MUSEU NACIONAL DE BEJA
“Tanta
gente preocupada com o futuro do Museu de Beja...”, não pude deixar de pensar.
As redes sociais ferveram de indignação porque “o museu vai passar para Évora”.
Com meia dúzia de exceções, são entusiasmos de fresca data. Ao longo dos anos,
ciclicamente, monotonamente, o tema do Museu de Beja emerge e causa alguma
reação. Tanta gente indignada agora, que “o museu vai para Évora” e tão pouca
gente a dar a cara, nos anos de 2014 e de 2015, quando a situação era
verdadeiramente aflitiva e os salários estavam em risco. Era presidente da
Assembleia Distrital nessa altura e sei bem do que falo.
À
hora em que escrevo este texto não teve ainda lugar o debate público agendado
para dia 20. Seguirei com atenção as conclusões. Ouvirei, ainda com mais
atenção, as propostas concretas e as soluções técnicas e financeiras que venham
a ser apresentadas.
Em
janeiro de 2014, já lá vão cinco anos, tinha esta perspetiva sobre o Museu:
“Só
há dois caminhos: o museu é assumido pela CIMBAL (Comunidade Intermunicipal do
Baixo Alentejo) ou pela Câmara Municipal de Beja. Pessoalmente, vejo a passagem
para a CIMBAL como “mais do mesmo”. Não creio que a solução seja
suficientemente flexível para dar capacidade de manobra ao museu regional”.
Defendia ainda a passagem gradual do museu para a tutela da autarquia, num
horizonte alargado. Ou seja, defendia eu que a solução ideal era o museu ser
assumido pela Câmara Municipal, por ser uma marca importante da cidade, por ter
um enorme potencial e por dever ser colocado ao serviço de uma estratégia de
promoção da região.
Na
altura, não se colocava a hipótese do Museu passar para a tutela do Ministério
da Cultura. É esta solução a mais adequada? A meu ver, sim. Recordo o passado
recente, em que o Museu dependia de todas as autarquias. Em 2014, num orçamento
de 372.000 euros, 99,1% eram despesas correntes. Uma situação insustentável.
Percebo também os constrangimentos de ordem financeira que possam ter levado
Paulo Arsénio a declinar a tutela do Museu de Beja. No tempo do Instituto
Português de Museus colocara-se a hipótese de passagem do museu para essa
tutela. Passaram 20 anos. Perdemos 20 anos nisto. Agora, fala-se numa “gestão
partilhada”. Não faço ideia do que se trata, nem como se põe em prática. Mas
sei, sim, que está na altura do museu ganhar escala e se integrar numa rede
mais vasta. Atitudes de “orgulhosamente sós”, “nós, os irredutíveis gauleses,
contra os usurpadores eborenses” não servem rigorosamente para nada.
O
Museu de Beja fica sob a tutela de Évora ou de Lisboa? E daí? O Museu Soares
dos Reis, o Grão Vasco, Conímbriga estão também sob a tutela do Ministério da
Cultura. Não consta que tenha havido desvios de peças para a capital. De uma
coisa tenho a certeza. A inclusão do Museu de Beja numa rede nacional dar-lhe-á
a visibilidade que não tem e a força que lhe falta. A equipa é esforçada e
dedicada. Mas isso só não chega. O catálogo do museu visigótico tem 26 anos.
Não houve, nas últimas décadas, uma só exposição de nível nacional. Fazem falta
iniciativas de fôlego, obras de reabilitação, programação e publicações.
Sobretudo, faz falta que o museu saia do seu esquife e se dê a mostrar.
Os
debates são sempre necessários. Mas Beja só fala do seu museu, que é muito mais
nacional que regional, em momentos de agitação e de tensão. Um mau
princípio, que vem de longe.
2 comentários:
acho que é uma afronta ao povo de Beja e do concelho, que não tenha o seu museu
com o desenvolvimento e divulgação necessários!
fui lá e tive pena de não poder visitar estava fechado,
mas no youtube tem videos dele e é muito bonito,
Plenamente de acordo. Desde há décadas sigo a agonia do Museu de BEja. São tempos de "rede".
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