O colóquio de homenagem tem lugar hoje. É bom vermos que os exemplos de dedicação, determinação e competência não são esquecidos.
Razões de ordem pessoal levam-me a não poder responder favoravelmente ao convite que recebi. Espero poder adquirir depois o livro que vai ser editado. Enviei, em tempos, um curto testemunho, que não sei se chegou a tempo de ser incluído:
MARIA JOSÉ MOURA
No dia 3 de abril de 1986, um simples despacho de Teresa Patrício Gouveia, Secretária de Estado da Cultura, criava condições a instalação de uma rede de bibliotecas municipais. Era preciso alguém que capitaneasse o projeto. O grupo de trabalho que então se constituiu era coordenado por Maria José Moura, uma veterana bibliotecária, que foi a alma do que se seguiu. E o que se seguiu foi uma verdadeira revolução cultural. Era preciso rigor administrativo, mas muito mais que isso. Era imprescindível criatividade e energia, dentro das baias da legislação. Maria José Moura fez da teoria prática. À mistura com uma fervorosa crença na capacidade da juventude.
Só a conheci depois desse processo ter arrancado. Tive a perceção que algo de único se iria passar. A minha perceção ficou, felizmente, muito aquém da realidade futura. No dia em que comecei a trabalhar na Câmara de Moura (em setembro de 1986) estava decidido a avançar para uma remodelação da Biblioteca Municipal. Passei dias a fio, nesses tempos bárbaros sem internet nem telemóveis, até localizar Maria José Moura, então bibliotecária da reitoria da Universidade de Lisboa. Falar com ela foi o primeiro passo. O segundo, e decisivo, foi ter-nos explicado, com detalhe, o âmbito do projeto. De uma remodelação conduziu-nos, firmemente - “isto faz-se assim, perceberam?” -, para uma intervenção mais profunda e radical. A nossa candidatura seria entregue em maio de 1987. Soubémos, algum tempo depois, que Moura integrava o primeiro grupo de sete municípios que, a sul, iria ter apoio. O contrato seria depois assinado e as obras iniciadas já em 1989.
No dia em que partiu, a sua missão estava bem cumprida. Nunca, até ao fim, a vi deixar de acreditar nas bibliotecas, na capacidade das novas gerações, na decisiva importância da presença da Cultura na vida dos cidadãos. Tal como nunca deixou de acreditar e de evocar o Alentejo onde quis ficar para sempre.
A Maria José Moura devo as primeiras e algumas das mais importantes lições da minha carreira de funcionário público. Mais importante, e é isso que se deve reter, o País deve imenso, ainda que possa não o saber, a Maria José Moura.
Santiago Macias
Historiador
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