Em Portugal afirmou-se globalmente nos últimos anos o princípio da conservação pelo registo, em que se os achados arqueológicos são sistematicamente eliminados em operações de reabilitação urbana, de saneamento, ou da construção de equipamentos públicos, num equilíbrio sempre frágil entre a preservação do passado e as necessidades prementes do presente. No entanto, o caso presente é o de um projecto de valorização patrimonial, pelo que é paradoxal a eliminação de estruturas deste valor. É de rejeitar em absoluto a ideia de deslocalização dos vestígios, uma prática abandonada há muitas décadas pelas mais elementares normas internacionais. Não é igualmente sustentável que a preservação dos vestígios ponha em causa a integridade da Sé, tendo a engenharia mostrado, em vários pontos da Europa, as possibilidades de compatibilização em situações idênticas à presente. Em todo o caso, não sendo possível a valorização, é sempre viável o seu aterro, regressando-se à situação prévia à deste projecto garantindo, deste modo, a preservação destes achados singulares para gerações vindouras.

A academia está aliás, como sempre esteve, disponível para ajudar a encontrar as melhores soluções.

É este o texto que está a circular pela comunidade científica e do qual, juntamente com colegas da Universidade Nova de Lisboa (André Teixeira, Catarina Tente, José Carlos Quaresma, José Bettencourt e Rodrigo Banha da Silva), sou um dos primeiros subscritores. O apoio tem sido, de norte a sul, muito relevante. Continuo confiante num desenlace positivo.

Eis a lista completa de subscritores:

Amílcar Guerra (ULisboa), Ana Bettencourt (UMinho), Ana Catarina Sousa (ULisboa), Ana Margarida Arruda (ULisboa), André Carneiro (UÉvora), André Teixeira (UNovaLisboa), Andrea Martins (ULisboa), Andreia Arezes (UPorto), António Faustino Carvalho (UAlgarve), António Monge Soares (ULisboa), Armando Redentor (UCoimbra), Carlos Fabião (ULisboa), Carlos Rellán (UNovaLisboa), Catarina Tente (UNovaLisboa), Catarina Viegas (ULisboa), Elisa de Sousa

(ULisboa), Francisco Caramelo (UNovaLisboa), Helena Catarino (UCoimbra), Helena Paula Carvalho (UMinho), João Cascalheira (UAlgarve), João Luís Cardoso (UAberta), João Marreiros (UÉvora), João Muralha (UCoimbra), João Pedro Bernardes (UAlgarve), João Zilhão (ULisboa), Jorge Custódio (UNovaLisboa), Jorge de Alarcão (UCoimbra), Jorge de Oliveira (UÉvora), José Bettencourt (UNovaLisboa), José Carlos Quaresma (UNovaLisboa), José d'Encarnação

(UCoimbra), José Meireles (UMinho), Lara Bacelar (UCoimbra), Leonor Medeiros

(UNovaLisboa), Leonor Rocha (UÉvora), Luís Fontes (UMinho), Luiz Oosterbeek (IPTomar), Manuela Martins (UMinho), Maria da Conceição Lopes (UCoimbra), Maria de Jesus Sanches (UPorto), Maria João Valente (UAlgarve), Mariana Diniz (ULisboa), Mário Barroca (UPorto), Nuno Bicho (UAlgarve), Pedro C. Carvalho (UCoimbra), Raquel Vilaça (UCoimbra), Ricardo Costeira da Silva (UCoimbra), Rodrigo Banha da Silva (UNovaLisboa), Rui Centeno (UPorto), Rui Morais (UPorto), Santiago Macias (UNovaLisboa), Susana Gómez Martínez (UÉvora), Telmo Pereira (UAutLisboa), Vasco Gil Soares Mantas (UCoimbra), Victor S. Gonçalves (ULisboa)

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