A tentação de criar santos e beatos é longa e persiste até aos nossos dias. A fabricação de milagres implicava prodígios de imaginação. Cada época beatifica o que pode e como pode. Repito um texto publicado há anos:
As paisagens dos nossos campos e das nossas cidades, vilas e aldeias estão cheias de nomes de santos hoje desaparecidos do calendário oficial da igreja. Muito pouco se sabe sobre a maior parte deles: Santo Amador, São Barão, São Brissos, São Matias, Santo Aleixo, São Sesinando ou o extraordinário São Facundo fazem parte das tradições mais antigas de uma religiosidade popular onde o sagrado, o profano e o mágico se misturam. São santos sem presença no martirológio (catálogo dos mártires e santos), mas cuja existência e devoção não têm discussão para as comunidades que os acolhem.
As suas origens são obscuras e sempre envoltas em lendas, muitas vezes de contornos improváveis. Alguns deles, como São Facundo ou o São Barão, venerado nos campos de Mértola, estão certamente ligados a atos ou cultos de fertilidade. São os verdadeiros santos do povo, de uma devoção local que não desaparece. Em certos casos, o santo não tem representação física e elege-se outro com imagem e percurso reconhecido. É o que acontece em Santo Amador, onde se escolheu outro mártir (Santo Evaristo) para dar representação física ao que o não tinha.
De tal modo assim é que, nos últimos anos, não é possível chegar mesmo junto ao túmulo de Jim Morrison. Foram colocadas cancelas protetoras. Como as que, nas basílicas, separavam o altar do espaço restante.
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