Esta metade de São Sebastião
cobre com uma coifa
a cabeça.
.
A carne de barro pintado
brilha branca rosa
riscos vermelhos
no lugar das setas
.
Pousamos no muro
o corpo metade
de olhos rasgados
de boca vermelha
e disparamos
tiros de luz e plástico
para o guardar
para sempre
.
Da terra de xisto
sobe o canto
de mutidões antigas
que afogaram
o som e as lágrimas
nesta metade
de barro pintado
.
António Borges Coelho (Mértola, 25.4.1978)
.
Este poema foi publicado no livro Historiador em discurso directo, que coordenei para a Câmra de Mértola em 2003. Inclui uma extensa entrevista com António Borges Coelho, textos inéditos e uma nota biográfica da autoria de António Marques de Almeida. E ainda textos de apresentação, de Cláudio Torres e de Jorge Pulido Valente. Lembrei-me dele nestes dias em que o Verão já assoma, em que está na altura de ir para os mastros e em que o futuro está sempre ao virar da esquina.
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