NATAL, E NÃO DEZEMBRO
numa gruta, no bojo de um navio,
num presépio, num prédio, num presídio
no prédio que amanhã for demolido...
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos e depressa, em qualquer sítio,
porque esta noite chama-se Dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.
Entremos, dois a dois: somos duzentos,
duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma nave...
Entremos, despojados, mas entremos.
De mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada.
Este belo poema de David Mourão-Ferreira (1927-1996) deu-me o mote do dia. Que parece ser o mote dos últimos tempos. A pandemia partirá, ainda que deixando marcas físicas e na alma. Onde é que gostaria de estar, neste preciso momento? Aqui:
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