Conserva-se na biblioteca da Academia
das Ciências de Lisboa um manuscrito (série azul, n.º 913) no qual se relata a
descoberta de cinco tábuas em madeira, na zona da Serra da Adiça. As peças
foram recolhidas em 1914, durante trabalhos de limpeza de antigas galerias
abandonadas na Mina da Preguiça, e num contexto onde surgiu um candil de cobre
classificado como “romano”. A pequena memória da descoberta foi redigida por um
dos responsáveis da mina, que assina Ed. Schetter e que sobre as mesmas
escreveu: “as taboinhas estavam revestidas de qualquer emboço sobre o qual
apareciam, gravadas, numerosas inscripções... mouras ao que me parece”. A
empresa responsável pelos trabalhos de exploração era espanhola. De Ed.
Schetter não encontrei qualquer outra indicação. Desconhece-se também o
paradeiro atual das peças, ou se as mesmas ainda existem. Há apenas uma
certeza: o que ali está escrito não é língua árabe.
Excluída a
possibilidade de uma cronologia do período islâmico, resta a hipótese mais
provável de se tratarem de inscrições em escrita cursiva do período romano ou,
mesmo, da Alta Idade Média. Aqui deixo a hipótese de estarmos ante uma
listagem. Poderiam conter algum tipo de informação, eventualmente uma listagem
(uma contabilização de minério?), referente à exploração do local. Pedi ajuda a
vários especialistas nestas matérias. Aguardo resposta(s), que deste tema não
desistirei.
No termo de Moura fazia-se, em plena
época califal, a mineração da prata, atividade que, segundo al-Razi (século X),
era praticada no sítio de Totalica, onde haveria "uma minera de mui boa
prata e mui branca", a qual era explorada em segredo pelos seus
habitantes.
O local em causa ficava, por certo, perto das margens da ribeira de Toutalga (possivelmente entre as povoações de Santo Aleixo, Ficalho e Sobral), numa região onde a mineração teve particular importância no período romano. Daí a particular interesse das tabuinhas da Preguiça. Encontradas numa mina explorada ao longo de muitos séculos, podem conter dados importantes sobre a sua exploração. Ou até reportarem-se à Antiguidade Tardia, período em que, ao contrário do que tantas vezes se diz, territórios como este ganham uma nova vida e conhecem uma uma dinâmica económica, resultante da sua autonomização face ao poder central. Há coisas assim, que a História nos ensina... Há coisas que não mudam.
Crónica em "A Planície" de 1.10.2015.
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